Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A linguagem da cobertura de um crime sexual

Como mostra o caso de Jerry Sandusky, ex-assistente técnico do time de futebol americano da Universidade Estadual da Pensilvânia (conhecida como Penn State) acusado de abusar sexualmente de oito meninos ao longo de vinte anos, escrever sobre acusações de crimes sexuais é um desafio – é difícil até mesmo encontrar a linguagem certa para falar do assunto.

Alguns leitores reclamaram de artigos do New York Times que não deram muitos detalhes do caso ou então usaram de maneira inadequada palavras referentes a sexo consensual na narrativa, conta, em sua coluna [19/11/11], o ombudsman do diário, Arthur S. Brisbane. As objeções focaram na acusação mais severa a Sandusky, a de que ele teria submetido um menino de 10 anos a uma “relação sexual anal” nas duchas dos vestiários da universidade, em 2002. Leitores criticaram o fato de o jornal não escrever que ele estuprou uma criança – termo que só veio a aparecer quatro dias depois. Joe Sexton, editor do caderno de esportes, disse que o jornal não estava relutante em usar a palavra “estupro”. As acusações, segundo ele, eram diversas – cerca de 40 – e o Times optou por usar “agressão sexual” para cobrir todas elas.

Sem fórmula

É comum que jornais usem termos como “violação sexual”, “agressão sexual” e “fazer sexo” quando reportam sobre crimes sexuais. Talvez seja hora de rever esta linguagem, diz o ombudsman. Advogados das vítimas de estupros e leitores alegam que a linguagem escolhida reduz a brutalidade dos crimes e sugere, muitas vezes, que houve consentimento no ato sexual, quando isto não ocorreu.

Para Marci Hamilton, professora de direito na Universidade Yeshiva, não há uma fórmula definida para tratar estes casos. “Não acho que termos como ‘molestamento’ e ‘abuso sexual’ sejam inapropriados. O problema é quando apenas estes termos são usados. Neste caso, tínhamos oito vítimas com histórias diferentes. Um jornalista que não esclarece todo o espectro de comportamento inadequado não está dando todas as informações”, opinou.

A palavra “estupro”, entretanto, é um termo em constante mudança. As normas de estilo do Times dizem que ele significa “relação sexual forçada ou relação sexual com uma criança abaixo da idade de consentimento”. Em muitos casos, o sistema jurídico não usa a palavra. No caso de Sandusky, as acusações não continham o termo porque ele foi acusado sob o estatuto cobrindo “Relação Sexual Involuntária”.

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