Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘Esta coluna em 21 de setembro de 2008 teve título aberto: ‘Água mole em pedra dura… para terminar ou com …tanto bate até que seca’ ou com este acima. O assunto era a defesa feita em 19 anos por ombudsmans e leitores da tese de que o espaço da seção ‘Painel do Leitor’ deveria ser apenas dele, não dos personagens da notícia e seus assessores.

A partir da semana que vem, esse pleito de duas décadas será pelo menos parcialmente atendido. Metade desta página será ocupada por cartas de leitores, sem manifestação de quem aparece nas páginas do noticiário.

‘Trata-se de atender uma reivindicação antiga dos leitores (e dos ombudsmans) por mais espaço para cartas’, diz a Redação. A fórmula é uma das que vinham sendo discutidas fazia tempo para atenuar o problema. Ela é usada por jornais como o ‘Washington Post’ e o ‘New York Times’.

Outro pedido que vinha sendo insistentemente feito por muitos leitores ao jornal via ombudsman foi atendido nesta semana: desde quarta-feira, não há mais textos publicados sobre fundo cinza, que dificultava a leitura, em especial dos que já estão mais avançados em número de anos vividos.

O debate sobre cartas de leitores a jornais parece universal. No domingo passado, a ‘defensora do leitor’ do diário espanhol ‘El País’, Milagros Pérez Oliva, dedicou sua coluna semanal ao tema.

Traduzido para o português e mudados os nomes citados, tipicamente espanhóis, o texto poderia ser publicado pela Folha sem estranhamento, tão bem reflete queixas que este ombudsman recebe diariamente, como acusações de censura e favorecimento a uns poucos privilegiados.

A tarefa do editor de cartas é dura. O da Folha recebe em média 110 por dia e só tem espaço para 10% delas na edição impressa (outros 10% saem na versão eletrônica). O do ‘El País’ recebe em torno de 50 diariamente e publica apenas seis ou sete.

Poucos casos são mais dramáticos que o do ‘New York Times’: cerca de mil cartas por dia e 2% de aproveitamento. O assédio é tamanho, que em 2004 o professor Mark Duckenfield, na Universidade Duke, bolou um curso para ensinar a conseguir ter carta publicada no ‘Times’. Foi um sucesso e gerou uma crise, pois o jornal o acusou de desonestidade intelectual.

As cartas de leitores são um instrumento para fortalecer a democracia, como provam estudos feitos nos EUA, onde elas são admiradas a ponto de uma peça de teatro (‘More Letters to the Editor’, cujo texto foi composto por trechos de cartas publicadas ao longo de 125 anos pelo diário ‘The Gainesville Sun’), ter feito bem-sucedida carreira na Flórida entre 2000 e 2001.

Espero que os leitores da Folha utilizem bastante o novo espaço criado para eles e que produzam bons efeitos para a sociedade.’

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‘Como chegam, Tailândia e Grécia vão’, copyright Folha de S. Paulo, 19/4/09.

‘Na segunda e na terça, a primeira página deste jornal estampou fotos de distúrbios na Tailândia. Nas páginas de Mundo, naqueles dias, a situação política desse reino da Ásia recebeu grande destaque.

Para o leitor da Folha, foi uma surpresa: ele não havia sido alertado por ela de que algo grave se desenrolava ali.

No domingo, 12, uma nota curta o informara que a reunião de cúpula da Asean, marcada para Bancoc, capital do país, havia sido cancelada por causa da tensão local. Três dias antes, outra nota dissera que 100 mil pessoas haviam pedido a renúncia do premiê.

A pior coisa para o leitor em situações como esta, a meu ver, é ser engolfado por notícias de uma nação distante, sem grande relevância geopolítica, cultural ou econômica para o Brasil, sem que lhe seja explicado o porquê e, de repente, tudo acabar.

Foi exatamente o que aconteceu. Na quarta, a Tailândia voltou à condição de notinha. Depois, desapareceu destas páginas. Exatamente como ocorrera com a Grécia, em dezembro passado: durante cinco dias esteve na capa e em alto de páginas, sem mais nem menos, e depois sumiu no limbo onde estivera antes, também sem mais nem menos.

Se o jornal não mostra ao leitor as razões por que uma crise externa é importante para ele, é melhor relegá-la mesmo às notas, sem criar expectativas ou perguntas que ficam sem respostas.’

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‘Para ler’, copyright Folha de S. Paulo, 19/4/09.

‘PARA LER

‘Cartas e Suas Histórias’, de Overlac Menezes. Editora Nobel. Selo Marco Zero (a partir de R$ 26,07) – histórias sobre cartas (famosas e comuns), carteiros e correios

PARA VER

‘Central do Brasil’, de Walter Salles, com Fernanda Montenegro, 1998 (a partir de R$ 19,69) – a importância, o mistério e o fascínio das cartas se refletem no personagem vivido por Montenegro, que as escreve para servir a analfabetos

PRÓ-MEMÓRIA

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