Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Quanto custará o paywall do Post?

Em sua coluna de domingo [16/12/12], o ombudsman do Washington Post, Patrick Pexton, disse que o jornal está mais perto de cobrar pelas notícias online do que estava há nove meses, quando ele escreveu sobre o assunto pela última vez. A decisão, no entanto, não é definitiva. Citando fontes não identificadas, o Wall Street Journal divulgou, no dia 6/12, que o Post “possivelmente” iria criar um paywall [muro de conteúdo pago] para seu site em 2013, não antes de meados do ano. Os leitores da edição online poderiam ter acesso gratuito a um número determinado de artigos por mês; para ler mais, teriam que pagar uma cota. O Post publicou uma matériasemelhante naquele mesmo dia, na edição online, e no dia seguinte, na edição impressa, citando uma fonte não identificada.

No entanto, numa reunião que teve na semana passada com os funcionários do Post, a publisher Katharine Weymouth não quis comentar sobre o paywall ou mesmo se a empresa decidiu cobrar por assinaturas online. “Continuamos examinando a possibilidade; somos abertos a essa possibilidade”, disse ela. “Ainda não tomamos a decisão de fazê-lo.”

Isso bate com as observações feitas por Donald Graham, diretor-executivo do Washington Post Co., numa conferência com investidores de mídia em Nova York. Ele disse que a empresa continuava a examinar a questão. “Obviamente, estamos avaliando paywalls de todos os tipos”, disse Graham. “Mas o motivo de ainda não termos adotado um deles é que não encontramos um que signifique lucros imediatos. Mas continuaremos a examinar todos os modelos de paywall… assim como na hipótese de manter o aceso gratuito.”

O Post não pode perder receita

É bastante claro que um maior número de executivos, nos altos escalões da empresa, aderiu à ideia do paywall. Graham, no entanto, vem tendo uma posição cética devido à posição do Post no mercado. É uma posição muito diferente, por exemplo, daquela do New York Times ou do Boston Globe, que cobram pelo conteúdo online. O NYTimes é um jornal nacional, tanto na versão impressa quanto online; distribui edições impressas por todo o país. Começou a cobrar pelo conteúdo online em março de 2011 e atualmente contaria com mais de 500 mil assinantes digitais. O Globe, por seu lado, é um jornal quase exclusivamente local e tem apenas cerca de 25 mil assinantes digitais, segundo Graham.

O Post é um híbrido. É um jornal da região do Distrito de Columbia, em Washington; seus assinantes são responsáveis pela maior parte da receita de circulação. Mas você tem que multiplicar por 27 o número de leitores da edição impressa de domingo (650 mil) para chegar aos 18 milhões de leitores únicos que visitam o site por mês, segundo Graham, porque muita gente de fora desta região precisa e quer ter informações sobre política nacional e o governo americano. “Temos uma audiência digital 90% externa a Washington”, explicou Graham na conferência com investidores em Nova York. “Portanto, é fácil prever que se criarmos um paywall muito firme, perdemos parte disso. E nós temos… um montante considerável de publicidade digital. Portanto, se perdemos a audiência, perdemos a publicidade.” O Post não se pode dar ao luxo de perder receita; deve construir uma estrutura paga online que seja agregadora.

Jornalismo de qualidade só para os mais ricos

Então, o que significaria um paywall para os leitores do Post? Em qualquer dos modelos de paywall avaliados, os assinantes do jornal impresso da região de Washington continuariam a poder acessar o conteúdo online gratuitamente, segundo porta-vozes da empresa. Na realidade, o paywall pode até desacelerar a queda de assinantes do jornal impresso, como ocorreu com o New York Times. Se você recebe o Post online gratuitamente com sua assinatura do impresso, menores seriam os motivos para você abandonar a edição impressa. Mas isso exigiria que o Post mantivesse, em termos de noticiário local, uma cobertura contínua e de boa qualidade dos condados suburbanos que são a residência de tantos assinantes.

Um paywall poderia afastar leitores eventuais do Post de todas as regiões do país, e mesmo internacionalmente, mas um núcleo de pessoas que precisa acompanhar o noticiário político e governamental americano pode achar que vale a pena pagar. Isso, no entanto, significa que o jornalismo do Post tem que manter sua boa qualidade. O New York Times é um concorrente formidável. O Post tem que ser tão bom quanto o NYTimes, e provavelmente melhor – nas áreas-chave da política e do governo – se quiser cobrar por suas matérias online.

E isso é difícil numa redação cada vez menor que tem que contratar mais produtores de internet e trabalhadores nas tecnologias da informação para manter um site atraente e funcional e ainda manter um número suficiente de repórteres pé-no-chão para escreverem as matérias que irão para o site e para o jornal impresso.

Outra questão que preocupa o ombudsman é que, neste processo, o jornalismo de boa qualidade se tornaria acessível apenas aos mais ricos. E as pessoas que vivem nos bairros mais pobres e que, poucos anos atrás, desembolsavam umas dezenas de centavos para ter acesso às notícias? Como elas continuariam informadas?