Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Daniela Nogueira

A forma como a mídia brasileira trata as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) foi tema de seminário realizado pela Andi – Comunicação e Direitos há 10 dias, em Brasília (DF). Participei dos debates junto com outros jornalistas, membros das Organizações, do setor empresarial, da academia e entes governamentais. É interessante analisarmos como os temas sociais são cobertos pela imprensa da qual fazemos parte. E mais: como podemos avançar, porque muito se diz, mas pouco se efetiva.

Durante o Seminário, foi lançada a pesquisa “A Imprensa Brasileira e as Organizações da Sociedade Civil”, que mostra como 40 jornais do País (O POVO, inclusive – eram 5 de circulação nacional e 35 de âmbito regional) e quatro revistas de âmbito nacional pautaram os temas sociais no período de janeiro de 2007 a dezembro de 2012. Foram analisadas 2.369 matérias. A Andi ressalta que os resultados são dados preliminares da pesquisa. O material completo ainda será editado e posteriormente publicado com dados coletados no seminário.

Quem são as OSCs

Mas de que organizações estamos falando? A pesquisa focou em organizações sociais que não têm o lucro como objetivo, formalmente constituídas, distintas do Estado e das empresas, “cujo propósito reside na promoção do desenvolvimento da sociedade”. De uma maneira geral, conforme definição do Governo Federal, as OSCs são associações e fundações que desenvolvem ações de interesse público e atuam na promoção de direitos e de atividades nas áreas de saúde, cultura, educação, ciência e tecnologia, desenvolvimento agrário, assistência social, moradia, dentre outras.

Segundo a pesquisa apresentada, uma das conclusões é de que há uma “tendência positiva”, com 29% das matérias destacando aspectos positivos e 17,6% dos textos focando em questões negativas. Dos aspectos negativos citados, a corrupção (ou o desvio de recursos públicos) é o mais mencionado: está em 10,1% dos textos.

O viés negativo

Outro dado que chama a atenção é que, em 12,7% dos textos analisados, a inclusão das OSCs na pauta das redações se dá frequentemente em função de denúncias de corrupção. Entre as revistas, o percentual é maior: 20,4%. Não há dúvidas de que casos de corrupção, de qualquer esfera, devem ser expostos na imprensa. É parte da função social que desempenhamos.

Porém, uma das reclamações dos membros das OSCs durante o seminário é que o foco não muda. O interesse da imprensa é sempre pelo viés negativo, da corrupção, da denúncia, da falha, da mancha que atinge algumas Organizações. Por que o trabalho social, sério e responsável, que muitas OSCs desempenham não tem tanto destaque na nossa mídia?

Uma das razões pode ser o habitual interesse da imprensa pelo aspecto negativo, alguns alegam. Talvez seja hora de ampliarmos nosso raio de cobertura e percebermos os demais temas que o assunto compreende: a questão do repasse dos recursos, o financiamento, a forma de atuação. Afinal, estamos falando de 290.692 organizações no Brasil todo – conforme dados do IBGE, referentes a 2010.

 

 

 

 

O Marco Regulatório

Tema pouco visto na mídia, de uma maneira geral, é o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil, uma agenda do Governo Federal que tem como meta aperfeiçoar o ambiente jurídico e institucional relacionado a essas instituições. A mobilização para a criação do Marco começou em 2010. Ano passado, a articulação se intensificou. Mas o assunto ainda é pouco explorado. Precisamos pensar sobre nossa cobertura e refletir sobre o que tem sido feito. A ideia de que “a imprensa só gosta do aspecto negativo” não pode virar clichê.

Mais informações sobre o Seminário e dados acerca do tema, sugiro que acesse os sites:

http://imprensaesociedadecivil.andi.org.br/

http://www.secretariageral.gov.br/mrosc.

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Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo