Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Crítica interna




’12/09/2005


A prisão do ex-prefeito Paulo Maluf foi tratada pela Folha com recato. O ato não chegou a ser manchete do jornal, como era de se esperar pela importância do personagem, pelo volume de recursos públicos investigado e pelo inusitado do fato. No sábado, a Edição SP deu a notícia, ocorrida aos 20 minutos, no alto da primeira página, mas abaixo do título principal ainda destinado às suspeitas que envolvem o presidente da Câmara dos Deputados. Os dois títulos: ‘Severino antecipa volta e diz que não renuncia’ e ‘Maluf se apresenta à PF após ter prisão decretada’. Os dois concorrentes da Folha foram mais diretos e deram mais visibilidade à notícia. No ‘Estado’, ‘Maluf se apresenta e é preso’; e no ‘Globo’, ‘Paulo Maluf é preso’.


No domingo, a Folha preferiu destacar a entrevista (por sinal, muito boa) do vice-presidente da República: ‘Alencar se diz pronto para a Presidência’. A continuação do caso Maluf é o segundo título, bem mais fraco: ‘Filho de Maluf é preso pela PF’. O ‘Estado’ também baixou a bola, e jogou o título para a parte de baixo da capa: ‘Preso pela PF, Flávio Maluf chega algemado’. O ‘Globo’ manteve o assunto na manchete e não escolheu as palavras: ‘Filho de Maluf é preso e divide a cela com o pai’.


Os jornais de hoje, segunda, retomam o caso Severino como prioridade – ‘Severino diz ser vítima de fraude’ (Folha), ‘Severino desafia partidos e diz que não deixa Câmara’ (‘Estado’) e ‘Severino diz que não sai e cria impasse’ (‘Globo’). Maluf continua na primeira página, mas já como notícia rotineira: ‘Advogados de Maluf podem pedir hábeas corpus hoje’ (Folha), ‘Abalado, Maluf deixa discurso de candidato’ (‘Estado’) e ‘Polícia Federal deixa Maluf usar o telefone na cadeia’ (‘Globo’).


As revistas fecharam antes da prisão de Paulo Maluf. ‘Época’ e ‘IstoÉ’ trazem Severino Cavalcanti na capa: ‘Fim da linha’ e ‘Bye bye, Severino’, são os títulos das duas. ‘Veja’ acha que o Brasil está protegido contra o populismo e as aventuras da economia – ‘Mais forte que a crise’. E ‘Carta Capital’ compara os valores em jogo nas denúncias que marcaram os governo Collor, FHC e Lula: ‘O tamanho real dos escândalos’.


Caso Maluf


O ‘Estado’ conseguiu que Paulo Maluf respondesse, da cadeia, às perguntas que enviou por escrito.


É importante a discussão sobre a prisão de Flávio Maluf. Houve ou não houve abuso de autoridade?


Há um ponto relevante sobre a participação da Globo que não ficou claro para mim: o repórter estava ou não estava vestido de policial federal? A edição da Folha de domingo (‘Flávio viaja do interior para SP de helicóptero’, pág A4) afirma que estava. A Globo, no entanto, desmente, na edição de hoje. Se a Folha presenciou o repórter com roupa da PF, deveria ter reafirmado na edição de hoje; se informou baseado no relato de um dos advogados de Maluf, deveria ter deixado isso claro tanto no domingo como hoje.


O jornal talvez tenha se precipitado no título e no enfoque do texto que abrem o noticiário sobre a prisão de Maluf na Edição Nacional: ‘Polícia concede regalias a Maluf na prisão’. O texto e o título foram mudados na Edição SP. No final, fiquei em dúvida: há ou não há regalias?


Escândalo do ‘mensalão’


Está muito boa a entrevista com o vice-presidente José Alencar (domingo, pág. A18), mas tenho duas discordâncias em relação à edição:


– Acho que a manchete do jornal deveria ter sido a continuação do noticiário sobre a prisão de Paulo Maluf;


– e acho que a manchete do jornal – ‘Alencar se diz pronto para a Presidência’ – não expressa o contexto da afirmação do vice. O título interno – ‘Vice se diz fiel a Lula, mas pronto para assumir’ – está mais próximo do que Alencar declarou. Como saiu na manchete, ficou parecendo que o vice está se oferecendo para substituir o presidente.


Sem consenso


O noticiário do ‘Estado’ sobre a visita que o presidente Lula inicia à Guatemala (‘Lula quer vender etanol para América Central’ e ‘Bancos oficiais do País são usados em integração’) tem mais informações e contextualização do que o da Folha (‘Lula foca Haiti em ida à Guatemala e aos EUA’, pág. 11). Em compensação, a apresentação da assembléia da ONU feita pela Folha (‘Agenda dos EUA domina assembléia da ONU’) me pareceu mais completa.


Aviso


Faço amanhã, terça-feira, palestra na Faculdade de Comunicação e Artes da PUC-Minas, em Belo Horizonte. Por esta razão, não haverá a Crítica Interna.



09/09/2005


As manchetes – e as coberturas – dos principais jornais estão parecidas. O depoimento do empresário Sebastião Buani e a foto do seu choro estão em todas as capas. Folha – ‘Empresário confirma propina e agrava situação de Severino’. ‘Estado’ – ‘Empresário confirma propina e põe Severino à beira da cassação’. ‘Globo’ – ‘Empresário confirma que pagou propina a Severino’. O ‘Correio Braziliense’ tem como certa a cassação do presidente da Câmara: ‘O triste fim do rei do baixo clero’.


Outra notícia forte foi a aparente trapalhada do governo, que anunciara a redução da alíquota de 27,5% do IR para 25% e agora voltou atrás. É a manchete do ‘JB’ e da ‘Gazeta Mercantil’ e título com destaque nos outros jornais.


O ‘Valor’ anuncia o resultado das licitações de ‘dois dos mais cobiçados negócios do mercado’: ‘Itaú leva contas de R$ 15 bi da prefeitura de São Paulo’.


Escândalo do ‘mensalão’


Estão muito parecidas as coberturas dos três grandes jornais, e não contêm novidades para quem acompanhou ontem pelas TVs, rádios ou Internet o noticiário sobre a crise e suas diversas frentes.


Diana, que acompanhou o empresário Sebastião Buani na entrevista coletiva, é sua mulher, e não filha, como saiu na legenda da página A4 da Edição Nacional da Folha.



08/09/2005


Folha e ‘Globo’ têm as mesmas manchetes. Na Folha, ‘Severino dá 3 versões sobre documento’ (que documento?); e no jornal do Rio, ‘Severino apresenta três versões para denúncia’. O ‘Correio Braziliense’ deu outro tratamento: ‘Severino solta a língua nos EUA e se complica mais’. O ‘Estado’ preferiu o desfile da Independência e as manifestações: ‘Protestos e pouca gente no 7 de Setembro’. A ‘Gazeta Mercantil’ trouxe no alto da capa duas reportagens interessantes a respeito de aspectos laterais da crise: ‘O Banco Rural encolhe 40% e refaz planos’ e ‘A escuta telefônica prospera’. Segundo o jornal, o aumento das investigações de corrupção no meio político e de outros crimes projeta um crescimento de 40% das empresas especializadas em equipamentos e programas para gravações legais. Segundo o ‘Valor’, ‘Atividade econômica teve nova aceleração em agosto’.


Escândalo do ‘mensalão’


Nas circunstâncias atuais, as vaias dirigidas ao governo Lula são mais notícia, no sentido de novidade, do que os apoios oficiais. Elas não ocorreram, por exemplo, no desfile de 7 de Setembro do ano passado. Acho, portanto, correto destacar as vaias e manifestações contra o presidente. Mas a página A8 da Folha, que traz a cobertura do desfile de Brasília, ficou estranha. Se os gritos ‘Fora Lula’ e ‘Viva Lula’ ‘dividem manifestação’, como está registrado em um dos títulos da página (e como mostram as fotos), o título da reportagem principal (‘Desfile é esvaziado, e Lula recebe vaias’) deveria ter registrado esta divisão, e não optado por destacar apenas as manifestações contrárias ao governo. Por outro lado, o jornal não conseguiu dar a dimensão dos protestos que se repetiram em todo o Brasil.


A página A9, que contempla as manifestações fora de Brasília e de SP, foi aberta com o discurso de João Pedro Stedile que, ao contrário do que dá a entender o jornal, não contém novidade. O discurso de ontem de Stedile não deve ter sido o mais duro contra o governo Lula, como avalia a reportagem principal da página A9. Stedile já havia diagnosticado o fim do governo petista em 25 de julho, no Dia do Trabalhador Rural. O título da Folha naquela ocasião – ‘Crise é grave e governo Lula já acabou, diz Stedile’ – foi quase igual ao de hoje – ‘Para líder do MST, governo Lula ‘acabou’ . O ‘Estado’ deu mais visibilidade que a Folha para as ‘manifestações contra Alckmin em São Paulo’.


É descuido de edição a publicação, na página A5 da Edição Nacional, de uma foto antiga do presidente da Câmara (foto de 5 de setembro) com a informação de que ele está em Nova York. Por que não a foto dele em Nova York, como está em todos os jornais e na Edição São Paulo da Folha?


Esporte


É frustrante, para quem gosta de futebol, a cobertura da Folha com os resultados de ontem das eliminatórias para a Copa de 2006.’