Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

IPO do Facebook e a missão de informar dois públicos

Até o mês passado, a cobertura sobre a abertura de capital (IPO) do Facebook parecia ter dominado a mídia americana, comenta, em sua coluna [2/6], o ombudsman do New York Times, Arthur S. Brisbane. Nos últimos 12 meses, o número de menções da rede social no jornalão aumentou a níveis nunca vistos por outras empresas de tecnologia (exceto o Twitter).

Nas semanas anteriores ao IPO, no dia 18/5, o jornal repetidas vezes escreveu sobre o frenesi em torno da empresa e a demanda por suas ações. Todos sabem o que veio depois – a bolha estourou e as ações do Facebook caíram exponencialmente. O ombudsman questiona: o NYTimes – e outros veículos – estavam cegos pelo furor antecedente ao IPO ou a cobertura ofereceu equilíbrio entre entusiasmo e ceticismo? Para ele, logo que foi anunciado o IPO, o diário ofereceu uma cobertura cética. Mas poderia, certamente, ter feito melhor, especialmente para o leitor médio que depende do NYTimes para explicar os riscos do mercado de ações.

Foram publicados artigos questionando algumas prospecções sobre o Facebook, como uma matéria sobre o lento crescimento da receita da rede social e sobre a migração rápida dos usuários para celulares, além da habilidade não comprovada do Facebook de vender anúncios na plataforma móvel. No dia da abertura de capital, o NYTimes publicou um artigo com gráficos e registros de outros IPOs de empresas de tecnologia. Um especialista afirmava: “O Facebook é uma grande empresa. Mas isto não significa que seja um grande investimento”.

Ainda assim, o jornal poderia ter ido mais fundo nas declarações do próprio Facebook, no dia 9/5, sobre os desafios que enfrentava para vender anúncios em celulares. Para o ombudsman, o jornal deveria ter dado mais foco ao leitor comum, que precisava de informações sobre os riscos do investimento. Ao mesmo tempo, ele concorda que, como o NYTimes tem um blog especializado em finanças, o DealBook,há um desafio em manter o compromisso com dois públicos diferentes.

Larry Ingrassia, editor de negócios, diz que o diário escreve “para uma ampla e inteligente audiência geral, mas também de forma mais sofisticada para um público especializado mais informado, para que ele sinta que está aprendendo algo”. Conseguir cumprir estes dois papeis é essencial, diz o ombudsman.