Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Tânia Alves

Caro leitor, fiquei a pensar o que escreveria nesta primeira coluna externa como ombudsman do O POVO. Estarei neste espaço, durante um ano, aos domingos. Como jornalista, nunca pensei em ser ombudsman. Não é um cargo que se sonha na nossa carreira. Até hoje, passados 21 anos após indicação da jornalista Adísia Sá como primeira ombudsman do O POVO, a função causa estranhamento. Para que serve um ombudsman?, já perguntava o jornalista e escritor Lira Neto, quando passou por aqui. Mas a vida nos chama por determinados caminhos, que a gente abraça, da melhor forma possível, por acreditar que nada exista por acaso. Entendo que exista um sentido, ter permanecido nesta casa durante 26 anos, começado no Esportes e trabalhado em várias editorias da Redação até aqui. Portanto, abraço hoje a missão de ser ouvidora, por um ano, com o mesmo frio na espinha de quando pisei nesta empresa para fazer estágio.

Tenho paixão pelo fazer jornalístico. E, sobre isto, teremos um ano inteirinho para falar. Me entusiasma esta profissão que busca contar os fatos mais próximos possíveis da realidade. Tomo posse no cargo num momento crucial de nossa profissão. De intensa transformação. O jornalismo é, sem sombra de dúvidas, a profissão mais impactada pelas mudanças na era digital. Os meios de enviar as notícias até o receptor, de como o consumidor dessas mídias se comporta, mudaram radicalmente. As informações estão por todos os lados. As narrativas são diferentes, pipocam nas redes sociais de uma maneira tal que jamais se poderia imaginar há 30 anos. Lembro aqui de quando cheguei no O POVO com a redação cheia de máquinas de escrever e uma de telex troando em nossos ouvidos.

O que não mudou para o jornalista foi a responsabilidade de se levar para o público os fatos como eles são, sem manipular a informação, debatendo e defendendo ideias sem medo, mas, sempre, com respeito ao outro. É pela mudança, pelo debate que crescemos, caminhamos e aprendemos. E isto, nos corredores das redações, na pressa do fechamento, de colocar a notícia no ar, de publicar nos portais, é um desafio diário e constante.

O ombudsman e o leitor

Assumo o cargo no momento crucial em que muito se debate a liberdade de expressão em função do atentado ao jornal Charlie Hebdo, no último dia 7 de janeiro, na França, que matou 12 pessoas. O tempo é de ebulição na Imprensa. Nunca se debateu tanto o futuro do jornalismo como agora. Nunca se questionou tanto o papel da imprensa, nunca se ouviu falar tanto dos limites do dizer nas notícias publicadas nas várias plataformas de comunicação. Nesses confrontos, atual e constante, está nossa fortaleza.

Qual o papel que cabe a um ombudsman no momento como este rico de tanta agitação no mundo das notícias?. O regimento interno do cargo, no O POVO, define entre as atividades: “Ouvir e atender os leitores checando suas críticas, denúncias, reclamações e sugestões, encaminhando-as a quem de direito, cobrando, posteriormente, respostas sobre elas, dando ciência ao leitor;” (Para ler a versão completa basta acessar www.opovoonline.com.br clicar em Colunas e depois, Ombudsman). Sim, cabe ao ombudsman ser os ouvidos, os olhos e a fala dos leitores. Acredito, no entanto, que cabe a ele também ajudar e fortalecer o debate sobre os novos rumos do jornalismo, hoje tão necessário e tão permanente.

Sobre surpresas

E o que cabe aos jornalistas que estão no batente do lado de lá, preparando o noticiário, checando dados, ouvindo fontes, editando textos, cortando frases, fotografando instantes e desenhando páginas (interrogação). Cabe levar para o leitor informações precisas, textos corretos, análises, histórias bem contextualizadas, visual atraente, que se tornem interessantes para a sociedade. Quero ler, do lado de cá, olhando o jornal sob a ótica do leitor, notícias que me surpreendam todos os dias. E isso eu sei que a Redação do O POVO sabe fazer.

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Tânia Alves é ombudsman do jornalO Povo