Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Erivaldo Carvalho

“Os jornalistas não vivem só de palavras, embora algumas vezes tenham de engoli-las – Adiai Stevenson, político americano

De muito longe a pauta mais difundida ao longo da semana, a presença do papa Francisco no Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude, recebeu, previsivelmente, atenção especial dos veículos de comunicação de todo o Brasil – inclusive do Grupo de Comunicação O POVO. Massiva, a cobertura especial no jornal, que começou com um caderno e seguiu com páginas diferenciadas, fez a alegria dos seguidores do Catolicismo. Muitos conteúdos publicados focaram na apoteótica peregrinação do santo padre e seus seguidores. Enquanto isso, por onde andaram a pluralidade do jornal e o tão falado estado laico, quiseram saber leitores e internautas em contato com o ombudsman. Respondo: primeiro, é preciso separar as duas coisas. Sobre a pluralidade do jornal, existem nossos arquivos, impresso e on line, que falam por mim. A meu ver, mostram a diversificação de pautas nessa área. Nas últimas semanas ou meses, foram vários os debates. De casas legislativas que transmitem missa a exposições evangélicas. De ensino religioso nas escolas a gastos públicos com eventos de fé. Nesta semana, abordamos a JMJ sob o mérito da jornada em si. Mas não deixamos de mostrar, também em destaque, os transtornos da cidade do Rio, os protestos de rua e os aspectos mais relevantes dos sermões papais, para muito além das paredes da Igreja. Em resumo, foi o que disse aos leitores inquietos. Mesmo assim, completei, se consideram que fomos tendenciosos, exagerados ou coisa assim, liguem para o setor de assinatura.

Sobre termos ou não um estado laico no Brasil. É uma discussão antiga. Praticamente tudo que se tinha a considerar sobre essa questão já foi dito por gente mais preparada do que eu. Só teria a acrescentar, do ponto de vista da imprensa (e nem sei se é novidade) o fato de os veículos, de maneira geral, procurarem diferenciar estado e governos. Considero um avanço, em se tratando de um país cuja história é tida como mal contada, em que as primeiras máquinas de imprimir chegaram junto com a família real e a liberdade de expressão é uma concessão. Inclusive, de emissoras de rádio e televisão, arrendadas para todo tipo de credo.

Viadutos, planejamento e coerência

Nem o mais aguerrido dos adversários da gestão Roberto Cláudio imaginaria que o projeto dos viadutos no entroncamento das avenidas Engenheiro Santana Júnior e Antônio Sales fosse provocar tanto barulho, reviravoltas e manchetes de jornal. A mídia local vem tentando captar as várias vozes que ecoam de todos os lados, contra e a favor do empreendimento. Talvez numa tentativa de se ressintonizar, depois da tontura que sentiu no sacolejo das ruas, já tratada em colunas anteriores. Em relatórios internos, venho observando o estímulo ao profícuo debate. O caminho é esse. Amparar a discussão sobre os rumos da própria cidade deve ser o locus prioritário de qualquer veículo de comunicação – não importa quão cosmopolita ele queira ser. Mas há aspectos a considerar. Parece ser consenso em setores desse debate de que a obra é um mal necessário em uma cidade que agoniza por planejamento urbano. Se é assim, onde estava a combativa imprensa da Capital, quando deixou Fortaleza se transformar nesse monstrengo, ao longo de décadas? O incômodo da pergunta não tira o mérito do que está sendo debatido. Mas a faço para dizer que pouco adiantará, depois do desfecho da atual polêmica, se ficarmos esperando por outra. A vida na Cidade, em todos os aspectos e lugares, é perene, assim como devem ser as pautas.

Viadutos atraem carros que atraem viadutos que atraem carros. O ciclo vicioso (ou virtuoso, dependendo do ponto de vista) tem vários estágios. Entre eles, a publicidade aquecida na venda de automóveis, com seus lançamentos imperdíveis, festivais de descontos, tarifa zero e IPI reduzido etc. Tudo isso sob as bênçãos dos veículos de comunicação, em suas mais variadas plataformas, que faturam alto. Nem preciso dizer que a apologia à cultura do carro tira em uma ponta o que o bom jornalismo tenta dar por outra. É impensável que essa contradição leve empresas a rejeitarem anúncios, para abraçarem, com mais vigor e coerência, uma Fortaleza com mais qualidade de vida.

FOMOS BEM

ASSALTOS A BANCO.

Saímos atrás da concorrência, mas conseguimos recuperar cobertura.

FOMOS MAL

FAMÍLIA REMOVIDAS.

Misturamos reurbanização com projetos de mobilidade urbana.”