Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Bola dentro do NY Times

No dia 10/2/05, segundo conta o ombudsman do Washington Post [20/2/05], Michael Getler, o rival New York Times trazia em sua primeira página uma reportagem de 1.200 palavras sobre um relatório da comissão de investigação dos atentados de 11/9/01. Segundo a matéria, a inteligência americana alertara 52 vezes, entre abril e setembro daquele ano, a autoridade de aviação civil sobre as atividades de Osama bin Laden e seu bando, citando inclusive a possibilidade de seqüestros de aviões. O documento foi tornado público graças ao trabalho da organização National Archives, que se apóia na lei de liberdade de informação para ter acesso a arquivos confidenciais do governo. O Post noticiou a história no dia seguinte ao Times, com uma nota de 400 palavras reproduzida de agência.

No dia 12/2/05, o diário nova-iorquino deu mais 1.200 palavras na capa sobre um memorando enviado cinco dias após a posse de George W. Bush, em 2001, pelo então chefe de Contra-Terrorismo, Richard Clarke, para a conselheira de Segurança, Condolezza Rice, em que chamava atenção para o perigo que representava a Al Qaeda e sugeria algumas medidas para lidar com ela. Este documento também estava em sigilo até que a National Archives a obtivesse por via judicial. O Post, mais uma vez, recorreu a uma agência, e deu 350 palavras na página A20 sobre esse tema.

Talvez por ter saído com tão pouco destaque no Post, muita gente não viu a notícia. No entanto, um punhado de leitores escreveu a Getler reclamando que ambas as histórias mereciam ser capa do diário. O ombudsman conversou com os editores e eles responderam que a ausência de um repórter específico e o fato de que o público já tem uma idéia do que se tratou na comissão de investigação dos atentados foram fatores que influenciaram sua decisão de recorrer a agências em vez de produzir algo próprio e mais extenso. Os editores admitem, no entanto, que o caso do memorando de Clarke merecia mais atenção. Notando que poucos jornais deram o devido espaço a estas duas notícias, Getler opina que, ‘para um jornal sério como o Post, este foi um lapso decepcionante’, e conclui: ‘Desta vez, tiro meu chapéu para o Times‘.