Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Crítica interna

’28/07/2006

Opa! ‘CPI diz agora que só tem provas contra 30 parlamentares’! É a manchete da Folha, sem o ponto de exclamação, que acrescentei por minha conta. Vinha alertando nas Críticas Internas desde a semana passada para a necessidade de cautela no uso das informações ainda sem comprovação, principalmente as vazadas sem fontes identificadas A manchete da Folha tem o mérito de mostrar que o caso não é tão simples como parecia e exige do jornal um acompanhamento mais cuidadoso.

O ‘Globo’ continua a soltar detalhes do esquema: ‘Máfia das emendas criou até crédito de propinas’. O ‘Correio Braziliense’ também teve acesso à íntegra do depoimento de Luiz Antônio Vedoin (‘A riqueza de detalhes impressiona’, diz o jornal) e também deu manchete: ‘Quanto e como máfia pagou a deputados’. A Folha também traz mais detalhes na Edição SP: ‘Máfia diz ter pago R$ 4 mi de propina a 71 parlamentares’ (título da página A4).

Manchete do ‘Estado’: ‘Israel desiste de ampliar ofensiva’. O próprio jornal levanta dúvidas quanto à decisão de Israel: ‘Ao mesmo tempo, porém, Exército chama 30 mil reservistas para treinar’. Manchete da capa do caderno ‘Mundo’, da Folha: ‘Israel prepara guerra `prolongada´’.

CPI dos Sanguessugas

A Folha agiu corretamente ao destacar a freada dada ontem pela CPI dos Sanguessugas. A precipitação, característica de quase todas as CPIs, pode colocar a perder as investigações de mais um escândalo. É um aviso para o próprio jornal não ir com tanta sede ao pote. Não significa que o jornal não deva continuar suas apurações próprias, como tem feito, mas que deve desconfiar das informações vazadas sem fonte assumida, uma praga que já causou problemas (para ‘suspeitos’ e para a imprensa) em quase todas as CPIs.

Eleições 2006/Presidência

Ficou desigual a distribuição de espaço hoje, na Edição São Paulo, do noticiário da campanha presidencial. A entrevista de Lula para uma cadeia nacional de rádio virou um pequeno box (‘Lula afirma que esperou para pegar `ninhada´’, pág. A10) no meio do noticiário sobre Fundo Partidário e longe das reportagens sobre os outros candidatos (‘Itamar invoca a ética para anunciar apoio a Alckmin’ e ‘Após dizer que ficaria `neutro´, Garotinho declara apoio a Heloísa’, pág. A9).

Aliás, o noticiário eleitoral de hoje é um mero registro de agenda. O ‘Estado’, pelo menos, se preocupou em analisar o papel de Aécio Neves em Minas (‘Aécio faz malabarismo entre tucano e petista’), aproveitando a visita de Alckmin a Belo Horizonte para receber o apoio de Itamar. E analisou a entrevista e discursos de Lula. Não vi na Folha a preocupação de ir além dos fatos da agenda dos candidatos.

Aviso

Participo segunda, terça e quarta-feira de seminário promovido pelo Instituto Prensa y Sociedad em Caracas, na Venezuela. Por esta razão não haverá Crítica Interna na próxima semana.



27/07/2006

O depoimento sigiloso do dono da Planam – cabeça do esquema de fraudes na Saúde – à Justiça Federal foi vazando ao longo dos dias e parte das informações já havia sido publicada pela Folha. O ‘Globo’ parece ter tido acesso à totalidade do depoimento, que é a sua manchete de hoje: ‘Deputados e prefeitos se reuniam para fazer acertos’. Não há novidades nos nomes nem na mecânica, mas as revelações de novos detalhes são sempre impressionantes.

Folha e ‘Estado’ continuam a destacar a guerra no Líbano: ‘ONU avisou Israel sobre ataques que mataram 4’ (Folha) e ‘Israel tem o seu pior dia; fracassa tentativa de acordo’ (‘Estado’).

Eleições 2006

Achei boa a reportagem de hoje sobre as finanças do PT neste início de campanha eleitoral. Mostra a dificuldade do partido para levantar recursos e as dívidas que começa a acumular. Se o jornal fizer este acompanhamento regular será uma grande contribuição.

Faltaram, no entanto, levantamentos semelhantes das outras campanhas, principalmente que as dos candidatos que estão tão em evidência quanto Lula na disputa presidencial, casos de Geraldo Alckmin e Heloísa Helena.

O acompanhamento regular das finanças das campanhas (com o detalhamento de gastos, como está hoje, e de doadores) será uma grande contribuição do jornal.

O jornal deveria repensar o critério de aproveitamento das sabatinas que promove. Se o objetivo é permitir que os seus leitores conheçam as idéias dos candidatos (ao Senado, nesta semana), o correto teria sido abrir os mesmos espaços para os nomes que previamente selecionou a partir do resultado da pesquisa Datafolha. O noticiário já é pautado pelo ranking da pesquisa; se o próprio debate segue o mesmo filtro, fica difícil comparar as propostas e idéias.

O candidato Eduardo Suplicy, que lidera a pesquisa, teve direito a uma página inteira com recursos gráficos que a valorizaram, como frases dele e opiniões de espectadores. O segundo sabatinado, Guilherme Afif, já foi reduzido a meia página, mas ainda teve direito a umas bossas. A de hoje, Alda Marco Antonio, teve apenas um quarto de página e algumas de suas idéias ficaram incompreensíveis no resumo feito pelo jornal (‘Bolsa-Família é esmola, diz candidata do PMDB a Senado’, pág.A13). Dois outros candidatos mereceram pequenos pingue-pongues e os outros tiverem direito a foto e a uma frase.

Até entendo que o resultado da pesquisa seja uma das referências (não a única) na cobertura diária. Mas o espaço igual para o debate deveria estar garantido pelo menos para os candidatos mais importantes.



26/07/2006

Folha e ‘Estado’ destacam a guerra no Líbano: ‘Israel mata 4 observadores da ONU’ (Folha) e ‘Israel ameaça manter ocupação no Líbano’ (‘Estado’). O ‘Globo’ tem manchete nacional, sob o selo ‘Eleições 2006’: ‘Gastos do governo crescem bem mais que as receitas’. A CPI dos Sanguessugas é destaque nos três diários: ‘Ex-ministro da Saúde está entre os 116 sob investigação de CPI’ (Folha), ‘Ex-ministro de Lula notificado pela CPI dos Sanguessugas’ (‘Estado’) e ‘Sanguessugas: CPI investiga ex-ministro’.

Sanguessugas

Uma sugestão: o jornal deveria se limitar, nesta fase ainda inconclusa das investigações, a publicar apenas informações confirmadas oficialmente pela CPI (ou por alguma autoridade pública, como Ministério Público, Justiça, CGU, polícia). Fórmulas como ‘a Folha apurou’, utilizada hoje na reportagem ‘Esquema teve até propina mensal, diz CPI’ (pág. A6) para antecipar informações ainda não estão confirmadas vazadas sem identificação de fonte, podem ser uma precipitação, com todas as conseqüências que sabemos.

Quantas vezes já vimos informações vazadas por fontes das CPIs que não aparecem e logo depois fica evidenciado que as informações não eram verdadeiras ou não se tinha como comprová-las?

A reportagem é quase toda baseada no relatório da Subcomissão de Fraudes e Corrupção da CPI, uma fonte, portanto, identificada e, supõe-se, bem informada. Mas, como se pode ler nas duas reportagens (‘Esquema teve até propina mensal, diz CPI’ e ‘Maioria recebeu em dinheiro ou por meio de depósito em conta’, pág. A6), as investigações não estão concluídas e ainda existem muitas lacunas, tanto que o texto do jornal é cauteloso e abusa do futuro do pretérito. Vale também lembrar o título de ontem, ‘CPI afirma reunir provas contra 80% dos suspeitos’, o que significa que ainda não tem provas em relação a 20%.

Relações exteriores

Dos grandes jornais, o ‘Valor’ foi o que deu mais espaço para os desdobramentos e análises a respeito do fracasso da Rodada Doha, inclusive a manchete – ‘Fracasso de Doha reabre negociação Mercosul-UE’.

‘Valor’ e ‘Estado’ reconstituem, em Genebra, a conversa entre Lula e Bush na reunião que tiveram na semana passada em São Petersburgo, durante a cúpula do G-8: ‘Na Rússia, Bush e Lula falaram sobre eleições e popularidade’ (‘Valor’) e ‘´Eleições estão encaminhadas´, diz presidente a George Bush’ (‘Estado’). Não vi na Folha.

‘Dinheiro’

Trecho da reportagem ‘Procom vê problemas em TVs de plasma’ (pág. B10): ‘Advogados já começam a entrar com ações individuais na Justiça, solicitadas por consumidores que se sentiram punidos ao efetuar a compra do produto’. Punidos? Não seria enganados ou prejudicados?



24/07/2006

As revistas ‘Veja’ e ‘Época’, principalmente a primeira, trouxeram novas informações sobre o escândalo de corrupção das ambulâncias que envolve deputados e prefeitos. Outro assunto do fim-de-semana foi a continuação da guerra no Líbano. A Folha prosseguiu na discussão sobre cotas, com pesquisa do Datafolha. As manchetes:

Folha – ‘Maioria é a favor da adoção de cota racial’ (dom.) e ‘Lula culpa sistema pela corrupção’ (hoje).

‘Estado’ – ‘Israel destrói torres de TV e ocupa áreas do Líbano’ (dom.) e ‘Ataques seguem, mas líderes falam em diálogo’ (hoje).

‘Globo’ – ‘Criação de universidades vira moeda eleitoral de políticos’ (dom.) e ‘Delegados são suspeitos de manipular 400 inquéritos’ (hoje).

Como a Folha noticiou a crise no Oriente Médio: ‘Israel convoca reservistas para guerra’ (sábado), ‘Tanques e tropas israelenses invadem área xiita no Líbano’ (dom.) e ‘Israel e EUA cogitam intervenção no sul do Líbano com Otan’.

E, de novo, um título com verbo ‘poder’, de sentido sempre dúbio. Hoje, usado na Primeira Página para dar destaque a uma mera especulação: ‘PT pode deixar herança de gangsterismo, diz sociólogo’. É uma acusação baseada em hipótese, uma tentativa de prever o futuro. Não deveria vir acompanhada de um ‘outro lado’, de um ponto de vista distinto, de uma outra tentativa de adivinhar o futuro? Mesmo a ‘Entrevista da 2ª’ não dispensa o ‘outro lado’, não que eu saiba.

Eleições 2006/Presidência

A Folha escapou da discussão, sem futuro, sobre se Heloísa Helena é um ‘fenômeno eleitoral’ ou não, e foi ao que interessa: seu programa de governo, que está sendo elaborado – ‘PSOL quer rever privatizações e aperfeiçoar o Bolsa-Família’ (pág. A4 de domingo).

A Folha ouviu apenas duas feministas a respeito da posição de Heloísa Helena contrária à descriminalização do aborto. Uma foi simpática à candidata, mesmo diante da posição contrária; e a outra disse que a senadora não é candidata das feministas. Com apenas duas opiniões, e sem consenso, erra o jornal ao colocar como título generalizante ‘Feministas reprovam discurso de Heloísa’ (pág. A5 de domingo). É até provável que reprovem, mas o material da Folha é pobre e não sustenta o título.

Excesso de Bornhausen, presidente do PFL, no jornal de hoje: artigo na página A3 (o quinto este ano) e ‘Tiroteio’ no ‘Painel’.

Eleições 2006/Crise na Segurança

O jornal publicou no domingo as opiniões dos três principais candidatos ao governo de São Paulo na área de segurança pública (‘Serra quer construir presídios; Quércia e Mercadante, não’, pág. A12).

Duas observações:

1 – Não é verdade que Quércia e Mercadante tenham dito que não querem construir presídios. O que disseram é que é necessário construir, mas que só isso não acabará com o problema nos presídios. É muito diferente.

2 – A iniciativa (positiva) de publicar as medidas assumidas pelos candidatos na área de segurança pública deveria vir acompanhada de uma avaliação crítica da viabilidade das medidas e um balanço dos erros e acertos das políticas de segurança em São Paulo nos últimos anos. O jornal continua a dever um grande estudo sobre os anos tucanos e os anos peemedebistas na área de segurança pública. É claro que um estudo deste tem de contemplar o papel dos governos que ocuparam o Planalto no período. Isso não foi feito até agora.

Escândalos

Difícil saber qual o escândalo maior entre tantos que ocupam as páginas do jornal. Mas as evidências apontadas pela revista ‘Veja’ em relação à participação da Receita Federal na seqüência de ações que culminaram com a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo mereciam continuar sendo acompanhadas pela Folha. O jornal registrou o caso ontem, mas não deu continuidade hoje. É o Estado sendo usado por um governo contra um cidadão. É um grande escândalo, se é isso mesmo que a ‘Veja’ relata.

‘Veículos’

Além da dificuldade de ler um texto que parece dirigido exclusivamente a iniciados, vi problemas nas reportagens de ‘Classificados Veículos’ deste domingo.

1 – Na capa, o texto do teste Folha-Mauá (não há explicação do que seja, apenas a indicação de um site no pé da reportagem) tem como título ‘Espaçoso, novo Classe A cobra por equipamento que não oferece’. Achei uma acusação forte, que justificava inclusive uma consulta ao Procom ou a algum órgão de defesa do consumidor. Mas o texto não cita a relação dos equipamentos que teriam sido cobrados e não estão no carro, o que é grave. Se o título foi redigido com base na opinião de uma consultora de moda, que acha que, pelo preço, o carro deveria ter bancos de couro, aí o caso é ainda mais grave. O jornal desclassifica o carro sem provas, baseado apenas numa opinião.

2 – Na página 17, a reportagem ‘Scénic Sportway se torna versão de série – Responsável por 15% das vendas da minivan, visual é aprovado por proprietários ouvidos pela Folha’ se baseia em apenas três depoimentos. Chamar isso de ‘Júri popular’, como está no intertítulo, é demais. O jornal aprova o carro sem provas, baseado apenas em três opiniões.

3 – Um exemplo da linguagem cifrada, no texto ‘Pequenos notáveis’ (capa):

‘O 130i -que, em 26,87s, percorre 1 km- preserva o desenho da BMW na dianteira. Sua grade é quase vertical e dividida em duas partes. Os faróis de xenônio são duplos, como os ‘angel eyes’ que fazem a felicidade dos ‘tuneiros’.

De ‘tunado’ ele não tem nada. Chega da Alemanha com o pacote ‘M’, a letra que indica a divisão esportiva da BMW. Há soleira nas portas, rodas de liga leve de 17 polegadas, pedais esportivos. Um verdadeiro M1.

‘Angel eyes’? ‘Tuneiros’? ‘Tunado’? ‘Verdadeiro M1’? É um caderno para iniciados, para fanáticos por carro.’