Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Erivaldo Carvalho

“‘O Natal não é uma data, é um estado de espírito’

Quem acompanha esta coluna com alguma regularidade deve conhecer o seguinte argumento, aqui já exposto: o O POVO, desde que recolheu seus tentáculos do Interior do Ceará, passando a ser um ‘jornal de Fortaleza’, não pode nem deve deixar de oferecer aos leitores nada menos do que a melhor cobertura sobre o que acontece na Cidade. Grosso modo, seria uma forma de contrabalancear, se puder ser visto dessa forma, a pouca capilaridade fora da Capital. Esta semana tivemos mais um exemplo de que essa espécie de compensação não está acontecendo. Greve dos trabalhadores no transporte alternativo. Na edição da última sexta-feira, 20, foi publicado, no canto da página 3 do Núcleo de Cotidiano, um texto simples, sem foto, com o título ‘Vans: motoristas e cobradores encerram greve’. No relatório interno de avaliação, cheguei a considerar o conteúdo ‘melancólico’. Motivo: estávamos anunciando o desfecho de um movimento reivindicatório que, para o jornal, nunca aconteceu. Por outras palavras, a cobertura não esteve em nossas páginas.

Não foi por falta de aviso que passamos batidos. Na semana anterior, jornais concorrentes já mencionavam, com razoável visibilidade, as articulações que desaguariam na paralisação. Nesta última segunda-feira, foram tirados em assembleia dia e hora para o início da greve: zero hora de quarta-feira, 18. A pauta foi a principal matéria em uma página de Cidades do Diário do Nordeste. No segundo dia de greve, quinta-feira, 19, o jornal O Estado, além de texto e foto internos, dedicou-lhe a principal imagem da capa. Nos despachos que faço à Redação, como foi o caso, costumo fazer registros do tipo.

O risco da irrelevância

Não cabe ao ombudsman especular sobre os motivos que teriam levado o jornal a cegar diante de um fato tão importante. O que posso afirmar é que leitores entre os cerca de 250 mil passageiros que pegam uma das 336 vans que fazem as 16 linhas do transporte alternativo de Fortaleza tiveram uma ingrata surpresa se esperavam acompanhar o caso pelo O POVO. Já comentei esse aspecto aqui, mas vale a pena repetir: se as pessoas se tornam irrelevantes para nós, não tardará e nós seremos irrelevantes para elas. Dizendo isso de outra forma, adivinhem onde o público buscará informações na próxima greve?

E vejam que nem estou entrando no mérito de o jornal ter construído uma longa tradição em coberturas de assuntos sindicais.

Os custos do sistema

Parece pedir demais ao jornal conteúdos mais qualificados na área do transporte público de Fortaleza, quando não se consegue fazer o básico, que é cobrir uma greve de motoristas, cobradores e fiscais de vans. Em todo o caso, aproveito para reforçar o estímulo para que o jornal disseque os números que resultam no preço da passagem. Como se sabe, a cada negociação fechada com ganhos para os trabalhadores (motoristas terão 13,5% de reajuste e cobradores e fiscais, 11%), o preço final do serviço é pressionado para cima. Por isso, as perguntas: afinal de contas, como se chega ao valor de R$ 2,20? Que insumos são considerados na hora de fechar a planinha de custos? Quais itens incidem mais ou impactam menos nos cálculos? É possível se ampliar as isenções de tributos? O caminho será mesmo o subsídio governamental? Até quando o preço ficará congelado? Toda a população da Cidade, que direto ou indiretamente paga e mantém o sistema, tem o direito de saber. O jornal, o dever de informar.

Feliz Natal.

FOMOS BEM

PMS FLAGRADOS. De forma exclusiva, mostramos policiais circulando pela Cidade em carro roubado

FOMOS MAL

CHUVAS NO INTERIOR. Ficou aquém uma das notícias mais esperadas pela maioria dos cearenses”