Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tereza Rangel

‘É comum os principais portais do Brasil sofrerem de um ‘efeito Brahma-Antarctica’. Ou seja, com freqüência são previsíveis e é há coincidência de enunciados para manchetes, assuntos tratados, fotos e textos. Muitas vezes são idênticos, porque o material é fornecido pelas mesmas agências de notícias. Nesses casos, tanto faz como fez tanto ler uma cobertura no UOL, no Terra, no iG. Isso é péssimo, porque os iguala, dando a sensação ao público que não há melhores nem piores. Para criar identidade e força próprias, é preciso buscar diariamente a diferenciação, oferecer algo novo, surpreendente e, claro, de qualidade.

Foi o que fez o UOL hoje ao destacar reportagem sobre nove personagens à margem das marginais dos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo. Mesmo simples e banal (reunir personagens em torno de um assunto), a pauta ganhou originalidade justamente pela escolha do tema e dos personagens. Ademais, foi bem executada: texto vivo, bem escrito (apesar de alguns erros de português dispensáveis), boas fotos e áudio dos personagens a lhes dar mais vida (com exceção do timoneiro, sem áudio).

Internauta ganharia se não houvesse repetição de modelos de páginas

A edição, porém, poderia ter fugido do modelo adotado para os personagens da seca, outro material especial feito pelo UOL, há tempos um dos destaques na home page de UOL Jornais. O template (modelo de página) é o mesmo, sem tirar nem pôr. Fica a sensação de ‘déjà-vu’, que destrói a pretensão de originalidade do trabalho. Uma pena.

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Erros e compromisso público (16/1/08)

O exercício do jornalismo, ainda mais na velocidade e volume que se exigem na Internet, não existe sem o erro. Há quem se queixe à ombudsman que o UOL erra muito. De fato, o número e a freqüência de erros são altos. Até por saber disso, o UOL está criando mecanismos formais de controle de qualidade. Ao reconhecer que os erros fazem parte do dia-a-dia de uma redação, fica mais fácil enfrentá-los, corrigi-los e até evitá-los.

UOL ‘convida’ internauta a apontar erros

Nos últimos meses, o portal evoluiu muito em relação à transparência e à correção de seus erros. São poucos os veículos de comunicação que têm a coragem (e o fôlego, porque dá trabalho) de criar mecanismos de controle de erros e um compromisso público de fazer retificações. Uma gerência geral de qualidade foi instituída para estabelecer ferramentas, políticas e processos que façam com que o UOL melhore seu conteúdo. Foi a partir da criação desta equipe que o UOL implementou em suas páginas de conteúdo um botão para que erros fossem notificados e instituiu uma seção de ‘Erratas’ para toda a redação.

Desde a criação do ‘Erramos’, no jornal Folha de S.Paulo, sabe-se que o que se publica na seção é apenas uma fração dos erros efetivamente cometidos. Sabe-se também que há muito leitor que inclui o ‘Erramos’ em sua leitura diária, para encontrar correções de erros por ele apontados, para ver se o meio de comunicação está errando muito e assumindo seus erros ou até por um caráter um pouco sádico, para rir das bobagens que foram cometidas pelos jornalistas (eu mesma, no exercício da profissão, cometi algumas que podem estar no ‘colar de pérolas’ de algum colecionador de erros).

No UOL não é diferente. Foi um desses internautas assíduos da seção que chamou a atenção da ombudsman para a freqüência com que assuntos esportivos ganham espaço nas ‘Erratas’ do UOL. De 13 de novembro, quando o botão ‘comunicar erros’ já estava instituído em todas as estações do UOL, até ontem à tarde, a ombudsman contou 285 retificações publicadas. Destas, 156 eram da estação de Esporte (ou seja, quase 55% dos erros); 28 de Últimas Notícias (incluídas aí as correções para álbuns de fotos); 16 de Economia; 15 de Tecnologia; 11 de Música; 9 de Vestibular; 8 de Jogos; 7 da Home. Os demais 35 erros eram de outras estações.

Esporte erra mais ou corrige mais seus erros?

Será que Esporte efetivamente erra mais do que todas as outras estações juntas do UOL, como mostram os números? Acredito que não. Há aí uma soma de fatores que devem ser levados em conta. O primeiro é efetivamente o número de notícias produzidas pela estação (e suscetíveis a erro), que é alto. Em segundo, destacaria que UOL Esporte tem um público mais participativo do que outras áreas. Por mexer com paixões, os internautas escrevem com mais assiduidade e reclamam mais dos erros. Como conseqüência, o número de erratas publicadas é maior. Por fim, há de se levar em conta o compromisso da equipe em assumir seus erros publicamente, por mais constrangedor que isso seja. Assim, o que aparenta um defeito (percentual alto de erros cometidos) pode ser uma qualidade a ser seguida (controle de erros e correção pública).

O UOL ainda depende muito do público para perceber e corrigir seus erros. Para atingir novo patamar, seria bom que o próprio portal corrigisse e assumisse erros antes de serem notados pelos internautas. Mais erratas podem significar, inclusive, menos erros cometidos.

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Andam dizendo por aí. Quem sabe? (14/1/08)

No final de semana foi a vez do ‘estão dizendo por aí que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, estaria vivendo há dois meses um romance com a modelo inglesa Naomi Campbell’. Hoje, foi a vez do ‘parece que o presidente francês Nicolas Sarkozy e a ex-modelo italiana Carla Bruni teriam se casado quinta-feira passada’.

Fica a pergunta: há ou não romance?

Teriam se casado? Casaram-se ou não se casaram?

Os dois casos, especulativos, foram parar na home page do UOL. O talvez-romance foi destaque sem foto no sábado. O quem-sabe-casamento ganhou até foto na home page. O primeiro foi noticiado pela agência Ansa, a partir de uma notinha de um colunista do jornal ‘El Universal’. O segundo, pela agência AFP, cozinhando o jornal ‘L´Est Républicain’. Ou seja, além de não confirmadas, são informações de terceira mão, de veículos de informação que o UOL não elegeu como fonte.

Afinal, ficam as perguntas: há romance, houve o casamento, o UOL tem compromisso com a informação, com a verdade?

Sem equipe de reportagem, a cobertura do mundo das celebridades carece de informação própria no UOL (com a honrosa exceção de bons colunistas, principalmente da Folha de S.Paulo). A dependência de agências de notícias, sejam nacionais ou internacionais, não deveria, porém, levar o portal a publicar e destacar notícias do mundo do ‘estão dizendo por aí’.

Ainda no mundo da pseudo-informação, do pseudo-serviço, a home page do UOL e UOL Carnaval prometeram ao internauta uma lição de samba, passo a passo. A chamada ‘aprenda a sambar no pé’ ficou quase doze horas no ar, levava a um álbum de 13 fotos granuladas de má qualidade e rendeu e-mail indignado de internauta.

‘Com aquelas fotos, alguém consegue aprender a sambar no pé?! Ah, por favor… Poderiam ter colocado outro tipo de chamada, não uma mentira dessas.’

Lilian’