Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Crítica interna

"21/03/2005


O lançamento mundial do novo livro de Paulo Coelho, ‘Zahir’, da Editora Rocco, é a capa das três revistas que circulam no final de semana, ‘Veja’, ‘Época’ e ‘IstoÉ’. Além da capa, cada revista destinou oito páginas para o lançamento. ‘Época’ enviou um jornalista para entrevistar o autor, no interior da França, e conseguiu patrocínio para publicar um encarte com um trecho do livro; ‘Veja’ acionou Paris; e a ‘IstoÉ’ obteve um texto exclusivo do autor. A estratégia de marketing da editora deixou de fora os jornais.


As manchetes:


DOMINGO


Folha – ‘Preço de escola sobe mais que inflação’.


‘Estado’ – ‘Só com INSS, farra de gastos custará R$ 50 bilhões’.


‘Globo’ – ‘Policiais montam milícias e expulsam tráfico de favelas’.


SEGUNDA


Folha – ‘Seguro-desemprego registra fraudes de R$ 200 mi por ano’.


‘Estado’ – ‘Venda a prazo se amplia e vira camisa-de-força’.


‘Globo’ – ‘Rio ganha hoje primeiro hospital de campanha’.


SEGUNDA


Trabalho


Estão erradas as manchetes da primeira página e da capa do caderno ‘Dinheiro’ da Folha de hoje.


As informações disponíveis na reportagem não permitem ao jornal a redação de títulos tão conclusivos como os que saíram: ‘Seguro-desemprego registra fraudes de R$ 200 mi por ano’ e ‘Seguro-desemprego tem fraude de R$ 210 mi’.


Estes números teriam de ser tratados pelo jornal apenas como projeções, estimativas.


Como esclarece o texto, este cálculo foi feito a partir de um projeto-piloto feito em apenas um Estado, o Rio Grande do Sul. Este projeto chegou a um ‘índice de irregularidade’ de 3% dos seguros-desempregos. O Ministério do Trabalho e Emprego supõe que este índice possa ser transportado para o resto do Brasil e, por isso, fez o cálculo de que a fraude pode ter chegado a R$ 210 milhões. Pode não significa que tenha sido. Pode ter sido muito mais e pode ter sido muito menos. Não se sabe. Os títulos da Folha avançaram o sinal.


Títulos corretos teriam de ser na linha ‘Seguro-desemprego pode ter tido fraude de R$ 210 mi’, o que seguramente teria feito o jornal pensar duas vezes antes de dar a manchete que deu.


Estranhos no paraíso


Oportuna a cobertura do seminário em Harvard sobre imigrantes brasileiros nos EUA (‘Evento debate imigração brasileira para EUA’, pág. A11 de ‘Mundo’). O tema e a diversidade de abordagens a que a reportagem se refere justificavam mais espaço e mais informações.


O ‘Estado’ trouxe no domingo duas páginas anunciando o encontro (caderno ‘Aliás’) e com uma longa entrevista com uma pesquisadora.


DOMINGO


Juventude encarcerada


Está muito boa a reportagem sobre a classe média do Tatuapé amedrontada com as seguidas rebeliões e com as fugas de meninos e rapazes presos na Febem (‘Febem muda vida de vizinhos e deixa o Tatuapé em convulsão permanente’, capa de ‘Cotidiano’ e páginas seguintes).


Mas o material mais impressionante deste domingo é o do ‘Estado’, ‘Um dia para (não) esquecer’, no caderno ‘Aliás’. O jornal traz os depoimentos da psicóloga e da pedagoga que sofreram abuso sexual na rebelião da Febem de Franco da Rocha.


Os depoimentos colhidos pela Folha no Tatuapé revelam bem o pavor que tomou conta de uma parte do bairro e como as pessoas estão reagindo aos confrontos quase diários.


O jornal deveria ter a mesma preocupação em revelar o que se passa com os outros personagens do drama, como as famílias dos internos, os próprios internos e os funcionários. A entrevista com o ex-interno da Febem (‘Motim pode ter causa besta, diz ex-interno’) é interessante mas não substitui uma reportagem que mostre o que acontece com estes garotos. O jornal entrou um dia na unidade, depois de uma rebelião, mas foi um material muito limitado pelas condições impostas pela Febem.


A transferência de internos do Tatuapé já começou e o ‘Estado’ publica hoje reportagem com os moradores de Cidade Aconchego, que estão recebendo um grupo grande de transferidos. O ‘Estado’ também traz, no domingo, um exemplo de experiência com adolescentes que está dando certo, em São Carlos.


Acho que a arte ‘O complexo da Febem do Tatuapé’ tem erros de localizações. Algumas indicações da planta baixa, como a favela Nelson Cruz, não batem com as que estão no desenho da região. Sugiro conferir.


Domingo


Segundo o ‘Globo’, ‘Liminares livram fazendeiros de lista suja’. De acordo com o jornal, ‘empresas que exploram trabalho escravo beneficiadas por decisões judiciais podem receber financiamento público’. É um assunto que a Folha vinha bem.


Ainda segundo o jornal do Rio, a Funasa anunciou sábado as mortes por desnutrição de mais duas crianças índias em Mato Grosso do Sul. ‘Estado’ também informa. Não vi na Folha.


‘O Globo’ tem reportagem que mostra a aparecimento em regiões do Rio de milícias formada por policiais militares e civis para combater o tráfico. Polícia mineira e grupos de extermínio formados por policiais não são uma novidade na história da cidade e do seu entorno (Baixada Fluminense), mas no caso revelam mais um estágio do abandono da cidade."