Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Daniela Nogueira

O POVO, enquanto Grupo de Comunicação, destaca que suas ações têm sido feitas tendo como fio condutor a “convergência das mídias”. Isso significa que os meios de comunicação do veículo (jornal, rádio, TV e portal) estão integrados sob um mesmo conceito e, em casos específicos, se unem para reforçar uma dada cobertura, seguindo as especificidades de cada meio. Não é o que tem ocorrido com a Copa do Mundo 2014.

Enquanto o jornal impresso e o portal, na internet, multiplicam textos sobre o Mundial, sob diversos prismas e olhares locais, na Rádio O POVO CBN predomina o conteúdo da CBN nacional, a qual é vinculada. Um leitor/ouvinte estranhou a cobertura e entrou em contato, depois de tentativas frustradas, segundo ele, com jornalistas da rádio e do jornal impresso, em busca de uma explicação. “Tem tanta gente cobrindo a Copa pelo jornal e não tem ninguém pela rádio? Por quê? Só tem conteúdo da CBN nacional”, queixou-se a mim, por telefone. Ouvinte antigo da rádio e amante do futebol, ele pensou que teria os dois assuntos juntos na Copa no O POVO.

O que diz a rádio

De acordo com a editora-chefe da Rádio O POVO CBN, Maryllenne Freitas, pelo fato de a rádio ser afiliada à rede, é preciso “respeitar a grade nacional”. E acrescenta: “Está havendo cobertura quando temos espaço na Rede para nossas inserções. Temos a entrada de repórteres do Jornal para a Rede. Nossa programação no período da tarde foi toda alterada, mas, pela manhã, nossa produção traz sempre assuntos ligados aos eventos da Copa do Mundo. Já fizemos dois (programas) Debates do POVO sobre a Copa, quando trouxemos o Mirandinha (ex-jogador), o comentarista esportivo Jota Lacerda e ouvimos Ferruccio Feitosa (secretário da Copa pelo Estado). Estivemos na Fifa Fan Fest, na Praia de Iracema.

Ouvimos os segmentos da rede hoteleira, bares e restaurantes, comércio, médicos da área de cardiologia, nutricionista, reportagens e, assim, estamos acompanhando os fatos”.

Profissionais credenciados

Quem acompanha os jogos dos times cearenses pela Rádio O POVO conhece a equipe batizada como “Timão do Povo”, composta por oito profissionais que narram, comentam e analisam as partidas.

Segundo matéria publicada pelo O POVO, jornal, no dia 12/6 (“Copa terá cobertura ampla e diferenciada”), há 10 profissionais do Grupo credenciados pela Fifa para cobrir o Mundial no Brasil – sete repórteres e três fotógrafos. Nenhum da rádio.

Mesmo que o assunto Copa esteja presente nos programas que não são necessariamente esportivos, não valorizamos a relevância de credenciar os profissionais da rádio para a cobertura e, consequentemente, de levarmos uma programação diferenciada ao ouvinte em dias de jogo. A preferência por usar os repórteres do jornal para participações na rádio pode levar à falta de qualificação na cobertura, haja vista que estamos abordando mídias diferentes. Muitas vezes, estamos lidando com profissionais que não estão habituados a outros gêneros de comunicação. Com os olhares locais para o impresso, a rádio O POVO fica à mercê da grade nacional. Perde a audiência, que pensava que teria uma programação diferenciada ao pé do ouvido.

Metrofor para quem?

Na edição de 21/6, o jornal publicou a matéria “Metrofor. Operação comercial tem início até novembro, diz Governo” (Economia, página 22). Em uma página inteira, em cinco colunas das seis, com textos, mapas, foto e infográfico, o assunto era as quatro licitações que faltam para que a Linha Sul do metrô local comece a funcionar comercialmente. Um leitor e usuário do metrô escreveu incomodado com o tom dado à matéria.

“Não mostra prejuízos causados aos usuários devido à espera absurda pelo funcionamento efetivo do Metrofor nem cita qualquer ponto de vista dos mesmos (usuários). Também não aborda os prejuízos à mobilidade urbana, não cita ponto de vista de nenhum técnico, não faz menção alguma a promessas anteriores não cumpridas sobre o funcionamento do metrô. Sinto-me prejudicado diariamente, como acontece com boa parte da população”, reclama.

O editor-executivo do Núcleo de Negócios, Jocélio Leal, argumenta que a matéria “trouxe informações de expressivo interesse público: o início da operação comercial, os novos horários a serem adotados, os custos, o valor das licitações, dentre outras”. A editoria trata do assunto do ponto de vista comercial. Mas os usuários, os principais interessados no funcionamento do equipamento, não podem ser esquecidos em temas assim.

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Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo