Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Teste de fidelidade, o início do fim

Alguns ingredientes unidos na mesma ‘embalagem’ freqüentemente nos deixam uma dúvida sobre o conteúdo da grade televisiva: é ficção ou realidade? São eles: a própria televisão e sua incessante corrida pela audiência.

Recentemente me deparei com o programa Eu vi na TV, da Rede TV!, e o quadro ‘Teste de fidelidade’, e concluí: mais baixo que isso só sexo explícito em horário nobre na televisão aberta. O programa é exibido às segundas-feiras pelo apresentador João Kleber. O quadro alavanca o ibope de tal maneira que chega a ocupar um tempo considerável do total do programa.

‘Teste de fidelidade’ inclui um ator (atriz) assumido e alguns ‘embutidos’. O namorado (a) ou marido (mulher) manda o ator (atriz) testar seu companheiro (a). A atuação precária e os comentários da platéia deixam clara toda encenação. São imagens que se fossem, de fato, reais, levariam o responsável pelo programa a uma infinidade de processos, já que os supostos ‘testados’ passam por humilhações e grande exposição de seu corpo.

Mas algo além do baixíssimo nível do quadro me intrigou. ‘Teste de fidelidade’ é uma armação tão mal armada que é difícil aceitar que alguém acredite naquilo. Então, algumas perguntas pairam no ar: as pessoas que assistem crêem no que vêem? Em resposta positiva: o que as fazem acreditar? Em resposta negativa: por que assistem se sabem que é mentira?

Diagnóstico preocupante

Creio que a parcela que acredita é majoritária, o que é realmente preocupante. Um indicativo de que as pessoas não têm criticidade para discernir entre o que é verdade e o que é mentira no mundo das imagens. A TV é posta como aquela que vai mostrar o mundo tal como ele é. Deu na TV é verdade. Somado a isto está o fato de que as pessoas não têm escolaridade nem para o código escrito, imaginem para o código das imagens…

A parcela que não acredita e continua assistindo é curiosa, senão peculiar. Entretenimento poderia ser a resposta mais óbvia para a questão. Entretanto, analisando com mais cuidado, podemos perceber que o problema inclui uma realidade comum na sociedade brasileira: a aceitação pura e simples daquilo que se vê. A fórmula é categórica: você finge que faz programa de qualidade e verdadeiro, eu finjo que acredito no que estou vendo e no fim das contas eu ganho uma noite divertida, depois de um dia estressante. O que é oculto nesta fórmula são os milhões a mais que só uma das partes terá no fim do mesmo dia…

O diagnóstico é preocupante, posto que novas tecnologias, em caráter cada vez mais multimídia (som, imagem, texto etc.) surgem com grande rapidez, e a população não tem suporte nem técnico nem ideológico para abarcar tudo isso. Logo, é possível que nosso ‘Teste de fidelidade’ de hoje seja considerado daqui a alguns anos um programa de alto nível, se comparado a outros.

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Estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão