Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Erivaldo Carvalho

“Meu texto é uma merda. Só tomo furo. Por quê? Por quê?” (Anônimo)

Ao longo da semana, como ombudsman, tenho entre as atribuições fazer um balanço crítico da edição do dia do jornal. Sob o olhar do leitor, que liga ou passa e-mail, aponto erros de informação e comento angulações da cobertura. No relatório entram ainda comparações com os concorrentes. Para domingo, preparo uma coluna com tema livre. Pode ser um aspecto relevante das edições recentes ou uma mudança importante da empresa com potencial de impactar o produto final. Questões ligadas ao mercado de comunicação social ou um ponto que envolva a formação profissional jornalística também podem entrar. A dinâmica da pauta varia de acordo com quem está exercendo o mandato e a época, entre outras variáveis. Dito isso e em razão de conversas com quem acompanha o jornal, passo a comentar dois assuntos entre os que me chamaram a atenção nos últimos dias.

Furos e “lançamentos”

Na edição da última terça-feira, 26, fomos pegos de surpresa com a manchete do jornal Diário do Nordeste, anunciando a intenção do Governo do Estado de criar a chamada contribuição de melhoria. Grosso modo, trata-se de um valor a ser pago pelo proprietário de um imóvel ao Executivo quando uma obra pública trouxer benefícios à propriedade particular. A pauta rendeu ao principal concorrente do O POVO outras duas manchetes seguidas. Anteontem, sexta-feira, o DN saiu na frente com uma segunda história: a Prefeitura de Fortaleza pretende ampliar a faixa de isenção do IPTU, o mais conhecido imposto municipal. Os furos rendem algumas reflexões.

As perguntas e a resposta

A primeira tem relação direta com a estratégia de mercado do jornal. Nos últimos anos, recolhemos os tentáculos no Interior do Ceará. Hoje em dia, pode-se dizer que somos um “jornal de Fortaleza”. Deixamos a circulação mais abrangente em troca de um declarado foco qualitativo na Capital do Estado. As perguntas: estamos fazendo valer a expressão? Somos mesmos um jornal que está atento às grandes questões que se desenrolam por aqui? O leitor que, hipoteticamente, só se informa através de nosso noticiário, está, em quantidade e qualidade, contemplado com o que se passa em nossa Cidade? Se a resposta for “sim”, onde estava o jornal quando nossos leitores souberam, pela concorrência, da existência de dois dos mais relevantes projetos de lei do ano? Conforme registrado no relatório de avaliação da última sexta, foram duas boladas nas costas vindas de ambientes públicos e de livre circulação, na Capital. No caso, a Assembleia Legislativa e a Câmara Municipal de Fortaleza.

A segunda questão diz respeito à atitude do jornal diante dos furos. Que reação tivemos, repito, quando fomos informados de duas das mais impactantes novidades na seara político-administrativa de 2013? Resposta: no caso da contribuição de melhoria, entramos na história no terceiro dia. Fizemos uma única repercussão e só. Em relação ao IPTU, até ontem, sábado, o jornal fez de conta que a pauta não existia.

Quem quer ser deputado?

A pergunta-título acima poderia ser o batismo de seções nas colunas Vertical e Sônia Pinheiro. É rara uma semana em que não temos pelo menos uma menção a figuras que se dizem pré-candidatas nas eleições de 2014. Venho registrando o problema em relatórios internos. Não cito exemplos aqui para não reforçar a propaganda gratuita dos elementos. Como dito, internamente, não vejo problema em se informar intenções políticas de quem quer que seja. Faz parte do noticiário. Mas tem de ser feito em conjunto, contextualizado e na seção do jornal adequada. Tenho a impressão de que a imagem de um veículo de comunicação é a soma de tudo que nele é publicado – da primeira à última página – incluindo a publicidade.

FOMOS BEM

ERRO EM LAUDO. A trapalhada no caso policial do Bairro Ellery empurrou a perícia forense cearense para a defensiva.

FOMOS MAL

ACIDENTE NO ITAQUERÃO. Manchetamos, mas foi a concorrência que saiu com detalhes sobre o cearense que foi vítima.