Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Solidariedade de interesses

Fiquei feliz de ver neste Observatório matéria com críticas à atitude da NET de substituir a RTPi pela SIC Internacional, mas creio que para entender o motivo da decisão seria preciso verificar a solidariedade de interesses entre o grupo Globo (NET e SKY, que também fará a mesma alteração, se já não a fez) e a SIC. Não por acaso, parte do sucesso da SIC em Portugal deve-se à transmissão das novelas da Globo.

Gostaria de acrescentar também um detalhe fundamental que justifica o meu protesto, e penso que não falo apenas por mim: a RTP é um canal público, e por isso precisa ter um projeto que não pode estar preso – pelo menos, não exclusivamente – à lógica das audiências. Este é, aliás, um problema para a própria RTP, devido à concorrência dos canais privados em Portugal, e está longe de ser uma questão resolvida, tanto pelo que leio nos jornais portugueses como pelo que podia testemunhar ao ver a programação.

De todo modo, o compromisso com o serviço público é sempre uma referência para a reivindicação de um determinado nível de qualidade, o que permite ao público brasileiro – sobretudo porque se trata de um canal falado na nossa língua – vislumbrar perspectivas quanto ao que poderia ser exigido desse serviço público por aqui.

Por último, achei realmente curiosa a justificativa da Net, ao dizer que ‘houve, sim, comunicação antecipada da mudança de canais por meio de três mídias: publicação de anúncios nos principais jornais das cidades onde ocorreu a troca; veiculação da informação por um mês no canal NET TV; e distribuição de press release à imprensa’. Se é esta a forma pela qual a empresa vai passar a comunicar-se com seus assinantes, devemos esperar que utilize a partir de agora os mesmos meios para informar sobre reajustes nas mensalidades. Porque, nesse caso tão importante para a saúde financeira da empresa, a comunicação é feita com suficiente antecedência, através do correio.

Mas a própria ‘justificativa’ da empresa demonstra o quanto é falsa a propaganda que põe o cliente em primeiro lugar. ‘Sua opinião é muito importante para nós’, dizem as máquinas do telemarketing. No caso, não foi.

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Professora da Universidade federal Fluminense, Rio de Janeiro