Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Suzana Singer

“Os protestos que tomaram a avenida Paulista deixaram um rastro de destruição, uma centena de feridos, duas centenas de presos e muita indignação em relação à mídia.

A primeira onda de críticas acusava a imprensa de tratar a todos como ‘vândalos’ e de destacar apenas os estragos provocados pelo que seria um pequeno grupo entre os milhares de manifestantes.

De fato, Folha, ‘Estado’ e ‘Jornal Nacional’ só tinham olhos para a destruição provocada pela turba. Não há dúvida de que a notícia principal era o ânimo incendiário de parte dos ativistas, mas o erro foi ter generalizado. Não se dimensionou qual era a parcela dos manifestantes que estava ali apenas para depredar nem se deu o devido destaque aos demais.

A Folha abriu espaço para que os líderes do Movimento Passe Livre publicassem um artigo explicando ‘por que estamos nas ruas’, mas não havia menção ao texto na ‘Primeira Página’, que trouxe, por dois dias seguidos, a história do policial que, apesar de ferido, não atirou contra os manifestantes.

Os que acreditavam que a Folha estava sendo injusta com o movimento ganharam um fortíssimo argumento com a publicação, na quinta-feira, do editorial ‘Retomar a Paulista’. Os ativistas foram definidos como ‘jovens predispostos à violência por uma ideologia pseudorrevolucionária’.

O ‘grupelho’, segundo o texto, ‘ciente de sua condição marginal e sectária’, move-se por uma ‘intenção oculta de vandalizar equipamentos públicos e o que toma por símbolos do poder capitalista’.

‘É hora de pôr um ponto final nisso’, conclamava o editorial, em consonância com o ‘Estado de S. Paulo’, que publicou no mesmo dia ‘Chegou a hora do basta’.

A diferença entre os dois textos era que a Folha indicava a ‘força da lei’ para coibir o vandalismo (‘investigar, identificar e processar os responsáveis’), enquanto o ‘Estado’ incitava o governador Geraldo Alckmin a abandonar o que seria uma postura ‘excessivamente moderada’ para deixar a polícia ‘agir com maior rigor’.

Tudo mudou na edição de sexta-feira. A Folha era toda crítica à ação policial, avaliada como ‘violenta’. Havia flagrantes de abusos, depoimentos de feridos, o relato de que os distúrbios foram provocados pela Tropa de Choque e até uma foto de manifestantes ‘do bem’ ajudando um senhor a fugir da confusão.

O ‘Estado’ noticiou a truculência policial, mas falou em ‘confronto’ entre manifestantes e PM.

Em vez de elogios, a Folha recebeu uma segunda onda de críticas: o jornal só teria mudado de postura porque teve sete repórteres feridos, um dos quais gravemente.

Essa acusação, de corporativismo, é injusta. A edição refletiu uma passeata diferente das anteriores, na qual os militantes estavam incrivelmente bem-comportados e a polícia, muito mais agressiva.

Em editorial publicado ontem, o jornal acusou a PM de ter ‘protagonizado um espetáculo de despreparo, truculência e falta de controle ainda mais grave que o vandalismo e a violência dos manifestantes, que tinha por missão coibir’.

Mas a luta continua. Há um novo ato marcado; o movimento pode crescer e ganhar mais legitimidade -antes da pancadaria, o Datafolha já registrava que 55% dos paulistanos apoiavam os protestos.

À reportagem cabe manter o prumo e se dedicar a explicar quem são esses jovens insatisfeitos, de onde vêm e o que os move. O leitor já percebeu que eles não são nem os ‘baderneiros marginais’ dos primeiros protestos nem as ‘vítimas indefesas’ do último ato.

Ramirez, a feminista

Na coluna ‘Bonecas de quatro’, publicada na segunda-feira passada, Luiz Felipe Pondé fez um ataque duro às feministas que tentam ‘demonizar uma das posições mais preferidas pelas meninas saudáveis: transar de quatro’. Essas militantes orientariam também a ‘jamais engolir sêmen, que é excremento como xixi e cocô’.

Leitores alertaram para o fato de que Pondé dialogava com uma personagem inventada na web. A antropóloga Helena Ramirez, líder feminista brasileira, que teria dado essas declarações, não existe.

O colunista admite que se baseou em um link enviado por um leitor. ‘No entanto, a crítica que fiz está sustentada em outros dados, independentes da falsa entrevista’, afirma. Então, tá.”