Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Bia Abramo

‘Parece politicamente correto, justo e verdadeiro e, no entanto, pode estar provocando um efeito inesperado. E tal efeito inesperado talvez seja uma das formas de entender a atenção que ‘Da Cor do Pecado’ vem atraindo -semana passada, a novela chegou a picos de audiência raros para o horário, perto dos índices de novelas das oito.

Em tese, o fato de ser a primeira a ter uma protagonista negra é tanto a novidade quanto o principal mérito da novela. Dando visibilidade a uma mulher negra e fazendo essa personagem contracenar com um homem branco, a televisão estaria contribuindo para discutir o preconceito racial e reparando uma dívida histórica com os negros etc. Mas o problema é que, quando se dá visibilidade a uma questão complexa e tortuosa como a relação entre brancos e negros no Brasil, também se mostra alguma coisa da violência e hipocrisia que estão aí enfronhadas.

Em ‘Da Cor do Pecado’ o que parece ser novo, de fato, é a franqueza naturalista com que se tratam as relações entre negros e brancos, coisa que transparece especialmente nos diálogos. Digamos que os personagens dão voz àquilo que não se fala publicamente, mas que se ouve a três por dois no ambiente privado. São os vilões que o fazem -a ambiciosa e cruel Bárbara (Giovana Antonelli) e o magnata sem coração Afonso (Lima Duarte)-, mas, como se sabe, os vilões não são odiados em bloco e, muitas vezes, são invejados por não serem submetidos às amarras morais (ou moralistas) dos seus companheiros mocinhos.

Recentemente, Afonso descreveu Felipe (Rocco Pitanga) como ‘um negro boa gente’. Bárbara, a bandida, refere-se à mocinha negra interpretada por Taís Araújo, como ‘aquela neguinha’. Como Afonso, milhares de espectadores formulam frases desse mesmo tipo, em que o ‘gente boa’ se opõe ao ser negro, com um ‘apesar de’ oculto na fala. E, na hora de desqualificar alguém, outros tantos fazem coro com Bárbara -destacam a origem étnica, nacionalidade, orientação sexual, gênero etc. daquele que querem xingar.

Um contra-exemplo pode ser ainda mais esclarecedor: ao revelar a Edilásia (Rosi Campos) que ela poderia ter um neto, Germana (Aracy Balabanian) faz questão de assinalar que o menino é mulato -coisa que enche as amigas de júbilo. Mesmo que aparentemente para o ‘bem’, está reservada para os negros a condição de outro, daquele que não somos nós.

Num país que tem mais vergonha do que culpa de ser racista e continua tratando as outras etnias com enorme incômodo, a franqueza naturalista com que são registradas essas relações na novela acaba por ter uma função catártica.

E intenção esclarecedora transforma-se simplesmente em naturalização das operações mentais que colocam negros e brancos em territórios separados.



TERRA NOSTRA
Daniel Castro

‘Globo vai reprisar ‘Terra Nostra’ em abril’, Folha de S. Paulo, 14/03/04

‘A Globo não quer apenas ser líder. Quer massacrar a concorrência. Tanto que decidiu, na semana passada, que a próxima novela da sessão ‘Vale a Pena Ver de Novo’ será ‘Terra Nostra’, um dos maiores sucessos de audiência e exportação (é a terceira mais vendida, para 57 países) dos últimos anos. ‘Terra Nostra’ (1999), de Benedito Ruy Barbosa, entrará no ar em abril, junto com a ‘programação 2004’ da Globo. A novela terá a missão de impulsionar a audiência da emissora e recuperar a do ‘Vale a Pena’, que caiu para 22 pontos com ‘Corpo Dourado’. ‘Estrela-Guia’, a novela de Sandy, que era a ‘bola da vez’, continuará na gaveta.

OUTRO CANAL

Final O último episódio de ‘Friends’ será exibido no Brasil em 6 de julho. O Warner Channel, que já exibiu sete episódios da última temporada, continuará com reprises até abril. Só em maio mostrará os outros 15.

Obsessão Depois de quatro meses, Walter Zagari, superintendente da Record, convenceu Adriane Galisteu a vender seu Mercedes. O executivo, que dizia que o carro (de 2000) era velho para ela, o levou por R$ 200 mil.

PIB Para muitos, Tom Cavalcante é um chato. Mas olha só alguns dos nomes que passaram pela festa de aniversário dele, dia 8: Marcio Cypriano (Bradesco), Pedro Grendene (Grendene) e Antônio Ermírio de Moraes.’



TV CULTURA
Daniel Castro

‘Abril vai produzir programa para Cultura’, Folha de S. Paulo, 12/03/04

‘O Grupo Abril, que edita a revista ‘Veja’ e controla a MTV, fechou anteontem parceria com a TV Cultura. Pelo acordo, a Abril irá produzir programas para a emissora pública mantida pelo governo do Estado de São Paulo. A produtora será comandada por André Mantovani, diretor-geral da MTV Brasil.

O primeiro programa será inspirado na revista ‘Superinteressante’, a segunda maior circulação da Abril. Previsto para estrear em maio, terá meia hora, aos domingos à noite. O nome provisório é ‘Super TV’. Selton Mello foi convidado para ser apresentador, mas recusou por já estar comprometido com o Canal Brasil.

O programa irá tratar de assuntos científicos, curiosidades e temas do cotidiano.

O acordo prevê que a Abril entrará com seu ‘know-how’ e, eventualmente, com marcas. A Cultura, com a ‘capacidade de produção’ (estúdios). A maior parte da mão-de-obra será da Abril. A Cultura terá o controle da linha editorial e venderá espaços publicitários. A Abril será remunerada pela produção.

As negociações entre Abril e Cultura vinham desde meados do ano passado, quando a Abril começou a estruturar uma produtora independente.

A parceria pelo programa da ‘Superinteressante’ será um acordo ‘guarda-chuva’, que, se for bem-sucedida, deverá abrigar novas produções.

OUTRO CANAL

Plenário

O novo programa de José Luiz Datena na Band, de debates, vai se chamar ‘Brasil Verdade’. Vai ser diário e entrará no ar antes do ‘Brasil Urgente’, provavelmente às 17h30. E o ‘Caixa Preta’, de Preta Gil, tem previsão de estréia no último sábado de abril.

Esforço 1

A Globo começou a enviar neste mês, por e-mail, ao mercado publicitário, tabelas diárias com as audiências de todas as emissoras. Uma escala de cores indica as três primeiras no Ibope, o que deixa visível que a emissora quase sempre perde para o SBT durante o ‘Xuxa no Mundo da Imaginação’.

Esforço 2

Junto com as tabelas, na semana passada, a Globo mandou às agências comunicado oferecendo espaços nos intervalos do ‘TV Globinho’, visto, segundo a rede, por 7 milhões no país.

Lobby

Hiroo Arata, executivo da NHK e membro do comitê do ISDB (o padrão de TV digital japonês, o preferido pelas emissoras brasileiras), está no Brasil. Ontem, foi conhecer as instalações do SBT. O governo brasileiro tem 12 meses para definir se irá adotar um padrão nacional ou escolher o japonês, europeu ou americano.

Novo líder

O ‘reality show’ ‘American Idol’, da Fox, desbancou na semana passada a série ‘CSI’ (CBS) da liderança da audiência da TV norte-americana. No Brasil, ambos são exibidos pelo Sony.’



CELULAR COM TV
Renato Cruz

‘TV, câmera e videogame para carregar no bolso’, O Estado de S. Paulo, 14/03/04

‘Depois de se tornar um meio de comunicação usado por 47 milhões de brasileiros, o celular começa a transformar-se numa central de entretenimento para carregar no bolso. Os aparelhos móveis de telefonia passam a incorporar outros equipamentos eletrônicos como a televisão, a câmera fotográfica, a filmadora, o computador e o videogame. Apesar do preço ainda alto dos celulares com recursos avançados, os novos serviços representam uma aposta importante das operadoras, saída para aumentar a receita por assinante num contexto de rápido crescimento baseado em clientes de baixo poder aquisitivo.

Por enquanto, o entretenimento de convergência é restrito a aficionados por tecnologia, como o taxista André dos Santos, de 28 anos. Em seu Motorola T731, ele tem clássicos como Pac Man, Moon Patrol e Pitfall, os mesmos jogos que garantiram muita diversão durante sua infância, no videogame Atari.

‘Naquela época, jogava 24 horas por dia. Era uma emoção’, relembra. ‘É sensacional ter esses jogos hoje num aparelhinho tão pequeno.’

Ele já baixou para o seu celular mais de 30 jogos, em pouco mais de um ano, pagando cerca de R$ 3,50 em troca de cada um, mais o tempo de conexão para copiá-lo. Devido às restrições de capacidade da memória, mantém somente seis. Além de jogos, costuma comprar músicas para o celular.

Segundo Roger Solé, a indústria fonográfica vê no celular uma saída para a crise que atravessa, causada, em parte, pela internet: ‘No celular, as gravadoras têm uma solução de transação financeira segura e meios para impedir a pirataria’. Os cerca de 21 milhões de clientes da Vivo compram perto de 2 milhões de toques de celulares por mês.

A operadora negocia com a indústria fonográfica para oferecer as canções de fato como toques para o celular, em formato digital como o MP3, no lugar de recriações mono ou polifônicas. Já há músicas brasileiras que vendem mais no formato de toques do que em CD.

Além da corrida ao conteúdo gerado pela indústria da música, as operadoras celulares negociam com as redes de televisão. Durante o evento Telexpo, no começo do mês, a TIM e a Claro demonstraram serviços de TV no celular. A Vivo já oferece ‘download’ de filmes e vídeo em tempo real, enquanto a Oi, da Telemar, promete um lançamento para a próxima quinta-feira. ‘Há quase um ano a gente vem conversando com vários provedores de conteúdo’, conta Alberto Blanco, diretor de Marketing da Oi.

O serviço TIM Mobile TV, que oferece um pacote de canais de televisão no celular, já está disponível na Itália e no Peru. A previsão de chegada ao Brasil é o segundo semestre. O assinante italiano paga 1 e pode usá-lo quanto quiser, por 24 horas. Segundo o gerente de Desenvolvimento de Serviços de Valor Agregado da TIM Brasil, Gabriel Mendes, a participação das soluções de dados no faturamento da empresa está um pouco acima da média nacional, de 2,5%. ‘Vamos mais do que dobrar o porcentual este ano’, afirma.

Interatividade – O celular pode funcionar, ao mesmo tempo, como meio de distribuição e complemento ao conteúdo televisivo.

O Big Brother Brasil, da produtora Endemol Globo, usa o celular para a votação de quem se mantém no programa e oferece também notícias, jogos de perguntas e bate-papo no telefone móvel, entre outros serviços ligados ao programa. ‘O jovem usa muito o celular e tem facilidade tremenda em explorar os novos recursos’, diz Carla Affonso, diretora-geral da Endemol Globo.

‘Programas para esse público vão usar cada vez mais a interatividade via telefone móvel.’

Os meios impressos também vêem no celular um novo canal de distribuição. Os assinantes da Vivo podem ver versões eletrônicas das revistas Playboy e Vip no celular. ‘A grande questão é a massa crítica’, diz o diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios da Abril, Yen Wen Shen. ‘Fazer não é difícil. O duro é conseguir gente suficiente com acesso aos serviços.’ Ele vai participar, na quarta e quinta-feira, do seminário Tela Viva Móvel, realizado pela Converge em São Paulo.

As mutações do celular significam não só diversão. Elas têm reflexos na produtividade. O presidente da Claro, Carlos Henrique Moreira, usa um Palm Tungsten W, ao mesmo tempo computador de mão e celular. ‘Eu posso receber pela rede celular uma apresentação em Powerpoint, anexada a um e-mail, e ligar o próprio Palm ao projetor, para fazer a apresentação’, afirma.

Moreira destaca que algumas empresas já começam a substituir notebooks por computadores de mão integrados ao celular, como forma de evitar o roubo de equipamentos de quem trabalha na rua: ‘O cliente coloca o Palm no bolso e ninguém percebe que ele o está carregando.’’



Daniel Castro e Laura Mattos

‘Ler, ver, ouvir’, Folha de S. Paulo, 11/03/04

‘Telefone celular para falar ‘alô’ é coisa do passado. Depois de virar máquina fotográfica e internet, o aparelho está se transformando agora em televisor portátil. Os modelos de última geração que começam a chegar às lojas do Brasil já trazem a possibilidade de assistir à televisão em tempo real.

Até julho, as principais operadoras de telefonia móvel prometem exibir pequenos programas e até mesmo a programação integral -e ao vivo- de emissoras. Vão antecipar neste ano parte do que a TV digital -que empacou no país- prometia: multiplicar a audiência com os telespectadores em ônibus, carros etc.

As redes de TV estão preocupadas com a nova tecnologia. Temem que grupos internacionais de telefonia passem a concorrer com elas por meio dos celulares. O objetivo é ocupar o mais rápido possível o lugar de produtoras de conteúdo de vídeo para telefone móvel e ampliar a parceria com as teles. No Congresso, a empreitada é evitar que uma futura regulamentação -hoje inexistente- dessa transmissão seja desfavorável às redes.

A Globo trata do tema de forma estratégica e prioritária e está à frente das concorrentes em estudos de convergência. A própria diretora-geral, Marluce Dias da Silva, lidera as discussões sobre o casamento.

‘A gente tem estudado muito o celular porque ele é uma mídia prática, próxima ao usuário. O telespectador o tem à mão enquanto assiste à TV’, afirma Carla Affonso, diretora da Endemol Globo, filial brasileira da multinacional que criou o ‘Big Brother’.

O ‘reality show’ é atualmente o que mais bem explora no Brasil as possibilidades de interação, como as votações por meio do formato SMS (mensagens curtas).

Marcelo Duarte, diretor do Departamento de Desenvolvimento Comercial da TV Globo, diz que o mesmo esquema de interatividade do ‘BBB’ deverá ser adotado para o Campeonato Brasileiro, ‘Fama’, ‘Mais Você’ e ‘Caldeirão do Huck’. Segundo ele, a próxima edição de ‘BBB’ deverá ter transmissão de vídeo por celular. Isso já existe na Inglaterra e na Finlândia, com edições das cenas mais engraçadas, as maiores brigas ou clipe com os beijos.

A TIM exibiu em São Paulo, na semana passada, transmissão ao vivo de redes de TV, batizado de ‘video streaming’. Na Itália, a empresa vende desde o fim de 2003 um pacote com oito canais: três da RAI (a líder do país) e opções segmentadas, como MTV e um de finanças. Custa 1/dia (cerca de R$ 3,5), mas a tendência é a cobrança por minuto de uso.

No Brasil, o TIM Mobile TV deve chegar até o fim do semestre. Segundo Michael Martin, gerente de produto da operadora, há negociações com as redes brasileiras para a distribuição de conteúdo. ‘A TIM vai disponibilizar TV ao vivo no celular. O que será transmitido não está fechado.’

A Oi fechou na semana passada negociação com a Bandeirantes para a distribuição de conteúdo dos canais pagos BandNews e BandSports. Serão boletins com notícias e informações esportivas. A Vivo -que oferece por down- loads trailers de filmes e imagens de ruas congestionadas de SP- lança em dois meses serviço de transmissão em tempo real de TV. A Claro também se prepara para distribuir TV e filmes.

A imagem no celular tem definição razoável, mas um pequeno ‘delay’ (atraso) em relação à convencional, o que tende a ser superado. Outra experiência, feita na Espanha pela Telefónica, é distribuição de literatura por celular.

Os primeiros modelos aptos à convergência devem chegar ao Brasil com custo de pelo menos R$ 1.500, valor alto para os padrões brasileiros. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações, há no país quase 47 milhões de aparelhos móveis (26% da população), sendo que 36,1 milhões (20%) são pré-pagos e 10,7 milhões (6%), pós-pagos. Além disso, ainda não se sabe o preço a ser cobrado pelo serviço. Quanto, por exemplo, pagaríamos para ver no celular o capítulo da novela das oito ou a final do Brasileirão?’

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‘Evento esquenta disputa entre teles e TVs’, Folha de S. Paulo, 11/03/04

‘A hoje silenciosa disputa entre operadoras de telefonia e empresas de televisão deverá vir a público na próxima semana, no seminário Tela Viva Móvel.

Como a convergência TV/celular ainda não é regulamentada por lei no Brasil, as redes temem que as teles passem a distribuir programação própria ou de empresas estrangeiras sem as obrigações legais a que são submetidas. Uma empresa 100% estrangeira pode transmitir programas por celular, enquanto as TVs brasileiras só podem contar com 30% de capital externo? Um telejornal exibido pelo celular precisa ter como responsável um jornalista formado, como ocorre em outras mídias? O celular-televisão estaria também submetido à lei de imprensa ou à legislação eleitoral?

Essas e outras questões serão abordadas pelo advogado especializado na área Marcos Bitelli, autor do livro ‘Direito da Comunicação e Comunicação Social’.

‘Nada disso está regulamentado, porque as leis sempre surgem após a tecnologia. Temos de saber, por exemplo, se teles precisariam de autorização do governo para transmitir programas, como ocorre com as TVs’, diz.

Sim, para Roberto Franco, diretor de tecnologia do SBT: ‘Tudo o que fala de um emissor para milhões de receptores é comunicação social. Os novos veículos que emitem conteúdo, sejam eles internet ou telefone celular, têm de ser tratados como tal’.

Opinião diferente tem Michael Martin, gerente de produto da TIM. ‘Até o momento não há limite [para transmissão de canais de TV pelo celular]. Isso só depende de acordo comercial com as emissoras. É só um outro jeito de ver TV. As operadoras não querem produzir conteúdo.’

O seminário, da Converge Eventos, será em São Paulo, na quarta e quinta, e terá também um representante do Ministério das Comunicações.’