Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Chávez ganha prêmio por defesa da imprensa


Folha de S. Paulo, 30/03


Lucas Ferraz


Chávez ganha prêmio por defesa da imprensa


Responsável por entrar em conflito com veículos de comunicação na Venezuela, o presidente Hugo Chávez foi condecorado ontem na Argentina com um prêmio de jornalismo por seu apreço à liberdade de imprensa e por incentivar a comunicação.


O presidente venezuelano recebeu da faculdade de jornalismo da Universidade Nacional de La Plata o ‘Prêmio Rodolfo Walsh’.


De acordo com Florencia Saintout, professora da universidade, o prêmio a Chávez partiu da central dos estudantes com o objetivo de reconhecer seu esforço em ‘dar a palavra aos sem voz’, citando a criação da rede Telesur, de viés bolivariano.


Aos gritos de ‘viva Guevara!’, ‘viva Perón!’ e ‘viva Néstor Kirchner!’, Chávez recebeu o prêmio afirmando que ele é uma resposta ‘à dominação e à hegemonia imperialistas’.


‘A ditadura midiática da burguesia não vai me intimidar’, bradou ele.


O prêmio causou polêmica na Argentina, principalmente pelo momento em que foi concedido. No último domingo, por causa de bloqueio de sindicalistas ligados ao governo Cristina Kirchner, os jornais ‘Clarín’ e ‘Olé’ não circularam. O ‘La Nación’ também foi afetado.


Os jornais, críticos ao kirchnerismo, se queixam de que o governo incentiva e adota medidas com o objetivo de sufocá-los.


Hugo Chávez tem um longo histórico de conflitos com os meios de comunicação da Venezuela.


Sua atitude já foi rechaçada por organizações internacionais em prol da liberdade de imprensa e de expressão.


Segundo a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), o governo venezuelano fechou 32 emissoras de rádio e atua para intimidar a mídia.


O ‘Prêmio Rodolfo Walsh’ é concedido pela universidade desde 1997 a personalidades da Argentina ou da América Latina que lutaram pela liberdade e democracia. Jornalistas como Tomás Eloy Martínez e Ignácio Ramonet já foram premiados.


Rodolfo Walsh foi um dos grandes jornalistas argentinos, autor de ‘Operação Massacre’ (editado no Brasil pela Cia das Letras), um dos primeiros livros do gênero jornalismo-literário, publicado em 1957.


Além de não-ficção, Walsh também escreveu contos. Comunista e guerrilheiro dos Montoneros, o jornalista foi morto pela ditadura argentina e atualmente é símbolo da esquerda no país.