Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jill Abramson e os planos para 2014

Estes dias, enquanto fiscaliza o alto escalão do jornal, Jill Abramson o fará com alguma satisfação. Metade dos dez principais editores na redação, incluindo ela própria, são mulheres. Isso é uma caminhada, desde o tempo em que as mulheres não tinham presença no alto escalão do Times; a primeira foi Carolyn Lee, em 1990.

“Para mim, é um orgulho”, disse-me recentemente sobre as mudanças no alto escalão Jill Abramson, que fez história em setembro de 2011, quando se tornou a primeira editora-executiva do Times. E ela ainda nomeou Carolyn Rian chefe da sucursal de Washington, Alison Mitchell editora de política nacional, e Pamela Paul editora do Times Book Review.

Mas ela não está totalmente satisfeita. Entre os dez editores citados, o único que não é branco é o chefe de redação, Dean Baquet, que é negro. “Eu gostaria de ver nossa luta pela diversidade ganhar espaço em áreas como raça, assim como o fez em gênero”, disse. Essa é uma das muitas metas de 2014, o assunto de minha recente entrevista com ela. Jill Abramson já está há mais de dois anos no cargo, um deles de considerável sucesso jornalístico, significativas mudanças de equipe e as mudanças tecnológicas que ocorrem rapidamente na era digital.

Na semana passada, o Times começou uma cuidadosa incursão na publicidade nativa – conteúdo pago que se parece com notícias – e exibiu o novo design de seu website. O ano que terminou também teve seus pontos baixos: a saída de Nate Silver e de alguns outros importantes membros da equipe, a necessidade de acompanhar a cobertura de outras publicações na questão da vigilância governamental e as dificuldades na cobertura da China.

Na medida em que o que passa pela cabeça da editora-executiva provavelmente afeta os leitores do Times, achei que valeria a pena abordar a maneira pela qual Jill Abramson encara o que tem pela frente.

Equipe da redação

Muitas publicações criticaram as mudanças na equipe do Times, que incluíram a perda de alguns talentos. “O Times é suficientemente grande e profundo para que a perda de uma ou mais pessoas afete a qualidade do noticiário jornalístico”, disse Jill Abramson. O tamanho da redação continua sendo de cerca de 1.250 pessoas – não só é enorme (a do Washington Post é quase metade), mas é notável por sua estabilidade, enquanto muitas outras redações encolheram drasticamente.

Jill Abramson disse-me que está permanentemente sob pressão do setor comercial do Times para controlar custos, mas não vê “o que poderíamos reduzir na equipe” e manter a qualidade num alto nível. “Todo mundo está sobrecarregado”, disse ela. “É incrível que tudo o que fazemos digitalmente foi conseguido sem aumentar a equipe.” Jill Abramson disse que entre suas principais prioridades está a de “proteger a reportagem de rua como uma leoa feroz”.

Entre as mais recentes contratações para a redação estão três vencedores do prêmio Pulitzer: Matt Apuzzo, da Associated Press; Frances Robles, do Miami Herald; e Sheri Fink, da ProPublica.

Cobertura global

Jill Abramson disse que o Times continuaria suas reportagens agressivas sobre a China – que foram premiadas e provocaram problemas de ordem empresarial, inclusive o bloqueio do site do jornal pelo governo chinês. Outra recente contratação do Times é Michael Forsyhte, que cobria a China para a Bloomberg News. “Continuamos fazendo um jornalismo surpreendentemente bom lá. O problema é que nem todos os chineses podem acessá-lo”, disse ela. A maioria dos problemas em relação aos vistos na China foi resolvida, disse ela, e os principais editores estão preocupados em manter os repórteres fora de perigo em regiões de conflito, como o Sudão do Sul.

No meio tempo, disse ela, uma equipe de repórteres e editores começou a trabalhar num projeto importante para 2014: “um olhar profundo sobre os ricos do mundo”.

New York Times Magazine

Com a saída de seu editor, Hugo Lindren, a direção da revista está sendo avaliada. Jill Abramson pediu a Dean Baquet que passasse parte de seu tempo estudando o caso. Uma coisa que não é negociável, disse ela, é se a revista continuará ou não. Alguns observadores de fora acham que ela não atende mais ao seu objetivo, num momento em que há muitos suplementos no estilo-revista que aparecem nos jornais. Há também o fato de a revista ter perdido boa parte de sua receita publicitária. “Isso é ridículo”, disse ela. “É uma opinião equivocada.” A revista é “adorada por nossos leitores, mas sua identidade foi prejudicada e precisa de uma melhor definição”.

Vídeo e jornalismo multimídia

Cada vez mais importante para o Times, tanto do ponto de vista jornalístico quanto para o setor comercial, “esta é uma área em que precisamos mais visão”, disse Jill Abramson, para proporcionar “uma experiência envolvente e muito diferente”. Ela gostaria que a redação “entrasse num ritmo” em que projetos multimídia complexos, como Snow Fall: The Avalanche at Tunnel Creek, de 2012, fossem apresentados uma vez por semana. Atualmente, eles só aparecem de vez em quando.

Quando perguntei a Jill Abramson qual a marca registrada que gostaria para o jornal durante seu mandato como editora-executiva, ela respondeu laconicamente e sem hesitar: “Jornalismo de profundidade, criatividade e um objetivo que só se encontra no New York Times.” É indiscutível que ela tem tido sucesso com esses pontos, assim como com muitos outros.

Em nome dos leitores que ouço diariamente, acrescento minhas próprias esperanças específicas: que o Times, sob a chefia de Jill Abramson e de sua equipe, liberte-se mais do que nunca das preocupações auto-interessadas de governos e de empresários e siga em frente com um jornalismo que destaque as dificuldades da vulnerabilidade e das ameaças ao planeta.

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Margaret Sullivan é ombudsman do New York Times