Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Com a palavra, Jill Abramson

O ombudsman Arthur Brisbane, do New York Times, publicou em sua coluna [10/9/11] uma entrevista com Jill Abramson, que sucedeu na semana passada Bill Keller no cargo de editor-executivo do jornal. Jill é a primeira mulher a assumir o principal cargo editorial do Times desde sua fundação, em 1851.

A seguir, trechos da entrevista. A íntegra (em inglês) pode ser vista aqui.

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O público vai sentir diferença com a presença de uma mulher no comando?

Jill Abramson – Você acha que algum leitor notava quando eu era chefe de redação e tinha um papel grande na escolha das matérias no site e no impresso? A ideia de que jornalistas mulheres trazem um gosto diferente nas pautas ou em sensibilidade não é verdadeira. Eu acho que todo mundo aqui reconhece e ama uma boa pauta, e são raras as ocasiões em que há discordância quanto a isso.

O legendário editor-executivo do TimesA. M. Rosenthal certa vez disse a um colega que sentia a necessidade de desviar o Timespara a direita para compensar as inclinações políticas de esquerda de parte da equipe. Você fará isso?

J.A. – Às vezes eu tento não apenas me lembrar, mas lembrar aos meus colegas, que a forma como vemos uma questão em Nova York não é necessariamente como ela é vista no resto dos EUA. E eu sou bastante cuidadosa para garantir que, quando miramos nosso poder de fogo investigativo nos políticos, não o façamos de uma maneira que favoreça uma forma de pensamento ou um partido. Eu acho que a ordem é manter o jornal justo, mas não acho que você tenha que se inclinar para a direita para fazer isso.

Com a ascensão do meio digital, os recursos no impresso têm sido cortados nos últimos anos. Você acha que isso levou a um declínio na qualidade?

J.A. – Nós tivemos que desistir de um caderno separado da seção metropolitana, o que foi algo muito doloroso. Mas a cobertura metropolitana nunca foi tão forte. Nós tivemos uma redução de cerca de 100 pessoas na equipe, e isso foi doloroso. Ainda assim, eu acho que a qualidade da cobertura jornalística – digital e impressa – é melhor do que nunca.

Eu temo que a instantaneidade do meio digital leve a padrões mais baixos de precisão e outros valores importantes. Você tratará disso?

J.A. – Não fecho os olhos para o fato de que as novas tecnologias trazem novos desafios nesta área. Mas acredito que nossos padrões para precisão, imparcialidade e excelência estão em todas as plataformas em que fornecemos notícias.

Pensando no Timescomo um todo, você identifica alguma fraqueza em particular?

J.A. – Eu acho que nos tornamos mais criativos no modo como preservamos nossos talentos, mas tivemos perdas em várias partes da organização. Felizmente, fomos capazes de contratar pessoas excelentes, então eu não sinto como se houvesse alguma área descoberta. Mas eu acho que seria um erro do News York Times dormir sobre os louros. Trata-se de um ambiente muito competitivo, e nossos rivais estão sempre batendo nas portas dos nossos melhores profissionais. Não acho que seja uma fraqueza, mas às vezes sinto que nós não fazemos as pessoas saberem como são importantes e apreciadas, deixando-as vulneráveis para serem levadas.

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