Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Crítica interna


’20/06/2005


Folha e ‘Estado’ saíram no DOMINGO com o resultado da reunião do diretório nacional do PT que ocorreu no sábado.


Folha – ‘Dirceu evita expurgo na cúpula do PT’.


‘Estado’ – ‘PT racha, mas cúpula não afasta Delúbio’.


O ‘Globo’ entrevistou o tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, e obteve dele a confirmação de que o partido recebeu os R$ 4 milhões já revelados por Roberto Jefferson e a informação de que o dinheiro foi trancado no cofre do partido: ‘Jefferson ficou com a chave do cofre do PTB com R$ 4 milhões’. Em relação às investigações das denúncias de corrupção, foi a única informação nova relevante. Confirmada por Jefferson, ela está hoje, SEGUNDA, na capa da Folha: ‘Jefferson diz que guardou R$ 4 milhões e desafia PT’.


As revistas giram em torno da crise do governo. Apenas ‘Época’ dá mais importância a novas revelações sobre as acusações de corrupção do que às conseqüências políticas da crise. As capas:


‘Veja’ – Ilustra com um busto de Lula que começa a rachar: ‘Tem conserto? – Com a demissão de José Dirceu, Lula tenta salvar o governo e sua biografia’.


‘IstoÉ’ – Coloca Dirceu com luvas de boxe: ‘Agora é guerra – José Dirceu volta ao Congresso para liderar tropa de choque governista’. Ainda segundo a revista, ‘Documentos apontam: deputado Janene enriqueceu com mensalão’ e ‘Envolvidos confirmam as declarações da secretária de marcos Valério a ‘IstoÉ Dinheiro’.


‘Carta Capital’ – Foto de Dirceu com semblante que aparenta preocupação: ‘Basta isso? – Lula abre mão do velho companheiro Dirceu, mas o establishment não vai se contentar’.


‘Época’ – ‘O homem da mala – A rica e misteriosa trajetória do braço direito do deputado José Janene (PP), apontado como peça-chave do mensalão’. O braço direito é o chefe de gabinete do líder do PP, João Cláudio Genu, que tem foto 3×4 na capa da revista.


As capas das edições de SEGUNDA dos jornais tentam antecipar a agenda da semana.


Folha – ‘Dirceu vai depor a portas fechadas’.


‘Estado’ – ‘Lula quer dar mais espaço para o PMDB’.


‘Globo’ – ‘Sob pressão, Lula fará a reforma em duas etapas’.


Escândalo do ‘Mensalão’


A revista ‘Época’ relata um esquema de ‘mensalão’ para os deputados do PP que, segundo a revista, não passa pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, como Jefferson vem acusando. A grana, de qualquer forma, viria das empresas estatais onde o PP conseguiu nomear seus indicados. A revista tem um detalhado levantamento dos bens do chefe de gabinete da liderança do PP, João Cláudio Carvalho Genu, apontado como o responsável pela distribuição do dinheiro entre os deputados do partido. A reportagem pareceu consistente, embora a revelação do esquema esteja toda baseada em fontes não identificadas.


A edição de DOMINGO da Folha tem dois problemas graves, na minha opinião.


O primeiro, é a reportagem sobre o publicitário Marcos Valério (‘Valério amplia contratos no governo Lula’, pág. A8).


Não há dúvida de que este publicitário tem relações estreitas com o governo petista. As acusações que pesam contra ele justificam o trabalho de apuração que o jornal vem empreendendo. O resultado deste trabalho, publicado ontem, tem, no entanto, um defeito: não ouve as agências de publicidade citadas como beneficiadas por contratos durante o governo Lula. A reportagem informa apenas que o publicitário não quis falar sobre outra empresa, a Estratégia Marketing, e tem uma entrevista com o ex-presidente da Câmara, João Paulo.


Os dados levantados pelo jornal sobre a evolução dos valores dos contratos das duas agências nos últimos anos e sobre as condições de como foram obtidos no governo Lula parecem consistentes, mas tinham de ser confrontados com as informações das agências.


O outro problema, este de apuração, está na página A20, no texto ‘O silêncio dos inocentes’. A pauta até que é boa: como os intelectuais do PT estão se sentindo e se manifestando nesta hora de crise? Por que estão calados? O texto sem assinatura, no entanto, é uma ‘pensata’ sem apuração.


Não é possível que o jornal não tenha tido condições de procurar os intelectuais do PT para ouvi-los. É o tipo de reportagem que não exige pressa. Se não saísse neste domingo poderia sair no próximo sem qualquer prejuízo. Dos 23 intelectuais que a Folha lembra que estiveram com Lula em junho de 2003, o jornal só procurou dois, Aziz Ab’Saber e Olgária Matos. E os outros 21, por que não foram procurados? Os três intelectuais ouvidos (Francisco Weffort, Chico de Oliveira e César Benjamim) são todos ex-petistas, já deixaram o partido há muito tempo.


Como reportagem, a pauta é melhor do que o texto. Como ‘pensata’, deveria ter sido ser assinada, não?


Na edição de hoje, o ‘Estado’ reproduz entrevista dada pelo deputado Osmar Serraglio, relator da CPI dos Correios escolhido pelo Planalto , à TV Tarobá, de Cascavel (PR). Título do jornal: ‘Para relator da CPI dos Correios, Lula pode acabar como Collor’. Segundo Serraglio, ‘vamos ver acontecer o que aconteceu com Collor’, uma referência, segundo o jornal, ao impeachment. A entrevista é importante e não vi na Folha.


Aliás, o ‘Estado’ já havia entrevistado o deputado Serraglio na sua edição de ontem.


‘Painel do Leitor’


É curioso que a Folha e o ‘Estado’ abram suas seções de DOMINGO destinadas aos leitores com a mesma mensagem do leitor Antonio Negrão de Sá, do Rio, em defesa do governo Lula no caso do ‘mensalão’.


DOMINGO


E o jornal enviou, enfim, um jornalista ao Haiti para ver de perto o que está ocorrendo com o país e, espero, avaliar o desempenho e a eficácia da missão militar brasileira (‘Obra antitragédia atrasa no norte do Haiti’, pág. A26).


A Folha conseguiu um bom material para dar continuidade ao noticiário a respeito da Operação Curupira levada pela Polícia Federal semana passada contra crimes ambientais em Mato Grosso, Pará e Rondônia. A reportagem ‘Agronegócios e corrupção devastam MT’, que começa na capa de Dinheiro e segue nas páginas B4, B5 e B6, dá um quadro impressionante do que está acontecendo em Mato Grosso.


Antes tarde do que nunca: o jornal trouxe, enfim, um bom serviço sobre as mudanças anunciadas pelo governo na ‘MP do Bem’ em relação à venda de imóveis.


17/06/2005


A Folha tem duas manchetes fortes, a queda do ministro da Casa Civil – ‘Mensalão’ derruba José Dirceu’ – e nova pesquisa Datafolha. A segunda manchete da Edição Nacional, ‘Lula vence em 2º turno, diz Datafolha’, é melhor do que a trocada para a Edição SP, ‘Nova denúncia não piora avaliação de Lula’. A informação de que Lula vence todos os adversários no segundo turno, apesar do tamanho da crise que enfrenta, é mais importante do que a não-notícia de que sua avaliação continua a mesma. O pano de fundo da crise é a sucessão presidencial, mais uma razão para que o jornal não trocasse a primeira manchete. Tanto o resultado da pesquisa eleitoral é mais importante do que a avaliação do governo que, internamente, a manchete da página A12 é ‘Lula seria reeleito hoje, apesar da crise’, e não ‘Denúncia de Jefferson não altera avaliação da gestão Lula’.


Por fim: sob o ponto de vista editorial, a primeira capa é mais equilibrada do que a segunda.


O ‘Estado’ também muda a sua manchete principal – troca ‘Cai o superministro Dirceu’ por ‘Dirceu cai antes da reforma’ – e tem uma informação exclusiva: ‘PPS recebeu oferta de R$ 4 milhões para apoiar Marta’.


Manchete do ‘Globo’: ‘Dirceu cai após denúncias e vai se defender na ‘planície’. O jornal do Rio tem um ‘cineminha’ na primeira página que mostra o deputado Roberto Jefferson vibrando quando recebe a informação da queda do ministro.


Os jornais econômicos foram discretos e saíram com formulações parecidas: ‘Dirceu sai e começa a reforma ministerial’ (‘Valor’) e ‘A saída de Dirceu inicia a reforma ministerial’ (‘Gazeta Mercantil’).


‘Painel do Leitor’


Se estiverem certos os assessores de imprensa do prefeito José Serra e do governo do Estado do Paraná nas cartas publicadas hoje no ‘Painel do Leitor’ (‘Prefeitura’ e ‘Paraná’), o jornal errou nos dois casos. Muitas vezes o jornal não responde às cartas de assessores por considerar que o que está em jogo é uma questão de opinião e os assessores (e leitores em geral) têm o direito de refletir opiniões diferentes da do jornal. Acho correto. Mas os dois casos em foco tratam de informações, e não de opinião.


O primeiro não justifica uma correção na seção ‘Erramos’, mas sim uma continuação da cobertura do assunto (o projeto de passe livre no transporte público para desempregados) com uma melhor apuração das questões, aparentemente pertinentes, levantadas pela Prefeitura.


O segundo caso (o ‘mensalão’ do Paraná) é mais grave porque inverte o sujeito da ação e exigiria uma correção do jornal. A publicação da carta não basta.


Isso, evidentemente, se os dois assessores estão certos. Se estiverem errados, a Folha deveria ter se manifestado. Como não o fez, entendo que ela não aprofundou o assunto no primeiro caso, e ainda está em tempo de fazê-lo, e errou no segundo, e precisa corrigir.


Serviço/Dinheiro


O jornal tem dificuldades de tratar a economia sob o ponto de vista de serviço. Isso fica mais uma vez claro no jornal de hoje.


O governo divulgou anteontem a chamada ‘MP do Bem’, um pacote de medidas para dar mais gás à economia. A maior parte delas interessa às empresas, mas algumas poucas interessam diretamente às pessoas físicas, às classes médias leitoras de jornais: são as relativas à compra e venda de imóveis.


O governo baixou várias medidas para estimular o mercado imobiliário. Mexeu, por exemplo, nos percentuais de impostos para a venda.


A edição de ontem trouxe uma grande tabela com as principais medidas do governo, mas, suponho, não teve tempo de esmiuçar as que interessam imediatamente aos leitores. Esperava que a edição de hoje viesse com os detalhes que não tivemos ontem, com exemplos concretos, com orientação para os leitores que estão pensando em vender seus imóveis, enfim, com serviço.


O jornal ignorou completamente o assunto.


O que temos no caderno Dinheiro de hoje? Política (repercussão da saída de Dirceu na economia), polícia (Caem, Banco Santos, pirataria) e indicadores econômicos. O serviço que interessa ao leitor comum que ainda procura o jornal para obter informações e orientações que o ajudem nas suas decisões, nada.


Serviço/Cotidiano


Quem renovou a carteira de motorista depois de 1998 também tem de cumprir as novas exigências do Denatram? A arte ‘O que muda na renovação’ (capa de Cotidiano) se refere a ‘quem conseguiu a carteira antes de 21 de janeiro de 1998’, mas não deixa claro se é quem tirou a carteira ou quem renovou. Serviço é minúcia.


Manchete da capa do caderno: ‘A partir de 2ª, renovar carta exigirá curso’. O verbete ‘Regionalismo’ do ‘Manual da Redação’ (págs. 96 e 97) orienta para que sejam evitadas palavras e expressões que tenham significado restrito a uma região ou que possam ter significados diversos em diferentes regiões do país. E cita, entre outros exemplos de regionalismos paulistas que devem ser evitados, a palavra carta em substituição a carteira de habilitação.


16/06/2005


A Folha tem manchete sucinta, apenas o registro factual: ‘Governo ganha o comando da CPI’. Seus outros títulos na primeira página são igualmente contidos: ‘Lula discute reforma e deve tirar Dirceu da Casa Civil’ e ‘Secretária depõe e recua de declarações’.


O ‘Globo’, chamado por Roberto Jefferson de governista, tem um título crítico: ‘Governo controla CPI e já restringe as investigações’.


O ‘Estado’ mudou a manchete. Começou a circular com um título parecido com o da Folha, ‘Governo tem o controle da CPI’, e trocou depois para ‘Lula quer mudanças rápidas’.


O outro assunto das capas foi a prisão dos donos da Schincariol. A Folha foi a mais discreta. ‘Estado’ e ‘Globo’ deram fotos grandes de um diretor da cervejaria sendo preso e algemado. Os títulos da Folha (‘Operação da PF prende diretores da Schincariol’) e do ‘Estado’ (‘Presos 7 diretores da Schincariol’) contrastam com o tom jocoso do ‘Globo’: ‘PF prende os donos da Schin por ‘sonegation’.


Escândalo do ‘mensalão’


A cobertura dos principais jornais está muito parecida, focada principalmente no Planalto e no Congresso. As apurações a respeito das denúncias são poucas e ainda muito incipientes. Não há informação nova relevante sobre o ponto principal das denúncias, que é o ‘mensalão’.


O ‘Globo’ fez um levantamento nos registros de visitantes do prédio de Brasília onde o PT tem sede e constatou que o publicitário Marcos Valério esteve no partido, este ano, doze vezes.


O ‘Estado’ acrescenta um depoimento contra o líder do PP, José Janene, acusado por Roberto Jefferson de fazer parte do esquema do ‘mensalão’. Quem fala agora é o sobrinho do deputado, Aristides Barion Júnior: ‘Janene é número um do mensalão, diz sobrinho’. Segundo o jornal, ele tem uma ação contra o tio, com quem tem uma disputa financeira. Mas a entrevista não tem contém nenhuma informação sobre o ‘mensalão’.


A Folha já tinha brincado com a crise, na edição de terça, com o box ‘Presidência abre licitação para lavagem de roupa suja dos palácios’ e a charge do Jean (pág. A5). Ali, mostrou bom humor e aproveitou bem a coincidência da abertura de licitação para o serviço de lavanderia das residências do presidente e do vice com a crise política.


Mas a foto de hoje na pág. A7 (‘Operação limpeza’), que mostra funcionários em trabalho de rotina lavando as calçadas em frente ao Palácio do Planalto, indica falta de criatividade.


A coluna ‘Toda Mídia’ diz que a Polícia Federal ‘correu’ e ontem mesmo ouviu o depoimento da ex-secretária do publicitário Marcos Valério. Mas a reportagem ao lado, sobre o depoimento, informa que foi ela quem procurou a PF, se apresentou espontaneamente para depor, e não o contrário.


‘Painel do Leitor’


O ‘PL’ de hoje, ao contrário dos últimos dois dias, contém opiniões diversificadas a respeito da crise provocada pelas declarações do deputado Roberto Jefferson. Ficou um pouco mais equilibrado.


Operação Cevada


Acho que a defesa e as explicações dos presos e o protesto da OAB de SP (‘Ação da PF é ‘injustificada e sensacionalista’, diz Schin’ e ‘OAB-SP repudia operação policial’, pág. B4) deveriam ter sido editadas já na página B3. Como saíram, ficaram distantes das acusações.


– Está errado título ‘Schin faz cerveja desde 1998 e cresceu em 2003’ da pág. B3 da Edição Nacional. Como o texto informa, e foi corrigido na Edição SP, a primeira cerveja do grupo foi lançada em 1989.


16/06/2005


15/06/2005


A melhor manchete de hoje a respeito do depoimento de ontem do deputado Roberto Jefferson é, na minha opinião, a do ‘Globo’: ‘Jefferson dá nomes do mensalão e amplia as denúncias de corrupção’. Estes são os fatos mais relevantes do depoimento e que servirão de pistas para as investigações.


A manchete da Folha repete as referências feitas por Jefferson a Lula e ao ministro José Dirceu nas entrevistas que havia dado ao jornal: ‘Jefferson poupa Lula e culpa Dirceu’.


Não há novidade. Esta é a estratégia que Jefferson elegeu desde a primeira entrevista. Aliás, a Folha já tinha registrado que Jefferson estava poupando Lula. Novidade haveria se ele ontem tivesse atacado o presidente.


A manchete do ‘Estado’ é semelhante, mas pelo menos reproduz o tom dramático do depoimento: ‘Jefferson adverte Dirceu: saia antes de transformar Lula em réu’.


Além dos nomes e detalhes que Roberto Jefferson acrescentou na Comissão de Ética, dois outros depoimentos foram muito importantes ontem para o esclarecimento das denúncias: as entrevistas da secretária Fernanda Somaggio, para ‘IstoÉ Dinheiro’, e do secretário-geral do PP, Benedito Domingos, para o ‘Estado’. A Folha não teve a segunda e tratou mal a primeira.


Achei que a Folha fez bem em destacar na primeira página o artigo do colunista Marcelo Coelho (‘Foi um dos dias mais deprimentes da história política’) e a barbárie ocorrida no sistema penitenciário paulista (‘Presos decapitam cinco em rebelião’). Imagino que em outras circunstâncias a rebelião poderia até ser a manchete do jornal. Mas acho que, neste caso da rebelião, o jornal deveria ter colocado no título que ela ocorreu em São Paulo.


Outras manchetes sobre o depoimento de Jefferson:


‘JB’ – ‘Jefferson acusa Dirceu… Mas prova, que é bom, nada’.


‘Valor’ – ‘Empresários temem que crise reforce a ortodoxia’ e ‘Jefferson ataca Dirceu, e Lula prepara reforma’.


‘Correio Braziliense’ – ‘Jefferson detona’.


‘Zero Hora’ – ‘O arsenal de Jefferson’.


‘A Tarde’ – ‘Jefferson confirma tudo, mas não apresenta prova’.


‘Estado de Minas’ – ‘Jefferson acusa Dirceu’ e ‘Lula prepara reforma’.


Escândalo do ‘mensalão’


Não entendi o tratamento que a Folha deu, na Edição Nacional, para a reportagem da ‘IstoÉ Dinheiro’ com a secretária do publicitário Marcos Valério de Souza. O texto do jornal (‘Valério acusa ex-secretária de extorsão’) ignora a entrevista publicada pela revista, apesar de ser de conhecimento público desde a tarde ontem. O jornal fechou a edição às 21h, tempo suficiente para reproduzir as informações da revista.


O tratamento ficou ainda mais incompreensível porque o jornal, embora ignorando a entrevista, trouxe a defesa do publicitário. É caso raro de ‘outro lado’ sem acusação.


O depoimento é importante. O jornal o recupera na sua Edição São Paulo (‘Ex-secretária de Valério cita malas de dinheiro’), mas continua errando ao não dar destaque para a informação na primeira página.


O depoimento da secretária confirma alguns detalhes de Jefferson e envolve dois ex-ministros, Anderson Adauto (governo Lula) e Pimenta da Veiga (governo FHC). Estas informações são mais importantes do que a reportagem ‘Genro de deputado possui empresa fantasma no Rio’.


O ‘Estado’ tem outra informação importante. Segundo o jornal (não vi na Folha), o secretário-geral do PP, Benedito Domingos (DF), confirmou que havia um esquema de mensalão e que o dinheiro era distribuído no apartamento do deputado José Janene (PP-PR): ‘Mensalão era pago no apartamento de Janene’ (primeira página do ‘Estado’).


Os três grandes jornais deram tratamentos diferentes às referências e acusações que Roberto Jefferson fez contra a imprensa. O ‘Estado’ simplesmente as ignorou. A Folha reproduziu-as, mas num pé de página. E o ‘Globo’, atingido diretamente pelo deputado, destinou meia página com uma ilustração em que mostra reportagens suas, da ‘Veja’ e do ‘Estado’ que teriam irritado Jefferson.


A imprensa está no meio da crise, seja pelo que vem informando ou deixando de informar, seja pelo questionamento a que vem sendo submetida por leitores, pelo deputado Roberto Jefferson e por personalidades como o procurador Claudio Fonteles (‘manchetismo’) e o ministro Nelson Jobim.


Como em outras ocasiões de crises provocadas ou repercutidas pelo trabalho da imprensa, jornais, revistas e TVs também estão na berlinda. Há uma percepção dos leitores de que ela é movida por interesses políticos não confessados, de que está a serviço do governo ou da oposição.


É importante que ela aja com transparência, que o interesse jornalístico fique claríssimo. E que ela trate como notícia as críticas e contestações que vem recebendo.


Custo a crer que o ‘Painel do Leitor’ da Folha só esteja recebendo mensagens críticas ao governo federal, como faz entender a edição de hoje. Não é possível que nenhum leitor do jornal escreva com alguma ponderação ou argumento favorável ao governo ou contestando o deputado Roberto Jefferson. Até acredito que a maioria esteja decepcionada com o governo, como o ‘Painel’ reflete. Mas acho improvável que seja a totalidade.


Detalhes:


Muitos problemas de acabamento na Edição Nacional, como a repetição de aspas de Jefferson (págs. A6 e A7), Folha grafada sem negrito (tem também na Ed. SP), Comissão de Ética em caixa baixa e outras assim menores, resultado provável da correria do fechamento.


– A Edição Nacional informa, erroneamente, que Jefferson tem seis anos de mandato parlamentar (‘Tom irônico e recados marcam depoimento’, pág. A5). São seis mandatos parlamentares, como está corrigido na Edição SP (‘Petebista faz ironias e exibe ‘talento teatral’).


A Folha precisa decidir como vai chamar o deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ) e padronizar este tratamento. Na edição de ontem ora ele aparece como Carlos ora como Bispo. Tenho a impressão que ele perdeu a função de bispo na Igreja Universal. É preciso saber como ele está se apresentando desde que foi destituído da igreja.


– A Folha informa, na sua Edição Nacional (‘Deputado resistiu à CPI do Orçamento’, pág. A7), que a estratégia do PTB no relacionamento com o governo Lula foi a de aceitar ‘cargos pouco expressivos’. Cita, como exemplo, o Ministério dos Esportes. Mas o ministério que coube ao PTB foi o de Turismo. É a segunda vez que o jornal comete o mesmo erro. A primeira vez foi no dia 6 de junho e não foi corrigido até agora.


A pauta do ‘Estado’ teve uma boa idéia: o jornal foi registrar as opiniões dos que assistiram o depoimento de Jefferson na rua (‘Nas ruas, depoimento divide opinião dos paulistanos’).


Poder paralelo


O PCC faz uma rebelião numa penitenciária importante de SP, degola e exibe as cabeças de cinco presos e o jornal não ouve o governador nem o secretário de Administração Penitenciária? Nenhuma autoridade é procurada? Não há responsabilidade? Tudo que o jornal conseguiu das autoridades é uma aspa anônima? O jornal podia comparar com a cobertura que fez no ano passado da rebelião em Benfica, no Rio.


14/06/2005


A expectativa em relação ao depoimento do deputado Roberto Jefferson na Câmara, marcado para hoje, é o assunto principal da maioria dos jornais. A Folha preferiu destacar a confirmação de mais um caso de tentativa de corrupção: ‘Deputada relata oferta de dinheiro’.


Para o ‘Estado’, ‘Governo espera Jefferson para definir mudanças’. Segundo o ‘Globo’, ‘Governo pára hoje à espera de depoimento de Jefferson e CPI’.


O outro grande assunto, o principal para os jornais de banca, é a absolvição de Michael Jackson. Sua foto deixando o tribunal está na capa de todos os jornais.


Escândalo do ‘mensalão’


A cobertura dos jornais sobre a crise está muito parecida _as mesmas declarações (muitas) e os mesmos fatos (poucos). Todos os jornais têm a informação mais importante, a entrevista da deputada Raquel Teixeira em Paris (‘Deputada do PSDB confirma ter recebido oferta de dinheiro’, pág. A10).


O noticiário está marcado pelo suspense provocado pela agenda do dia, o depoimento de Roberto Jefferson e a eleição do presidente e do relator da CPI dos Correios.


A Folha faz a opção correta de abrir seu noticiário com a defesa do governo (‘Investigações não deixarão pedra sobre pedra, diz Lula’, pág. A4).


Seu grande investimento, uma página, foi em relação ao publicitário Marcos Valério (‘DNA é a agência que mais cresceu em 2004’ pág. A9). Há, mesmo na Edição SP, um problema na página: o último parágrafo do ‘Outro lado’ ‘Agência diz que a causa das multas é a ‘bitributação’ repete as informações que estão no texto ‘Publicitário pede que STF interpele deputado federal’.


Segundo o ‘Estado’, ‘General Félix [Gabinete de Segurança] sabia de corrupção nos Correios’ desde abril. Não vi na Folha.


Plágio


Está confuso o texto ‘A fama não dá direito ao plágio, diz colombiana’, na pág. A13. É provável que haja algum erro no terceiro parágrafo. Para mim não ficou claro se a coluna publicada pelo ‘Globo’ no dia 22/8/2004 já continha a explicação do escritor Paulo Coelho para o plágio ou se aquela era a coluna plagiada.’