Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um espetáculo diário em minha casa

Você já deve estar cansado de saber que a mídia é um poder à parte em nossa sociedade. Sabemos que todo dia a TV continua a hipnotizar as pessoas melhor que muitos hipnotizadores do mundo da mágica. Parece que estamos olhando para um relógio que vai e volta e você permanece seguindo aquele movimento até ficar hipnotizado pelo “hipnotizador”, ou poder da mídia, como preferir denominá-lo. Isso parece incrível, já que somos incapazes de viver sem um aparelho de TV, ou deixar de olhar um vídeo na internet.

Além disso, as notícias nos telejornais sobre política, saúde, drogas e violência são ilustradas, na maioria das vezes, como um show à parte pela mídia. A desgraça gera audiência pelo simples fato de que nosso ego busca ver o outro indivíduo em uma situação pior que a nossa. É a velha história social, onde você tem que sentir-se melhor que o outro. Enfim, direi que eu estou melhor que muitos que aparecem na TV ou no jornal. Porque ninguém quer ser o bandido numa sociedade que procura sempre um mocinho e um herói diante de nossas cabeças.

Esse espetáculo midiático é criado em grande parte no entretenimento, como programas de auditório, novelas e reality shows que vendem a imagem através das suas propagandas publicitárias de alto lucro. Usam do marketing, a chave para iludir uma população com excesso de informação, mas com pouco conhecimento. Consiste em uma face “mágica” dos meios sobre o telespectador, que sem perceber sofre uma influência que desenvolve o seu comportamento em sociedade.

Diretor em casa

Em outras palavras, é a mídia que dita como devemos nos vestir, o que devemos comer e o que devemos fazer. Lembramos Guy Debord, autor francês que escreveu o livro A Sociedade do Espetáculo. Esse livro é uma crítica teórica sobre consumo, sociedade e capitalismo. Nele, Debord defende que somos dominados pela imagem e que existe um tipo de fetichismo em toda a mercadoria. Isso significa que a dominação da sociedade, por “coisas supra-sensíveis, embora sensíveis”, se realiza absolutamente no espetáculo, onde o mundo sensível se encontra substituído por uma seleção de imagens que existem acima dele e que ao mesmo tempo se fazem reconhecer como o “sensível por excelência”.

Desta ideia, podemos chegar à conclusão que a sociedade é deslumbrada pela imagem e as mídias ditam os produtos que você deve consumir. Ou seja, o que você deve fazer e o que você não deve fazer. Dessa maneira, a mídia desenvolve seu espetáculo, através de nossos pontos fracos ou nossos pontos sensíveis.

Todo mundo quer o vilão morto, mas todo mundo quer usar o que o mocinho veste e usa na televisão. A TV já vem transformando muitas notícias em espetáculo, como por exemplo, ao acompanharmos o caso de um assassinato, de uma catástrofe ou de um escândalo de uma figura pública. Ela preocupa-se em transformar as informações em capítulos, como se fosse um seriado ou novela. Seja o que for, tudo pode ser evidenciado como espetáculo na mídia, que busca sempre você como ator principal. Aliás, o ator obedece a um script e tem um diretor, igual a nós, que temos todos os dias esse diretor em nossa casa – estou falando de nossa companheira TV.

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Jornalista, Bagé, RS