Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Compra do You Tube vitamina o Google


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 11 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Sandra Cavalcanti


Um debate esclarecedor


‘Gostei muito do debate de domingo. Não concordo que o definam como apenas uma desagradável troca de grosserias, em que ficaram faltando as propostas de governo. Ética é programa de governo. Seriedade, também.


O desempenho de Lula foi decepcionante até para seus aliados. Por outro lado, Geraldo Alckmin foi uma surpresa contundente.


O PT prometera um candidato cheio de propostas convincentes para o seu próximo governo, já não tão próximo… Não foi o que se viu. Lá esteve o mesmo Lula destes últimos anos. Nas frases previamente decoradas, ele se sai mais ou menos. Mas, quando as questões trazem surpresas, o candidato revela as suas dificuldades habituais. Ou seja (e como ele abusa deste ‘ou seja’!), imprecisão de dados, desconhecimento de fatos e desconforto nas regências e concordâncias. Parecia que ele estava bem preparado para o debate, pois se valia, o tempo todo, de um calhamaço de notas à sua frente. Mesmo assim, fez algumas confusões imperdoáveis. Tentou, inutilmente, trazer o governo FHC para o ringue, mas não conseguiu. O ex-governador de São Paulo teve a habilidade de comparar sempre o desempenho de Lula no Planalto ao desempenho do PSDB em São Paulo. Essa tática foi muito eficaz. É exatamente em São Paulo que a comparação entre os dois governantes pode ser feita, pois ali são bem conhecidos.


Quanto a Alckmin, imagino que ele tenha sido uma grata surpresa para muita gente, inclusive para muitos dos seus adeptos. Até para boa parte da mídia, que jamais escondeu suas reservas ao estilo sério, sereno e pouco charmoso do ‘caipira de Pinda’, o comportamento do candidato da oposição foi quase um susto.


O País inteiro esperava deste debate alguns esclarecimentos urgentes. Enquanto o povão queria que Lula revelasse, afinal, de onde viera toda aquela dinheirama, aquele incrível monte de reais e dólares, a tão malfalada elite queria saber, de cada candidato, qual o programa de governo capaz de fazer o Brasil parar de encolher e criar perspectivas de trabalho para milhões de jovens, nestes próximos anos. Acertadamente, foi esta a questão que levou o mediador a fazer a mesma pergunta aos dois candidatos: como fazer o País crescer?


Ao respondê-la, Lula perdeu a sua primeira grande oportunidade. Visivelmente nervoso, recitou um texto decorado, mantendo toda a cadência de algo que foi escrito para ser lido. E nada disse de novo, além das costumeiras auto-exaltações, que são a marca de suas falas. Era um videotape de si mesmo.


Na seqüência, Alckmin foi muito feliz. Calmo, bem articulado, satisfez os milhões de brasileiros que assistiam ao debate. Levantou, de cara, a questão da origem da dinheirama do dossiê fajuto. Foi duro e implacável ao comentar o fato de o Planalto não conseguir obter, de um dos seus auxiliares ou de seus amigos, essa mera e reles informação… Depois, atento à pergunta, Alckmin deixou claro que não pretende cortar gastos sacrificando funcionários e aposentados. Vai cortar na corrupção. E mostrou, com números incontestáveis, quanto dinheiro sai pelos desatentos ralos oficiais. Encerrou sua primeira fala, porém, pedindo de novo informações sobre a origem daquela dinheirama.


Para alguns especialistas políticos, e até para o vitorioso governador eleito da Bahia, esse foi um golpe abaixo da cintura. É o caso de perguntar: a que golpe ele se referia? Ao monte de dinheiro ou à pergunta?


O debate prosseguiu, depois disso, num contraponto absolutamente inédito. Lula pedia, com voz lamentosa, que Alckmin mudasse de tom. Chegou a dizer várias vezes que o seu rival estava nervoso… Mas Alckmin continuou batendo firme nos erros do governo petista, elevando a cada intervenção o grau de suas ousadias.


Nos blocos seguintes, a mesma coisa: Lula tentando exaltar o seu governo, Alckmin desmontando várias de suas versões. As perguntas ficavam sem resposta, principalmente da parte de Lula. No quadro com os jornalistas, a situação ficou pior ainda para Lula. Não houve nenhuma ajudazinha ou refresco, como se diz por aí, o que aumenta o mérito da isenção da TV Bandeirantes.


O grande momento de cada candidato chega sempre, para encerrar a disputa, quando cada candidato dispõe de um tempo maior e livre para as chamadas ‘considerações finais’. Lula, mais uma vez, mostrou o excelente ator que as nossas TVs e o teatro perderam: tinha um texto longo, decorado, cheio de emoção, destinado a atingir em cheio a alma dos seus seguidores. Conseguiu declamá-lo corretamente.


Mas, para desgosto de seus correligionários, vieram em seguida a objetividade, a clareza e a coragem de Alckmin. Sem retórica e sem medo, ele deu um recado firme, cheio de esperança, mostrando que o Brasil merece dias melhores do que estes, de triste memória.


O fato de, no debate, os candidatos terem usado algumas vezes palavras duras, tais como mentira, fraude, corrupção, falsidade, hipocrisia e outras menores, significa que o debate foi muito esclarecedor. Como poderia ser ameno, cordial, sincero e altamente propositivo um debate em que um dos litigantes é o líder inconteste de um bando – que ele considera ‘aloprados’, mas, na verdade, são réus confessos – formado por funcionários apanhados em flagrante de rapinagem e por companheiros presos por desvios de dinheiro público?


Queriam o quê? Rapapés? Mesuras? Gestos delicados? Palavras melodiosas?


O espetáculo degradante oferecido ao povo pelo grupo político liderado por Lula tinha de ser o tema principal do debate. E tinha que dar o seu tom. Só falta, agora, a gente saber de onde veio a dinheirama. O resto a gente já sabe.


Sandra Cavalcanti, professora, jornalista, foi deputada federal constituinte, secretária de Serviços Sociais no governo Carlos Lacerda, fundou e presidiu o BNH’


Ana Paula Scinocca e Vera Rosa


Na TV, tucano e petista preparam programas com munição pesada


‘A propaganda de TV dos candidatos a presidente voltará a ser exibida amanhã em versão mais apimentada do que no primeiro turno. Tanto os responsáveis pelo programa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto os que cuidam do de Geraldo Alckmin (PSDB) preparam ataques contundentes contra o adversário, numa repetição do que se viu no domingo, no debate inaugural do segundo turno.


O marqueteiro João Santana, que coordena a publicidade de Lula, decidiu reforçar o tom ofensivo, explorando as ‘contradições’ entre o discurso e a prática do tucano. A equipe do PT garante, porém, que a ênfase principal será na apresentação de projetos para o País. Na tentativa de mostrar o presidente como um estadista, os novos apoios a sua reeleição serão exibidos em clima festivo. ‘O presidente não entrará na baixaria, mas também não deixará acusações sem resposta’, afirmou Jaques Wagner (PT), governador eleito da Bahia e um dos coordenadores da campanha de Lula.


DESCONSTRUÇÃO


O comitê petista planeja mostrar que Alckmin fala uma coisa e faz outra. Mas não será Lula o porta-voz dos argumentos de ‘desconstrução’ – tarefa que ficará a cargo dos apresentadores do programa. A depender do desenrolar da campanha, será ressaltado que a insegurança em São Paulo aumentou no governo Alckmin, com ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC).


A propaganda vai insistir que Alckmin mandou engavetar 69 pedidos de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) para ‘esconder’ a corrupção. Além disso, as comparações da gestão Lula com a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltarão à cena. Os petistas baterão na tecla do apagão e das privatizações, para tentar carimbar a candidatura Alckmin como um retrocesso. ‘Quem pensa que o Lula será só o Lulinha paz e amor está muito enganado’, resumiu Jilmar Tatto, deputado federal eleito e terceiro vice-presidente do PT.


No PSDB, a promessa também é de que Alckmin continuará apresentando propostas, mas não deixará de apontar os escândalos de corrupção que marcaram a gestão de Lula. Na linha ‘repórter por um dia’, Alckmin vai fazer o papel de jornalista e apresentar, ele próprio, obras paradas do governo petista. Cenas externas já foram gravadas em Minas e na Bahia.


DINHEIRO


Responsável pelos programas do PSDB, o marqueteiro Luiz Gonzalez deverá exibir na TV imagens do R$ 1,75 milhão que petistas pretendiam usar para comprar o dossiê Vedoin. No primeiro turno, fotos do dinheiro apreendido se tornaram públicas após o fim do horário eleitoral. Também deverão ser apresentados cenas dos momentos do debate de domingo em que Alckmin foi firme ao cobrar de Lula esclarecimentos sobre escândalos.


Além de explorar as denúncias contra o governo petista, os tucanos também estão dispostos a gastar parte de seu tempo na TV para negar ‘a boataria’ de que Alckmin, se eleito, vai privatizar estatais como os Correios e a Petrobrás e acabar com o programa Bolsa-Família, carro-chefe da campanha de Lula à reeleição.’


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Lula não confirma se vai à Gazeta


‘Apesar de a coordenadora de sua campanha em São Paulo, Marta Suplicy, ter dito que o presidente Lula participará de todos os debates no segundo turno, ele ainda não confirmou à TV Gazeta se estará ou não nos estúdios da emissora na terça-feira (17). O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, confirmou participação. O debate começa às 22h20 e, com mediação da jornalista Maria Lydia Flandoli, terá quatro blocos. Se um dos candidatos não comparecer, o presente será entrevistado por 40 minutos.’


Patrícia Villalba


Horário eleitoral volta amanhã


‘Recomeça amanhã, no rádio e na televisão, o horário eleitoral reservado aos candidatos que disputam o segundo turno. Serão 16 dias de propaganda, já que a Lei Eleitoral determina que a campanha termine 48 horas antes da votação, ou seja, dia 27.


A propaganda será dividida em dois períodos diários de 20 minutos para cada eleição – dois blocos de 20 minutos para presidente e dois blocos de 20 minutos para governador, nos Estados que terão segundo turno. O tempo será dividido igualitariamente entre os dois candidatos. Os programas serão transmitidos no rádio, às 7 horas e às 12 horas, e na televisão, às 13 horas e às 20h30, todos os dias, inclusive aos domingos.


Nesta segunda fase da eleição voltam também as inserções. Serão 30 minutos diários, sendo 15 minutos para a campanha de presidente e 15 minutos para a disputa de governador, divididos igualitariamente.’


RÚSSIA
O Estado de S. Paulo


Jornalista russa é enterrada


‘Parentes, amigos e embaixadores estrangeiros participam em Moscou do funeral da jornalista russa Anna Politkovskaya. Nenhum funcionário de alto escalão do governo russo foi ao enterro da repórter, uma dura crítica do Kremlin. Na Alemanha, o presidente russo, Vladimir Putin, considerou o assassinato, no sábado, de Politkovskaya um crime ‘repugnante e cruel’.’


ESTADÃO PREMIADO
O Estado de S. Paulo


Repórter do ‘Estado’ vence Prêmio Herzog


‘O repórter Bruno Paes Manso, do Estado, foi o vencedor da 28ª edição do Prêmio Jornalístico Herzog de Anistia e Direitos Humanos na categoria Livro-Reportagem. Ele escreveu O Homem X (Editora Record), em que traçou o comportamento de 300 criminosos. O Prêmio Herzog tem dez categorias. O repórter fotográfico Beto Figueiroa, do Jornal do Commercio, de Pernambuco, foi o vencedor na categoria Fotografia. Os demais vencedores serão conhecidos até a próxima semana.’


INTERNET
Renato Cruz


Todos querem oferecer vídeo


‘Apesar de o YouTube ser um serviço de vídeo com cerca de 50% da audiência da web, existem vários competidores. O Google Video, com 10% do mercado, é um deles. Outros são Guba, Veoh e Metacafe. Ontem, o uruguaio Fernando Espuelas lançou um novo site de vídeos, chamado VoyTV e voltado para a comunidade latina. ‘A diferença é o conteúdo relevante para latinos’, afirmou Espuelas.


O executivo conhece como ninguém os altos e baixos do mercado de internet. Na segunda metade dos anos 1990, sua empresa anterior, a StarMedia chegou a valer US$ 4 bilhões. Depois do estouro da bolha, no começo da década, acabou sendo vendida por US$ 8 milhões para a espanhola EresMás Interativa. Ele havia lançado a Voy (vou, em espanhol) como uma empresa de mídia em 2003, com quatro divisões: um canal de TV paga, uma produtora de filmes, uma editora de livros e revistas e uma gravadora de música.


O site de vídeos, onde os usuários podem colocar seu próprio conteúdo, faz parte da estratégia de reposicionar a empresa na tendência chamada Web 2.0. ‘Nesta segunda fase da internet, os consumidores são sofisticados’, explicou Espuelas. ‘As oportunidades são tão grandes quanto em 1996. No Brasil, não há um produto como o Voy TV. Queremos que o brasileiro o veja como sua própria plataforma.’


A empresa também tem o Voy Music, site de música digital lançado em novembro de 2005, que conta com mais de 2,6 milhões de usuários únicos. Além de conteúdo dos usuários, o Voy TV oferece vídeos produzidos pela própria empresa e licenciados de produtores independentes. O site está em inglês, mas tem opção de ajuda e registro de usuários em português.


O modelo de negócios é a venda de publicidade. ‘Buscamos parcerias com empresas brasileiras, para termos mais conteúdo em português e para atendermos ao mercado publicitário local’, explicou Espuelas. Segundo o executivo, foram investidos US$ 10 milhões na Voy, num período de dois anos. Sediada em Nova York, a empresa tem escritório em Los Angeles e emprega 33 pessoas.


Depois do estouro da bolha, em abril de 2000, o mercado mudou. ‘Os modelos de negócios são muito mais eficientes’, afirmou o executivo. ‘As empresas não precisam mais gastar US$ 500 milhões em publicidade para terem sucesso.’ Ele disse que o negócio fechado pelo Google e pelo YouTube na segunda-feira mostra o apetite dos investidores pelo mercado de internet. ‘Só não há o mesmo nível de especulação.’’


TV DIGITAL
Gerusa Marques


TV digital começa em 3 de dezembro de 2007


‘A primeira transmissão comercial da TV digital será no dia 3 de dezembro de 2007, na cidade de São Paulo. Ontem, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, divulgou o cronograma oficial do processo de implantação do sistema digital no País. Até 31 de dezembro de 2009, o novo modelo de televisão deverá estar funcionando em todas as capitais e até 31 de dezembro de 2013 a TV digital estará em todos os municípios brasileiros. O atual sistema analógico será desligado no dia 29 de junho de 2016.


A divulgação desse cronograma é fundamental para que geradoras e retransmissoras de TV que já operam no País se preparem para a transição do sistema analógico para o digital. As regras de distribuição dos canais digitais estão em portaria do ministério, encaminhada ontem para publicação no Diário Oficial da União.


Hélio Costa divulgou também o cronograma para as emissoras apresentarem seus pedidos para operar o canal digital. Começa pelas empresas de São Paulo, que têm até 29 de dezembro deste ano, e segue pelas demais capitais, com datas diferentes até 30 de novembro de 2008. Depois de São Paulo, até 29 de julho de 2007 será a vez das geradoras de Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Rio e Salvador fazerem os pedidos.


Segundo Costa, se houver interesse de alguma emissora em antecipar o cronograma, o pedido será analisado. No Brasil, são mais de 400 geradoras e cerca de 10 mil retransmissoras.


Com a implantação da TV digital, segundo Costa, haverá espaço para dez canais públicos. A idéia é que sejam ocupados por uma rede nacional, formada pela Radiobrás e TVs Câmara e Senado, além de redes dos Ministérios da Cultura e da Educação e um Canal da Cidadania. Essa definição, no entanto, constará de outra portaria do ministério.


A implantação da TV digital também foi discutida ontem entre técnicos do governo e uma delegação de 24 japoneses, representantes de indústrias e do governo do Japão. As reuniões entre os dois países vão até amanhã. Ontem, foram criados grupos de trabalho para tratar da cooperação tecnológica e padronização, suporte e cooperação da indústria eletroeletrônica, desenvolvimento de recursos humanos, propriedade intelectual e financiamento. Também serão estabelecidos nestes três dias planos de trabalho para cada um dos grupos, que deverão voltar a se reunir no início de 2007, no Japão.


Também foi discutida ontem uma linha de financiamento que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciará em 30 dias para a indústria nacional e radiodifusores implantarem a TV digital. Segundo o assessor especial da Casa Civil, André Barbosa, ainda não está definido o valor disponível para o financiamento. Também estão previstos mais de US$ 500 milhões do banco japonês JBIC.


Até 29 de dezembro, deverão ser concluídas as características (especificações) tecnológicas que constarão do sistema brasileiro de TV digital, com base no padrão japonês. Também será definido até o fim do ano que tecnologias desenvolvidas no Brasil serão incorporadas ao sistema do Japão.


Para facilitar a implantação da TV digital, Costa encaminhou ao Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), na semana passada, uma proposta para desonerar de ICMS, até 31 de dezembro de 2009, os equipamentos de TV digital que não tenham similar nacional.’


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MP com incentivos fiscais, só depois da eleição


‘A medida provisória que deverá instituir incentivos fiscais para a produção de semicondutores e equipamentos de TV digital deverá ser editada somente depois das eleições. Segundo o ministro das Comunicações, Hélio Costa, a demora não tem relação direta com as eleições e se deve ao fato de o assunto ser polêmico e exigir a participação de vários setores do governo. A palavra final sobre o assunto, segundo ele, é do presidente da República.


Na semana passada, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse que já havia assinado a MP. ‘Se assinou, ele assinou sozinho’, disse Hélio Costa. Ele disse que ainda não há nada decidido sobre o lugar em que seria instalada uma fábrica de semicondutores. Mas reiterou que há três lugares com mais chances: Rio Grande do Sul, Minas Gerais e a Zona Franca de Manaus. A cooperação do Japão para a instalação dessa fábrica foi um dos pontos negociados pelo governo brasileiro para a adoção do padrão japonês de TV digital.


Costa e Furlan já expuseram publicamente suas divergências sobre a MP dos semicondutores, principalmente em relação ao local de produção do conversor de sinais digitais em analógicos, se na Zona Franca de Manaus, como defende Furlan, ou em outras regiões, como quer Hélio Costa.’


TELEVISÃO
Flávia Guerra


TV PinGuim conquista novos mares


‘Um simpático peixe que, graças a um escafandro cheio d’água, se aventura no mundo seco e no molhado é o primeiro personagem de animação brasileiro que os fãs do Discovery Kids poderão ver na TV. Acostumadas com ótimas, porém sempre estrangeiras, séries, a molecada brasileirinha vai ganhar em 2008 o Peixonauta.


A idéia parece simples, mas exigiu anos de trabalho da TV PinGuim. TV PinGuim? Nunca ouviu falar? Não se admire. Produtoras independentes brasileiras, de cinema e TV, geralmente ficam relegadas aos bastidores. A situação começou a mudar em 2005, quando uma ofensiva liderada pela Secretaria do Audiovisual e pela Associação Brasileira de Produtores Independentes de TV, em parceria com Sebrae e Agência de Promoções de Exportação (Apex), começou a promover o Brasil e fechar negócios com diversos países em eventos como o MipCom, maior mercado de TV do mundo, que ocorre nesta semana em Cannes.


ATV PinGuim é uma das produtoras de animação brasileira de mais destaque no exterior, responsável por várias séries de vinhetas para o Cartoon Network e vencedoras de prêmios em festivais como Animamundi e New York Festival. Em setembro, foi uma das homenageadas do International Animation Festival, em Otawa. Peixonauta (Fishtronaut em inglês) tem orçamento digno de cinema, US$ 4,8 milhões, e terá 52 episódios de 11 minutos cada. A novidade é que, além de ter sido vendida para a Discovery Kids, está sendo produzida em parceria com a Nelvana, a mais importante produtora de animação do Canadá.


Além de Peixonauta, a TV PinGuim tem outro projeto em andamento: Magnitika, outra co-produção com a canadense VivaVision, com orçamento de US$ 4 milhões e que também deve entrar no ar em 2008. ‘Loucura. Estamos há tanto tempo com os dois projetos e eles vão acabar ocorrendo ao mesmo tempo’, comenta Kiko Mistrorigo, que fundou a TV PinGuim em 1989 com Celia Catunda.


Não por acaso, a equipe da TV PinGuim participa do MipCom nesta semana. ‘Estamos aqui para tentar fechar contrato do Peixonauta com a Discovery internacional e para a americana’, conta Kiko. ‘Já para o Magnitika vamos nos reunir com co-produtores canadenses e franceses e’, diz Celia. O exemplo de co-produção internacional da TV PinGuim é emblemático. ‘É uma questão de produção interessante porque no Brasil podemos produzir sem ter uma TV exibidora. No Canadá não. Precisam ter TV em parceria. É uma união perfeita’, acrescenta Célia. Kiko lembra: ‘Temos vantagem. Não somos nem países orientais, que têm mão-de-obra barata mas diferenças culturais imensas com os canadenses; nem os europeus, que têm proximidade cultural, mas que a mão-de-obra é cara. Temos de tirar proveito disso.’


E brasileiros estão provando que não perdem boas oportunidades. Em 2005, a companhia de dança de Ivaldo Bertazzo foi tema do documentário The Citizen Dancer, co-produção canadense com a brasileira Bossa Nova Filmes, que já tem vários outros projetos em andamento. ‘Cinema tem glamour. Mas a TV alcança milhões de pessoas em minutos. Além disso, tem um tempo de exibição enorme’, comenta Kiko. Próximo passo: convencer alguma TV brasileira a apostar em Peixonauta.’


Beatriz Coelho Silva


Ao espelho da Globo


‘Ao anunciar sua novela jovem, Alta Estação, que estréia na terça-feira, às 18 horas, para concorrer com Malhação, da Globo, a Record explicitou seus planos: em dois anos pretende se igualar na audiência e no faturamento com a concorrência. Além das três novelas que já produz, investirá em minisséries e, num prazo de cinco anos, também em cinema.


Estes foram os projetos anunciados pelo superintendente comercial da Record, Walter Zagari. A emissora investiu US$ 100 milhões (cerca de R$ 215 milhões), boa parte na construção da cidade cenográfica, que teve como núcleo inicial os estúdios de Renato Aragão, em Vargem Grande, na zona oeste, não muito longe do Projac, cidade cenográfica da Globo. ‘A nova novela é uma oficina para o futuro’, disse Zagari. ‘Esses jovens atores, muito em breve, serão protagonistas de nossas produções.’


Alta Estação conta o cotidiano de seis universitários que vivem no Rio. ‘Gravar aqui é mais barato e faz mais sucesso no Brasil e no exterior porque o cenário é a cidade maravilhosa’, explicou Zagari. São, ao todo, 10 personagens fixos, e o custo do capítulo é de R$ 75 mil, semelhante em tudo a Malhação.


entre- linhas


Quando estiver passando uma chamada de filmes na TV, espere até o final para não se confundir. É que para divulgar os filmes da Semana da Criança, a Record copiou a chamada da Globo. Está igualzinha.


O Metrópolis, da Cultura, exibe hoje uma agenda cultural para as crianças e amanhã uma matéria especial sobre o clássico Arca de Noé, de Vinícius de Moraes.


16 horas por dia: essa é a carga horária das gravações de Cidadão Brasileiro, da Record. Já tem ator contando os dias paras as férias.


Outra turma que está trabalhando muito é a de Sinhá Moça. Gravações aos sábados e feriados já viraram rotina.


Foi tratada como bomba, no Departamento Comercial da RedeTV!, a notícia de que Ministério da Justiça não permitiu a volta do Pânico ao seu horário inicial, a faixa livre, das 18 horas. É que a troca com o Bola na Rede!, antecipado para as 18 h para que o Pânico ocupasse seu horário, às 20 h, atrapalha as vendas do programa esportivo e do próprio Pânico, que antes alcançava mais audiência.


Por que algumas mulheres se apaixonam por homens feios? é o tema do Saia Justa. Hoje, às 22h30, no GNT.


O ex-Globo Tiago Santiago, autor contratado da Record, definitivamente vestiu a camisa. Em seu e-mail pessoal, logo abaixo da sua assinatura, lê-se o slogan da rede: Record – A Caminho da Liderança.


Namoro às escuras


A MTV estréia na segunda-feira um novo programa de relacionamentos, A Fila Anda. Penélope Nova comanda a atração semanal em que uma menina (ou menino) escolherá um pretendente entre 24 candidatos. Detalhe: a eliminação vai ocorrer às escuras.’


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 11 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Editorial


Alckmin e a esfinge


‘A PESQUISA Datafolha que este jornal publica hoje reforça uma hipótese para a leitura das variações de intenção de voto desde as primeiras sondagens visando à disputa pelo Planalto em 2006. O favoritismo de Luiz Inácio Lula da Silva tem se mostrado diretamente proporcional ao esfriamento do noticiário sobre desmandos éticos.


Escândalos graves e em sucessão, como os ocorridos na gestão petista, até aqui não demonstraram a propriedade de cristalizar-se na intenção de voto -não na escala necessária para subtrair a dianteira de Lula. Os dois momentos em que o favoritismo do petista esteve mais em risco coincidiram com o auge do escândalo do mensalão, no segundo semestre do ano passado, e a chamada crise do dossiê, na reta final do primeiro turno.


Nos 15 dias que antecederam a votação de 1º de outubro, período em que surgiu e cresceu no noticiário o escândalo do dossiê, a ascensão de Geraldo Alckmin tornou-se uma tendência. O tucano tinha 27% da preferência em 12 de setembro e obteve nas urnas mais de 38% (ou quase 42% dos votos válidos) no primeiro domingo de outubro. A trajetória de Lula, na mesma base de comparação, foi no sentido inverso: tinha 50% das intenções de voto e obteve pouco menos de 45% (cerca de 49% dos válidos) no dia do escrutínio.


Em campo no fim da semana passada, o Datafolha já havia detectado uma interrupção nessa tendência. A diferença entre Lula e Alckmin na simulação de segundo turno, que era de cinco pontos percentuais na véspera da votação, foi a sete pontos uma semana depois. Após a pesquisa publicada hoje, já se pode dizer que a preferência pela recondução do atual presidente voltou a recuperar-se no eleitorado. O petista agora supera o tucano por 11 pontos percentuais de margem -nos votos válidos, lidera por 56% a 44%.


À primeira vista, o desempenho surpreendente -porque agressivo- do candidato de oposição no primeiro debate televisivo não foi capaz de ampliar o apoio popular a Alckmin. Tampouco logrou evitar a reacomodação da preferência pelo petista em direção a níveis anteriores ao auge da crise mais recente.


É provável que o resultado desta pesquisa provoque na chapa tucano-pefelista nova rodada de discussões sobre qual estratégia adotar daqui por diante. A performance de Alckmin no debate da TV Bandeirantes gerou euforia no círculo de sua candidatura e preocupação no de Lula. Outra questão, à qual o Datafolha começa a lançar luz, é saber como o eleitor propenso a mudar de voto reage à escalada de ataques.


Até que ponto o ‘novo’ Alckmin prega basicamente para convertidos -quando, para vencer, sua missão é converter adeptos do adversário- é um enigma que sua campanha terá pouco tempo para decifrar. Ou correrá o risco de ser devorada pela ‘esfinge’ lulista em 29 de outubro.’


Clóvis Rossi


Mentiras e indigência


‘Durante a campanha eleitoral de 2002, Ciro Gomes vinha subindo nas pesquisas até enroscar-se na própria língua: começou a contar mentiras, rapidamente desmascaradas, e caiu até ficar atrás de Anthony Garotinho na hora da contagem de votos. Eram pequenas mentiras, como a de jurar que estudara a vida inteira em escolas públicas, o que se provou falso.


Mas parece que o eleitorado se deu conta de quem conta pequenas mentiras pode também contar grandes mentiras e, por extensão, é inconfiável para governar o país (ou o que quer que seja).


Se os votantes aplicassem idêntico critério para os dois candidatos remanescentes em 2006, o país ficaria sem presidente. Afinal, como a Folha mostrou ontem, tanto Luiz Inácio Lula da Silva como Geraldo Alckmin contaram mentiras -e grandes mentiras, não as pequenas que desclassificaram Ciro há quatro anos.


A principal mentira diz respeito, em ambos os casos, a crescimento econômico, dado fundamental para o pobre país tupiniquim. Lula ‘chutou’ alto, bem de acordo com a megalomania que o caracteriza, ao dizer que nunca, nos últimos 20 anos, o país crescera tanto. Falso, mostrou a Folha ontem. Alckmin disse que São Paulo é que cresceu mais que a média nacional. Igualmente falso, como igualmente mostrou a Folha ontem.


Digo que é a principal mentira porque, se ambos estão satisfeitos com o desempenho econômico do país que um governa e do Estado que o outro governou, estamos todos roubados.


Afinal, o crescimento da renda per capita do Brasil no século 21 foi de indigente 0,8% na média anual. O século 21 dividiu-se igualmente entre os irmãos-inimigos PT e PSDB. Se ambos festejam a indigência, seria melhor mesmo que ninguém se elegesse. O país talvez caminhasse com mais garbo.’


Jorge Bornhausen


Lula na TV mentiu, omitiu, perdeu


‘O DEBATE entre os candidatos na TV Bandeirantes mostrou que há uma pedra no caminho de Lula: a foto da montanha de dólares e reais petistas do R$1,7 milhão do dossiê fajuto. O presidente bem que tentou transpô-la debochadamente, e foi aí que Alckmin -o discreto, atencioso e cordial Alckmin- ganhou o debate e a eleição: cobrou com firmeza, exigiu com clareza, indignou-se com pertinência.


Para Lula, a questão eleitoral está estacionada aí -na origem do R$1,7 milhão que lhe cabe explicar, pois estava com petistas que não só eram ‘companheiros’ mas também seus ‘amigos do peito’, o churrasqueiro, o marido da secretária, assessores-, e ele não avança, pelo contrário, recua.


Talvez porque a solução será certamente pior, a confissão de que o crime foi um ato de responsabilidade do seu comitê de campanha. (Aliás, essa culpa já foi indiretamente confessada com a demissão do coordenador da campanha, Berzoini, também afastado, com desonra, já que exposto a suspeitas, da presidência do PT, além de admitida por Lula, que alega não ter culpa dos desvios dos amigos.)


Enquanto isso, mostrando excepcional desenvoltura, o candidato Alckmin decola. E o faz depois de ter se dedicado, no primeiro turno, ao desafio de se tornar conhecido e de enfrentar uma grande máquina de propaganda pessoal, montada e tocada por Duda Mendonça. (O marqueteiro, que confessou e detalhou, na CPI dos Correios, suas relações financeiras indecorosas e criminosas com o PT e com a campanha de Lula de 2002, continua impune, camuflado numa rede de agências de propaganda já montada no país, e usa até a propaganda institucional da Petrobras.)


Assim, vencido o teste do primeiro turno e impondo seu nome, sua imagem, seu perfil de administrador respeitável, sua história de político sem mácula, Alckmin adquiriu musculatura eleitoral -tornou-se um competidor com chances de vitória, qualidade exigida pelos eleitores- para desmontar a impostura de chavões, falsificações, alegações mentirosas (enganando os nordestinos com a alegação de ter realizado obras que não existem, como a ferrovia transnordestina, a transposição do rio São Francisco, a refinaria de petróleo do Recife, o pólo siderúrgico de Fortaleza, a recuperação das rodovias, que só existem no papel e, às vezes, apenas nas palavras, pois nem foram planejadas) e, principalmente, princípios.


Cadê a ética de um governo que tem cinco ministros processados, os quais Lula não teve coragem de demitir, todos saíram ‘a pedido’, sob pressão da sociedade, das investigações policiais e de processos judiciais?


A providência de desmascarar as mentiras de Lula e de sua propaganda -inclusive as infâmias, ditas de viva voz, gravadas e distribuídas à imprensa, nas quais Lula diz que Alckmin privatizará a Petrobras, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e os Correios, quando Alckmin jamais disse isso, ao contrário, assumiu o compromisso de não fazê-lo- foi igualmente importante para abrir espaço e falar do problema essencial do país: a promoção do desenvolvimento econômico, com redução de impostos, queda de juros e mais empregos.


Os poucos números que Lula cita e repete, como um realejo, referentes a exportações e superávits de comércio exterior, não são obra dele, mas do boom do comércio internacional, que o mundo inteiro está aproveitando muito melhor que o Brasil, tanto que cresce muito mais (basta citar a Argentina, com 9%, enquanto o Brasil de Lula ficou em 2,5%).


Ao mentir, omitir -considerando a história do R$1,7 milhão um reles mistério policial a ser um dia desvendado (amanhã, depois, no futuro, quem sabe quando, certamente depois das eleições)- e, conseqüentemente, perder credibilidade e respeito, principal efeito do debate na TV sobre sua candidatura, Lula decepciona os que o cultivavam e afasta os simpatizantes e eleitores, arrependidos por terem votado no primeiro turno num Lula que não existe, antes foi inventado pela propaganda, que substituiu o bravo e respeitável líder sindical por uma triste figura, títere de corruptos e marqueteiros.


Ao mesmo tempo, o confronto mostrou, pela comparação direta, instantânea, objetiva, que Alckmin é firme, enérgico com a corrupção e com a mentira e, até, mais comprometido com metas sociais que o próprio Lula, já que vai além do Bolsa Família. Promete o que mais faz falta aos brasileiros mais pobres: emprego, educação e saúde, itens negativos do governo petista.


JORGE BORNHAUSEN, 69, senador pelo PFL-SC, é o presidente nacional do partido. Foi governador de Santa Catarina (1979-82) e ministro da Educação (governo Sarney) e da Secretaria de Governo da Presidência da República (governo Collor).’


Rafael Cariello


Segundo eleitores, debate na televisão terminou empatado


‘Os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) empataram na percepção dos eleitores quanto ao seu desempenho no debate de domingo na TV Bandeirantes, segundo o Datafolha.


No entanto, Alckmin não se saiu tão bem na percepção do debate entre os eleitores mais escolarizados e com maior renda quanto as intenções de voto que havia conquistado nessa faixa do eleitorado em pesquisas anteriores. O debate foi mais visto, proporcionalmente, entre os mais ricos e mais escolarizados, e foram dessas fatias do eleitorado que o tucano mais perdeu votos.


Do total de eleitores ouvidos pelo Datafolha ontem, 39% disseram ter assistido ao debate -inteiro ou em parte-, contra 61% que não o fizeram. Entre os que acompanharam os desempenhos do tucano e do petista, 43% disseram que Alckmin se saiu melhor, contra 41% que viram em Lula o vencedor do encontro. A diferença entre os dois está dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais para mais ou para menos.


O Datafolha também coletou a impressão dos que não viram o debate, questionando qual a opinião deles sobre o desempenho dos candidatos a partir do que sabiam ou ouviram dizer.


No total dos entrevistados, 30% disseram considerar que Alckmin havia se saído melhor no debate, contra 28% que tinham essa opinião para Lula.


Entre os eleitores que têm renda familiar mensal maior do que 10 salários mínimos, Alckmin foi considerado o vencedor do debate por 54% dos entrevistados, contra 23% para Lula. Nessa faixa de renda, o tucano tinha na pesquisa da última sexta-feira 69% das intenções de voto, caindo agora para 62%.


Entre os que ganham de cinco salários mínimos a dez salários mínimos, 37% consideraram que Alckmin se saiu melhor, e 31%, Lula. Na pesquisa da última sexta-feira, no entanto, o tucano tinha nessa faixa 51% das intenções de voto. Agora tem 48%.


Influência


Para Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, ‘se o debate exerceu alguma influência foi entre os que têm renda e escolaridade mais altas’. ‘O fato novo entre as duas pesquisas foi o debate, e foi nesses segmentos que Alckmin caiu mais’, ele diz.


Entre os eleitores que têm nível superior de escolaridade, 45% disseram ter visto vitória de Alckmin, contra 25% que consideraram Lula o vencedor do debate. Nessa faixa do eleitorado, as intenções de voto de Alckmin caíram de 56% nos dias 5 e 6 para 53% ontem.


Quando considerados os que têm nível médio, 35% consideraram Alckmin o vencedor, contra 27% que viram em Lula o candidato que se saiu melhor no debate. Alckmin tinha no final da semana passada 48% das intenções de voto nessa faixa, e caiu para 43% agora.


O debate foi assistido por 61% dos eleitores com nível superior completo, por 43% dos que têm ensino médio e por 31% dos que concluíram apenas o curso fundamental. Entre os que ganham mais de 10 mínimos, 72% disseram ter acompanhado o debate. A fatia cai para 53% dos que têm renda entre 5 e 10 mínimos; 41% entre 2 e 5 mínimos; e 31% entre os que ganham até 2 mínimos.’


Marcos Nobre


Além do telecatch


‘NENHUM DOS candidatos estava preparado. Alckmin é novato na cena nacional. E Lula se mostrou inteiramente fora de forma para debater com quem quer que seja. Surpreendeu-se com a ‘agressividade’ de Alckmin, que se preparou para uma luta do tipo Mike Tyson em plena forma: nocaute no primeiro assalto.


O resultado foi um telecatch mal ensaiado. Mas o desencontro que foi o debate se explica pelos diferentes objetivos dos candidatos. Lula foi porque tinha de ir. E Alckmin porque queria mostrar para seu partido e para seu eleitorado que tem condições de subir para a categoria dos pesos pesados da política nacional.


Alckmin falou para o eleitorado que já é seu. Falou de ‘PEC 29’, de ‘cartão corporativo da Presidência’ e de ‘roubo de aplausos’ dirigidos a Kofi Annan. Não tirou um único voto de Lula com essas referências desconhecidas da maioria dos eleitores. Mas, em caso de derrota, colocou-se em posição de brigar pela presidência do PSDB e, portanto, pela liderança da oposição.


Quando Lula assimilou os golpes dos dois primeiros blocos e começou a bater, Alckmin parecia reduzido a um candidato ao governo paulista. Esse foi o momento de Lula: tratando-o muitas vezes por ‘governador’, conseguiu de fato pôr Alckmin nessa posição por dois blocos seguidos. O máximo que Alckmin conseguiu inventar para tentar sair das cordas foi a idéia medíocre de vender o avião presidencial. Alckmin deixou contente seu eleitorado mais rico.


Principalmente ao mobilizar o ponto mais sensível do preconceito de classe: a leitura. Escarneceu de Lula por ler as perguntas, afirmou que foram escritas por assessores. Lula acusou o golpe. O mesmo Lula que encarou com desdém esse tipo de ataque desde 1982 parecia pela primeira vez intimidado pelo diploma do adversário.


É isso o que dá fugir de debates e da imprensa. Lula fez de tudo para evitar entrevistas e discussões públicas durante todo o mandato. O resultado é que agora já não sabe mais debater. Só sabe repetir ‘nunca antes na história’ e louvar seu próprio governo.


Mas pelo menos uma coisa nova apareceu. Mesmo que, até o momento, seja apenas uma estratégia voltada para o público interno, uma tentativa de mobilizar militantes e simpatizantes desgarrados, Lula falou de política. Contrapôs um ‘privatizar, privatizar, privatizar’ do PSDB a um ‘social, social, social’ do seu governo.


Como Alckmin não tem estatura política para estar na posição em que está, Lula foi obrigado a inventar um lugar para colocá-lo e, então, tentar estabelecer o confronto. Ainda que de maneira canhestra e mais que tardia, Lula está tentando forçar uma polarização política. Só que, para isso, não basta reaprender a debater. Falta ainda combinar com o adversário. E, principalmente, com o eleitorado.


MARCOS NOBRE é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap’


***


TSE manda ‘Veja’ retirar outdoors com Alckmin


‘O TSE concedeu ontem liminar à coligação de Luiz Inácio Lula da Silva obrigando a revista ‘Veja’ a retirar em um prazo máximo de 24 horas os outdoors da edição desta semana em que Geraldo Alckmin aparece na capa.


A coligação argumentou que a publicidade promove Alckmin e burla a proibição de uso de outdoors na propaganda eleitoral.


Procurada, a revista ‘Veja’ não quis se pronunciar sobre o assunto.’


Paulo Rabello de Castro


Debate: quem saiu perdendo?


‘O DEBATE pré-eleitoral é uma ocasião rara. Expõe os candidatos. Repuxa e desalinha a pesada máscara teatral dos políticos, expostos ao olho eletrônico das câmaras. Se há debates enfadonhos e aborrecidos -inutilizados pelo excesso de regras e pela pobreza intelectual dos candidatos-, há outros, como o do último domingo, que resgatam a razão de ser do confronto de idéias no plano político.


Lula e Alckmin finalmente deram o ar da graça. Compareceram mostrando o lado claudicante de um e o lado agressivo do outro. Ao se confrontarem, de algum modo igualaram-se. No dia seguinte, a pergunta de todos, em todas as mídias, era: ‘Quem venceu o debate?’. Se alguém venceu, outro perdeu, obviamente. Desta vez, foi o eleitor, que perdeu mais uma chance de conhecer com alguma nitidez como serão tratados os seus principais problemas econômicos e enfrentados os desafios de coordenação política do Brasil, tanto nesta região como no mundo.


Debates têm um tempo muito limitado. Mas propiciam, para quem tem idéias concretas, planos e programas efetivos ou para quem sonha realizar algo de extraordinário, a chance de, ao menos, pincelar para o público as cores mais fortes do seu projeto de governo.


Lula, entretanto, apequenou-se na repetição do refrão de que nunca antes, ‘em quatro séculos’ (!), houve um governo como o seu ‘na história desse país’. ‘Agradeça-me por ter salvo este país em 2003’, ou ‘a economia brasileira nunca cresceu tanto quanto agora’ (?) são frases que mereceriam a buzina do Chacrinha se houvesse, nesse tipo de debate, uma mesa de árbitros a apitar as infrações ao verbo e à lógica ou grave afastamento da realidade dos fatos.


Um dia ainda teremos uma TV interativa em que o próprio público, ou pessoas selecionadas por ele, darão cartão amarelo a frases sem sentido ou despojadas de consistência. Onde esteve, afinal, o programa dos candidatos? Lula contou com a desculpa -feliz desculpa, por sinal- de que, sendo constantemente atacado no pólo moral e na sua conduta ética, precisava defender-se a todo custo, o que é verdadeiro. Alckmin, entretanto, quando muito bem questionado pelo jornalista Joelmir Beting, já ao final do quarto bloco, sobre quais as medidas concretas para conter os gastos públicos, ‘onde, quanto e como fazê-lo’, não obteve adequada resposta, desperdiçando excelente oportunidade de mostrar o conteúdo de suas ‘216 páginas’ de programa de governo.


Mais do que isso. Programa de governo não é uma lista de providências, como um rol de compras de supermercado. O Brasil precisa crescer mais, como repetiu, insistentemente, o candidato Geraldo Alckmin, contraditando a visão triunfalista do ‘Tá tudo dominado’ de Lula. Entretanto, restou o vazio de idéias quanto ao verdadeiro diagnóstico desse impasse. Por que teria se esgotado o impulso do crescimento, aliás muito antes de Lula, que não tem mérito nem culpa nesse processo de estancamento? Algumas perguntas centrais precisariam ser enfrentadas diretamente pelos candidatos, sem evasivas nem rodeios, tais como:


1) Pode crescer um país cuja taxa de juros, nos últimos 30 anos, tem estado, persistentemente, acima da remuneração do capital de risco? Joelmir quis mostrar a ligação entre o juro excessivo, a dívida interna mal conduzida, o crédito escasso e manipulado e a resultante estagnação dos investimentos. Porém não obteve resposta.


2) Tem condição de crescer e surpreender um país que transfere para aposentados e pensionistas, de modo muito desigual, cerca de 12% da produção total do país, arcada por impostos, em vez de ser por meio de poupanças capitalizadas ao longo do tempo, sendo esses 12% o dobro da média mundial de gasto público em previdência oficial?


3) Tem chance de crescer um país cujo ritmo de investimento tem sido inferior a 20% ao ano, tendo o setor público se afastado dessa tarefa, além de haver deixado de planejar, em sintonia com o setor privado, como se darão tais inversões? Aliás, como crescerá um país cujo consumo interno de cimento e de aço não crescem há algum tempo?


Essas e tantas outras perguntas, que desvendariam, afinal, os tais programas de governo dos candidatos, nem chegaram a ser abordadas. Nesse aspecto, perdemos nós, eleitores espectadores.


PAULO RABELLO DE CASTRO, 57, doutor em economia pela Universidade de Chicago (EUA), é vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Especulação vazia


‘Foi dia de boataria sobre o Datafolha -com blogs arriscando análises sem números (e de sinal trocado) e uma agência, novamente a americana Bloomberg, avançando o sinal e titulando que o ‘Real sobe com o otimismo de que Geraldo Alckmin pode passar Lula em pesquisa’. No texto, o registro de que a valorização da moeda se devia à ‘especulação’ sobre os números.


Não para o Valor Online e outros, que apontaram que, ‘em um dia calmo, Bovespa sobe com ajuda de bancos, siderúrgicas e Vale’. Nem sequer menção à dita especulação, em ‘uma sessão vazia de notícias’.


FREUD E A GLOBO


Ontem foi a vez do ‘Jornal Nacional’ de destacar que ‘o conteúdo do depoimento’ de Gedimar Passos, que ligou Freud Godoy ao dossiê, pelo que diz a sua defesa, ‘reflete mais as apreciações de quem perguntava’ com ‘promessas de liberdade’. Ou seja, ‘o mesmo delegado que fez e que divulgou fotos do dinheiro’.


O telejornal reproduziu longamente a defesa, citando até que Gedimar não é petista.


OPORTUNIDADE


O colunista Bob Herbert saudou ontem no ‘New York Times’ que ‘um programa que mostrou potencial para mudar o comportamento de pessoas desesperadamente pobres no Brasil’ e em outros ‘está para iniciar um projeto piloto em Nova York, cidade que sempre teve grandes rios de pobreza sob sua superfície reluzente’. É o Bolsa Família, lá apelidado pelo prefeito de ‘Oportunidade Econômica’.


DE CLASSE


A ‘Economist’, tida como melhor revista mundial, não traz assinatura dos correspondentes. Mas agora que também tem webcast, o site trouxe ontem o nome e a imagem do correspondente Brooke Unger. Fala por oito minutos sobre a campanha eleitoral. A revista destacou o seguinte:


– A elite em São Paulo é apaixonadamente contra Lula. Isso é efeito de uma combinação de coisas… Parcialmente porque a corrupção em que se engajou o PT é conhecida mais em SP… E parcialmente permanece um preconceito de classe contra Lula, que vem de origem muito humilde.


DO ‘FANTÁSTICO’…


Domingo de debate na Band e a Globo passou o dia anunciando uma reportagem exclusiva sobre o desastre.


Começaram o debate e o ‘Fantástico’ -e a notícia era que os pilotos declararam ‘à Polícia Civil’ que tinham uma ‘autorização para 37 mil pés’.


Foi longa reportagem, com especialistas defendendo os pilotos e o destaque de que o plano de vôo foi ‘preparado pela Embraer’ -que não se pronunciou, anotou a Globo.


… AO ‘JN’


No dia seguinte, o ‘Jornal Nacional’ destaca que, ao contrário do que teriam dito os pilotos, ‘o plano de vôo comprova que o jato deveria mudar de altitude’. Ontem, ao longo do dia, ouvia-se que já é preto-no-branco, que o documento fecha o assunto.


Mas a pressão de noticiário, aqui e lá, nos EUA, já surtia efeito no ‘JN’, horas depois -com o ministro da Defesa apoiando liberar os pilotos para voltarem a Nova York.


QUÃO INOCENTE


Ontem no ‘NYT’, Joe Sharkey, que estava no Legacy, escreveu de novo e voltou a defender os pilotos. Fez mais, deu como ‘lição’ do episódio, ao leitor: ‘Entenda que não importa quão inocente você seja, grandes problemas podem envolvê-lo’.


Mas o ‘NYT’, nas reportagens, já deixou para trás a campanha em favor dos pilotos, pelo jeito. Ela continua, entretanto, no ‘Newsday’, que é baseado em Long Island, subúrbio de Nova York onde moram os dois pilotos.


JABÁ DE BLOG


A blogosfera ‘indie’ está em polvorosa com a sedução por uma cervejaria. Começou no YouTube, com vídeo da garota-propaganda Juliana Paes convidando quatro, por nome, para evento no Rio. Eles foram, no final de semana. Jacaré Banguela e Mico da Rede já postaram elogios virais ao ‘jabá’, na expressão do primeiro. Do segundo, antes:


– Finalmente vamos conhecer Juliana (sem tarja?).


Até o usualmente questionador Blog de Guerrilha desta vez só noticiou -e pediu para ser lembrado futuramente, quem sabe, para algum camarote, ‘Salvador ou Sapucaí’.’


RÚSSIA
Folha de S. Paulo


Morte de repórter ofusca visita de Putin à Alemanha


‘O assassinato de uma das principais repórteres investigativas da Rússia, uma contumaz crítica do Kremlin, ofuscou os temas oficiais da visita de dois dias à Alemanha que o presidente Vladimir Putin iniciou ontem. Putin, que prometeu prender os autores do crime, foi chamado de ‘assassino’ por um popular na chegada a Dresden, cidade na qual viveu como espião do serviço secreto soviético (KGB) nos anos 80.


Milhares de pessoas participaram do enterro de Anna Politkovskaya, 48, cujo corpo foi achado no sábado com marcas de tiros no elevador do prédio em que vivia, em Moscou. O crime contra uma das principais jornalistas do país, conhecida por documentar abusos cometidos pelas tropas russas na Tchetchênia, aumentou a preocupação sobre a liberdade de imprensa no país.


O presidente russo descreveu o assassinato como ‘um crime repugnantemente cruel que não pode ficar impune’, em entrevista concedida ao lado da chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel. Putin insinuou, sem entrar em detalhes, que ‘inimigos’ do governo, cometeram o crime para sujar a imagem do Kremlin.


Falando logo após a chanceler alemã, que manifestou preocupação com o assassinato, Putin lamentou o crime, mas minimizou a importância de Politkovskaya. ‘O seu nível de influência na vida política da Rússia era pequeno’, disse o presidente. ‘O assassinato causa mais danos ao governo que qualquer de seus textos.’


A chegada de Putin a Dresden, onde foi espião do KGB entre 1985 e 1990, foi tumultuada. Quando saía da limusine oficial, foi abordado por um homem que estava na multidão. ‘Assassino, você não é bem-vindo aqui’, gritou o popular.


Em Moscou, o enterro de Politkovskaya foi marcado pela revolta contra o governo, que não mandou representante. Milhares de pessoas deixaram flores ao lado do caixão. ‘As autoridades são covardes. Por que não vieram? Têm medo até de uma Politkovskaya morta?’, criticou Boris Nemtsov, premiê no governo de Boris Yeltsin.


Gás


A imprensa russa tem publicado especulações de que críticos do Kremlin no exterior podem ter planejado o assassinato para lançar as suspeitas sobre o governo. O jornal em que Politkovskaya trabalhava, ‘Novaya Gazeta’, indicou que o crime pode estar ligado a Ramzan Kadyrov, o premiê da Tchetchênia apoiado por Moscou.


Um dos principais assuntos discutidos por Putin e Merkel em Dresden foi energia. O presidente disse à chanceler que a Gazprom, monopólio controlada pelo Kremlin, pretende fazer da Alemanha o centro de distribuição do gás russo na Europa. Dois quintos do gás consumido na Alemanha, o maior parceiro da Rússia na União Européia, é fornecido pela Gazprom.


A relação com a Rússia divide a coalizão de governo alemã. Merkel defendeu na campanha eleitoral de 2005 uma posição mais crítica, mas o Ministério do Exterior, chefiado pelos social-democratas, defendeu num relatório recente uma maior aproximação, para acelerar a integração russa à Europa.’


TV DIGITAL
Humberto Medina


TV digital começa por SP no final de 2007


‘A TV digital deverá começar a funcionar no final do ano que vem no Brasil. Segundo cronograma divulgado ontem pelo Ministério das Comunicações, as transmissões começam pela região metropolitana de São Paulo, em dezembro de 2007.


As demais capitais começam as transmissões em dezembro de 2009, e todos os outros municípios, em dezembro de 2013. Inicialmente, as emissoras continuarão usando também o sistema analógico, que só será desligado no final de junho de 2016, sempre segundo o cronograma apresentado ontem.


O ministro Hélio Costa (Comunicações) ressalvou que o cronograma é ‘conservador’ e que a implantação pode até ocorrer antes do previsto.


No final de junho deste ano, o governo anunciou oficialmente a escolha do padrão japonês (ISDB) para as transmissões de TV digital, dizendo que ele teria se mostrado tecnicamente mais ‘robusto’ para transmissões para receptores móveis. O padrão era o preferido das emissoras de TV, porque, em tese, torna mais difícil a entrada das empresas de telefonia no mercado televisivo.


O padrão japonês disputou com os padrões europeu (DVB) e americano (ATSC). De acordo com o governo brasileiro, o Japão teria se comprometido a estudar a viabilidade da instalação no Brasil de uma fábrica de semicondutores e estaria comprometido com a possibilidade de transferência de tecnologia.


Ontem, o ministro Hélio Costa (Comunicações), ao anunciar o cronograma, disse que o governo federal enviará correspondência ao Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária, órgão que representa os governos estaduais) em que pedirá a redução da alíquota de ICMS (que varia aproximadamente de 10% a 15%) para a importação de equipamentos sem similar nacional que serão usados no processo de digitalização das redes das emissoras.


Segundo Costa, o custo de digitalizar as transmissões de uma emissora é de, aproximadamente, US$ 1,6 milhão.


A principal diferença entre a TV digital e a analógica -além da maior definição da imagem e do som- é a capacidade de interação com o telespectador. A interatividade deve transformar o ensino à distância e o comércio de produtos pela TV.


Para ter acesso às transmissões digitais, o telespectador tem duas opções: comprar uma TV nova, que já receba o sinal digital, ou comprar um conversor, que o governo estima que custará aproximadamente R$ 100,00.


Até o final de junho de 2016, o telespectador que não comprar pelo menos um conversor continuará a ter acesso à programação analógica. Quando o sistema analógico for desligado, para assistir à televisão, será preciso comprar pelo menos o conversor.


Hélio Costa avaliou que a mudança terá menor impacto no bolso do telespectador do que a mudança de preto-e-branco para cores, no início dos anos 1970. ‘O aparelho em cores custava cinco vezes mais que o preto-e-branco’, disse o ministro.


Canais públicos


Com a implantação do padrão digital, afirmou o ministro, haverá mais espaço nas faixas de freqüência.


Parte desse espaço será para mais canais públicos de televisão, que teriam redes nacionais de TV digital. ‘Vamos usar esses canais para iniciar um procedimento de redes públicas de televisão’, disse Costa.


Costa citou como exemplos de redes nacionais digitais os seguintes canais: Radiobrás, Ministério da Educação, Ministério da Cultura, Câmara dos Deputados e Senado.


Além desses canais federais, cada município teria um ‘canal da cidadania’, um canal público digital municipal. O ministro disse que serão, ao todo, dez canais públicos, dos quais quatro novos.’


Daniel Castro


Cronograma da TV digital coincide com o da Rede Globo


‘O cronograma de implantação da TV digital do Ministério das Comunicações é o mesmo da TV Globo. As transmissões digitais comerciais em São Paulo só começarão em dezembro de 2007, conforme anunciou ontem o ministro Hélio Costa, porque só em dezembro de 2007 a Globo e as demais grandes redes estarão prontas para fazê-lo. Os primeiros aparelhos receptores de TV digital também só devem chegar às lojas no final do ano que vem.


No início deste ano, quando havia muita pressa do governo e das redes de TV em definir a tecnologia de TV digital do país, a Globo dizia que poderia fazer as primeiras transmissões digitais em 7 de setembro último -como gostaria o governo.


Mas o anúncio da escolha do padrão japonês -defendido pelas TVs, enquanto as telefônicas queriam o europeu- foi adiada, e os prazos da Globo, dilatados. Em junho, quando o governo anunciou sua opção, a Globo ainda falava em inaugurar as transmissões digitais logo no início do próximo ano.


Como a Folha publicou na semana passada, Octávio Florisbal disse que a emissora só estará ‘em condições de colocar o sinal [digital] no ar no segundo semestre do ano que vem’. Assim, não surpreende o cronograma anunciado ontem por Costa, ex-repórter da Globo e ministro afinadíssimo com as redes de televisão.


As redes tinham muita pressa em definir a escolha do padrão de TV digital japonês pelo temor que um outro padrão facilitasse a entrada das gigantes telefônicas (com receita muito maior que as TVs) no setor.


O ritmo das TVs agora será ditado por suas capacidades financeiras de investir na compra de equipamentos digitais. E pelo temor dos estragos que poderão ser causadas por novas tecnologias, como a IPTV (a TV por internet, que oferecerá conteúdo audiovisual sob demanda, que a Telefônica deve começar a testar em São Paulo já no próximo mês).


O grande argumento das TVs e do Ministério das Comunicações pelo padrão japonês era que esse é o único que, segundo as redes, permite uma TV de definição de alta qualidade (HDTV). As redes transmitirão uma única programação (em tese, elas poderiam transmitir até quatro). Logo, terão que transmitir em HDTV para otimizar toda a freqüência que receberão. Se não fizerem isso, estarão usando mal um bem público, ocupando espaço que outros poderiam conquistar.


A Globo e outras redes já captam programas em tecnologia digital, mas não em HDTV. Segundo Octávio Florisbal, a troca dos atuais equipamentos dos estúdios da Globo por novos de HDTV começa ainda neste ano. A primeira fase dessa implantação só se completará em dezembro de 2007, no limite do prazo anunciado ontem pelo Ministério das Comunicações.’


***


TVs apóiam; associação quer mais debate


‘Associações civis e as redes de TV têm avaliações diferentes sobre o processo de implantação da TV digital. Para a Intervozes, associação que busca a democratização das comunicações, falta transparência nas discussões técnicas. Para a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), o governo age corretamente.


‘O processo de especificações técnicas está pouco transparente, sem participação da sociedade civil organizada’, disse Diogo Moyses, coordenador do Intervozes. Pelo cronograma oficial, o prazo para finalizar todas as especificações técnicas termina em 29 de dezembro.


Para Moyses, várias questões importantes estão relacionadas com as definições técnicas. Entre elas, a possibilidade de o usuário poder copiar (para fins permitidos por lei, como o uso educacional) o conteúdo das transmissões. ‘Há forte pressão das emissoras para decodificar a transmissão e proibir a cópia permitida por lei.’


Daniel Pimentel Slaviero, presidente da Abert, discorda: ‘Tem que haver algum tipo de proteção do sinal, senão o conteúdo vai para a internet sem perda de qualidade. É preciso discutir o que é cópia para uso doméstico e como ela pode ser feita’.


Para a Intervozes, as definições técnicas poderão reduzir demais a capacidade do conversor. Moyses avalia que poderá ser criado um ‘conversor para pobres’ e uma TV ‘digital-analógica’. Para ele, se o conversor for muito simples, só permitirá recepção da transmissão digital na TV analógica, sem interatividade ou inclusão digital. Moyses diz ainda que o período de transição pode naufragar, porque não haverá novos canais. ‘Sem isso, não há porque as pessoas comprarem’, afirma.


Novamente, as TVs discordam. ‘Mesmo nos aparelhos analógicos, há uma melhora da imagem que justifica a compra do conversor’, disse Slaviero. Ele confirma, no entanto, que poderá haver um conversor mais simples. ‘Há discussão para um conversor ‘light’, até porque os atributos agregados [interatividade] são uma discussão que ainda está acontecendo.’’


Adriana Mattos


Varejo e indústria travam ‘guerra das TVs’ e preço do aparelho pode aumentar


‘Varejo e indústria voltam a se desentender às vésperas do período de encomendas para o Natal. A Eletros, entidade que representa o setor eletrônico, diz que os fabricantes vão aumentar o preço dos televisores em 3% a 5%. Não determina datas para isso, porém. O comércio rebate a informação: informa que não há acerto ainda sobre a questão e não é preciso uma corrida às lojas por conta dessa possibilidade.


A Folha apurou que: 1) o aumento pode ocorrer em outubro para o consumidor; 2) são algumas marcas que pressionam por elevação nos preços, mas isso deve ‘contaminar’ todo o mercado. O aumento em negociação até supera essa taxa anunciada pela Eletros e atinge 7% -reajuste escalonado, em outubro e novembro. A última reunião na Eletros, em São Paulo, no mês passado, abordou essa questão. Mas não se chegou a um consenso.


Cada lado da mesa defende a sua posição. As lojas afirmam que estão com estoque de TVs elevado e é preciso desovar parte disso antes de aceitar novas tabelas. Dizem ainda que as indústrias tiveram forte ganho de escala nos últimos anos com a expansão da tecnologia de plasma e LCD, assim como com a maior demanda pelos modelos tradicionais. E isso reduz custo.


Além disso, afirmam que houve retração no valor das matérias-primas nos últimos anos, por conta da menor demanda mundial por cinescópios (tubos de imagem). Isso ajudou a fazer os preços caírem em 2006. De janeiro a setembro, houve queda de 15,26% no preço do televisor, diz a Fipe.


Os comerciantes também não aceitam a teoria, defendida pelas indústrias, de que está ocorrendo uma pressão no valor dos fretes. ‘O produto sempre veio da Amazônia dentro das mesmas condições de logística e distribuição. Agora isso pesa no bolso?’, afirma um diretor que acompanha o caso.


A indústria se defende e diz o oposto. Bate na tecla de que várias marcas de cinéscópios reduziram a produção mundial em 2006 porque perceberam que o mercado de TV com tubo não é mais tão lucrativo como no passado. Com isso, falta o insumo e o preço na Ásia sobe. Afirma ainda que, como a produção de televisores caiu a partir de julho -com o final da Copa do Mundo-, o custo de produção aumentou. Isso ocorre porque a ociosidade das fábricas é custo para o fabricante. E essa conta começa a ficar pesada. Detalhe: a indústria planeja vender 10 milhões de TVs neste ano. É recorde histórico.


Uma questão fica: como a indústria fala em aumento de preços com a atual sobra de televisores no mercado, passada a Copa? Uma das explicações está no desempenho do setor em setembro. Houve aumento na demanda e o varejo está um pouco menos estocado hoje.’


INTERNET
Folha de S. Paulo


YouTube quer adicionar funções ao site


‘Os fundadores do YouTube, o popular site de vídeos comprado ontem pelo Google por US$ 1,65 bilhão, falaram ontem sobre o negócio e disseram que querem desenvolver mais ferramentas e serviços para os usuários.


Chad Hurley, 29, presidente do YouTube, e Steve Chen, 28, diretor de tecnologia, colocaram no ar na madrugada de segunda para terça-feira um vídeo, no próprio YouTube, em que comentam a aquisição.


Em um minuto e meio, eles falam sobre o futuro da empresa -os dois, que continuarão no comando do YouTube, querem usar os recursos do Google para aumentar a variedade de ferramentas e tecnologias do site. O YouTube manterá seus escritórios em San Bruno (Califórnia) e continuará a operar de forma independente.


‘Vamos seguir comprometidos com oferecer o melhor serviço para vocês [usuários], desenvolvendo o serviço mais inovador, as tecnologias e ferramentas para que vocês continuem a se divertir em nosso site’, disse Hurley no vídeo.


Os dois jovens fundadores do site ainda não revelaram, porém, quanto levarão cada um com a venda do YouTube -estima-se que o fundo de capital de risco Sequoia Capital tenha 30% da empresa e leve US$ 495 milhões (leia ao lado).


De acordo com alguns jornais internacionais, Hurley e Chen levariam ‘só’ algumas dezenas de milhões cada um. Como o YouTube tem capital fechado, não se sabe qual é a participação de cada sócio.


Problemas legais


Alguns analistas criticaram o investimento do Google no YouTube, dizendo que o site enfrentará cada vez mais problemas legais, devido ao conteúdo protegido por direitos autorais que os usuários colocam no ar diariamente.


Nesse sentido, para o YouTube, a associação com o Google é positiva -agora, a empresa terá apoio da companhia maior tanto para enfrentar questionamentos legais quanto para negociar acordos com grandes empresas de mídia, como os anunciados ontem com grandes gravadoras tanto pelo YouTube quanto pelo Google.


‘A melhor coisa é poder nos concentrar em funções para a comunidade. Estamos ouvindo [o que as pessoas têm a dizer] sobre os problemas que vêm surgindo’, disse Steve Chen sobre os problemas legais. No final do vídeo, Chen e Hurley riem e brincam, e Hurley diz que ‘dois reis se juntaram, o rei da busca e o rei do vídeo’


Estratégia


A compra do YouTube representa uma certa mudança de estratégia para o Google. O próprio Sergey Brin, um dos fundadores do Google, disse que a empresa precisava participar da ‘nova geração’ de sites, focados em relacionamento e conteúdo gerado por usuários.


A reação do mercado à aquisição foi positiva ontem no começo do dia, fazendo as ações do Google subirem a mais de US$ 437; depois, os papéis recuaram e fecharam em queda de 0,6%, a US$ 426,65.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Debate da Record gera saia justa a Alckmin


‘A decisão da Record de marcar debate entre Lula e Alckmin no próximo dia 23, às 22h30, causou uma situação descrita como ‘constrangedora’ para o estafe do candidato do PSDB, que ainda não confirmou presença no encontro, a ser mediado por Celso Freitas.


A campanha de Alckmin afirma que já havia se comprometido, na semana passada, a estar no mesmo dia 23, também às 22h30, ao vivo em uma edição do ‘Roda Viva’ na TV Cultura. Inicialmente, Alckmin iria a esse programa na próxima segunda, 16. Mas Lula, que fora convidado para ir ao ‘Roda Viva’ anteontem, acabou marcando também para o dia 16.


Reservadamente, um graduado membro da assessoria de Alckmin diz que a Record marcou a data unilateralmente.


A Record nega. Diz que propôs ao PSDB o dia 23 já na terça-feira da semana passada e que só depois de o partido não apresentar objeções à data é que foi negociar com o PT.


No fundo, o estafe tucano está irritado porque ainda não engoliu a explicação que a Record deu para cancelar o debate do primeiro turno, de que a ausência de Lula derrubaria a audiência. Para os tucanos, a falta de Lula era um risco que a Record sabia que corria desde o início das negociações.


Para não obrigar Alckmin a aparecer em dois programas ao mesmo tempo ou faltar no dela, a Cultura deve transferir o ‘Roda’ de 23 para 22, um domingo.


FALTOU GRANA A Globo não aceitou pagar o que Luana Piovani pediu e a atriz está fora de ‘Pé na Jaca’, próxima novela das sete, que já está sendo gravada. Ela seria uma das protagonistas, uma ex-miss Carapicuíba (SP) casada com Murilo Benício.


CONSOLAÇÃO Mas os fãs de Piovani não serão privados totalmente de seu talento. Ela assinou contrato com a Globo e irá fazer o especial de fim de ano ‘Lu’, criado especialmente para a estrela.


FALTOU SORTE Não é a primeira vez que uma protagonista desiste em cima da hora de fazer uma novela de Carlos Lombardi, o autor de ‘Pé na Jaca’. Em 2003, Letícia Sabatella abandonou na porta do estúdio o principal papel feminino de ‘Kubanacan’.


FAMA ZERO A Record finalmente escolheu o protagonista de ‘Vidas Opostas’, sua próxima novela. Será o desconhecido Léo Rosa.


TOPA TUDO Está confirmada uma segunda edição de ‘Topa ou Não Topa’, game apresentado por Silvio Santos. O SBT já vende espaços comerciais do programa.


DEMOROU Ana Maria Braga se livrou dos desenhos do SBT, mas agora quem a incomoda no Ibope é o ‘Fala Brasil’. Ontem, o jornal da Record superou o ‘Mais Você’ durante 50 minutos.


ARQUIVO MORTO O Ministério da Justiça arquivou processo administrativo que instaurou em julho contra ‘Páginas da Vida’, pelos excessos de sua primeira semana.’


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