Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Crítica interna




’13/06/2005


A Folha obteve nova entrevista exclusiva com o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson, e esta é a sua manchete de DOMINGO: ‘Dinheiro do ‘mensalão’ vinha de estatais e empresas, diz Jefferson’. Como em outros episódios de crise política, o jornal publicou um editorial na primeira página, ‘Sem mágica’, o que imprimiu mais gravidade ao momento. Os dois concorrentes diretos não têm informações novas, mas mantém a crise em destaque:


‘Estado’ – ‘No Planalto, uma guerra para usar ‘MP do Bem’ contra crise’.


‘Globo’ – ‘Cargos no governo viram ‘fabriquinhas’ de dinheiro’.


Folha e ‘Estado’ informavam ontem que o ministro José Dirceu poderia deixar o governo. HOJE, a Folha tem outra informação (‘Dirceu deve ficar no cargo’, pág. A4 da Edição SP), mas o ‘Estado’ sustenta a possibilidade da saída: ‘Contra crise, Lula prepara mudanças. Dirceu deve sair’. O ‘Globo’ vai na mesma linha: ‘Lula já discute saída de José Dirceu do governo’. A Folha repercute a entrevista de Roberto Jefferson: ‘Governo tenta desqualificar acusações’. A defesa do governo ainda não está destacada como deveria, mas pelo menos aparece na primeira página, na linha fina da manchete: ‘Planalto e petistas negam irregularidades e acusam Roberto Jefferson de ser ‘desequilibrado’ e de fazer denúncias sem ter provas’.


E o ‘JB’ adiciona um novo front: ‘Transposição do rio São Francisco – Uma obra sob suspeita’. Segundo o jornal, mais uma denúncia de Roberto Jefferson.


As revistas semanais:


‘Veja’ – Com foto de Delúbio Soares, ‘Quem mais? – Com uma CPI instalada e outra a caminho, a pergunta agora é qual será o rosto do próximo escândalo’. Volta a tratar do ‘mensalão’ na gestão Marta Suplicy.


‘Época’ – ‘Os piores dias de Lula’. Informa que o presidente admite desistir da reeleição e que José Dirceu já fala em deixar o governo e voltar ao Congresso. A revista tem ainda, no seu suplemento ‘Negócios’, entrevista exclusiva e importante com Flávio Calazans, que trabalhou para o Banco Santos nos meses que antecederam a intervenção do BC.


‘IstoÉ’ – ‘A esperança encurralada’. A revista tem pesquisa Ibope sobre sucessão presidencial que mostra o ‘jogo embolado’.


‘Carta Capital’ – O que de fato está por trás da história do mensalão’.


Escândalo do ‘mensalão’


A Folha teve a grande notícia do DOMINGO, a nova entrevista exclusiva do deputado Roberto Jefferson fazendo mais acusações contra o PT, apontando novos nomes do suposto esquema do ‘mensalão’ e avisando que não tem provas, mas tem seu testemunho. Foi a manchete do jornal e repercutiu imediatamente nos outros meios. Ponto para a Folha. Dito isso, vamos aos problemas.


O ‘Estado’ foi mais ágil e mais cuidadoso do que a Folha no sábado e conseguiu ouvir o ministro José Dirceu ainda no almoço, num restaurante nos Jardins. Com isso, a edição que chegou ao Rio no domingo já juntava o resumo da entrevista dada por Roberto Jefferson à Folha com a resposta do ministro: ‘Mensalão vinha na mala, conta Jefferson. Tudo mentira, diz Dirceu’.


É indispensável que o jornal se esforce o máximo para ouvir as pessoas acusadas. Ainda mais nesta circunstância, em que as acusações de Roberto Jefferson não vêm, até agora, seguidas de provas.


O ministro José Dirceu só foi ouvido pelo jornal, aparentemente, na noite de sábado. Apenas na Edição SP fechada à noite [não sei a que horas; o jornal deveria registrar os horários de fechamento das edições de domingo como faz durante a semana] aparecem as defesas de José Dirceu e José Genoino. Se o jornal tivesse ouvido Dirceu no restaurante, como fez o ‘Estado’, os leitores do interior de São Paulo e do resto do país já teriam recebido seus jornais com a defesa do ministro.


A edição do ‘Estado’ que chegou ao Rio já trazia o ministro na primeira página: ‘Dirceu nega nova denúncia feita por Jefferson’. A Folha inclui as declarações de Dirceu no último parágrafo do texto da manchete do jornal, mas apenas na última Edição SP. Mesmo aí, acho que o jornal falha ao não realçar a defesa com um título próprio.


O resumo das defesas dos petistas e do líder do PP, José Janene, deveria ter constado do lidão que abre o noticiário, na pág. A4. Com o volume de anúncios, as contestações dos acusados por Jefferson foram parar na pág. A16. Não faz sentido se o jornal quer zelar pela imparcialidade.


O ‘Estado’ também foi mais ágil na cobertura das ações da Polícia Federal. Os policiais confiscaram computadores num escritório de Brasília na manhã de sábado e o jornal deu destaque na sua edição de Domingo: ‘PF apreende documentos em empresa’. O ‘Globo’ também acompanhou a operação e publicou reportagem (‘PF vasculha empresa suspeita de fazer gravação’) com foto.


Outro exemplo de agilidade do concorrente: o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho, flagrado, na fita que desencadeou toda a crise do governo, recebendo propina e entregando o nome de Roberto Jefferson, deu entrevistas no sábado. O ‘Estado’ não perdeu tempo e publicou a sua no domingo (‘Fui pego e pensei em me matar’); a Folha deixou para a edição de hoje (‘Genro de Jefferson fazia negociações nos Correios, diz Marinho’).


Publicidade


É impossível o leitor saber se o texto dentro do anúncio das páginas A14 e A15 de DOMINGO da Edição São Paulo é uma reportagem nova ou um texto antigo reproduzido para fazer parte do anúncio. A Edição Nacional que recebi traz o espaço interno da peça publicitária em branco, sem texto.


Tal como saiu na Edição SP é um absurdo total: não há fio, não há qualquer indicação de que se trata de reportagem nova. É compreensível que o jornal tente inovações nos modelos de anúncios que oferece a seus clientes, mas a ‘criatividade’ tem limite. E o limite é o leitor: quando um anúncio atrapalha a leitura, perdemos todos, o leitor, o anunciante e, principalmente, o jornal, que perde credibilidade porque parece que quer vender qualquer espaço a qualquer preço.


Diplomacia


O ‘Estado’ retoma um dos assuntos importantes da semana e faz, no DOMINGO, um grande investimento em diplomacia: ‘Manobra aproxima Brasil de vaga no Conselho de Segurança da ONU’ e ‘Para recuperar poder, Amorim muda Itamaraty’. Interessante porque, diferentemente das análises que saíram ao longo da semana, a reportagem avalia que, ao abrir mão do direito de veto, os quatro países (Brasil, Índia, Japão e Alemanha) que lutam por assento permanente no Conselho de Segurança da ONU se fortaleceram em suas reivindicações e calculam que já têm os votos necessários.


Evento Folha


Há um excesso, na edição de DOMINGO, de coberturas de eventos promovidos pela Folha:


na página A24 a discussão é sobre o Conselho Nacional de Justiça (‘CNJ deve diagnosticar deficiências da Justiça’); na A27, sobre a reforma agrária (‘Em debate, líder do MST acusa Lula de repetir FHC’); e na C4, sobre segurança pública (‘Ação focalizada reduz homicídios em SP’).


São todos temas interessantes, pertinentes e atuais. Mas faz parecer que o jornal gira em torno de seus próprios eventos. Além disso, banaliza o recurso.


Fidelidade conquistada


Os jornais, como a Folha, também têm serviços de assinatura. E os jornais, como a Folha, também têm problemas com seus serviços. Não era o caso, portanto, de tê-los incluído na reportagem de capa do caderno Dinheiro (‘Empresas dão ‘prêmios’ e retêm clientes’) que trata de estratégias de fidelidade e problemas quando o consumidor quer cancelar um serviço?


Uma reclamação freqüente de leitores é esta: os jornais lançam luzes em vários setores e problemas da economia, mas se expõem muito pouco ou quase nada. O serviço de assinaturas da Folha é mais moderno ou funciona melhor do que os serviços de emissoras de cartões de crédito, de operadoras de telefonia celular ou das TVs por assinatura? Ela também não tem sua estratégia para obter a fidelidade dos leitores? Ou isso não é assunto para jornal?


Futebol


– O jornal informa, na pág. D5, que o jogador Adriano será reintegrado à seleção brasileira na quinta-feira, depois do segundo jogo da final do campeonato italiano (‘Adriano marca duas vezes na vitória da Inter’). Mas na página D8 informa que sua apresentação na seleção está marcada para hoje (‘Quarteto fica, laterais farão revezamento’).




10/06/2005


Folha e ‘Globo’ destacaram a crise política nas suas capas com foco na CPI dos Correios : ‘Disputa por controle paralisa CPI’ (Folha) e ‘CPI é instalada e impasse já adia seu funcionamento’ (‘Globo’).


O ‘Estado’ deu mais importância para a ação da Polícia Federal e destacou uma informação, a de que a agência de inteligência (Abin) será investigada, que não vi na Folha: ‘PF prende 4 do caso Correios e vai investigar a Abin’.


O ‘Estado’ tem outra informação muito importante na sua capa que também não encontrei na Folha: ‘Já é certo: Meirelles sai e Portugal será o substituto’.


Os dois jornais de São Paulo dão ênfases diferentes ao noticiário sobre o gás da Bolívia. Na Folha, ‘Falta de gás pode afetar o Brasil’; no ‘Estado’, ‘Petrobrás já corta gás para refinarias’.


O discurso de Lula


O presidente Lula pediu ontem, no Rio, mais ousadia da Petrobrás e fez uma referência ao jogo de quarta-feira em que o Brasil perdeu de 3 a 1 para a Argentina: ‘…a gente precisa sair um pouco para o ataque e ir mais veloz para a frente, porque nós não podemos fazer o que o Brasil fez ontem contra a Argentina’. Lula disse que nunca sofreu tanto como naquela noite. Segundo a reprodução do discurso no site oficial da Presidência da República, o presidente afirmou o seguinte:


‘Eu confesso a vocês que quase que eu não venho aqui, de sofrimento. Foram os 45 minutos. Olha, eu estou com 60 anos de idade, vou fazer em outubro, gosto de futebol desde os sete anos, quando cheguei a São Paulo. Eu nunca sofri tanto na vida como os 45 minutos de ontem’.


A frase do presidente e sua interpretação variaram de jornal para jornal.


Na Folha, na reportagem ‘Lula não fala da crise, mas ataca tucanos’ (pág. A14 da Edição Nacional; na Ed. SP o texto foi reduzido e migrou para a pág. A7) a frase ficou assim: ‘Confesso a vocês que quase não venho aqui, de sofrimento [em razão do segundo tempo do jogo de anteontem entre Brasil e Argentina]. Foram os 45 minutos [mais difíceis da minha vida]’. Ou seja, a frase ficou confusa e foi interpretada como uma referência ao segundo tempo do jogo, quando o Brasil reagiu, mas não conseguiu impedir a derrota.


Segundo o ‘Valor’, o presidente teria afirmado: ‘Só não podemos fazer o que o Brasil fez ontem contra a Argentina. Confesso a vocês que quase não venho aqui de sofrimento. Nunca sofri tanto na vida como nos 45 minutos de ontem, nunca’. E o jornal acrescenta: ‘disse Lula, referindo-se ao primeiro tempo do jogo entre os dois países no qual o time argentino fez 3 a 0’.


O ‘Estado’ reproduziu o trecho final: ‘Tenho quase 60 anos de idade e gosto de futebol desde os 7. Nunca sofri tanto quanto naqueles 45 minutos do jogo’. Segundo o jornal, o presidente se referia ao primeiro tempo da partida.


O ‘Globo’ não tenta deduzir a que tempo do jogo o presidente se referiu quando falou nos 45 minutos de sofrimento, mas reproduz a frase com erro: ‘Meus caros diretores da Petrobrás, não podemos fazer o que o Brasil fez com os argentinos. Quase que não vinha aqui hoje de tanto sofrimento. Gosto de futebol desde os 9 anos, vou fazer 60 anos, e nunca sofri tanto na vida como nos 45 minutos de ontem’.


Dois problemas:


1 – Um discurso e quatro reproduções diferentes. Por que a Folha não reproduziu o texto oficial?


2 – O presidente não fala em primeiro ou segundo tempo do jogo. Portanto, o que os jornais Folha, ‘Estado’ e ‘Valor’ fizeram foi um jogo de adivinhação.


O caso mostra bem como estamos longe de coberturas precisas.


Ainda o ‘off the record’


A cobertura da crise do governo exige o acompanhamento de bastidores e nem sempre o jornal tem condições de identificar as suas fontes de informações. Essa situação exige um cuidado redobrado. Principalmente com a reprodução de frases que não foram ouvidas pelos repórteres.


O ‘Manual de Redação’ recomenda, no verbete ‘Declaração textual’ (página 39), que ‘só podem ser reproduzidas entre aspas frases que tenham sido efetivamente ouvidas pelo jornalista, ao vivo ou em gravações’.


Faço essa observação por conta de vários relatos de bastidores que têm saído com aspas passadas para o jornal por fontes não identificadas.


É o caso, hoje, da reportagem ‘Crise estremece relações entre o PT e Lula’ (pág. A6). O texto demonstra, pela abundância de detalhes, que a repórter obteve informações confiáveis sobre o que ocorre neste momento entre o partido e o governo. Mas é difícil acreditar que o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, tenha dito exatamente as frases que o jornal reproduz sem tê-lo ouvido [pelo menos é o que a reportagem dá a entender, que ele não quis falar].


Não é necessária a reprodução literal de uma frase que não foi ouvida para que a reportagem seja considerada confiável. O texto da chamada da primeira página, ‘Cúpula do PT está irritada com reação do Planalto’, demonstra que as aspas, em casos como este, são dispensáveis. O que importa são as informações.


Queixa-crime


A reportagem da Folha ‘PFL apresenta notícia-crime contra Delúbio e pede proteção a Jefferson’ (pág. A8 da Ed. SP e A6 na Ed. Nacional) não esclarece que crime o partido quer que a PF investigue. O ‘Estado’ explica: ‘corrupção ativa’.


Gás


Segundo a Folha, ‘Petrobrás descarta racionamento de gás’ (capa de Dinheiro). Segundo o ‘Estado’, ‘Governo inicia racionamento de gás’ (capa de Economia).


A Folha quis evitar o alarmismo, mas o verbo ‘descartar’ usado na manchete do caderno talvez tenha sido impróprio. Segundo a linha fina que precede o título, ‘Estatal diz, porém, que abastecimento pode ser prejudicado se situação na Bolívia persistir por mais seis ou sete dias’. Ou seja, mesmo que não chame de racionamento as medidas tomadas ontem pela Petrobrás (e interpretadas como tal pelo ‘Estado’), a Folha deveria ter feito um alerta explícito de que o racionamento pode vir a ocorrer.


O noticiário da capa de Mundo (‘Chefe da Corte Suprema assume na Bolívia’ e ‘Gás norteia missão brasileira no país’) deveria conter uma remissão para a cobertura da conseqüência da crise do gás no Brasil, que está concentrada em Dinheiro.


Uma das duas está errada.




09/06/2005


A manchete da Folha não traz novidade, é apenas um registro de agenda:


‘Senado define nomes e CPI começa hoje’. Os outros títulos da crise apenas registram a reação do PT: ‘Delúbio diz que PT é vítima de chantagem’, ‘Pagamos o preço de buscar apoio, afirma Dirceu’ e ‘Lula dá 45 dias para projeto de reforma política’. Pelo menos dois títulos internos eram relevantes e poderiam estar na primeira página do jornal: ‘PT racha, contraria Lula e decide preservar Delúbio’ (pág. A5 de Brasil) e ‘Dirceu ataca política econômica de Palocci’ (A10). Os concorrentes diretos estão mais ‘quentes’: ‘Estado’ – ‘Senado já tem assinaturas para a CPI do Mensalão’ (edição das 20h55) e ‘CPI começa hoje sob ameaças de Jefferson’ (edição de 0h25). Outra chamada: ‘Delúbio: respostas incompletas’. ‘Globo’ – ‘Com aval do PT, Delúbio diz que governo é chantageado’. Outras chamadas: ‘PTB muda e diz que Jefferson tem provas’, ‘Genoíno: as más companhias são problema de Lula’ e ‘45 dias para reforma política’. O ‘JB’ foi o mais explícito na crítica às ações do governo federal para debelar a crise: ‘PT livra a própria carne e Lula corta a dos aliados’.


A chamada da Folha para a crise na Bolívia (‘Grupos param campos de petróleo na Bolívia’) deveria ter dado mais destaque para a informação de que pode haver racionamento de gás no Brasil. É esta a conseqüência que mais interessa imediatamente aos brasileiros, principalmente aos paulistas.


Escândalo do ‘mensalão’


A cobertura da Folha está centrada quase que exclusivamente na política (partidos, Presidência da República e Congresso). O jornal parece ter desistido de procurar por conta própria informações sobre as denúncias de mesadas e sobre os escândalos nos Correios e no IRB. Pelo menos a edição de hoje não traz investigações jornalísticas sobre os escândalos propriamente ditos. É como se o jornal estivesse esperando as investigações da CPI para começar a informar. Mesmo o trabalho da Polícia Federal, revelado inicialmente pelo jornal, foi esquecido na edição de hoje.


A Folha errou ao não publicar a entrevista do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, em formato de pingue-pongue, como fez o ‘Estado’. O relato resumido (‘Delúbio nega compra de deputados e vê chantagem’, pág. A4) perde a literalidade e a tensão da entrevista.


O jornal não esclarece o que vem acontecendo no interior do PTB, que inicialmente repudiou a entrevista de seu presidente, Roberto Jefferson, à Folha, depois tentou convencê-lo a renunciar, agora o apóia completamente e deixa a base do governo. As reportagens da Edição Nacional ‘PTB diz que vai entregar cargos e apoiar Jefferson’ (pág. A7) e ‘Olívio agrava crise com PTB, que deixa a base’ (pág. A6) não contextualizam os movimentos internos do partido e sumiram da Edição SP. Será que o PTB deixou realmente a base de apoio ao governo por conta das declarações de Olívio Dutra? Difícil de acreditar. Faltam bastidores. Não fica claro também a posição do petebista Fernando Bezerra: ele continua líder do governo mesmo com a saída do PTB da base aliada?


O ‘Estado’ tem reportagem sobre a influência de Jefferson em sua base eleitoral, Petrópolis.


Uso do off


Não está de acordo com o ‘Manual de Redação’ a fórmula encontrada pela coluna ‘Mercado Aberto’ para informar o que querem os empresários a respeito do ministério Lula. O texto principal da coluna, ‘CNI defende reforma ministerial’ (pág. B2), abre com uma entrevista em que o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, defende uma reforma ministerial o quanto antes para ‘reduzir as áreas de atrito e mexer principalmente naqueles setores que não funcionam bem’. O texto ressalta, no entanto, que Monteiro Neto não quis citar nomes. Mas no último parágrafo, a coluna se refere a ‘conversas reservadas entre empresários’ e revela que uma ‘maioria’ acha fundamental mudanças drásticas no ministério e ‘uma boa parte do empresariado’ acha que Lula deveria trocar José Dirceu por Marcio Thomaz Bastos e tirar Henrique Meirelles e Romero Jucá. A fórmula tem dois problemas:


1 – É possível supor que a fonte seja o próprio presidente da CNI, que ouve diariamente os empresários e falou com o repórter;


2 – Qualquer que tenha sido a fonte, ou as fontes, o jornal não tem como dizer, baseado em ‘conversas reservadas’, que a maioria ou a maior parte de qualquer segmento ache isso ou aquilo. Conversas reservadas não são pesquisas. [‘Manual’, págs. 38, 46 e 90]




07/06/2005


O assunto principal dos grandes diários, com exceção dos jornais de banca, é a crise política que se agravou desde ontem com a entrevista que o deputado Roberto Jefferson deu para a Folha. O outro tema é a prisão do filho do Pelé.


A Folha reserva quase dois terços de sua primeira página à crise do governo petista. Para o jornal, o fato mais importante de ontem foi a confirmação de que Lula já tinha tomado conhecimento, em março, da denúncia do deputado Roberto Jefferson. O assunto ganhou chapéu na capa (‘Escândalo do ‘mensalão’), indicação do destaque que o jornal pretende imprimir para os desdobramentos da crise. A manchete e as chamadas principais:


‘Lula confirma que recebeu denúncia’, ‘Perillo e Maia dizem saber de mesada’, ‘Para aliados, CPI é fato consumado’ e ‘Bolsa cai, dólar e risco-país sobem’. O jornal destaca ainda as principais frases de ontem e, na Edição São Paulo, publica a foto do ‘pivô da nova crise’, Delúbio Soares, o tesoureiro do PT, quando deixava o diretório do partido, à noite.


O ‘Estado’ muda a manchete. Começa a rodar a sua edição das 21h55 com destaque para a entrevista do governador de Goiás, Marconi Perillo (‘Governador: PT dava mesada e bônus’) e troca, na sua edição de 0h30, para uma formulação mais abrangente: ‘Denúncia aprofunda crise do governo’. O espaço que destina na sua capa é pequeno, se comparado com a Folha e o ‘Globo’.


O jornal do Rio traz uma foto aberta de Lula sorridente com Ronaldinho e o chapéu ‘Rindo de quê?’. A crise ocupa quase a totalidade de sua primeira página. Manchete: ‘Denúncias de compra de votos levam governo Lula à pior crise’.


Outras manchetes:


‘JB’ – ‘JB denuncia [referência à manchete que publicou em 24/10/04, ‘Planalto paga mesada a deputados’] – Presidente do PTB reforça – E AGORA, LULA?’.


‘Valor’ – ‘Mercados caem com denúncias que atingem PT’.


‘Gazeta Mercantil’ – ‘Crise política perturba o mercado financeiro’.


‘Correio Braziliense’ – ‘A República do mensalão’.


‘Estado de Minas’ – ‘Mesada dos deputados – Governo empurra crise para o Congresso’.


‘Jornal do Commercio’ (Recife) – ‘PT sob suspeita’.


‘Zero Hora’ – ‘Denúncia de suborno a deputados mergulha governo Lula na crise’.


Os jornais de banca:


‘Agora’ – ‘Filho de Pelé é preso por associação com o tráfico’.


‘Diário de S. Paulo’ – ‘Filho de Pelé preso por associação com tráfico’.


‘O Dia’ – ‘Preso o filho de Pelé’.


‘Extra’ – ‘Filho de Pelé é preso por tráfico de drogas’. O jornal do Rio é o único que publica uma explicação de Pelé na primeira página: ‘Tudo não passa de um engano’.


‘Painel do Leitor’


A Folha publicou ontem ampla reportagem sobre o estouro do orçamento das obras do governo de São Paulo no rio Tietê. Foi a capa de Cotidiano, ‘Contrato para obra do Tietê sobe 148%’. Hoje, o jornal publica uma imensa carta de um secretário de Comunicação que ocupa uma coluna inteira do ‘Painel do Leitor’ para acrescentar mais informações à reportagem. Na minha opinião, este é um caso típico de mau uso do ‘Painel’. As explicações da secretaria são informações e, como tal, deveriam ser tratadas no caderno Cotidiano, em reportagem que desse seqüência ao material de ontem.


‘Mensalão’


Os três grandes jornais têm coberturas praticamente do mesmo tamanho e bem parecidas. A Folha tem dez páginas de noticiário (sob o chapéu ‘Escândalo do ‘mensalão’), o ‘Estado’ tem nove (‘Crise no governo Lula’) e o ‘Globo’, onze (‘O troco da mesada’). Esta conta não inclui os artigos de opinião, editoriais e repercussão na economia.


No geral, todas as notícias de hoje na Folha (e dos outros jornais) já eram total ou parcialmente conhecidas desde ontem através da cobertura das TVs, rádios e Internet. Há uma exceção, a primeira nota do Painel (‘No rastro’, pág. A4): é nova, e importantíssima, a informação de que a Polícia Federal já mapeou o esquema das mesadas e que já chegou aos parlamentares e partidos que as recebiam.


Esta informação, no entanto, não é confirmada pelo ministro Márcio Thomaz Bastos que, na pág. A5 (‘Estratégia de defesa foi discutida no AeroLula’), diz que a PF não poderia investigar a acusação de Jefferson porque a iniciativa cabe ao procurador-geral da República. Fica, então, a dúvida: a PF está investigando ou não?


O jornal deveria ter apostado mais na informação do Painel.


Notícia do ‘Estado’ que não vi na Folha: ‘PF indicia ex-assessor dos Correios’. Fernando Leite Godoy foi indiciado ontem nos crimes de corrupção passiva e fraude em licitações.


Ainda segundo o ‘Estado’, ‘Nomeações políticas abrem crise na Petrobrás’.


A apuração da Folha tem o mérito de ter se estendido até tarde, o que possibilitou a foto exclusiva (pelo menos não vi nos concorrentes diretos) do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, saindo do partido (primeira página da Ed. SP) e as declarações do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, no final da noite (‘Imprensa faz ‘manchetismo’, diz Fonteles’, pág. A13 da Ed. SP).


Esporte


A Folha tem reportagem sobre os elogios que os argentinos fizeram aos jogadores da seleção brasileira de futebol (‘Argentina diz que Brasil é ‘Dream Team’, pág. D4). O texto informa que Maradona também elogiou os jogadores brasileiros, mas não tem a informação mais importante de que ele visitou a concentração da seleção e posou com vários jogadores. Os outros jornais têm o registro e fotos.


Qual é o time?


‘Panorâmica’ no Esporte de hoje:


FUTEBOL – Giovanni surpreende e pode estrear


‘O meia contratado ao Olympiakos, da Grécia, pode voltar a atuar pelo clube já neste domingo, contra o Fluminense. O técnico Gallo se surpreendeu com o preparo físico do jogador e pode até inscrevê-lo na Libertadores no dia 13, para a partida de volta contra o Atlético-PR, pelas quartas-de-final da Libertadores.


A outra provável mudança no time é a volta de Mauro ao gol, substituindo o criticado Henao’.


Aviso


Participo amanhã, em Brasília, do IV Fórum Global de Combate à Corrupção. Por esta razão não será feita a Crítica Interna.’