Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Erivaldo Carvalho

“Um erro da largura de um fio de cabelo pode causar um desvio de mil quilômetros Provérbio chinês

Estamos no início do segundo semestre de 2013, portanto, na metade do mandato deste ombudsman. É importante, nesse ponto da travessia, fazermos rápidas considerações. Em primeiro lugar – e isso reflete, diretamente, nas funções que desempenho -, é justo mencionar a fúria dos fatos nos últimos meses: tragédia na boate Kiss, seca no Ceará, mudança de papa, Copa das Confederações e a onda de protestos que tomaram as ruas do País. Tudo isso correndo paralelo ao início da nova administração municipal. Não é todo ano (e ainda estamos no meio) que temos tanta intensidade no noticiário. Algumas dessas coberturas vararam semanas ou meses. Outras ainda ecoam nas páginas do jornal. Mas nenhuma delas, e digo isso com a tranquilidade de quem acompanhou de perto, sugerindo, cobrando, lembrando e elogiando, deixou a desejar.

No conjunto da obra, fomos muito bem. Mas, no varejo do dia a dia, continuamos cometendo pecados. A maioria é imperceptível a olho nu. Mas são esses os mais perigosos. Ao causarem menos danos à imagem do jornal, passam a falsa impressão de que nada demais aconteceu – o que é meio caminho andado para que continuemos errando. Vejamos alguns exemplos no próximo tópico.

QUESTÃO DE CONCEITOS

Um dos problemas mais recorrentes acontece na cobertura de segurança pública, ao não separarmos, conceitualmente, os tipos de crime. Furto, roubo e assalto são os campeões nesse quesito. Quase sempre os três delitos estão associados. Mas isso não justifica que passemos o pacote para o leitor, sem destrinchar o que tem dentro. Furto e roubo são crimes contra o patrimônio alheio. A diferença é que no segundo caso há ameaça ou violência. Já assalto é a maneira fortuita como a vítima é abordada. Quando dizemos, efetivamente, o que aconteceu, a cobertura vai para outro patamar. Por exemplo: em Fortaleza, há mais episódios de roubo de veículo do que furto. Ou seja, estatisticamente, temos mais chance de perder o carro sob a mira de uma arma de fogo (roubado) do às escondidas, se o deixarmos em uma rua de pouco movimento (furtado).

Outro gargalo está no trânsito, quando confundimos cruzamento, bifurcação e entroncamento. Este último é o campeão de audiência. O exemplo mais recorrente é o encontro das avenidas Antônio Sales e Engenheiro Santana Júnior, no bairro do Cocó, em Fortaleza. Ali, onde serão construídos dois viadutos, é um entroncamento, não um cruzamento.

LOCALIZAÇÃO E MAPAS

Outras duas ocorrências frequente envolvem noções de espaço. Não raramente são citadas ruas, avenidas e estabelecimento sem informações complementares sobre o bairro ou região da cidade. A falha é extensiva a municípios do Interior e região metropolitana, quando não é citada a distância da Capital. Adotar referenciais geográficos é básico em jornalismo. Sempre parto do princípio de que ao terminar de ler uma notícia preciso ir à internet para saber onde aquilo aconteceu é porque a informação está incompleta.

A BOA NOTÍCIA

Invariavelmente, cito esses problemas nos relatórios internos de avaliação das edições. Felizmente, por insistência deste ombudsman, colaboração do público e esforço da Redação, parece haver avanços em todos os exemplos citados acima. Só quem viveu ou vive o dia a dia de um jornal sabe a roda viva que é colocar, todos os dias, um exemplar nas mãos do leitor, com informações úteis e, de preferência, com o mínimo de erros possíveis. Mas não podemos baixar a guarda. Até porque, assim como as gerações de profissionais que passam pela empresa, questões do tipo vão e voltam, ciclicamente. Entretanto, como me disse uma vez um experiente colega de profissão, quando eu estava chegado ao mercado: se temos muitos erros a cometer, para que insistir nos mesmos?

FOMOS BEM

DIA DE LUTAS Em quantidade e qualidade, tivemos uma cobertura à altura das manifestações

FOMOS MAL

MAIS MÉDICO Soubemos pela concorrência o que pensam entidades locais que representam a categoria”