Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Crítica interna

12/01/07

O ‘Estado’ enviou um jornalista para Caracas e o seu relato é a manchete do jornal: ‘Pacote socialista de Chávez surpreende venezuelanos’. As grandes transformações anunciadas no país vizinho já sumiram da Primeira Página da Folha. Repito o comentário dos últimos dias: é uma pena que o jornal não tenha um jornalista em Caracas.

A manchete da Folha trata dos Estados Unidos: ‘Maioria rejeita plano de Bush para o Iraque’.

Os três grandes jornais mantiveram destaque, com fotos, para o desastre ecológico em Minas que já afeta o interior do Estado do Rio. É a manchete do ‘Globo’: ‘Onda de lama química chega a cidade do Rio – Rejeitos de mineradora já percorreram 45 quilômetros’.

A chamada na Primeira Página para a acusação de improbidade administrativa encaminhada pelo Ministério Público contra o deputado Raul Jungmann não informa que o período a que se refere a ação corresponde ao do governo de Fernando Henrique Cardoso. É uma informação jornalística obrigatória e rotineira, e que deveria estar no texto. Aliás, nem o texto interno (‘Ministério Público acusa Jungmann de desvio de verbas’, A6) informa que Jungmann está sendo acusado por atos cometidos durante o governo de FHC. A informação só aparece no pé de outro texto, que analisa as chances do Grupo dos 30 na disputa pela presidência da Câmara, ‘Decisão tucana reduz chance do ´Grupo dos 30´‘ (A6 na Edição Nacional e A5 na Ed. SP).

Rio Pomba

No perfil que tenta traçar da Mineração Rio Pomba Cataguases, empresa produtora de bauxita e proprietária da barragem que rompeu em Miraí provocando um grande acidente ecológico, a Folha informa que a empresa ‘não informou o nome dos sócios nem seu lucro anual’ (‘Empresa é a 3ª maior produtora de bauxita’, capa de ‘Cotidiano’ na Edição Nacional e C3 na Ed. SP).

Não é possível que a Folha não encontre estas informações em outras fontes.

As informações sobre o avanço da lama (ontem o rio de lama já tinha se estendido por mais de 50 quilômetros), sobre o novo rompimento da barragem com o despejo de mais lama e as conseqüências para as pessoas e o ambiente afetados são mais importantes para o leitor do que o fato de a empresa ter pago ou não uma multa de 2006 – manchete da capa de ‘Cotidiano’, ‘Multa por lama de 2006 ainda não foi paga’.

Segurança em MG

Segundo o jornal ‘Estado de Minas’, a Polícia Civil mineira teria informado que as quadrilhas que assaltaram vários bancos no Estado são chefiadas por ex-policiais militares de Goiás. A ver.

Estradas

A chamada da Primeira Página destaca que ‘Concessão de rodovia dá lucro como tráfico, diz subprocurador’ e remete para a capa do caderno ‘Dinheiro’. É uma frase de efeito forte e que merecia registro. O leitor, no entanto, só vai encontrar a entrevista com o subprocurador na página B3, e assim mesmo como a terceira reportagem, sem qualquer destaque. Das duas, uma: ou a Primeira Página deu importância demais para a comparação do subprocurador ou a editoria subestimou a entrevista.



11/01/07

A Folha dá grande destaque para a posse de Hugo Chávez e a retórica do presidente da Venezuela: ‘Socialismo ou morte, diz Chávez na posse’.

O ‘Estado’ mudou a manchete no correr da impressão. Começou a rodar com o resultado de uma enquete que fez com deputados federais – ‘Chinaglia tem maioria dos votos na Câmara’ –, mas depois alterou para ‘Bush alega que errou e reforça tropa no Iraque’.

O ‘Globo’ abriu manchete em duas linhas, com foto destacada, para mais uma tragédia ecológica em Minas que afetará o meio ambiente e o abastecimento de água do Rio: ‘Vazamento químico em MG ameaça mananciais do Rio’. A Folha também destacou o assunto com foto, mapa, mas com um título que não dá a dimensão da tragédia – ‘Barragem rompida em MG enche cidade de lama’.

E a segurança pública? Dois dias depois da reunião dos governadores, o assunto sumiu da Primeira Página, apesar de dois fatos relevantes que mereciam algum registro do jornal:

1 – o ataque seqüencial a bancos no interior de Minas, com mortes, tiroteios e reféns, é inédito (pelo menos no noticiário) e corresponde, em termos de vulnerabilidade do Estado, aos acontecimentos de São Paulo e do Rio. Mostra como os três grandes Estados, que têm políticas de segurança pública diferentes (se é que têm), estão igualmente sujeitos às ações ousadas do crime. O caso de Minas foi menosprezado pelo jornal;

2 – a Folha deu ontem destaque (correto) para as críticas (procedentes) do governador José Serra ao governo federal pela redução de recursos para a segurança pública. A reportagem de hoje ‘Serra cobra Lula, mas SP também fez corte’ (C4) deveria ter tido algum destaque na Primeira, não apenas pelo princípio da isonomia, mas para que o leitor de SP tenha idéia de como a questão de segurança pública, que tanto lhe afeta, é tratada da mesma forma por todos os governos.

O ‘Estado’ dá destaque na Primeira Página a uma das primeiras medidas do novo governo de São Paulo na área de educação: ‘Serra corta pela metade Escola da Família’. A Folha também tem a informação, mas não considerou relevante a ponto de destacá-la.

Correções

Se a diarista do governador Sérgio Cabral

1 -não morreu de infarto

2 – não morreu no corredor do hospital, na fila de atendimento

como garante a carta do secretário municipal de Saúde do Rio (‘Morte de diarista’, ‘Painel do Leitor’, A3), está errada a reportagem da Folha do dia 4 de janeiro (‘Diarista de Cabral morre na fila do hospital’). E o jornal deveria corrigir. Não importa qual tenha sido a fonte do jornal e não importa se a secretaria, na ocasião, foi lacônica (como dá a entender a resposta do jornal à mensagem do secretário). O fato é que, se a diarista teve atendimento e não morreu de infarto, a apuração do jornal foi falha e deve ser corrigida. Se ela não teve atendimento e morreu de infarto e o jornal está certo, a resposta à carta do secretário deveria confirmar as informações que colheu.

O jornal errou na reportagem de ontem ‘Lula, com Lulinha, segue de férias, enquanto Dilma faz visitas a governadores’. O texto da Folha: ‘A Folha apurou que Fábio Luiz, 32, filho de Lula, acompanha o pai nos dias de férias no Forte dos Andradas. Estão no forte além de Fábio, a mulher dele e uma criança. Conhecido como Lulinha, Fábio é sócio da empresa Gamecorp, na qual a Telemar investiu R$ 5 milhões’. Ou seja, o texto deixa claro que o filho do presidente passa as férias com ele. A carta publicada no ‘Painel do Leitor’ de hoje (‘Lula’), sem resposta do jornal, informa, no entanto, que Lulinha esteve uma única noite com o presidente, dormiu no forte e foi embora no dia seguinte. Não é a mesma coisa.

Disputa pela Câmara

A cobertura da disputa pela presidência da Câmara está focada apenas nas movimentações partidárias, nas costuras para a formação de uma maioria. O jornal deveria dar mais relevância para as discussões que incomodam os dois candidatos e das quais eles tentam fugir. Interessa a eles que a disputa seja intramuros, nos limites da corporação, sem desgaste e sem cobranças da opinião pública. Interessa aos leitores da Folha, ao contrário, que as posições deles sobre assuntos de interesse público (e não partidários) sejam expostas. Eles estão fugindo dos debates (e a coluna de Janio de Freitas, ‘O mau silêncio’, aponta para a tática esquiva dos dois candidatos). Por que a Folha não promove formalmente este debate, seja convidando os dois candidatos para um debate público – como faz nas eleições para o Executivo – seja abrindo espaço em suas páginas para os assuntos que os incomoda e que interessam aos leitores.

A seção de política e o noticiário nacional do jornal dispunham hoje do equivalente a três páginas. Praticamente a metade do espaço foi destinada às movimentações ainda inconclusas de apoios na disputa para a presidência da Câmara. Será que este assunto, com o enfoque que o jornal está dando, merece este espaço todo?

Venezuela

Repito o comentário de ontem:

É uma pena que o jornal não tenha um jornalista em Caracas e um relato exclusivo da posse do presidente Chávez e com mais detalhes a respeito das medidas econômicas e políticas que vêm sendo anunciadas.

O crime em Minas

Segundo o ‘Globo’, foram quatro as cidades de Minas atacadas de segunda à noite à manhã de ontem por quadrilhas de assalto a bancos. Foram assaltados seis bancos e uma loja, feitos mais de vinte reféns (incluindo um juiz, dois delegados e 15 policiais) e deixados para trás três pessoas mortas.

Imagine esta situação no interior do Estado do Rio: a Folha ia decretar a falência definitiva e irreversível do Estado, faria editorial e textos e mais textos de análises. Se fosse no interior de São Paulo, seguramente teria um grande destaque na Primeira Página – e se não tivesse ia ser um grande escândalo. Pois em Minas, fronteira com o Rio e São Paulo, Estado onde o jornal tem grande circulação e onde o governador é candidato a candidato à Presidência, os fatos estão mal apurados, a reportagem mal dada (pé de página do caderno ‘Cotidiano’ nas duas edições) e o título demonstra que o jornal não entendeu a gravidade do que ocorreu – ‘Em Minas, quadrilha libera últimos reféns’ (Edição SP).

É evidente que uma ação desta envergadura coloca em cheque a política de segurança pública de Minas. A cobertura da Folha não tem uma linha com as autoridades (governador ou secretário de Segurança, por exemplo) para que expliquem o que aconteceu e o que falhou.

Minas

Assaltos simultâneos em várias cidades do Estado e novo desastre ecológico em Mirai (que afeta imediatamente 100 mil pessoas e que também pode afetar o abastecimento de água do Rio). O que tem a dizer o governador de Minas? A Folha não procurou saber.

Jarinu

Onde fica Jarinu? Em que Estado? Em que região do Estado? A quantos quilômetros da capital ou de uma referência geográfica que os leitores da Folha possam ter uma idéia?

O texto ‘Em Jarinu, Leão castiga atletas com palavras para colocar o time em forma’ não informa.



10/01/07

A Folha não fez a melhor opção de manchete, na minha opinião. O jornal deu mais importância ao jogo partidário, ainda indefinido, para a divisão de poder na Câmara dos Deputados do que ao acompanhamento da repercussão das novas medidas socializantes anunciadas pelo governo da Venezuela e ao resultado da reunião dos governadores do Sudeste para definir uma estratégia de combate à criminalidade e à violência. A decisão do PMDB já era esperada e nem mesmo o compromisso público é garantia de que o partido, na hora H, votará com o candidato do PT.

O ‘Estado’ e o ‘Valor’ mantiveram o foco na Venezuela (e no ‘ímpeto socialista de Chávez’, segundo expressão do jornal econômico); o ‘Globo’ deu mais visibilidade para a reunião dos governadores.

Folha – ‘PMDB vai apoiar Chinaglia para presidir Câmara’. O ‘Globo’, em manchete interna, foi mais realista: ‘Parte do PMDB decide apoiar Chinaglia contra Aldo’.

‘Estado’ – ‘Mercados reagem mal a planos de Chávez’.

‘Globo’ – ‘Governadores cobram de Lula verba e polícia contra o crime’.

O ‘Valor’ foi além da repercussão e trouxe novas informações sobre a Venezuela: ‘Reforma de Chávez mudará os direitos de propriedade’.

As novas medidas anunciadas por Chávez foram o tema dos editoriais de todos os grandes jornais: ‘O Rubicão de Chávez’ (Folha), ‘A escalada autocrática de Chávez’ (‘Estado’), ‘Plano em marcha’ (‘Globo’) e ‘Chávez radicaliza sua revolução bolivariana’ (‘Valor’).

Sem foco

Ficou uma confusão o resultado da mistura de dois assuntos completamente diferentes no texto ‘Lula, com Lulinha, segue de férias, enquanto Dilma faz visitas a governadores’ (A8).

BNDES

O ‘Estado’ traz bastidores sobre a pressão do PMDB para presidir o BNDES e informa que o deputado Delfim Netto é o nome preferido do presidente Lula.

Venezuela

É uma pena que o jornal não tenha, já na edição de hoje, um jornalista em Caracas e o relato exclusivo da posse do presidente Chávez e de mais detalhes a respeito das medidas econômicas e políticas que vêm sendo anunciadas. Falta, na cobertura da Folha (e dos outros jornais), apuração própria na Venezuela. Embora tenha publicado ontem e hoje entrevistas exclusivas feitas pela Redação em SP, o que demonstra a disposição de oferecer uma cobertura além das informações vindas pelas agências internacionais, falta à edição a temperatura local (repercussões entre os próprios venezuelanos, análises mais aprofundadas das medidas e informações sobre os novos passos do governo).

O texto ‘Nacionalismo afasta investidor da AL’ (capa de ‘Dinheiro’) informa que a Unctad/ONU atribui às mudanças de políticas na Venezuela, na Bolívia e no Equador a queda de investimentos estrangeiros na América Latina. Mas, que para isso ficasse comprovado, a Folha deveria ter publicado a série histórica (ou pelo menos os números dos três últimos anos) de investimentos estrangeiros nos três países. O texto traz os números do Brasil, do Chile, da Argentina e do México, mas omite os dados dos três países que seriam os causadores da queda de investimentos. Como saiu, o leitor tem de apelar para a fé e acreditar que, mesmo sem conhecer os números, a conclusão da Unctad está correta.

Criminalidade

Por que o jornal não publicou na Edição Nacional a íntegra do documento produzido pelos quatro governadores do Sudeste reunidos ontem no Rio? É um documento importante e que deve ser submetido aos leitores. Três razões pelo menos justificariam a publicação: o peso político dos governadores que se reuniram, a falta de documentos e discussão pública sobre os problemas da violência e da criminalidade e, se as justificativas jornalísticas não são suficientes, o peso dos quatro Estados (os mais atingidos pela violência e pela criminalidade) na circulação da Folha.

Sugiro que o jornal publique o documento na edição de amanhã.



09/01/07

Folha, ‘Estado’ e ‘Valor’ destacam como manchete as novas medidas ‘socializantes’ anunciadas pelo presidente da Venezuela,Hugo Chávez:

Folha – ‘Chávez vai nacionalizar energia e tele’.

‘Estado’ – ‘Chávez vai nacionalizar áreas de energia e telefonia’.

‘Valor’ – ‘Chávez anuncia estatizações e leis para impor socialismo’. O jornal econômico também chama a atenção para o outro vizinho: ‘Bolívia quer elevar gás para térmica em 300%’.

O ‘Globo’ ignora os problemas internacionais e nacionais e dedica a manchete para o Rio: ‘Prefeitura assume trânsito do Rio sem poder multar’.

Brasil

Não dá para entender, no texto ‘Novo nome para disputa na Câmara depende do PMDB’, na pág. A4 da Edição Nacional, o que significa o item ‘votação da política’ do documento de pontos prioritários do Grupo dos 30.

Não existe praça Visconde de Pirajá no Rio, como está no texto ‘Aldo mostra estatueta do ´corneteiro de Pirajá` para sugerir que não vai recuar’ (A4).

Mundo

Ficaram confusos os parágrafos finais da entrevista com o cientista político americano David Myers (‘Venezuelano lembra Fidel, diz analista’, A8 da Ed. SP): ‘Um dos novos pontos interessantes é a nomeação do seu irmão Adán Chávez como ministro da Educação. Ele é um intelectual marxista que defende que os professores deveriam ter aulas de ideologia bolivariana.

É quase um Fidel Castro dos anos 1960 numa versão mais benigna, sem o uso da violência contra oposição, a não ser deixá-la isolada para que seque’.

Quem é quase um Fidel, Chávez ou seu irmão?



08/01/07

A revista ‘Veja’ fez, em sua primeira edição de 2007, o que nenhum jornal tinha se disposto a enfrentar, apesar da relevância e urgência do tema: produziu uma edição especial sobre violência e criminalidade no Brasil – ‘Crime – as raízes, a impunidade, as soluções’. Embora o material editado possa ser passível a críticas pontuais, a reportagem especial de 41 páginas tem o mérito de ter tentado amarrar, com alguma profundidade e sem se ater aos lugares-comuns já consagrados, as diversas facetas do complexo problema que desafia a sociedade brasileira e não tem tido resposta efetiva dos governos federal e estaduais. A reportagem tem ainda o mérito de apontar para São Paulo -’a capital brasileira da criminalidade’, segundo a revista –, foco raramente contemplado pelos grandes jornais de São Paulo.

A revista ‘Época’ também trouxe o assunto na capa – ‘Como a Violência e a Insegurança afetam a mente e a rotina de todos nós’ – mas com o enfoque nas conseqüências para as pessoas, sem a pretensão de tentar entender o fenômeno.

A iniciativa de ‘Veja’ – que, segundo seu editorial, trabalhou no assunto durante os últimos três meses – mostra que falta iniciativa aos jornais, incluindo esta Folha.

Somente a falta de notícia e de investimentos próprios pode justificar a manchete de hoje da Folha, ‘Ensino superior tem a maior inadimplência desde 2002’, capa do caderno ‘Cotidiano’. Não há nenhuma novidade em relação ao índice do ano passado, que foi de 23% contra, agora, 23,2%. A série histórica mostrada pelo jornal na página C1 indica um comportamento, desde 1999, sem grandes modificações. O texto, com exceção de quatro parágrafos que contemplam o ponto de vista dos consumidores, parece release do Semesp – que sequer é identificado pelo nome completo.

Está errada a legenda da foto da Primeira Página que ilustra a chamada sobre os danos das chuvas no Rio e em Minas: o trecho de rodovia afetado liga Campos a Itaperuna (RJ), e a não a Taperuna.

Câmara

Trecho da reportagem ‘Frente vai ´patrulhar` parlamentares eleitos’, na página A4 da Edição Nacional, está errado. Informa que os idealizadores do Grupo dos 30 ‘acham que Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Aldo Rebelo (PC do B-SP) têm condições de defender a bandeira ética’. Ao contrário: eles acham que os dois não têm condições de defender a bandeira ética.

Entrevista

Muito boa a entrevista com o ministro Waldir Pires (Defesa), ‘Dentro da favela, não podemos botar soldado’ (A10). Mostra como o governo federal está longe de atender às demandas dos Estados e de cumprir as promessas que ele mesmo vive fazendo.’