Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Crítica interna

"23/08/2004


Precisou de uma nova onda de ataques e mais dois mortos para os jornais de São Paulo considerarem, enfim, as chacinas de mendigos no centro da capital o principal assunto e levá-lo para as suas manchetes de HOJE. Antes tarde. Folha: ‘Moradora de rua morre em novo ataque’. O título do ‘Estado’ é mais forte e compreensível: ‘Novos ataques a moradores de rua: já são seis mortos’. ‘Diário de S. Paulo’: ‘Novo ataque a morador de rua mata um e fere três no Centro’. O ‘Globo’: ‘Novo ataque mata sexto morador de rua em SP – Quinze mendigos foram agredidos a pauladas desde quinta’.


A conquista da medalha de ouro de Robert Scheidt em Atenas é a foto e o alto de página de todos os jornais brasileiros que vi, com exceção dos econômicos. Outro assunto é o roubo de ‘O grito’, de Munch.


As manchetes de DOMINGO:


Folha: ‘Marta ganha prazo na dívida com União’. ‘Estado’: ‘Servidor de elite ganha mais que nos EUA’. ‘Globo’: ‘Consumo no Brasil paga mais imposto que em países ricos’. Todos trouxeram cadernos especiais sobre Getúlio Vargas (50 anos de sua morte); a Folha lembrou também os 25 anos da Anistia. As capas das revistas: ‘Veja’: ‘Poder interior – Os caminhos para construir uma sólida estrutura mental e emocional capaz de colocar ordem no caos do dia-a-dia’. ‘IstoÉ’: ‘A síndrome do pânico – Conheça os principais sintomas do problema’; ‘Época’: ‘Adoção – Saiba por que essa idéia cresce no Brasil’.


‘Veja’ atacou a ‘IstoÉ’ e ‘IstoÉ’ atacou ‘Veja’ por conta do caso Ibsen Pinheiro.


SEGUNDA


Dinheiro


É um exagero e uma impropriedade jornalística usar o adjetivo ‘popular’ para designar algum fundo de investimento, como está no título da primeira página e da capa de ‘Dinheiro’: ‘Fundo menos popular rende mais’ e ‘Fundo menos popular tem ganho elevado’. O próprio mercado, que é para iniciados, desconhece estes fundos, como a própria reportagem informa. Não são, portanto, fundos menos populares, mas fundos menos conhecidos. De investimento mesmo, o ‘povo’ conhece a poupança, e assim mesmo de ouvir falar.


Aliás, já que tratei de investimentos financeiros e povo, uma das melhores fotos de hoje está no pé da página B6 de ‘Dinheiro’: é nítido o esforço de se enxergar as dimensões do mercado de capitais.


Chacina


O governo do Estado dizer que não tem condições de garantir a segurança de todo o Estado porque é grande demais, já seria escandaloso. Agora, dizer que não tem condições de garantir a segurança no centro da capital do Estado, aí é a decretação da falência da política de segurança pública. É difícil fazer comparações com outros secretários de segurança e dizer quem é o pior, mas as declarações feitas desde quinta-feira pelas autoridades do Estado sobre o caso dos mendigos são indecentes.


Não vi esforço do jornal para informar como o governador do Estado, Geraldo Alckmin, está tratando da crise que se abateu sobre sua política de segurança. Falta bastidor. É de se supor que o governo do Estado esteja preocupado com os estragos que o caso podem causar na imagem do governador e do seu candidato a prefeito. Tem havido reuniões na cúpula do governo para tratar disso? Há uma estratégia definida para evitar aparecer o nome do governador ligado ao caso? Há uma blindagem do governador? O secretário de Segurança está ‘prestigiado’? Corre o risco de cair depois de tantas bobagens que falou? Lembro que em episódio de semelhante gravidade, ocorrido no Rio recentemente (chacina na Casa de Custódia de Benfica), o jornal se destacou exatamente por mostrar os bastidores das decisões tomadas pelo governo estadual e sua estratégia para evitar maiores desgastes para a imagem da governadora e do secretário de Segurança.


Já está na hora de o jornal mudar o ‘chapéu’ deste caso. No primeiro dia ainda se justificava compará-lo com a Candelária, do Rio. Agora, já tem vida própria, e é tão ou mais grave porque se repetiu sem qualquer ação da polícia. É melhor inventar um nome paulistano para o caso. ‘Estado’ e ‘Diário de S. Paulo’ têm chapéus iguais: ‘Barbárie’.


Olimpíada


O jornal informa (Especial 9, da Edição Nacional) que Torben Grael ‘assume a liderança na star’, mas não informa quantas regatas faltam para a final. A disputa nesta classe está no início, no meio ou já está terminando? E quando é a próxima regata? O Brasil tem chances de medalha em outras classes da vela? Com o ouro no laser, era de se esperar informações mais detalhadas sobre as outras classes em que concorrem brasileiros.


DOMINGO


Não recebi a Edição SP da Folha de sábado e de domingo. Por esta razão, as observações que seguem referem-se à Edição Nacional.


A Folha tem dois grandes investimentos em efemérides, os 25 anos da Anistia e os 50 da morte de Getúlio Vargas. Em relação à Anistia, duas observações: – O caso do José Dirceu já está muito batido, foi contado várias vezes por todos os jornais, e era dispensável. E a foto do Genoíno dentro do quadro sobre José Dirceu não se justifica. – O jornal perdeu uma boa oportunidade de discutir melhor a questão da ‘indústria da indenização’, tema que incomoda os nossos leitores em particular por conta da indenização do Cony. A discussão ficou perdida nas entrevistas com o ministro Márcio Tomaz Bastos e com Fernando Gabeira. Mas não há um debate. O quadro ‘Como funciona a anistia’ ajuda a entender os critérios, mas não há um debate.


É uma pena que o levantamento feito para ‘Dinheiro’ (capa e páginas seguintes) sobre a ida de funcionários graduados do governo para a iniciativa privada (‘Passagem pelo governo alavanca carreiras’) tenha sido editada com tantos erros. Ainda bem que foram corrigidos na própria edição.


Não foi possível comparar os cadernos sobre Getúlio Vargas.


O ‘Estado’ investiu com mais rapidez na chacina dos mendigos e saiu com reportagem especial, além do noticiário do dia, que a Folha também tem.


SÁBADO


Fotos


A reportagem de ‘Cotidiano’ é sobre o concurso de miss disputado num presídio do Rio: ‘Portuguesa é a 1ª miss Bangu’, diz o título (pág. C3 da Edição Nacional). A foto teria de ser da presa vencedora, a portuguesa. Ela é a personagem. Mas o jornal preferiu mostrar várias presas sendo maquiadas por uma presa famosa.


Problema semelhante, no caderno ‘Atenas 2004’. Na página Especial 5, ‘O Personagem’ do vôlei é Fabiana (‘Tímida, Fabiana deixa a reserva e rouba os holofotes’), mas os holofotes da Folha estavam voltados para Érika.


Nos dois casos, o jornal chama a atenção do leitor para um personagem e publica a foto de outro. É estranho.


20/08/2004


O assunto mais forte, o de mais impacto para os paulistanos, foi a chacina de moradores de rua, ocorrida ao longo da madrugada no centro da cidade.


Dez infelizes foram atacados a pauladas, deixados estirados nas ruas, e três mortos — esse é um caso para chocar qualquer cidade e, na minha opinião, deveria ser a manchete dos jornais de São Paulo. Se o mesmo caso tivesse ocorrido no Rio, provavelmente seria a manchete dos jornais locais. É uma agressão aos moradores de São Paulo, um escárnio com as autoridades policiais e a política de segurança do governo do Estado, uma afronta às vésperas de uma eleição municipal. É mais forte, acho, do que o estudo da Fundação Seade, que aponta para um problema também sério, mas que são números. Sem foto, sem uma arte que mostrasse o local dos crimes, sem um recurso gráfico que valorizasse a notícia, ela foi dada na primeira página sem a indignação que o jornal costuma se permitir em casos de afrontas à cidadania.


A repercussão da decisão do STF sobre os aposentados e pensionistas foi a manchete de quase todos os jornais, e a Folha foi uma das exceções. O jornal optou pelo estudo da Fundação Seade: ‘Área pobre de SP concentra mais jovens’.


Outras manchetes:


‘Estado’: ‘Estados atacam novo teto de inativo’;


‘Globo’: ‘Nova regra isenta de taxação 468 mil servidores inativos’;


‘JB’: ‘Aposentados têm direito a devolução’.


O ‘Valor’ deu manchete para exportação (‘Múltis usam o Brasil como base de exportação à África’) e, no caso dos inativos, deu chamada com o mesmo enfoque do ‘Estado’: ‘Decisão do STF prejudica Estados’.


As fotos da Folha ainda são da Olimpíada. O ‘Estado’ trouxe foto de bombardeio no Iraque, e o ‘Globo’, de destruição de armas. Nos jornais de banca do Rio (‘O Dia’ e ‘Extra’), o assunto (com fotos) é o tratamento de Maradona em Cuba: ‘Sexo, cocaína e Maradona’, resume o ‘Extra’.


Previdência


Para aposentados e pensionistas que foram descontados e têm agora direito à devolução, o que interessa é saber quando vão receber.


A Folha informa, em suas duas edições, que ‘o governo ainda não definiu como e quando vai devolver o dinheiro’ e que ‘ainda não há cronograma para a devolução’ (pág. A7).


O ‘Globo’, no entanto, informa que a devolução será feita em três parcelas, a partir de setembro. Segundo o jornal carioca, ‘Lula determinou pressa na devolução’ em reunião no Planalto.


O ‘Estado’ lembra um aspecto que não vi na Folha: as categorias que não vinham sendo descontadas por decisões judiciais (auditores fiscais e policiais federais) agora terão de pagar o desconto retroativamente.


A Folha tem bastidor que mostra os próximos passos do governo, que agora se sente mais confiante com a decisão do STF. Segundo o texto, o Planalto avalia que a decisão quebra o ‘mito da cláusula pétrea do direito adquirido’ e ‘abre portas’ para as reformas trabalhista e sindical.


Análise no ‘Valor’ (‘Direito adquirido já não tema intocável’) e editorial do ‘Estado’ têm avaliação semelhante.


ANJ


Sylvino de Godoy Neto é diretor-presidente do ‘Correio Popular’ de Campinas, e não de Ribeirão Preto, como está na Edição Nacional (‘ANJ defende liberdade de expressão’, pág. A10).


ONU


O texto-legenda que a Folha publica na pág. A13 a propósito da cerimônia em homenagem aos mortos no QG da ONU em Bagdá não relata o que de fato aconteceu ontem em Genebra. Segundo o ‘Estado’ e o ‘Globo’, Gilda, a mãe de Sérgio Vieira de Mello, teve de quebrar o protocolo da cerimônia duas vezes para marcar seu protesto pela forma como o caso vem sendo tratado pela ONU. Não consigo entender porque a Folha reduziu o relato da cerimônia e os protestos a um texto-legenda sem notícia.


Chacina


Quem é o governador de São Paulo, responsável pela segurança pública do Estado e da cidade de São Paulo? Geraldo Alckmin não aparece nas reportagens sobre a chacina de moradores de rua. O jornal chega a escrever o seguinte trecho sem citar o nome do governador: ‘A prefeitura divulgou nota com críticas à ação do Estado, comandado pelo PSDB, partido de José Serra, principal adversário da petista na disputa’ (pág. C3 da Edição SP).


‘Toda mídia’ (A10) cita declarações equivocadas na TV do secretário de Segurança. Elas estão perdidas no texto da nossa cobertura, mas sem destaque. ‘Foi um daqueles dias de revirar o estômago diante da televisão, ontem’, escreveu Nélson de Sá. A nossa cobertura jornalística não indica isso. Se fosse o Garotinho…


O título do ‘Estado’ é mais forte: ‘Moradores de rua são massacrados no centro’. Na Folha, ‘Moradores de rua sofrem ataque em série’.


Olimpíada


Está errado o quadro ‘Um por todos’, na seção ‘Politécnico’ (pág. Especial 2). Se Phelps fosse um país, não seria o sexto colocado no quadro de medalhas, mas o 9º. E Thorpe, o 14º, e não o 12º.


Anúncio


O da página E3 de Ilustrada é daqueles que fogem do padrão, mas não interferem na leitura nem na diagramação da página. Quase que digo que é um anúncio elegante.


Ciência


Recebi, do editor de Ciência, Claudio Ângelo, via SR, o seguinte comentário:


‘A Folha não subestimou, na minha avaliação, a notícia sobre a descoberta da cidadela de Gran Saposoa. Resolvemos investir nosso pouco espaço em um furo (a ação das famílias das vítimas de Alcântara) e em uma história importante (a nova droga contra malária), em vez de noticiar extensamente mais uma descoberta de ruína pré-incaica’.


Na minha avaliação, a Folha subestimou.


Esporte


E do editor de Esporte, Melchíades Filho:


‘A Folha noticiou, sim, que os EUA quebraram o recorde mundial do revezamento 4 x 200 m nado livre _em texto-legenda à pág. 4. Mas de fato faltou indicar o tempo da nova marca’.


19/08/2004


A Folha começou a rodar com uma manchete sobre acordos salariais – ‘Trabalhador consegue repor inflação’ – e trocou-a, na Edição São Paulo, pela decisão do Supremo sobre os aposentados: ‘STF aprova a contribuição de inativos’. Este foi o assunto principal de todos os jornais. O ‘Estado’ que circula no Rio (edição das 21h55) já veio com a manchete ‘Supremo mantém cobrança de inativo’. Continua aquela dúvida: se os dois jornais têm distribuição compartilhada, como o ‘Estado’ consegue fechar mais tarde e, portanto, chegar mais atualizado ao Rio?


As manchetes foram muito parecidas, apenas o registro da decisão do STF. Exceção para o ‘Valor’: ‘Taxação de inativos passa no STF e anima mercados’.


Fotos de Atenas e Haiti, Olimpíada e futebol.


Manchete


Vejo um problema na escolha da manchete da Edição Nacional (‘Trabalhador consegue repor inflação’), trocada depois pela decisão do STF. Se aquele era o assunto mais importante até o fechamento da Edição Nacional, por que, ao mudar a manchete na Edição SP, o assunto vira uma chamada pequena, abaixo da dobra? Imagino que, se era tão importante a ponto de ser manchete, deveria ter sido mantido com destaque no alto do jornal, abaixo da nova manchete. Ou não era tão importante.


Aliás, a reportagem que gerou a manchete da Edição Nacional não foi sequer a matéria principal da página 12, de ‘Dinheiro’, que preferiu destacar, nas duas edições, a expansão do volume de vendas do comércio (‘Comércio bate recorde com renda maior’).


Olimpíada


O caderno está bom, bons textos, enfoques que fogem da obviedade. Mas continua avaro em informações básicas para quem quer acompanhar as modalidades. Exemplo: o vôlei feminino. O jornal só informa a classificação do grupo A, do Brasil. E o leitor fica sem saber os resultados até agora dos jogos do Brasil e dos outros concorrentes (inclusive da chave B) para fazer comparações e suas próprias projeções. São tabelas que não ocupam muito espaço e que, repito, só os jornais podem oferecer. Esta é uma diferença para as TVs.


Outro exemplo, os recordes. Ontem, na natação, foi batido o recorde mundial no revezamento 4×200 feminino. Bastava uma indicação na relação das medalhas de ouro (pág. Especial 2).


Venezuela


O ‘Globo’ conseguiu entrevista exclusiva com Hugo Chávez, o presidente vitorioso da Venezuela.


Caso Banestado


Folha, ‘Globo’ e ‘Estado’ têm acesso aos documentos da força-tarefa e enfoques parecidos: agora é a vez dos clientes dos doleiros. Os dois jornais concorrentes continuam investindo nos rescaldos das prisões e apreensões de anteontem. O ‘Estado’, por exemplo, informa que está preso no Rio o administrador das contas Beacon Hill, conta esta que, investigada nos EUA, deu origem às informações que permitiram as prisões no Brasil.


Chachapoyas


O ‘Globo’ aproveitou melhor a descoberta de ruínas de mais uma cidade perdida na Amazônia peruana: ‘Descoberta no Peru cidade do povo das nuvens’. O jornal do Rio investiu em fotos, arte e texto de apoio. Na Folha, saiu apenas um texto-legenda (‘Esquecido’, na página A 16, de ‘Ciência’), com uma foto horrível e que pouco informa. Acho que o jornal perdeu uma boa história.


FMI


Manchete de ‘Dinheiro’ na Edição Nacional: ‘Brasil já prevê tirar R$ 2 bi de aperto fiscal’. Na Edição SP, a previsão cresce: ‘Brasil já prevê tirar R$ 3 bi do aperto fiscal’. Tanto faz, são apenas projeções.


Ciência


Recebi do editor de Ciência, Claudio Ângelo, via SR, o seguinte comentário:


‘Em sua crítica interna de 13/8, o ombudsman diz que acha ‘meio despropositado’ o título da reportagem ‘Onda de calor será mais intensa em 2080’, publicada em Ciência. Modelos climáticos como o que deu origem à pesquisa relatada na reportagem são, por definição, ‘projeções’. Ainda assim, eles são a melhor ferramenta de que a ciência dispõe para investigar o futuro. Foi com base em projeções até menos precisas que a ONU criou a Convenção do Clima e o Protocolo de Kyoto, em 1992 e 1997, respectivamente. De resto, a reportagem explica os ‘senões’ do modelo adotado pelos pesquisadores americanos’.


18/08/2004


A Operação Farol da Colina e a Olimpíada são os assuntos das capas de hoje. As fotos são de Atenas: mais um bronze para o judô e a vitória no vôlei masculino. As manchetes: Folha: ‘PF prende 63 doleiros em 7 Estados’; ‘Estado’: ‘PF prende 63 em megaoperação contra o envio de US$ 20 bi para o exterior’; ‘Globo’: ‘PF prende 62 por evasão de US$ 20 bi em 8 estados’.


Olimpíada


O quadro completo de medalhas não ocupa tanto espaço e é uma informação relevante para o leitor que gosta e acompanha a Olimpíada. O quadro mostrado na TV é difícil de ser memorizado. O leitor procura no jornal, no dia seguinte, a relação completa. Só a Folha e o ‘JB’ não estão publicando o quadro completo.


O ‘Estado’ e o ‘Globo’, além do quadro de medalhas, estão com um serviço mais completo de resultados. A Folha publica apenas os resultados dos atletas brasileiros e a relação dos premiados com ouro. O ‘Estado’ traz um quadro com todos os resultados de onze esportes, incluindo tempo (no caso da natação), pontuações e placares. O ‘Globo’ não traz todos os resultados, mas edita um quadro com todos os medalhistas (e não apenas os que conseguiram ouro) e outro, com mais informações do que o da Folha, com os resultados do Brasil. Não tenho dúvida de que a página de resultados (‘Politécnico’) e da programação da Folha (Especial 2) é a mais bonita e bem resolvida visualmente. Mas o serviço está incompleto. E este serviço, insisto, é um dos trunfos que os jornais têm em relação às TVs.


A respeito das minhas observações de ontem relativas à cobertura da Olimpíada, recebi, via SR, o seguinte comentário do editor de Esporte, Melchíades Filho: ‘O ombudsman reclama espaço para a cobertura de resultados e personagens de outros países _e diz ter a sensação de que os concorrentes vêm destacando mais o noticiário extrabrasileiro. Bem, eu procurei fazer a comparação rigorosa sugerida pela crítica interna. O resultado aponta justamente o inverso. O caderno Atenas 2004, da Folha, publicou 38 abres noticiosos (não incluem páginas preenchidas totalmente com seções fixas, de infográficos/tabelões/fotos) até esta terça-feira. Desse total, 9 (23,6%) foram dedicados a atletas/times estrangeiros e 25 (65,7%) a brasileiros Em OESP, os números são 46 _6 (13%) e 31 (67,4%). No Globo, 41 _5 (12,1%) e 31 (75,6%). A Folha conseguiu entrevistas exclusivas com Michael Phelps, Martina Navratilova, Roger Federer, Cornelia Pfohl e Jennie Finch, personagens desta Olimpíada. Não vi nenhum investimento do gênero na concorrência na primeira semana. O levantamento deixa claro que a equipe de Esporte, em São Paulo e em Atenas, concorda com o ombudsman e tem a preocupação de não limitar a cobertura olímpica às fronteiras brasileiras. Uma edição como a de amanhã (hoje), quase toda verde-e-amarelo, não é nem será a marca-registrada do caderno.’


Farol da Colina


Não há nem como comparar a cobertura que a Folha traz hoje da operação Farol da Colina, em que foram presos 63 doleiros, com as de seus principais concorrentes. O ‘Estado’ e o ‘Globo’ trazem muito mais informações relevantes sobre a operação e seus antecedentes, sobre os presos e sobre a articulação da força-tarefa do que a Folha. O nosso material foi todo comprimido em quatro colunas, enquanto o ‘Globo’ dispôs de um espaço equivalente a quase quatro páginas e o ‘Estado’, de quase duas.


A Folha tem, de diferente, apenas duas retrancas: uma que sugere que o relator da CPI pretendia restringir as prisões de doleiros, e outra, curiosa, que mostra o medo que tomou conta dos moradores da zona sul do Rio. É muito pouco.


Este foi o principal assunto de ontem, manchete da Folha e de todos os jornais, e tem implicações grandes com várias outras investigações que estão em curso. Mesmo com menos espaço que os concorrentes, o jornal deveria ter dado melhor o assunto.


A Folha diz que foram 103 mandados de prisão e 147 mandados de busca e apreensão. O ‘Estado’ fala em 123 e 208. E o ‘Globo’, em 123 e 215.


Eleições


Fugiu completamente do padrão gráfico da Folha, e por isso ficou muito estranha, a página sobre a programação eleitoral na TV na Edição Nacional. As fotos arredondadas e a diagramação não lembram em nada o projeto gráfico do jornal. As reproduções de TV foram abertas além do razoável e ficaram sem qualidade gráfica. A Edição SP foi melhorada.


Venezuela


O jornal fez uma cobertura do plebiscito da Venezuela bem equilibrada, com a preocupação o tempo todo de apresentar argumentos dos dois lados que dividiram o país. É um padrão para outras coberturas difíceis e que exigem o mesmo equilíbrio.


17/08/2004


A foto do judoca Leandro Guilheiro, medalha de bronze em Atenas, está na capa de praticamente todos os jornais brasileiros, com exceção dos econômicos e de um ou outro regional.


Os jornais tiveram várias opções de manchete: o resultado do plebiscito na Venezuela, o estudo do governo sobre o Judiciário e a MP que dá ao presidente do BC foro especial. Tinham, além disso, outras notícias fortes, como o destempero do presidente, que chamou os jornalistas que defendem o Conselho Federal de Jornalismo de covardes, oferta de empregos em SP, o leilão de exploração de óleo e gás e a Olimpíada.


O ‘Estado’ alterou a sua manchete. Começou rodando com o resultado na Venezuela — ‘Chávez vence plebiscito e anuncia governo mais revolucionário’ — e trocou para o estudo sobre o Judiciário — ‘Governo diz que Judiciário é lento e que juiz ganha demais’. É lenha na fogueira.


A Folha manteve a Venezuela: ‘Chávez vence plebiscito e fica no poder’.


O ‘Globo’ e o ‘JB’ foram de BC: ‘Lula fortalece presidente do BC com status de ministro’ (‘Globo’) e ‘Meirelles ganha status de ministro’ (‘JB’).


‘Valor’ deu manchete para a pesquisa sobre emprego (‘Emprego cresce e já falta mão-de-obra qualificada’), mas destacou a pesquisa sobre a Justiça (‘Com alto custo, Justiça é bem paga e ineficiente’) e a MP do presidente do BC.


Banco Central


A Folha já tinha, desde a sua primeira edição, a informação de que o governo decidira baixar uma MP dando novo status ao presidente do BC. São as duas primeiras notas do Painel (‘Blindagem 1’ e ‘Blindagem 2’, pág. A4). Já valia uma chamada na primeira página da Edição Nacional.


Espaço


Por problema de espaço, o noticiário de Brasil de hoje ficou muito comprimido e alguns textos importantes da Edição Nacional acabaram sacrificados, como a entrevista do ministro Nelson Jobim e o posicionamento da Fenaj quanto à tramitação do CFJ no Congresso. As notícias que ganharam espaço na Edição SP (declarações de Lula chamando os jornalistas de covardes e a MP do BC) justificavam as substituições, mas o ideal era ter tido um pouco mais de espaço para acomodar o noticiário, todo ele importante.


Genoíno


O presidente do PT voltou a reclamar ontem. Segundo ele, o governo ‘é vítima de ações exageradas’ (segundo o ‘Globo’) por parte do MP e da PF, que ‘conspiram contra o governo’ (segundo o ‘Estado’). A entrevista foi editada no portal do PT. Não vi referência na Folha.


Emprego


‘Valor’ e ‘Estado’ complementaram a pesquisa sobre emprego, que todos os jornais deram bem (na Folha, capa de Dinheiro), com informações que não vi na Folha. Segundo os jornais, já há carência de mão-de-obra qualificada na indústria automobilística e da metalurgia. Não chega a ser uma total contradição, mas é diferente do que a Folha informa quando reproduz a avaliação de ‘especialistas’ que dizem que a qualidade das vagas criadas é baixa. Pode ser uma boa pauta.


Justiça


A capa de Cotidiano (‘Sobrecarga leva lentidão a Juizado Especial’) ilustra, com personagens e casos concretos, o estudo sobre o Judiciário divulgado ontem pelo governo e editado em Brasil. De alguma forma estas duas reportagens deveriam estar conectadas, ou com uma chamada na primeira página ou com uma remissão. Elas se complementam, e é uma pena que o jornal não tenha feito uma associação.


Samba


> É ‘Quitandeiro’, como está no texto, e não ‘Quitandeira’, como está na legenda, a música do Monarco (‘Bar Pirajá promove roda de samba no Tom Brasil’, E4 de Ilustrada).


Olimpíada


Acho que o caderno ‘Atenas 2004’ está bom, bem editado. Mas, na minha opinião, está faltando mais espaço para a cobertura dos resultados e personagens dos outros países. É claro que o foco principal é o desempenho do Brasil, mas para quem gosta de esportes o que vale é uma cobertura sobre o que há de melhor, independentemente da origem dos atletas. Estou com a sensação de que os cadernos do ‘Globo’ e do ‘Estado’ estão mais completos. Mas é apenas sensação, porque não fiz uma comparação rigorosa."