Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A delicada cobertura política americana

A cobertura política americana foi tema da coluna de domingo [1/10/06] da ombudsman Deborah Howell no Washington Post. Deborah relatou que recebeu diversas críticas de leitores sobre a forma como o jornal tem escrito sobre George Allen, senador republicano da Virgínia candidato à reeleição – que concorre com o democrata James Webb. A leitora Suzanne Rosenberg, por exemplo, alegou que pretende cancelar sua assinatura do Post porque ‘está óbvio que o jornal não gosta de George Allen, e está fazendo de tudo para que ele seja mal visto aos olhos do público’.

Presunto e macaquices

Deborah afirma que vários fatos justificam tal cobertura. Um deles foi um incidente no qual Allen teria chamado de ‘macaco’ um jovem de origem indiana que apóia seu oponente. A ombudsman questiona se o caso foi superexposto no jornal e se tal cobertura prejudicou a campanha do senador. Segundo ela, basta assistir ao vídeo em que Allen chama o jovem de ‘macaco’, disponível no sítio do Post, para se ter certeza de que o incidente tem valor jornalístico. Deborah alega que, inicialmente, o jornal não exagerou na cobertura do caso, mas, depois que o senador se desculpou, o assunto foi abordado intensamente pelos colunistas – e não pelos repórteres e editorialistas.

Um outro fato que recebeu reclamações dos leitores foi a ascendência judaica de Allen ter sido notícia. Deborah acredita que há razões para se perguntar a um candidato, especialmente a um que tenha ambições presidenciais como Allen, sobre religião e etnia. De acordo com ela, os repórteres do Post não perguntaram nem planejavam em perguntar a Allen sobre sua ascendência no debate dele com Webb. No entanto, neste debate, um repórter de uma emissora de TV fez a pergunta, e Dana Milbank abordou o assunto em sua coluna no Post. O que foi notícia não foi a ascendência em si, mas sim a declaração de Allen, que alegou estar sendo atacado com a pergunta, e também seus comentários sobre ele comer sanduíche de presunto e sua mãe cozinhar porco muito bem.

Muitos leitores reclamaram do fato da mãe de Allen, de 83 anos, ter sido entrevistada no jornal. Deborah afirma que a entrevista foi simpática, além de ter sido necessária para enfatizar o medo que ela tinha de revelar seu passado judeu, especialmente porque seu pai havia sido preso por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Ela afirmou que só contou a Allen sobre isto recentemente, pedindo a ele para manter segredo sobre tal informação.

Ruim para os dois lados

‘A cobertura prejudicou os planos de reeleição de Allen?’, indaga a ombudsman. Segundo Deborah, as matérias – seis delas na capa do jornal – não o ajudaram, mas ainda restam cinco semanas até as eleições. A ombudsman lembrou que o Post também publicou matérias que não foram favoráveis a Webb – não sendo, portanto, tendencioso.