Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Repercussão de debate
é destaque nos jornais


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


************


O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 10 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Tânia Monteiro, Leonencio Nossa


Lula acusa golpe e diz que dia do debate foi ‘um dos mais tristes’ de sua vida


‘Um dia depois de ser confrontado pelo adversário no primeiro debate do qual participou nesta eleição e de ser indagado sobre o dossiê Vedoin, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou duramente o adversário Geraldo Alckmin (PSDB), a quem chamou de ‘arrogante’ e ‘pedante’. Em discurso de improviso para 30 cantores de música gospel, que foram ontem ao Palácio da Alvorada para transmitir apoio à sua candidatura, Lula condenou o nível do debate na Rede Bandeirantes.


‘Ontem pensei que não estava na frente de um candidato, pensei que estava na frente de um delegado de porta de cadeia’, desabafou. Foi além, dizendo que foi ‘um dos dias mais tristes’ de sua vida de político.


Ao se referir à insistência de Alckmin em saber de onde veio o R$ 1,7 milhão para a compra do dossiê, Lula ironizou: ‘O cidadão é um samba de uma nota só.’ Afirmou que o ex-governador não apresentou propostas e só quis falar sobre corrupção.


Depois de lembrar que já debateu com inúmeros políticos ‘de bom nível’, citando Ulysses Guimarães, Fernando Collor e Mário Covas, emendou: ‘O povo não quer ver um candidato xingando o outro, quer saber o que é que vai fazer para melhorar a vida dele, dar emprego, crescer mais. Lamentavelmente, não foi isso que aconteceu, para minha tristeza e do povo.’


‘IRRITADOS’


Muito aplaudido pelos evangélicos, Lula disse que Alckmin ‘pegou notas de jornal’ com denúncias e transformou isso no seu programa. ‘Então, é aquela sanfona quebrada, que só faz o mesmo som’, atacou. Disse que o adversário ‘representa o jogo de interesse dos grupos que tradicionalmente mandam no Brasil desde Cabral’. E bateu: ‘É um grupo de interesses arrogante, pedante, das pessoas que falam com nariz em pé como se tivessem mais autoridade do que o resto do planeta.’


‘Eu, possivelmente, seja o único brasileiro que governou este País nos últimos anos com autoridade para falar de corrupção. É fácil não sair corrupção nos jornais, é só engavetá-las, é só colocá-la embaixo do tapete do sofá’, provocou o presidente.


Ele disse que os adversários estão ‘irritados’ e ‘vão ficar muito mais’ porque, na comparação entre seu governo e o do antecessor, ele ‘ganha em todos os itens’. Comentou que a ‘elite política’ está sendo ‘implacável’ com ele, como teria sido com Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas e João Goulart. E avisou que espera participar de muitos debates ainda.


SARNEY


No discurso aos evangélicos, Lula criticou o Plano Cruzado, adotado no governo do seu aliado José Sarney, e defendeu a atual política econômica. ‘Resolvemos não inventar mágica. Nós resolvemos fazer nossa politicazinha arroz, feijão, bife acebolado. Todo mundo gosta, nacional, internacional, e ninguém reclama. Pode querer mais um bife, ou menos cebola, mas todo mundo gosta.’


O vice-presidente José Alencar também atacou Alckmin pelo que chamou de ‘tom agressivo’ e ‘desrespeitoso’. ‘Acho que ele marcou um gol contra ele’, comentou, opinando que Lula foi ‘educado, respeitoso e sereno’. E lembrou a Bíblia para dizer que ‘os humildes serão exaltados e os exaltados serão humilhados’.’


João Domingos, Lisandra Paraguassú, Tânia Monteiro e Leonencio Nossa


Ordem é fazer petista treinar mais para próximos confrontos


‘Os coordenadores da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que ele foi mal preparado para o debate inaugural do segundo turno, na noite de anteontem. O próprio candidato admitiu a assessores ter ficado atônito com o tom agressivo adotado pelo tucano Geraldo Alckmin – surpresa que fez o petista demorar a reagir, reconhecem auxiliares. Diante da constatação, a ordem é preparar Lula com mais cuidado para o próximo confronto.


Os petistas já esperavam perguntas sobre os escândalos de corrupção, mas previam que Alckmin teria um comportamento menos contundente. A coordenação da campanha de Lula fez ontem uma reunião de emergência e concluiu que o presidente recebeu das assessorias de diversas áreas do governo subsídios incompletos, o que o impediu de fazer o que mais queria: comparações entre sua gestão e a do antecessor, Fernando Henrique Cardoso.


‘Já entendi. A única coisa que eles querem é isso (falar de corrupção)’, disse Lula, logo depois do debate, no avião que o levava de São Paulo a Brasília. Entre os auxiliares com quem ele conversou durante o vôo, estavam os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Dilma Rousseff (Casa Civil) e o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT). ‘Daqui para a frente, estarei mais preparado para qualquer pergunta’,disse.


PRIMEIRO TURNO


Assessores do Planalto consideram que Lula está destreinado. Lembram que ele não participou dos debates do primeiro turno e, ao longo do mandato, concedeu só duas entrevistas coletivas, mesmo assim com pouco espaço para réplica dos jornalistas. Com isso, perdeu o hábito do confronto direto.


Lula contou aos auxiliares ter avaliado durante o debate que não podia reagir no mesmo tom dos ataques,porque é presidente, o que dá mais peso ao que fala. De qualquer forma, houve consenso de que ele não soube encontrar a fórmula adequada.


Apesar de tudo, os petistas viram aspectos positivos nas primeiras pesquisas qualitativas realizadas após o programa. Entre os eleitores mais pobres e com menos instrução, faixa em que Lula tem seus melhores índices de intenção de voto, o candidato tucano foi visto como ‘agressivo’ e ‘metido’.


ERROS


Foi estabelecida até uma comparação com um episódio ocorrido na eleição para governador do Distrito Federal em 1998. No último debate da disputa, o então governador Cristovam Buarque, na época filiado ao PT, demonstrou enorme preparo intelectual. Acabou, porém, humilhando o oponente, Joaquim Roriz (PMDB), ao apontar até erros de português. O peemedebista venceu a eleição, com votação esmagadora nas cidades-satélites que cercam a capital.


Agora, os petistas torcem para que Alckmin sofra os efeitos do que já chamam de ‘efeito Roriz’.’


***


O debate é notícia no mundo


‘O jornal americano The New York Times destaca que o tucano Geraldo Alckmin ‘acusou o presidente Lula de ser mentiroso por tentar esconder uma série de casos de corrupção de altos dirigentes do Partido dos Trabalhadores nos últimos dois anos’. Em seguida, lembra a defesa de Lula, segundo a qual, ‘ao contrário de outros governos, o seu não varre a corrupção para debaixo do tapete, mas manda investigá-la’. O jornal comenta que ele ‘partiu para o ataque, criticando o fracasso de Alckmin, que não desmantelou as gangues criminosas de São Paulo’. E prossegue: ‘Lula disse que seus programas sociais tiraram milhões de pessoas da pobreza. O povo está comendo mais.’


No Clarín, de Buenos Aires, a correspondente Eliana Gosman escreve: ‘Foi um embate duríssimo, em que o presidente e seu adversário não deixaram nada de fora. Puseram tudo a nu, com empresas e figuras ligadas ao poder expostas à condenação pública pelas denúncias de seus ilícitos – feitas por um e outro candidato.’ Segundo o jornal, ‘o presidente contra-atacou com dados da história do próprio Alckmin, que – segundo Lula – encobriu 69 casos de denúncia contra ele, por corrupção. O ex-governador deu um tom de agressividade pouco freqüente na sociedade brasileira, ao colocar-se no limite do respeito à investidura presidencial. Chamou Lula de mentiroso várias vezes…’


Com o título ‘Alckmin põe Lula contra as cordas’, o diário espanhol El País cita comentaristas brasileiros segundo os quais ‘Alckmin ganhou de modo contundente e agressivo o primeiro debate contra o presidente Lula, a quem pôs várias vezes contra as cordas em um debate que durou duas horas e 15 minutos.’ Diz que os dois discutiram ‘sobre corrupção, eficiência administrativa e política externa’. Mencionando a grande expectativa pelo confronto, El País comenta que o Brasil ‘se preparava para assistir a uma verdadeira luta de boxe, sem problemas de tempo e com liberdade de perguntas e provocações.’ E avalia que a grande surpresa foi mesmo a atitude mais dura de Alckmin.


O Financial Times, de Londres, segue o mesmo tom dos demais: ‘A batalha pela Presidência do Brasil assumiu um tom mais agressivo’. Lula ‘foi posto na defensiva por um surpreendentemente duro questionamento’ de Alckmin. O diário londrino destaca que o debate ‘foi muito esperado’, porque Lula ‘declinou de participar’ dos anteriores. ‘Mas o tom agressivo e a performance incisiva (de Alckmin) estava fora do seu figurino como um tecnocrata insípido’. Lula, prossegue o FT, estava visivelmente irritado durante boa parte do debate. ‘O presidente não esperava que Alckmin se comportasse daquele modo. Ninguém esperava. Lula estava completamente desorientado.’’


Patrícia Villalba


Candidatos terão mais 3 confrontos


‘O próximo confronto direto entre os candidatos à Presidência já tem data e local: será na TV Gazeta, no dia 17. A emissora tem a data como certa, mas ainda aguarda a confirmação da participação do presidente Lula, que concorre à reeleição pelo PT. Dizendo-se ‘sempre animado’, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, já confirmou presença.


Neste segundo turno, dada a disposição do presidente Lula em participar de debates, não será pela falta deles que algum um eleitor deixará de decidir seu voto. Contando com o programa da Band do último domingo, serão quatro debates até o dia da votação (29). Há ainda a rádio CBN, que estuda promover um encontro dos candidatos em seu estúdio.


Na Record, o debate será no dia 23. Antes, os dois candidatos concedem entrevista ao vivo, de 12 minutos, ao Jornal da Record, nos dias 16 e 17 – a ordem será definida por sorteio.


Na próxima segunda-feira, dia 16, Lula será entrevistado pelo Roda Viva. A participação será gravada, provavelmente em Brasília. Alckmin será entrevistado, tudo indica que ao vivo, nos estúdios da TV Cultura em São Paulo, no dia 23. Os dois programas vão ao ar às 22h30.


Como já é tradição, o último encontro entre os candidatos antes da eleição será realizado pela TV Globo. Lula e Alckmin devem se encontrar na arena da emissora no dia 27, último dia que pode ser usado para eventos de campanha, segundo determina a Lei Eleitoral. Um dia antes, 26, a emissora promove o confronto dos candidatos aos governos estaduais em todos os Estados que terão segundo turno.’


Arnaldo Jabor


Qual é a origem do dinheiro? Este é o lema da campanha da oposição


‘O debate de domingo serviu para vermos dois lados do Brasil. De um lado, a busca de um ‘choque de capitalismo’, de outro um delirante choque de um socialismo degradado em populismo estatista, num getulismo tardio. De um lado, S. Paulo e a complexa experiência de um Estado industrializado, rico e privatista e, do outro, a voz de grotões onde o Estado ainda é o provedor dos vassalos famintos. De um lado, a teimosa demanda de Alckmin pelo concreto da administração pública e, do outro lado, o Lula apelando para pretextos utópicos, preferindo rolar na retórica de símbolo, lendo constrangido estatísticas e citando obras quem nem foram iniciadas. Alckmin foi incisivo; Lula foi evasivo. Lula saiu da arrogância do primeiro turno para o papel de ‘sóbrio estadista injustiçado’. Mas não deu para esconder seu mau humor quase ofendido, por ter de dialogar ali com aquele ‘burguês’, limpinho, sem barba. Faltou-lhe a convicção de suas afirmações, pois seu ‘amor ao povo’ não teve a energia de antes. Gaguejou, tremeu, suas frases peremptórias não tinham ritmo, não tinham ‘punch line’, não ‘fechavam’, enquanto Alckmin parecia um cronômetro, crescendo no ritmo e concluindo com fragor. Lula estava rombudo, Alckmin era um estilete. Lula estava deprimido porque raramente foi contestado assim, ao vivo. Sempre recuamos diante do sagrado ‘Lulinha do povo’, imagem que se rompeu domingo. Houve um leve sabor de sacrilégio na acusação do agora agressivo ‘picolé de chuchu’. Alckmin rompeu a blindagem do Lula, protegido dos escândalos. Alckmin atacou a intocabilidade do operário sagrado e tratou-o como cidadão. Isso. O Lula perdeu um pouco da aura de ‘ungido de Deus’. Lula sempre se disse ‘igual’ a nós ou ao ‘povo’, mas sempre do alto de uma intocabilidade, como se ele estivesse ‘fora da política’. Sempre houve um temor reverencial por sua origem pobre; qualquer crítica mais acerba soava como um ataque da ‘elite reacionária que não suporta um operário no poder’, como clamam tantos lulo-colunistas e artistas burros. Quando apertou o cerco, Lula tentou se valer dos pobres, dos humildes, falou da mãe analfabeta, mas sempre evitou responder a qualquer pergunta concreta, como se a concretude fosse uma ofensa a seu mundo ideológico puro, acima da vida ‘comum’. Várias vezes, suas falas não faziam sentido, porém mantinham para o espectador acrítico aquele ronronar grosso que empresta um ritmo de fundo em torno da sua imagem de ‘símbolo dos pobres’. Lula não precisa dizer a verdade; basta parecer. Sempre que o Alckmin o encostava na parede, ele chamava as verdades proferidas de ‘leviandades’, o que é muito comum no vocabulário petista que nomeia de ‘erros’ os crimes cometidos ou de ‘meninos’, os marmanjos corruptos que transportam dólares na cueca ou nas maletas e que foram ‘desencaminhados’, coitados, por bandidos comuns, talvez até (quem sabe?) ‘a serviço’ de tucanos solertes.


Lula tentou encobrir os crimes de sua quadrilha apelando para pretensos ‘crimes’ de gestões anteriores, como barragem de CPIs, votos comprados, caixa 2 sem provas.


Ele e os petistas se julgam donos de uma ‘meta-ética’, uma ‘supramoral’ que os absolveria de tudo e, por isso, Lula se utilizou de mentiras e meias-verdades para responder às acusações de mensalões e sanguessugas em seu governo. Para justificar a omissão e a passividade diante da Bolívia e do prejuízo de 1 bilhão e meio de dólares nas instalações da Petrobrás, Lula chegou a criticar a violência burra do Bush para se absolver na política de ‘companheirismo’ com o Evo Morales.


Ao invés de se defender de acusações pontuais, dizia que a era-FHC também era corrupta, como nas brigas de bordel, em que as prostitutinhas se defendem apontando os pecados das outras.


Lula tentou fugir da pergunta que não vai se calar: ‘Qual a origem do dinheiro?’


Lula respondeu com a metáfora batida : ‘Muitas vezes o sujeito está na sala e não sabe o que está acontecendo na cozinha.’ Ou seja: é normal que o chefe da Casa Civil e agora o Presidente do partido, Berzoini, Hamilton Lacerda, o chefe da campanha do Mercadante, o diretor do Banco do Brasil, seu assessor, seu churrasqueiro, petistas ativos no diretório, todos soubessem e trouxessem o dinheiro em malas, sem avisar o chefe. E quer que a gente engula. Lula pediu a Deus que não o mate ‘até que ele saiba de onde veio o dinheiro’. A resposta obvia é: ‘Não precisa perguntar a Deus; basta perguntar aos seus assessores na sala ao lado…’, como escreveu a Miriam Leitão.


Quando Alckmin o apertava, ele o desqualificava: ‘Meu Deus… como é que pode? Você está nervoso, Alckmin… Não é o seu estilo…’, querendo trancar o desafiante em seu papel de gentil picolé. Diante do pedido de explicações, fugia, tentando abordar ‘questões programáticas’ (como se ele as tivesse…) , como se elas pudessem estar acima das ‘bobagens de crimes que sempre houve, de erros de companheiros’ etc… Assim, tentou voar por cima da ética assassinada.


Acontece que os crimes de sua quadrilha ‘são’ a questão principal e também ‘programática’ porque, além da imoralidade, esses crimes prefiguram uma política que visa a atropelar a democracia através de grossuras truculentas que lhes mantenham no emprego a qualquer custo.


Lula não pôde responder à pergunta fatal ‘De onde vem o dinheiro?’ porque sua origem é conhecida.


Todos sabemos que o dinheiro veio de algum nicho onde está guardado para ‘despesas do partido’, dinheiro desviado ou de fundos de pensão ou de estatais ou de bancos oficiais ou de contratos superfaturados. Todos eles sabem. Só falta o nome do dono da cueca ou das maletas. E certamente o advogado do governo não permitirá que saibamos até o dia 29.


Tudo está óbvio. Neste momento perigosíssimo de nossa História, só resta esperar que o ‘povo’ perceba o óbvio, já que os intelectuais jamais o enxergarão.’


TV DIGITAL
O Estado de S. Paulo


Transmissão da TV digital só no fim de 2007


‘O início da transmissão comercial da TV digital na cidade de São Paulo deverá ficar só para o fim do próximo ano. O atraso do Ministério das Comunicações em divulgar o cronograma de distribuição de canais digitais levou as emissoras a refazerem a estimativa anterior, que previa iniciar a operação no primeiro semestre de 2007. O início das transmissões em outras cidades também será adiado. O cronograma deve ser anunciado hoje pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa.’


CABLEVISION
O Estado de S. Paulo


Cablevision tem oferta de US$ 7,9 bi


‘A família americana Dolan, maior acionista da rede de TV a cabo Cablevision, fez uma oferta para comprar os 77,5% de ações que estão no mercado. A idéia é fechar o capital da empresa. A oferta, de US$ 27 por ação, totaliza US$ 7,9 bilhões. Apesar de possuírem 22,5% do capital total da Cablevision, os Dolan detêm 74% das ações com direito a voto. É a segunda vez em menos de dois anos que a família tenta o controle total da companhia.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Pânico não é livre


‘O Ministério da Justiça (MJ) negou o pedido da Rede TV! para o retorno do Pânico a seu antigo horário de exibição: às 18 horas. A decisão do ministério, que foi publicada ontem no Diário Oficial, tem como base um pedido feito pela emissora em julho para que o órgão revisse a reclassificação da atração como imprópria para menores de 12 anos, obrigando-a a migrar para a faixa das 20 horas.


No pedido, a emissora se comprometia a eliminar as cenas de violência e de nudez do programa e a ‘pegar mais leve’ com o conteúdo da atração para retornar à classificação livre.


O quadro Lingerie em Perigo, em que, como o próprio nome diz, Sabrina Sato aparecia em aventuras só de roupas íntimas foi tirado do ar para amansar os examinadores do MJ. De nada adiantou.


Antes de soltar a decisão, o órgão monitorou o Pânico na TV! por quase 2 meses para analisar a mudança no conteúdo. Segundo a publicação, o MJ chegou à conclusão que a trupe realmente diminuiu as inadequações ao horário, mas seguiu em frente com alguns excessos e está fazendo merchandising de bebida, o que não é permitido em programas de classificação livre.


entre- linhas


Faustão não escondeu sua irritação anteontem no quadro Dança no Gelo ao ver sua diretora, Lucimara Parisi – que participa da competição -, receber notas altas dos jurados apesar de sua apresentação ser uma das mais fracas. O júri deu nota a Lucimara pelo esforço da diretora, que quebrou o braço durante os ensaios do quadro dias atrás. Fausto disse que a produção não podia vazar esse tipo de informação e depois encrespou com Lucimara e com o júri. Quis ser justo com os outros concorrentes.


O debate com os presidenciáveis exibido domingo pela Bandeirantes registrou a maior média de audiência da emissora dos últimos dois anos: 16 pontos. No horário, o SBT marcou 16,7 e a Globo 28,5 pontos.


Atualmente no ar na novela Cristal, do SBT, o ator Alexandre Barilari grava esta semana em São Paulo participação no videoclipe da banda Barba Ruiva.


O Multishow conseguiu a liderança na TV paga no horário de exibição do programa de clipes Top TVZ com um vídeo inédito da banda Mamonas Assassinas, no dia 23 de setembro. Mais de 1 milhão de pessoas assistiu ao clipe.


Por falar em Multishow, o Circo do Edgard recebe hoje Arnaldo Antunes, às 21h15.


O GNT estréia na madrugada o documentário A Vida antes da Vida, que acompanha o que acontece nos 9 meses de gestação de um bebê. No ar à 0h30.


Seqüestro comunista


Danni Carlos, a Renée de Cidadão Brasileiro, da Record, se apaixona por um militante comunista. Na cena que vai ao ar hoje, os amigos do amado suspeitam das intenções da moça e acabam seqüestrando-a. Resolvido o conflito, ela se torna uma verdadeira guerrilheira.’


************


Revista Imprensa


Outubro de 2006


COMUNICAÇÃO & RELIGIÃO
Paulo Nassar


Entre Igreja e devoto, o santo e uma disputa.


‘É a comunicação que mantém uma organização viva. Tome-se como exemplo inquestionável e poderoso a Igreja Católica Romana que há mais de dois mil anos pensa, estrutura o pensamento e o difunde por meio de mensagens inspiradas – segundo seus intelectuais – por forças que habitam o elevado, o ‘lá-no-alto’.


Mensagens que chegam até os fiéis por meio de uma variedade incrível de mídias, tais como o badalar dos sinos, em horários certos de cada dia, em aldeias ou pequenas cidades, sem arranha-céus nem chaminés de fábricas, e os lindos vitrais a estampar a via-crúcis, a via-dolorosa, a lembrar o sofrimento de Jesus Cristo, em centenas de centenárias igrejas ao redor do mundo, antecipando outdoors e back-lights. Mensagens como a eucaristia, que tem na hóstia seu principal veículo; informação pessoal, ministrada, como parte de sofisticado ritual, uma a uma, com gosto e compromisso. Por fim, a mensagem que chega à Deus por meio de ação de relacionamento pessoal, da conversa em voz baixa, contrita, ao pé do confessionário.


E os santos? Estes assumem o importante papel de fazer a mediação, o meio de campo, entre nós, insignificantes mortais pecadores, e o glorioso Divino. E dentre os numerosos santos e santas cultuados pelos brasileiros, um adquire posição de destaque, configurando-se em fenômeno de crítica e público. Estamos nos referindo a São Judas Tadeu. Segundo a lenda, Judas Tadeu era natural da Galileia, Palestina, e primo-irmão de Jesus. Eleito por Cristo como um dos doze Apóstolos, foi sacrificado na antiga Pérsia, enquanto pregava a Boa Nova. Ainda segundo a lenda, Judas Tadeu teria sido enterrado na Babilônia e, posteriormente, trasladado para França, por ordem do imperador Carlos Magno, até ser inumado na Basílica de São Pedro, em Roma onde seu corpo repousaria até hoje.


No Brasil, sua notoriedade vem da década de 40, com a construção da paróquia e santuário no bairro paulistano do Jabaquara, obra do padre e primeiro vigário, João Buscher, da Congregação Sagrado Coração de Jesus. A partir desse núcleo, a devoção se irradiou para centenas de cidades. A primeira festa foi celebrada no dia 28 de outubro de 1940. No ano seguinte, passou a acontecer a cada dia 28 de cada mês, quando recebe 60 mil devotos. Mas em outubro, na grande festa, mais de 500 mil devotos visitam o Santuário, para pedir ou agradecer graças alcançadas por meio de sua intercessão.


Além de padres, irmãos e funcionários da paróquia, no dia dedicado ao santo trabalham cerca de 700 voluntários na paróquia. Para o povo, o que está em foco é a festa de seu santo milagroso, o ‘Santo das causas impossíveis’, o ‘Poderoso intercessor’, amigo, apóstolo e parente de Jesus Cristo.


Essa fascinante história de devoção a São Judas Tadeu, a demonstração do poder de comunicação da Igreja e seus bastidores políticos está em ‘A casa do santo & o santo de casa’, do antropólogo e jornalista Rodolfo Witzig Guttilla. Guttilla, que é diretor de Assuntos Corporativos da Natura, enfoca, em seu estudo uma dinâmica pouco ou nunca visível: a disputa pelo poder simbólico, representado pelas práticas legítimas ditadas pela Igreja e pelas práticas profanas, dos fiéis, encaradas como magia.


Nesse contexto, os santos são da Igreja, mas também pertencem aos devotos. Por isso, a gestão do sagrado, gera conflitos e enfrentamentos, a envolver padres, agentes de pastoral e devotos, segundo Guttilla, ‘todos empenhados em fazer prevalecer um significado para o santo e para a devoção, de acordo com a visão de mundo e os interesses de cada facção’.


No Brasil, os santos são mestiços. Portugueses e espanhóis trouxeram os seus, que depois de intensa catequese se tornaram objeto de adoração dos nativos, assim como dos africanos, escravizados. Obrigados a se converter, estabeleceram um paralelo com seus orixás, para manter sua devoção. O povo do Jabaquara não deixou por menos, e também abrasileirou o seu Santo.


* Paulo Nassar é professor da ECA-USP e diretor-presidente da ABERJE – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial.’


************


Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 10 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Janio de Freitas


Do debate à discussão


‘SE O DEBATE Lula x Alckmin na Bandeirantes levou alguém a mover-se com sua preferência de um para outro candidato, o imaginável é que se trate de um portador de hiperatividade, à espera sempre de um pretexto. As votações de internet que aí estão, para sugerir vencedor, não têm representatividade, expostas que são a mobilizações organizadas para amplificar determinar apoio. Não só votações de sentido político, aliás, sujeitam-se na internet às deformações de representatividade.


Não houve debate. Houve discussão. O novo modelito apresentado por Geraldo Alckmin determinou o rumo do confronto, não incluindo nele nem uma só idéia ou proposta sua para o eventual exercício da Presidência, nem permitindo que o adversário o fizesse, caso o desejasse mesmo. O outro componente do modelito teve menos conseqüências para o eleitor ansioso por saber, afinal, um pouco do que pense o ex-governador de São Paulo. Mas não foi menos impróprio para o que deveria ser a confrontação de projetos para o país.


Geraldo Alckmin, à revelia do que até então aparentara, apresentou-se como um misto de Carlos Lacerda e Fernando Collor. O pior de ambos: a agressividade compulsiva de Lacerda e a arrogância de Collor. A agressividade inquisitiva de Alckmin, até para fazer perguntas insossas e que mal conseguia concluir, não parecia de Geraldo Alckmin, o imperturbável. A ostentação de uma superioridade humilhante lembrou muito pouco, se chegou a lembrar, o Geraldo Alckmin até então apresentado aos eleitores, e muito o Collor do debate com Lula.


O Geraldo Alckmin da Bandeirantes pode ter correspondido à cobrança de Fernando Henrique, que expôs de público a sua nostalgia pela ausência de Carlos Lacerda, não pelo brilho, mas pela agressividade. Nunca foi a atitude adotada na carreira de Fernando Henrique, conhecedor de tudo o que convém à propulsão de uma carreira, e deixou Lacerda distante de tudo o que mais quis.


Lula também não esteve à altura da ocasião. Acima de outros possíveis motivos, por este: não poderia estar. Não tinha saída. Caso recusasse, para falar de propostas, o rumo inquisitorial dado por Alckmin já a partir do primeiro instante do confronto, Lula seria acusado de fuga aos temas incômodos. Aceito o rumo, para não se mostrar fugitivo, ficou condicionado à discussão em lugar de debate programático, supondo-se que o desejasse como o sugeriu mais de uma vez.


Caso as investigações não a respondam antes, continuará explorada a pergunta mais repetida por Alckmin na discussão: ‘De onde veio o dinheiro?’ (do negócio com o dossiê). Não é uma indagação-acusação honesta. Até agora não consta nenhuma sugestão objetiva, nem sugestão, de que Lula tenha algo a ver com o negócio do dossiê ou, ao menos, conhecimento dele -como Roberto Jefferson lhe deu, em parte, do mensalão.


Ao mérito


Fernando Gasparian deixou uma história de bravura na luta contra a ditadura e contra a desnacionalização do Brasil. Pagou preços altíssimos por isso. Sem reclamar, porque sempre pronto para o próximo passo na mesma direção.’



João Pedro Stedile


É preciso barrar a direita e derrotar Alckmin


‘DE 1990 a 2002, as classes dominantes implementaram um programa neoliberal desastroso para a economia e para o povo. Entregaram ao capital financeiro e internacional nossas melhores empresas, estatais e privadas. Dilapidaram os serviços públicos. A dívida pública interna cresceu vergonhosamente, e o governo passou a usar 30% de toda a receita federal para pagar juros. O povo, as empresas e o governo passaram a pagar as mais altas taxas de juros do mundo. Resultado: a economia não cresceu, e houve maior concentração da riqueza. Ao povo restou a pobreza, mais desigualdade e o maior desemprego de toda a história.


Sentindo na carne esses problemas, nas eleições de 2002, o povo votou contra o neoliberalismo e elegeu o presidente Lula.


Nos últimos quatro anos, houve um governo de coalizão, como costuma dizer o ministro Tarso Genro, e as forças do capital continuaram influenciando para manter a política neoliberal. Por outro lado, forças de esquerda conseguiram avanços na política externa, na defesa das estatais e em algumas áreas sociais, como a educação pública e o salário mínimo.


Os movimentos sociais temos sido críticos da política econômica. O MST tem se manifestado e lutado contra a lentidão da reforma agrária, a prioridade dada ao agronegócio (que, por sinal, votou contra o governo) e o não-cumprimento do plano nacional de reforma agrária.


Compreendemos que o contexto político desse período foi adverso para as forças populares, pela ausência de mobilização de massa e pelo marasmo da maioria dos sindicatos e movimentos. Alguns se acomodaram ou tiveram suas direções cooptadas ideologicamente. Outros foram massacrados pela ofensiva neoliberal que acabou com diversos setores da classe trabalhadora. Há um refluxo do movimento de massa, que influiu decisivamente na atual correlação de forças.


Vieram as eleições de 2006. Defendíamos a necessidade de aproveitar a campanha para debater um novo projeto popular para o país. Infelizmente, predominaram visões oportunistas e de marqueteiros e a repetição de métodos espúrios, com uso abusivo do dinheiro, compra de cabos eleitorais etc. Tudo bancado pela contribuição de empresas interessadas em favores governamentais. O resultado foi a campanha sem entusiasmo, sem militância e sem interesse do povo.


Quando tudo parecia já acordado, e os resultados, previstos, eis que, na última semana, por graves erros da campanha Lula, a direita encontra motivos para se unificar em torno de Alckmin (como com Collor, em 1989).


Foi para a ofensiva e, usando acintosamente seus meios de comunicação, levou a eleição para o segundo turno. O mesmo ocorreu em diversos Estados, com a chegada ao segundo turno de candidatos direitistas.


Mas, como tudo na vida, há contradições. A unidade da direita em torno de Alckmin provocará o debate de idéias e projetos. A campanha deverá deixar claros os interesses de classe que há por trás de cada candidatura.


A candidatura Alckmin, que representa os interesses do capital financeiro, das transnacionais, do governo Bush, da burguesia brasileira e dos fazendeiros do agronegócio, está ansiosa para retomar as rédeas do governo.


Defendem todos os dias nos jornais ser preciso seguir privatizando -Petrobras, Correios, estradas e bancos estaduais. Querem as reformas trabalhista, tributária e da Previdência para ampliar seus lucros. Propõem a garantia do pagamento de juros dentro da Constituição pelo mirabolante plano déficit zero. Recolocam a Alca como uma necessidade -e, assim, subordinariam ainda mais nossa economia e o país aos interesses do império.


E, se os pobres ousarem lutar, chamarão os ‘capitães-do-mato’ e oferecerão polícia e cadeia. Por isso, os movimentos sociais e todos os seus militantes devemos nos mobilizar, arregaçar as mangas e ir para as ruas para derrotar a candidatura Alckmin e os seus interesses de classe. Não podemos vacilar. Vamos transformar a campanha num debate de projetos e de idéias. Uma vitória de Alckmin seria uma derrota gravíssima para o povo brasileiro.


E, no próximo mandato do governo Lula, vamos seguir mobilizados para derrotar a política neoliberal e debater na sociedade um novo projeto para o país. O Brasil precisa encontrar seu rumo. Precisa de um projeto que coloque como prioridade do Estado e da política a solução dos principais problemas do povo, como o desemprego, a educação, a reforma agrária, a moradia e a distribuição de renda, para todos e todas. Não há mudanças sociais sem a participação do povo, sem a mobilização popular.


JOÃO PEDRO STEDILE, 52, economista, é membro da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da Via Campesina Brasil.’



Editorial


O primeiro debate


‘A MAIOR surpresa no primeiro debate entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin foi a agressividade do candidato tucano. O ex-governador de São Paulo despiu-se da continência verbal e gestual que tem marcado a sua carreira política e partiu para o ataque aberto e sem tréguas contra seu adversário.


Se a estratégia de Alckmin era atrair Lula para a discussão sobre os desmandos na gestão petista e manter o candidato à reeleição na defensiva, o postulante do PSDB logrou implementá-la com sucesso -em especial na primeira parte do encontro realizado no domingo pela TV Bandeirantes. Se o objetivo do presidente era minimizar a discussão sobre ética a fim de concentrar-se em comparações com o governo FHC favoráveis a sua gestão, não conseguiu alcançá-lo.


Lula pagou o preço do desprezo com que vem tratando o exercício do contraditório. Um político que não se presta a entrevistas coletivas regulares, que faltou aos debates do primeiro turno, que, acostumado à bajulação, fica contrariado diante de perguntas francas dificilmente se sairia bem num evento como o de anteontem. O pasmo do presidente ficou patente já em sua primeira intervenção: nem sequer cuidou de cumprimentar os telespectadores que assistiam ao encontro.


Atestar que o presidenciável do PSDB conseguiu cumprir melhor seu ‘plano de vôo’, no entanto, não significa afirmar que Alckmin tenha ‘vencido’ o debate. Essa é uma avaliação que depende de como os eleitores que assistiram ao evento enxergaram o choque entre o petista e o tucano -uma percepção no mais das vezes subjetiva. Igualmente temerário é especular à quente, ainda sem uma pesquisa confiável, acerca do impacto dessa percepção na intenção de voto.


O que é líquido e certo é que o Brasil ganhou com essa exposição, tão aberta quanto as normas do debate permitiam, dos dois políticos que pretendem presidir a República de 2007 a 2010. A agressividade -tom proposto pelo tucano, mas aceito e ‘retribuído’ pelo petista ao longo das duas horas e meia do encontro- não descambou para fora da arena pública, apesar do uso, de parte a parte, de palavras fortes. Contida nesses limites, ajudou a conferir temperatura à discussão e marcou a tentativa de cada candidato de diferenciar-se em relação a seu adversário.


A nota decepcionante, mais uma vez, ficou por conta da baixa preocupação, tanto de Lula como de Alckmin, com o eixo programático. A favor do crescimento econômico, da expansão do emprego, da distribuição da renda, da queda dos juros, da eficiência do gasto público, de avanços na saúde e na educação -e da cura do câncer, alguém poderia acrescentar- todos são. Como chegar lá, que é o que faz a diferença numa eleição com dois candidatos, ninguém diz.


Fica a sensação de que nem Lula nem Alckmin têm noção exata de quais seriam suas prioridades de governo a partir do ano que vem. Ou pior: sabem muito bem o que devem fazer, mas estão reservando as ‘maldades’ para depois da eleição.’


Clóvis Rossi


A assombração


‘É complicada a vida de um governante que, chamado reiteradamente de mentiroso por seu principal oponente do momento, não consegue demonstrar, em momento nenhum, que quem mente é o acusador. Aconteceu domingo com Luiz Inácio Lula da Silva ante um Geraldo Alckmin subitamente transformado de ‘picolé de chuchu’ em atirador de facas.


O debate da Band serviu para demonstrar, uma vez mais, que, apertado, Lula entrega os companheiros sem a menor cerimônia para tentar livrar-se do fantasma que persegue o seu governo e o seu partido. Já havia ocorrido em entrevistas a William Bonner/Fátima Bernardes e, antes, a Pedro Bial, todos da Globo.


O presidente entrega seus auxiliares e seus amigos para poder refugiar-se no cantochão de que não pode saber de tudo o que acontece nos cantos de seu governo, em especial, os cantos escuros, que não são poucos.


Mesmo que seja verdadeiro, o argumento tem, por baixo, por baixo, dois graves inconvenientes:


1 – Dá a Alckmin um habeas corpus preventivo. Se Lula não sabe do que se passa em seu próprio governo, como Alckmin poderia saber, ainda mais quando a suspeita recai sobre governo alheio (no caso o de Fernando Henrique Cardoso)?


2 – Permite a dúvida que foi explicitada na pergunta do jornalista Franklin Martins. Se Lula não sabe das coisas, quem pode garantir que, no futuro, não se repitam os crimes cometidos (e confessados) às costas do presidente? Pior: quem pode garantir que neste exato minuto algum ‘aloprado’, como diz Lula, não esteja tramando algum novo trambique em alguma sala do próprio Palácio do Planalto?


Significa dizer que a assombração continuará pairando sobre um eventual segundo governo Lula, mesmo que não seja suficiente para impedir agora a sua vitória.’


Eliane Cantanhêde


Perguntar não ofende


‘No segundo bloco do debate de domingo na TV Bandeirantes, Lula crispou o rosto, começou a ficar vermelho e deu dois passos miúdos para trás. Pensei: ele não está suportando a pressão, vai perder as estribeiras.


Mas Lula não partiu para cima de Alckmin nem soltou palavrões. Foi em busca de um personagem. Tentou ser agressivo, não funcionou. Tentou fazer graça por ler as perguntas, não foi engraçado. Tentou ser irônico, não havia clima. Depois de quatro anos sem debates e entrevistas, pareceu enferrujado.


O melhor momento de Lula foi num raro espaço para marcar diferenças de fundo: a política externa. Sereno, defendeu a ampliação dos horizontes para a África e a Ásia, criticou a pressão para esmagar um país miserável como a Bolívia e concluiu com seu melhor argumento: as exportações dobraram.


Esse lapso positivo -e destoante da sua performance em geral- comprova que não adianta caprichar só na forma nem entupir o telespectador-eleitor com números.


Quando tem resposta, conteúdo, argumento, Lula convence e vai bem. Quando não tem, segue o mesmo roteiro: vacila, se irrita, ironiza.


Nem sempre dá certo. ‘Você pode enganar todos algum tempo, ou alguns o tempo todo, mas não dá para enganar todos o tempo todo.’


No final, a festa no estúdio foi dos tucanos, enquanto os petistas saíam discretamente. A imagem dizia muita coisa sobre as avaliações das duas campanhas, que pode ou não coincidir com a avaliação de quem mais interessa: o eleitorado, especialmente o indeciso, o que vota nulo ou o que é passível de mudar de voto, para um lado ou para outro.


O fato é que a estréia demarcou o território do segundo turno: Lula tentando trazer FHC para o debate, e Alckmin insistindo na ética: ‘De onde veio o dinheiro do dossiê?’ Sem resposta, Lula se imobiliza e deixa a dúvida: será que a resposta é pior do que não tê-la?’


Carlos Heitor Cony


Quem ganhou o debate


‘O debate de domingo na Rede Bandeirantes, em que pese a eficiência técnica de sua produção, foi de pasmosa inutilidade política e eleitoral. Se a parte técnica merece elogios, o conteúdo a cargo dos dois presidenciáveis foi de uma mediocridade desoladora.


Temo que os demais debates repitam as mesmas acusações, as mesmas explicações, as mesmas insinuações -a mesmice substituindo o que deveria ser realmente um debate de idéias e de programas.


Não faltarão pesquisas assegurando que Lula foi melhor que Alckmin ou o contrário, Alckmin melhor que Lula. A agressividade de ambos substituiu o raciocínio claro e convincente. Impressionante como Lula citou números estratosféricos de suas realizações, milhões disso ou para isso, milhões de pessoas alimentadas, milhões de empregos distribuídos.


Em todo caso, dentro do clubismo esportivo que cerca a política nos instantes decisivos, como os de agora, se me perguntarem a quem o debate mais favoreceu, eu diria que Alckmin foi beneficiado -não pelas respostas às perguntas que deu e formulou, mas pela sua exposição na mídia que cobriu o debate.


Lula é um animal político mais do que conhecido, amado ou desprezado por uma legião de eleitores. Alckmin é novo, um rosto, uma voz ainda desconhecida para grande parte do eleitorado. Pensando bem, os chamados indecisos já conhecem Lula de sobra e, se continuam indecisos, é porque não pretendem votar nele.


A opção então, é conhecer e avaliar o seu oponente, e é neste particular que os debates favorecerão o candidato tucano, independentemente do conteúdo, das acusações e das defesas que apresentar nas próximas ocasiões.


Lula precisará criar um fato de grande impacto para motivar os indecisos a votar nele.’


Pedro Dias Leite e Eduardo Scolese


Alckmin agiu como ‘delegado de porta de cadeia’, diz Lula


‘Um dia após sofrer intensos ataques de Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro debate do segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou sair da defensiva. Segundo ele, o embate ‘foi um dos dias mais tristes’ que já viveu como político, porque pensou não estar diante de um candidato, mas sim ‘na frente de um delegado de porta de cadeia’.


Surpreendido pelo tom agressivo do tucano, Lula mostrou nervosismo nos dois primeiros blocos do debate, quando Alckmin questionou a origem do ‘dinheiro sujo’ apreendido com petistas para comprar um dossiê contra o PSDB.


Em evento de campanha com cerca de 30 cantores evangélicos no Palácio da Alvorada, organizado pelo senador Marcelo Crivella (PRB), ele criticou o tucano: ‘Confesso a vocês que ontem foi um dos dias mais tristes que eu vivi como político. Já debati com Ulysses Guimarães, com Brizola, com Mario Covas, com Aureliano Chaves, com Afif, com Collor, com Serra, com Ciro Gomes, com Garotinho, com Jânio Quadros, com Franco Montoro. Tinha um nível político assimilável no debate. [Ante]ontem, eu pensei que não estava na frente de um candidato, pensei que estava na frente de um delegado de porta de cadeia’, disse o presidente.


Lula acusou o tucano de bater na tecla da corrupção para fugir do debate sobre programa de governo: ‘Por que os nossos adversários não querem discutir política econômica? Por que eles não querem discutir política social? E vocês que viram o debate ontem perceberam que o cidadão é o samba de uma nota só. Ele pegou tudo que é matéria de jornal e resolveu transformar no programa dele’.


E prosseguiu: ‘Aquela velha sanfona quebrada que só faz o mesmo som é o que eles estão fazendo a campanha inteira’.


Lula disse que possivelmente é ‘o único brasileiro que governou este país nos últimos anos que tem autoridade de falar em corrupção’ porque ‘eles não tiveram, não tiveram. Porque é fácil não sair corrupção no jornal: é só engavetá-las’.


E achou Alckmin ‘pedante’: ‘Vocês perceberam que tinha dois projetos. O nosso, que representa os anseios da maioria da população, e outro, que representa o jogo de interesse dos grupos que tradicionalmente mandam no Brasil desde que Cabral aqui pôs os pés. Aquele grupo de interesse arrogante, pedante, aquelas pessoas que falam com o nariz em pé’, disse.


‘Confesso a vocês que foi triste, para mim e para minha mulher. Eu imaginava que o debate político pudesse fluir para ele dizer as coisas que ele queria dizer. O povo não quer ver candidato ficar xingando um ao outro, o povo quer saber o seguinte, o que é que vai fazer para melhorar a minha vida.’


Sobre política econômica, disse: ‘Resolvemos fazer a nossa politicazinha feijão com arroz com bife acebolado, que todo mundo gosta e ninguém reclama. Pode querer mais um bife, menos cebola, mas todo mundo gosta de comer.’’


Adriano Ceolin e Kennedy Alencar


Surpreendido por agressividade de rival, petista vai estudar seus erros em debate


‘A agressividade de Geraldo Alckmin no debate da Rede Bandeirantes surpreendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais auxiliares. Lula reverá o programa inteiro para estudar seus erros.


As principais falhas do presidente, na avaliação do governo, teriam sido nervosismo em algumas respostas, excesso de gesticulação e sorrisos quando aguardava Alckmin fazer a pergunta e fala confusa ao citar dados em defesa de sua gestão.


Jaques Wagner, governador eleito da Bahia e integrante do comando da campanha de Lula, disse ontem que o tucano se comportou com ‘uma agressividade não-natural’. Wagner afirmou que Lula não é ‘máquina de fazer política’ e que, por isso, demonstrou ‘carga de emoção’ (nervosismo) quando questionado sobre o dossiêgate e escândalos de corrupção.


‘Mais do que surpreso, pode ter ficado decepcionado porque, mesmo sendo adversário, a gente tinha uma expectativa de que se poderia fazer um debate esclarecedor. Infelizmente, a única coisa que o candidato do PSDB queria esclarecer era onde estava o dinheiro’, disse Wagner.


Jaques Wagner insistiu ontem na estratégia petista em dizer que, num possível governo de Geraldo Alckmin, haverá privatizações de empresas públicas como a Petrobras. Ele citou que, durante do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), foram feitas gestões para ‘assassinar a empresa’.


‘Eu sou do ramo. E digo que tudo o que foi feito na Petrobras durante o governo Fernando Henrique era a preparação para a venda ou para a degradação da empresa’, disse.


O governador eleito afirmou que Lula esperava que Alckmin discutisse mais projetos político-administrativos em vez de manter o debate em torno da origem dos R$ 1,7 milhão -dinheiro apreendido com dois petistas pela Polícia Federal no fim do mês passado para ser usado na compra de um dossiê contra tucanos.


Wagner disse que Lula mudará de atitude nos próximos debates. ‘Agora, muda porque o elemento-surpresa não tem mais. Muda porque parece que está ficando claro que o mantra do candidato Geraldo Alckmin é esse mantra: cadê o dinheiro, cadê o dinheiro [do dossiêgate]?’


‘O presidente não é uma máquina de fazer campanha. Não pode virar uma pedra de gelo. Ele está apanhando há um ano e pouco e essa carga de emoção iria aparecer quando as perguntas fossem feitas’, afirmou.


Bastidor


Na avaliação do governo, o presidente não teria perdido o debate, mas vencido. Segundo estrategistas do presidente, Alckmin teria transmitido imagem de antipatia ao criticar muito duramente Lula. Pesquisas da campanha petista teriam constatado essa avaliação no eleitorado de renda mais baixa e que estaria propenso a votar em Alckmin.


Para a cúpula do governo, as próximas pesquisas de opinião mostrarão que o debate não terá efeito prejudicial para Lula. Dizem que, se Lula apanhou na questão ética, teria conseguido colar três carimbos em Alckmin: o de que não teria política social, de que sua indignação é hipocrisia pois o PSDB abafou investigações de corrupção e de que o retomaria uma linha de privatização de empresas públicas.’


Catia Seabra


Tucano simulou embate na TV com assessores


‘O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, treinou para acuar o adversário no debate de domingo na TV Bandeirantes.


Como um boxeador -que treina com profissionais semelhantes ao adversário- Alckmin treinou para o confronto no final de semana. Sessões de acupuntura arremataram a preparação.


Orientado pelo coordenador de campanha, Luiz Gonzalez, Alckmin simulou um embate com a equipe de treinamento, que atuava como advogados do diabo. O tucano estudou o material elaborado pelo grupo desde quando o candidato chegou ao segundo turno.


Com o apoio do consultor José Roberto Afonso, foram produzidos textos sobre diferentes temas, com destaque ao risco de crise energética e a saúde financeira do país.


O grupo elaborou ainda uma análise sobre a execução orçamentária da União em 2006 e a proposta apresentada para 2007. A intenção foi o de mostrar discrepância entre as promessas de Lula e o destino que dá aos recursos federais. Os gastos com defesa da fronteira mereceram destaque.


Irritado com o fato dos petistas afirmarem que daria fim ao Bolsa Família, Alckmin quis ler ainda a transcrição da entrevista em que o presidente fez essa ameaça. O candidato também pediu dados sobre a redução da área plantada no país.


Para o debate, ele levou uma ficha para cada assunto.Antes de entrar no estúdio, o tucano repassou os dados com o núcleo de comunicação. Além de se preparar para a defesa do governo de FHC, Alckmin treinou para responder às críticas à sua gestão em São Paulo. Mas sua equipe acha que o candidato não foi claro ao lembrar que, em SP, venceu Lula nas urnas.’


Gustavo Patu e Marta Salomon


Candidatos distorcem dados em duelo


‘Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) recorreram a dados errados no debate de anteontem, durante o qual os auto-elogios exagerados do petista se depararam com a primeira promessa mirabolante feita pelo tucano nesta campanha: a venda do AeroLula para custear a construção de hospitais.


Para falar de crescimento econômico, um dos pontos fracos de sua administração, o presidente teve de fazer um remendo em seu mais tradicional bordão, o ‘nunca antes na história deste país’ aplicado a qualquer tema político, econômico ou social. ‘Fizemos o país crescer como em nenhum momento de sua história nos últimos 20 anos’, disse, no debate na TV Bandeirantes.


Mesmo com a restrição da história nacional a um período tão curto, a afirmação não se sustenta. Os governos José Sarney (1985-1990) e Itamar Franco (1992-1994) registraram taxas médias de crescimento bem superiores aos 2,7% anuais do mandato de Lula -considerando, no cálculo, a previsão de 3% neste ano.


Lula omitiu que os mencionados 20 anos compõem o período de crescimento mais baixo desde, ao menos, os anos 50. Não há estatísticas confiáveis para décadas anteriores.


Já Alckmin, que insistiu no discurso de choque de gestão e rigor fiscal, apresentou como proposta mais marcante uma medida que contraria princípios básicos do gasto público fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal. ‘Vou vender esse AeroLula. Vou vender e vou fazer cinco hospitais com esse dinheiro’, prometeu, referindo-se ao avião oficial do Planalto, adquirido pelo atual governo.


Se levada a sério, a idéia significa, na prática, criar uma despesa permanente com base em uma receita transitória. Ainda que a venda do avião, que custou aos cofres públicos cerca de R$ 125 milhões, seja suficiente para as obras (um hospital inaugurado em agosto em Juiz de Fora custou R$ 37 milhões, mas há opções mais baratas), faltariam recursos para manter posteriormente os hospitais em funcionamento.


Além disso, os deslocamentos presidenciais poderiam ficar mais caros, a longo prazo. Segundo dados da Aeronáutica, o aluguel de um avião privado para o transporte do presidente no governo FHC custava US$ 12 mil por hora voada, contra US$ 2.100 no uso do AeroLula.


Ainda no figurino de administrador eficiente, Alckmin fez, a exemplo de Lula, propaganda enganosa do crescimento econômico obtido em São Paulo -segundo ele, superior ao desempenho nacional.


De 2001, quando Alckmin assumiu o Estado com a morte de Mario Covas, a 2004, São Paulo cresceu a uma taxa média de apenas 2,4% ao ano. Seu melhor resultado, que evitou uma média ainda pior, foram os 7,6% de 2004, sob Lula.


O presidente, que na campanha de 2002 falou em gerar 10 milhões de empregos, alegou durante o debate ter criado 7 milhões, um número de procedência duvidosa.


Não há uma estatística oficial para a criação de empregos no país. O levantamento que mais se aproxima disso é a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE, que constatou, de 2002 a 2005, um aumento de 6,4 milhões do número de pessoas ocupadas.


Os gastos em saneamento também foram superestimados por Lula. Mesmo considerado empréstimos contratados, mas ainda não desembolsados, com dinheiro do FGTS, os investimentos ficaram longe dos R$ 10 bilhões mencionados. O custo com servidores contratados sem concurso foi superestimado por Alckmin. A conta só alcança os R$ 8 bi citados se contabilizadas as gratificações pagas a funcionários de carreira.’


Michele Oliveira


Audiência sobe do primeiro ao último bloco


‘O interesse dos telespectadores no primeiro debate entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, anteontem, foi aumentando com o andamento do programa. Logo no primeiro bloco, que começou às 20h30, foi registrada audiência de 9,7 pontos, em média. O último bloco, que terminou às 22h50, teve 20 pontos.


Cada ponto equivale a 55 mil domicílios na Grande São Paulo. Na média, segundo o Ibope Mídia, pouco mais de 1,2 milhão de moradores da região assistiram ao programa.


A audiência teve média de 16 pontos e atingiu pico de 21,5. Segundo a Band, foi o melhor resultado no horário dos últimos dois anos. Para comparação, a média do domingo anterior da emissora foi de 4 pontos.


O número de telespectadores subiu a partir do segundo e do terceiro blocos, justamente os que foram reservados somente às perguntas entre os candidatos. O segundo bloco teve média de 15,1 pontos, e o terceiro, de 17,4.’


Rogério Pagnan


Lula errou em acusação na TV, afirma líder do PT


‘O líder do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo, Ênio Tatto, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva equivocou-se ao dizer, durante debate na TV Bandeirantes, que a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) contratou empresas ligadas a Abel Pereira quando era presidida por Barjas Negri (PSDB).


‘A CDHU tem bastante processo, aliás é a que tem mais no Estado, mas essa empresa do Abel Pereira não tem processo contra ele, não. O que tem é que ele ganhou licitações, o que está sob questionamento, depois que Barjas Negri assumiu a Prefeitura de Piracicaba [SP]’, afirmou o deputado petista.


Pereira e Negri disseram que irão à Justiça contra o presidente (leia texto abaixo).


Lula fez a acusação quando questionava a transparência do governo do tucano Geraldo Alckmin em São Paulo, período em que foram engavetados 69 pedidos de CPIs. ‘A verdade é que o Barjas Negri foi secretário da CDHU e tem 122 condenações provisórias do TCE e uma das empresas contratadas é de um senhor chamado Abel. Que, segundo informações da imprensa, estava lá para comprar dossiê e assim mesmo o governador disse que não sabia’, afirmou o presidente durante o debate na TV.


A assessoria de campanha de Lula chegou a informar que a fonte do presidente tinha sido o pedido de CPI para a CDHU, engavetada por Alckmin, fato que poderia ser comprovado pelo líder petista na Assembléia. Depois da posição de Tatto, a assessoria recuou dizendo ter sido um equívoco do candidato, que se confundiu com as contratações de Piracicaba.


Pereira é acusado pela família Vedoin de receber propina para atuar na liberação de recursos da Saúde quando Negri era ministro da pasta, em 2002. Os dois negam a acusação, mas são investigados no caso pela Polícia Federal e pela CPI dos Sanguessugas.


O diretor de Obras da CDHU, Edward Zeppo, afirmou ser ‘100% garantido’ que as empresas de Pereira -Construtora e Pavimentadora Cicat e a Cicat Construção Civil e Pavimentadora- nunca tiveram contratos com a CDHU, assim como a Concivi Construtora, ligada à família do empresário.’


Rodrigo Rötzsch e Michele Oliveira


Lula se cala sobre cartilhas; Alckmin ignora Nossa Caixa


‘No primeiro debate entre os dois na TV, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin foram incisivos na hora de atacar um ao outro, mas evasivos no momento de se explicarem sobre questões espinhosas colocadas pelo adversário.


O presidente Lula começou deixando sem resposta a questão que abriu o confronto, feita pelo mediador, Ricardo Boechat, que quis saber, especificamente, quais gastos o governo cortaria para evitar uma reforma da Previdência.


Lula, segundo a responder, atacou Alckmin, dizendo que ele usava chavões e citou números positivos da sua administração -mas não disse onde deixaria de gastar.


A primeira questão feita por Alckmin, e repetida à exaustão pelo tucano durante o debate, também não teve resposta conclusiva do petista. Alckmin quis saber de onde veio o dinheiro para a compra de um dossiê contra tucanos por petistas. ‘Sou presidente, não sou policial’, disse Lula para justificar que não tinha a resposta.


O presidente também não respondeu se abriria o sigilo dos cartões corporativos da Presidência -preferiu chamar Alckmin de ‘leviano’- e o destino de R$ 11 milhões de gastos não-comprovados para a confecção de cartilhas do governo.


Alckmin, por sua vez, também fugiu da resposta na primeira vez em que foi questionado pelo adversário.


Lula quis saber se o tucano, ao nomear como presidente da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) o ex-ministro da Saúde Barjas Negri, sabia das ‘transações obscuras’ na qual Barjas estaria envolvido. ‘Não meça as pessoas pela sua régua. Nunca tive ministro condenado’, defendeu-se o tucano. Barjas é acusado de ter beneficiado a máfia dos sanguessugas quando foi ministro, em 2002.


O tucano também não respondeu por que não resolveu o problema das rebeliões da Febem -disse apenas que ele não era fácil e atribuiu a culpa ao governo federal por falta de investimentos -e ignorou uma menção de Lula ao favorecimento na distribuição de publicidade a aliados pelo banco estatal paulista Nossa Caixa.


O presidente disse em uma réplica que, para mostrar que o tucano entendia de publicidade, bastava investigar o banco. Na tréplica, Alckmin não se pronunciou sobre o assunto.


Embora tenha feito questão de tachar de ‘mentira política’ a ‘boataria’ de que ele acabaria com o Bolsa Família, questionado sobre que políticas sociais adotaria em um governo seu, Alckmin preferiu se referir à ‘leviandade’ de Lula ao não citar que foi o governo Fernando Henrique Cardoso quem começou programas como Bolsa Escola e Bolsa Alimentação, fundidos no Bolsa Família.


O investimento com o social foi a justificativa de Lula para dizer que seu governo ‘gasta bem’ e não responder a pergunta de Alckmin sobre os gastos feitos neste ano com inclusão digital, segurança pública e reaparelhamento das Forças Armadas -que seriam muito pequenos, segundo o tucano.


Tratamento


Único dos dois em exercício de um mandato, Lula não ouviu de Alckmin nenhuma vez o tratamento ‘presidente’. Foi chamado de ‘candidato’, ‘candidato Lula’ ou só ‘Lula’.


O tucano só ‘lembrou’ de mencionar o cargo que o petista ocupa quando o criticou, chamando-o de ‘presidente fraco’ no combate à violência.


Já o petista começou tratando o adversário como ‘governador’ -cargo que o tucano ocupou em São Paulo até março deste ano- e chegou a chamá-lo de ‘vossa Excelência’, antes de optar por ‘Alckmin’ e até escorregar em alguns ‘vocês’ mais para o fim.


Nos dois casos, a formalidade no tratamento foi diminuindo com o passar dos blocos. Assim como os ‘elogios’ contra o adversário foram disparados com maior freqüência nos últimos blocos do programa.


Na troca de gentilezas entre os dois, Lula recomendou, por quatro vezes seguidas, que seu adversário não fosse leviano em seus comentários.


Já Alckmin ora chamava o petista de ‘arrogante’, ora insinuava que seu concorrente mentia. Afirmou que Lula ‘não fala a verdade’, é ‘mal informado’, ‘se omite’ e, no último bloco, chamou-o de ‘mentiroso’. O tucano acusou o petista até de ‘roubar’ os aplausos de Kofi Annan na ONU, em referência a um truque de edição usado pelo programa de TV do PT.


MEMÓRIA: DEBATES DO SEGUNDO TURNO FORAM MAIS CORDIAIS EM 1989 E EM 2002


Os três debates presidenciáveis do segundo turno já realizados no Brasil tiveram um tom menos enfático que o de anteontem. Em 1989, os dois encontros entre Fernando Collor (à época do PRN) e Lula (PT) foram exibidos em rede de TV. Após o primeiro, os candidatos se abraçaram. No dia seguinte ao segundo, a Folha estampou como manchete: ‘Rivais frustram expectativa no duelo final’. Há quatro anos, o formato do encontro entre Lula e José Serra (PSDB) na TV Globo não permitia perguntas diretas entre os candidatos.’


Flávia Marreiro e Rafael Cariello


Para analistas, debate tira de Alckmin estigma de ‘chuchu’


‘Ninguém venceu por nocaute, mas Geraldo Alckmin (PSDB) conseguiu levar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva às cordas em pelo menos dois dos cinco blocos do debate entre os dois candidatos presidenciais transmitido domingo à noite pela TV Bandeirantes.


Analistas ouvidos pela Folha afirmam que o tucano foi a grande surpresa do confronto televisivo. ‘Ele colocou Lula no córner’, afirma Ney Figueiredo, membro do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp. ‘Contrariando seu estilo, Alckmin teve a performance de um sujeito que pode ser presidente da República. Surpreendeu amigos e inimigos -e deixou de ser o chuchu.’


Rejane Vasconcelos, cientista política da UFC (Universidade Federal do Ceará), endossa: ‘Alckmin surpreendeu. Só se pode dizer agora que ele é um chuchu com muito tempero’.


Luiz Werneck Vianna, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), diz que não se pode apontar um vencedor. ‘Não houve nocaute, e dificilmente haverá nos próximos debates. Os dois foram bem, cada um em seu estilo.’ Ele elogia a discussão ética na arena: ‘A campanha começou ontem. […] A questão ética é programática, tão substancial como qualquer outra das dimensões’.


Para o cientista político Rubens Figueiredo, o tucano ‘mostrou para o eleitor uma face que ele não conhecia’.


‘Ele foi duro, mas não mal-educado’, diz Rubens Figueiredo. Para Ney Figueiredo, ‘se fosse um grau acima [no tom de seu discurso e de suas acusações], Alckmin terminaria por ser desrespeitoso à autoridade do presidente da República’. No entanto, o tucano conseguiu se manter, para o consultor, no tom correto.


Werneck Vianna concorda: ‘Alckmin não perdeu a compostura do homem público, inclusive do ponto de vista do rito, da expressão facial’.


Para Vasconcelos, a vulnerabilidade do presidente na questão ética ficou evidente: ‘A câmera focalizava a expressão de desânimo de Lula, como se ele dissesse: ‘Esse assunto me desagrada e a minha resposta, a que acusa os outros também de corrupção, não me redime, não me faz voltar ao estágio anterior’. Mas pondera: ‘Para o eleitorado já simpático ao presidente, suas respostas foram capazes de neutralizar os ataques’.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Faz-De-Conta


‘Era a notícia do dia e é a notícia do segundo turno, até agora. ‘O debate da Band muda o tom da campanha’, na manchete do ‘Jornal da Band’. Mas não, o ‘JN’ nem mencionou. Passou recibo.


Na defensiva, mas reagiu


E foi notícia no mundo todo, com correspondentes falando de um Lula acuado, mas que reagiu depois.


Para Steve Kingstone, da BBC, ‘Lula enfrentou questionamento intenso de Alckmin’ e ‘se manteve na defensiva na primeira metade, mas cresceu em confiança ao tratar de política social’. Para Jonathan Wheatley, do ‘Financial Times’, ‘Alckmin pôs Lula na defensiva’, mas o presidente ‘recuperou algum terreno’ -e ‘é pouco provável que o debate tenha mudado votos significativamente’. ‘Na defensiva’ foi também a expressão de Annie Gasner no ‘Le Monde’, dizendo -como os demais- que ‘o tom da campanha foi dado e será agressivo’. Geraldo Samor, do ‘Wall Street Journal’, sublinhou os ataques de lado a lado e avaliou que o debate era ‘crucial para Mr. Alckmin’.


Na Argentina, Eleonora Gosman no ‘Clarín’ e Luis Esnal no ‘La Nación’ falaram em ‘debate áspero’ e ‘agressividade incomum na sociedade brasileira’, com Alckmin no ataque e Lula ‘crescendo’ depois.


O MERCADO


Para o site do ‘Wall Street Journal’, foi dia de ‘calma’ no mercado financeiro do país, em contraste com ‘a temporada eleitoral quente’. O único temor mencionado por investidores é chegar a tal confronto que inviabilize um acordo para reformas, depois.


Já a Bloomberg despachou que o real subiu por causa do ‘otimismo de que Alckmin vai crescer’ depois do debate.


CABOCLO HH


O texto mais lido na Folha Online foi uma declaração do petista Jaques Wagner, de que Lula ‘foi surpreendido com a postura de Alckmin’.


Foi surpresa geral, até para aliados, segundo a cobertura. E foi descrita com humor por Tutty Vasques, no Nomínimo:


– Cabloco Heloísa Helena pode ter baixado em Alckmin. A questão será discutida no conselho de ética do PSOL.


TV GOOGLE


A notícia tirou o teste nuclear na Coréia do Norte da manchete do site do ‘Wall Street Journal’ -a Google comprou o YouTube por US$ 1,65 bilhão, o que ‘catapulta a gigante a protagonista da revolução do vídeo on-line’. ‘FT’, ‘NYT’, ‘Washington Post’, o tom foi semelhante por todo lado. Mas a notícia original estava no site da Google, no webcast com Chad Hurley (YouTube) falando de sua ‘excitação’ com a grande mudança em andamento na internet, e Sergey Brin (Google), lacônico, ‘vídeo é um grande meio para publicidade, e por isso estou excitado’.


DEU NO ‘NY POST’


A notícia não surgiu no ‘WSJ’ nem em qualquer outro. Segundo o blog de mídia de Tiago Dória, que vinha acompanhado as especulações, ela saiu no blog TechCrunch, com base num e-mail que o blogueiro americano confirmou, inclusive o valor. Antes de todos, porém, o tablóide ‘New York Post’ havia dado ainda em setembro que o YouTube abria conversa com ‘gordos’ US$ 1,2 bilhões na mesa -e a foto de um sorridente Chad Hurley para ilustrar.


YOUTUBE E AS ELEIÇÕES


O poder do YouTube foi exemplificado ontem na capa do ‘WSJ’, sobre o impacto dos vídeos de candidatos que vêm sendo postados nos EUA. As campanhas agora têm assessores só para tais ações ‘virais’, de antipropaganda. E o presidente da Google, no ‘FT’, aconselhou ‘políticos a acordar para o impacto da web’, que ‘vai afetar eleições’.


Leia as colunas anteriores’


INTERNET
Paula Leite


Google compra site de vídeo YouTube por US$ 1,65 bi


‘O Google anunciou ontem a compra do YouTube por US$ 1,65 bilhão em ações, o que faz do site de vídeos o primeiro da leva de portais com conteúdo feito por usuários a ser comprado por mais de US$ 1 bilhão.


A aquisição junta duas das mais populares marcas da internet hoje: o Google -ferramenta de busca mais popular da web e também responsável por serviços populares como o Orkut, o Google Maps e o Gmail- e o YouTube -site no qual são vistos cerca de 100 milhões de vídeos por dia.


A popularidade do YouTube vai ajudar a aumentar a presença do Google na área de vídeos on-line. O YouTube tem participação de 47% nesse mercado, enquanto o Google Video responde por apenas 10%.


‘Essa é a entrada rápida do Google para se tornar Google TV’, disse Allen Weiner, analista da consultoria Gartner.


O YouTube manterá seus escritórios em San Bruno, na Califórnia, e seus 67 funcionários -incluindo os fundadores, Chad Hurley, 29, e Steve Chen, 28, presidente e diretor de tecnologia, respectivamente.


Hurley já havia dito que gostaria que a empresa continuasse independente. Ontem, ele disse que, ‘trabalhando com o Google, esse é o caso’.


Chen disse que ‘é difícil imaginar uma parceria melhor entre duas empresas’, tanto em termos de tecnologia quanto de cultura da empresa.


A transação deve ser concluída no quarto trimestre, disseram as empresas.


O Google, uma empresa de capital aberto, tem valor de mercado de US$ 131,7 bilhões. As ações da empresa valiam ontem US$ 429, ante US$ 85 no dia de sua oferta pública inicial, em 2004 -uma alta de 405%.


Já o YouTube tem o capital fechado e foi fundado em fevereiro do ano passado. O site recebeu financiamento da empresa de ‘venture capital’ (capital de risco) Sequoia. Estima-se que a Sequoia tenha 30% do YouTube, o que significa que a empresa levaria US$ 495 milhões com o negócio.


O valor pelo qual o YouTube foi comprado equivale a quase 10% do valor de mercado da GM (US$ 17,8 bilhões), que tem 335 mil funcionários e uma enorme estrutura física global.


O presidente do Google, Eric Schmidt, disse ontem que a compra do YouTube é ‘um dos muitos investimentos’ que a companhia vai fazer na área de vídeos. A compra do YouTube é a maior aquisição do Google até agora. A empresa havia se concentrado anteriormente na compra de pequenas empresas pouco conhecidas, criadoras de tecnologias interessantes.


O Google tinha cerca de US$ 9,8 bilhões em caixa em junho e teve faturamento de US$ 6,1 bilhões em 2005.


A compra do YouTube se encaixa na estratégia do Google de usar conteúdo para impulsionar a venda de anúncios. O YouTube, site no qual os usuários passam em média 26 minutos por mês, já tem anúncios fornecidos pelo Google.


Dentro dessa estratégia, o Google comprou 5% da AOL e obteve o direito de colocar anúncios nas páginas de resultados de buscas feitas na AOL. O Google também fez acordo com a News Corp. para fornecer anúncios ao site MySpace (de relacionamentos, muito popular nos Estados Unidos).


Novos negócios


Antes do anúncio da aquisição, tanto o Google quanto o YouTube haviam feito ontem acordos com grandes gravadoras para colocar clipes musicais em seus serviços de vídeo.


A Universal e a Sony BMG permitirão a reprodução de seus videoclipes no YouTube. Além disso, a rede de televisão dos EUA CBS também vai distribuir conteúdo no site.


A TV NBC já promove programas como ‘The Office’ no YouTube, e, no mês passado, a Warner passou a permitir o download de clipes e músicas no site. Em troca, a Warner recebe uma porcentagem da receita com publicidade.


Já o Google fez um acordo com as gravadoras Sony e Warner, que receberão parte da receita publicitária do Google Video em troca de distribuir seus videoclipes gratuitamente no serviço.’


***


Empresa foi fundada em 2005 nos EUA


‘O YouTube foi fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim no ano passado. Hurley, 29, hoje presidente da empresa, Chen, 28, diretor de tecnologia, e Karim trabalhavam no PayPal, empresa de pagamentos do eBay, o site de leilões. Lá, Hurley desenhou o logo da nova empresa, o YouTube.


Hurley é formado em artes plásticas pela Universidade Indiana (Pensilvânia). Já Chen e Karim estudaram ciências da computação na Universidade de Illinois.


Karim saiu do YouTube para estudar na Universidade de Stanford (Califórnia).


O YouTube começou em uma garagem na cidade de Menlo Park, na Califórnia, em fevereiro de 2005. O site foi lançado oficialmente em dezembro do ano passado.


Em novembro do ano passado, o YouTube recebeu financiamento de US$ 3,5 milhões da empresa de ‘venture capital’ (capital de risco) Sequoia.


Em abril deste ano, o site recebeu mais US$ 8 milhões da firma. A mesma Sequoia também investiu no Google e no Yahoo.


Comunidade


O YouTube viu sua popularidade explodir por permitir que os usuários colocassem no ar seus próprios vídeos caseiros curtos e os compartilhassem com amigos, de forma gratuita e fácil.


O vídeo mais visto no site, ‘Evolution of Dance’, mostra um homem dançando por 6 minutos e já foi assistido 33 milhões de vezes.


O site também permite que uma espécie de ‘janela’ com o vídeo, que fica hospedado no YouTube, seja colocada em qualquer site -em blogs ou páginas pessoais do site de relacionamentos MySpace, por exemplo.


O YouTube também permite a formação de comunidades e redes em torno dos vídeos. Os usuários podem ‘assinar’ os vídeos de determinado usuário ou criar grupos de amigos com interesses similares, por exemplo.


Também é possível criar ‘tags’ (palavras-chave) para os vídeos para facilitar a navegação pelo site.


Cerca de 100 milhões de vídeos são vistos diariamente no YouTube, e 65 mil vídeos novos são colocados no ar a cada dia.


O site, que não filtra o conteúdo dos vídeos antes de eles irem ao ar, sofre pressão de detentores de direitos autorais, já que os usuários colocam trechos de filmes, programas de TV ou usam músicas em seus vídeos sem pagar os direitos.


O YouTube diz que retira do ar os vídeos quando há reclamações dos detentores dos direitos autorais.


O site também bloqueia, se houver reclamações, vídeos considerados pornográficos, violentos ou que vão contra as regras de uso do serviço.’


***


YouTube busca forma de se tornar lucrativo


‘DO FINANCIAL TIMES – Chad Hurley tem o rosto fatigado e a palidez fantasmagórica que são quase uma questão de honra para os empresários de internet no começo de suas jornadas. Se a causa for pouco sono, não seria surpresa.


O YouTube, site de distribuição de vídeo que ele lançou com Steve Chen, atingiu imediatamente uma daquelas veias na cultura popular com a qual a maior parte das pessoas em posição semelhante à dele sonham em vão. Menos de um ano depois de lançado, o YouTube se tornou o primeiro site de vídeo online a chegar ao mercado de massa, distribuindo mais de 100 milhões de vídeos curtos ao dia, para uma audiência que supera 30 milhões de pessoas só nos EUA.


Alvo de aquisição de algumas das maiores empresas de internet praticamente desde o instante de seu lançamento, o YouTube vinha recebendo várias ofertas recentemente até fechar com o Google. Com as coisas se movendo tão rápido, quem consegue dormir?


O que está tomando forma nos apertados escritórios do YouTube, acima da pizzaria Amici, em San Bruno, um subúrbio desanimado ao sul de San Francisco, hipnotizou os setores de TV e música.


A depender de quem você consulte, essa pode se tornar a primeira grande companhia da ‘próxima grande onda’ da web: o vídeo gerado por usuários. Ou podemos estar diante do próximo Napster, uma rede para troca descontrolada de material protegido por direitos autorais que pode vir a atrair a ira da grande mídia.


A menção à rede de troca de arquivos já extinta que abriu as portas para a pirataria online em escala maciça atraiu resposta imediata do presidente do YouTube. Em entrevista no final de setembro, Hurley, 29, descartou a comparação: ‘Não creio que seja nem mesmo uma comparação aproximada’.


O YouTube se destina a adolescentes que querem veicular sua angústia ou demonstrar seus talentos como produtores de vídeos caseiros. ‘Nossos usuários mais populares são pessoas que simplesmente contam suas histórias. É quase a versão definitiva dos reality shows’, disse.


Doug Morris, presidente do Universal Music, discordava. Antes de fechar acordo com o YouTube, anunciado ontem, atacou o site de ‘violadores de direitos autorais que nos devem dezenas de milhões de dólares’. Segundo Morris, os usuários do site estão ocupando os servidores da empresa com vídeos musicais, trechos de programas e outros materiais protegidos por direitos autorais. Até mesmo crianças dublando suas canções favoritas em seus quartos estão distribuindo música sem permissão.


Hurley não exibe a arrogância que fez do Napster e de uma geração de redes de trocas de arquivos inimigos mortais do setor de entretenimento. Ele controla cuidadosamente suas palavras e sempre se mantém fiel ao tema central de sua mensagem: a de que o YouTube está tentando se tornar parceiro dos gigantes da mídia e pode representar um imenso mercado para que empresas de entretenimento atinjam seus públicos.


Hurley diz que o YouTube se beneficia de ‘efeitos de rede’ – quanto maior o sucesso, maior o interesse do público. Os exibicionistas que enviam vídeos domésticos ao YouTube são atraídos pela grande audiência do site, e o conteúdo serve para atrair ainda mais espectadores.


Mas o YouTube continua a ter de provar que de fato existe um negócio a ser construído com base nos trechos desconexos de vídeo que surgem no site. E também é preciso convencer as empresas de entretenimento que a empreitada pode ser mutuamente benéfica.


Nas últimas semanas, o site iniciou o processo para descobrir uma fórmula que lhe permita ganhar dinheiro aproveitando a audiência cada vez maior, especialmente porque os custos associadas à distribuição de vídeos estão também crescendo rapidamente, ainda que Hurley, sem fornecer detalhes, insista em que a empresa é ao menos financeiramente ‘estável’. Um exemplo: o vídeo promovendo o novo CD de Paris Hilton, em um ‘canal de marca’, patrocinando uma página especialmente projetada do YouTube que permite que usuários assistam a conteúdo ‘de marca’. Hurley insiste que a empresa não pretende recorrer a anúncios ‘compulsórios’ inseridos antes dos vídeos.


‘Temos a oportunidade de desenvolver sistema publicitário próprio’, disse Hurley. Ainda não está claro como será a publicidade no YouTube. Mas, com uma rede própria de publicidade online, Hurley diz que o YouTube estará em melhor posição para atender aos clientes convencionais de publicidade.


Por enquanto, alguns grupos de mídia parecem ao menos interessados em oferecer a Hurley e Chen uma chance de provar seus argumentos. No mês passado, a Warner Music assinou um acordo com o YouTube que potencialmente permitirá que ambas dividam receitas de publicidade geradas por conteúdo musical da gravadora veiculado no site.


O YouTube alega ter desenvolvido software que pode identificar música protegida por direitos autorais no conteúdo que seus usuários submetem. A Warner terá a opção de solicitar remoção do material ou compartilhar de qualquer receita publicitária que venha a ser obtida com ele.


Em última análise, isso revela a barganha proposta por Hurley ao setor de entretenimento. ‘Nós estamos preparando vocês para se manterem relevantes nesse novo mercado, com essa nova onda de conteúdo que surgirá online’, diz Hurley. ‘Há diferentes tecnologias que estamos desenvolvendo para ajudá-los a identificar seu conteúdo. Mas é preciso que trabalhem conosco.’


Como demonstram as posições adotadas no passado por Universal Music e Warner, é cedo para dizer se o mundo do entretenimento já está pronto para aceitar a mensagem.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Ministério manda Record mudar novela


‘Em despacho no ‘Diário Oficial’ de ontem, o Ministério da Justiça classificou ‘Vidas Opostas’, próxima novela das oito da Record, como inadequada para antes das 21h, porque a considera violenta e imprópria a menores de 14 anos.


A Record irá recorrer da decisão. Se não conseguir reclassificar ‘Vidas Opostas’ para as 20h, terá que ‘suavizar’ a trama ou mudar seu horário de exibição das 20h30 para as 21h.


A partir da leitura da sinopse da novela, que estréia em novembro, o ministério apontou a existência de cenas com assassinatos, tiros, tortura e consumo e tráfico de drogas.


Essas cenas ocorrerão em um morro carioca onde parte da novela será ambientada.


‘A novela não é só Cinderela [um homem rico que se apaixona por moça pobre]. Há um núcleo de traficantes. Essa é uma realidade que até candidatos à Presidência viram. É a parte mais crítica e profunda da novela que está em jogo’, protesta o autor, Marcílio Moraes.


Um provável desfecho dessa história será a Record assumir junto ao governo o compromisso de suavizar a novela. Isso ocorreu com ‘Bicho do Mato’.


Mas o ministério monitora as novelas e pode voltar atrás. A Record assumiu compromisso de não exibir violência ou nudez em ‘Bicho do Mato’ e acaba de ser advertida pela segunda vez por descumprir o trato. Na terceira, poderá ver essa novela reclassificada para as 20h.


GATO POR LEBRE 1


A Globo se esforçou para evitar que o debate da Band causasse estragos em seu domingo. Inundou intervalos com chamadas do ‘Fantástico’ e até escalou Glória Maria e Zeca Camargo para interagirem com Fausto Silva no ‘Domingão’.


GATO POR LEBRE 2


O ‘Fantástico’ apresentou como exclusiva uma reportagem sobre a queda do avião da Gol. Mas a notícia dessa reportagem, os depoimentos dos pilotos do Legacy à polícia, foi ao ar meia hora antes na Record. A Globo diz que não sabia disso. GATO POR LEBRE 3


Durante o debate, a Globo marcou 28,5 pontos e foi líder. Mas perdeu 12 pontos em relação ao domingo anterior no horário. Isso equivale a duas vezes a audiência da Record.


GINÁSTICA ELEITORAL


O debate entre Lula e Alckmin fechou com média de 16 pontos, a melhor audiência da Band desde exibição de ginástica de Daiane dos Santos, nas Olimpíadas de 2004. FALTOU MAGIA


O escritor Paulo Coelho não está com essa bola toda. Sua participação no ‘Domingo Legal’, anteontem, derrubou a audiência de 16 para 13 pontos.


RECORDE


O Brasil emplacou cinco finalistas no Emmy International deste ano, número recorde, o mesmo da Alemanha. A Globo, que inscreveu 15 programas e cinco atores, vai concorrer na final, em novembro, com ‘Sinhá Moça’, ‘Os Amadores’ e ‘BBB 6’. A HBO representará o Brasil com as séries ‘Mandrake’ e ‘Filhos do Carnaval’.’


************