Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Crítica interna

’07/07/2006

As manchetes da ‘Folha’ e do ‘Globo’ registram o resultado de uma das negociações provocadas pela eleição presidencial:

Folha – ‘Lula dá Correios ao PMDB em troca de apoio’.

‘Globo’ – ‘Lula entrega a PMDB estatal que deu origem a escândalo’.

O ‘Estado’ preferiu, pelo segundo dia consecutivo, destacar os resultados positivos na economia: ‘Mercado interno faz indústria crescer mais que o esperado’.

E a eleição estadual?

A Folha ignora o primeiro dia da disputa pelo governo de São Paulo. O único registro é uma legenda para duas fotos dos dois principais candidatos, Serra e Mercadante. O que eles já prometeram ontem? Quais são os problemas de suas campanhas? Quem são os outros candidatos? O que pensam sobre assuntos graves do Estado, como a crise do sistema penitenciário? O que o leitor precisa saber de bastidores para ficar bem informado sobre a disputa paulista? Como o jornal analisa este início de disputa pelo governo do Estado mais influente em termos políticos e econômicos? Será que o jornal desconfia que (e)leitores de outros Estados têm interesse no que acontece em São Paulo?

Não há informação, não há serviço, não há questionamento, não há reportagens diferentes, não há nada sobre a campanha eleitoral no Estado onde o jornal tem a sua sede e onde vende cerca de 70% de sua tiragem – apenas duas fotos. É impressionante.

E é curioso, já que o jornal publicou, na Edição Nacional, reportagens com informações sobre o primeiro dia de campanha no Rio (‘Tráfico intimida candidato tucano no Rio’) e em Minas (‘Favorito, Aécio adia início da campanha para tirar férias’). Deve estar achando que para os seus leitores as campanhas do Rio e de Minas são mais importantes do que as de São Paulo.

México

A propósito de comentário que fiz ontem na Crítica Interna sobre a ausência de informações sobre as eleições no México na Primeira Página, recebi de Luciana Coelho, via Secretaria de Redação, a seguinte explicação:

‘Gostaria de esclarecer o ponto sobre o México na crítica interna do ombudsman. Como a crítica, pelo que eu entendi, é à Primeira Página, peço que essa resposta só seja repassada ao ombudsman se a Primeira estiver de acordo. Faço o esclarecimento porque foi Mundo que avaliou ontem que a situação no México não constituía uma ‘reviravolta’.

Ao contrário do que disse o ombudsman em sua crítica interna de 6/7, a pequena frente aberta pelo candidato López Obrador na recontagem de votos não foi surpreendente _foram contados primeiros os votos da capital e do sul do país, redutos do esquerdista. Porque a margem era pequena, vinha encolhendo com o passar das horas, e os distritos que faltavam ser apurados eram aqueles onde Calderón vencia, esperávamos que a ‘reviravolta’ não fosse confirmada _como ocorreu hoje.

Foi essa a avaliação passada pela editoria à SR e à Primeira Página, o que também explica o fato de a apuração mexicana não ser nossa capa, embora esteja em destaque em um abre de página’.



06/07/2006

A taxa semestral de inflação despencou e foi manchete no ‘Estado’: ‘Inflação em SP fica perto de zero no semestre’. A deflação na cidade de São Paulo em junho obrigou a revisão do cálculo de inflação para o ano e criou a expectativa de que possa haver uma nova redução na taxa de juros. A Folha fez o registro na Primeira Página – ‘Deflação em São Paulo é de 0,31%, a maior em sete anos’ -, mas internamente preferiu formular a manchete do caderno ‘Dinheiro’ com uma projeção – ‘Fase de deflação acabou em SP, diz a Fipe’. Segundo o jornal, os ‘preços voltarão a subir no semestre’. Para o jornal, é notícia mais importante do que a constatação de que a inflação está ‘domada’ e de que, ‘Com deflação, economia deve registrar melhor desempenho neste semestre’. Na coluna ‘Mercado Aberto’, outra advertência: ‘Economista vê sinal amarelo na inflação’ [projeção para 2007!]. Foram boas as notícias, mas não tanto para a Folha.

As manchetes da Folha e do ‘Globo’ foram para as eleições presidenciais, com destaques diferentes:

Folha – ‘Patrimônio de Lula dobra na Presidência’.

‘Globo’ – ‘Efeito mensalão: candidatos aumentam previsão de gastos’.

México

A Folha vinha dando, nos últimos dias, destaque para a eleição presidencial do México na Primeira Página. Hoje, no entanto, o jornal ignora a surpreendente mudança anunciada pela recontagem dos votos e que mostra o candidato da oposição na frente, embora com um quadro indefinido.

Araraquara

É impressionante o relato da situação dos presos confinados na penitenciária de Araraquara – ‘Isolados e sem luz, detentos vivem inferno no interior de SP’ (capa de ‘Cotidiano’).

Há um dado, no entanto, que deve ser checado: segundo a Primeira Página e a reportagem em ‘Cotidiano’, são 1.600 presos confinados; segundo nota na coluna ‘Mônica Bergamo’, são 1.200. Embora nos dois casos o número de presos já configure crime, é grande a diferença de 400 detentos a mais ou a menos.



05/07/2006

Os três grandes jornais têm a mesma manchete:

Folha – ‘Lula vai vetar aumento de 16,67% para aposentados’.

‘Estado’ – ‘Senado dá 16% de aumento a aposentados. Lula vai vetar’.

‘Globo’ – ‘Congresso dá a aposentados 16,6% e deixa veto para Lula’.

Apenas o ‘Globo’ teve a preocupação correta de destacar as razões do veto do governo: ‘Aumento causaria rombo de R$ 7 bilhões e por isso deve ser derrubado’. A Folha, que defende o equilíbrio fiscal e critica as administrações públicas quando geram déficit, deveria ter contemplado as razões do governo federal. Aliás, deveria ter contemplado o ponto de vista do governo independentemente de concordar ou não com ele.

É curioso o que ocorreu com o ‘Estado’. O jornal já tinha a informação do aumento para a aposentadoria na sua primeira edição (20h55), mas começou a circular com a manchete ‘Sanguessugas agiram também na Educação e na Ciência’ e não deram bola para o assunto na Primeira Página. Depois, trocaram a manchete.

‘Painel do Leitor’

A Folha não publicou hoje um ‘Painel do Leitor’, mas uma coluna que poderia chamar de ‘Direito de Resposta’.

Eleições 2006

A Folha se precipita ao associar, no título da página A4 da Edição Nacional, o prefeito de Diadema ao valerioduto – ‘Tesoureiro de Lula é suspeito de receber do ‘valerioduto’. Neste momento, o prefeito está sendo obrigado pelo Ministério Público de São Paulo a explicar como liquidou uma dívida de R$ 183 mil que, aparentemente, não tinha condições de pagar. Até a resposta do prefeito, daqui a dez dias, o que há de concreto é o pedido de explicação do MP. O título da Edição Nacional avança o sinal porque compra a ilação do promotor. O título da Edição SP é correto: ‘Tesoureiro de Lula terá que explicar origem de R$ 183 mil’.

Sanguessugas

O jornal edita mal, na Edição Nacional, o noticiário sobre as investigações do Ministério Público relativas aos parlamentares envolvidos no escândalo da máfia das ambulâncias. Este caso, que envolve até o momento 57 parlamentares, é mais importante do que a conta de que o Congresso só funcionará 3 dias por mês. Merecia mais destaque na Edição Nacional. ‘Globo’ e ‘Estado’ dão destaque na Primeira Página para um aspecto que a Folha não valorizou: o esquema de corrupção atingia também os ministérios da Ciência e Tecnologia (já sabido) e da Educação.

O noticiário da Edição Nacional da Folha (‘Sanguessugas são 57, afirma procurador’, pág. A7) está editado sob o chapéu ‘Eleições 2006’, o que não tem nada a ver.

Questão indígena

Segundo o ‘Estado’, ‘Índios caripunas têm 9 reféns no AP’.

Sigilo eterno

Segundo ‘O Dia’, do Rio, projeto de lei aprovado em duas comissões da Câmara prevê que documentos relativos à Segurança Pública, como inquéritos policiais, poderão ser considerados secretos pelos governadores dos Estados por um período de até cem anos. É mais um absurdo que contraria o direito constitucional de acesso a informações públicas. O ‘Estado’ também publicou a informação.

A Folha já deu mais atenção ao tema.

Ouvidoria de São Paulo

Outro assunto que está sendo negligenciado pela Folha é o da eleição do novo ouvidor da cidade de São Paulo. Segundo o ‘Estado’, o prefeito mudou as regras da Comissão Municipal de Direitos Humanos às vésperas da eleição e as mudanças terão influência na nomeação do novo ouvidor.

Cteep

Segundo o colunista Luís Nassif, a privatização da Cteep, ocorrida na semana passada, foi um ‘mau negócio’ para o Estado de São Paulo (pág. B6). Desde o leilão da privatização o jornal esqueceu o assunto.

Impressão

Estão ruins as impressões das páginas A4, A5, A12 e A13 da Edição Nacional que recebi.



04/07/2006

A impressão que tenho é que o jornal já abandonou alguns dos princípios anunciados na reforma gráfica de 17 de maio. Está lá, no ‘Manual de Formatos’: ‘Primeira Página – A parte mais nobre do navegador da Primeira Página, a barra horizontal logo abaixo do logotipo da Folha, será destinada a conteúdos exclusivos do jornal (furos, entrevistas, features, suplementos e colunistas)’.

A parte mais nobre da Primeira Página de hoje está ocupada por uma caixa com foto e notícias que não têm nada de exclusivas. Todos os jornais têm as mesmas fotos e notícias colhidas na entrevista coletiva dada por Carlos Alberto Parreira ontem à tarde no Rio.

Estranho também o corte no ‘navegador’, com as notícias sobre a Copa cortadas pela manchete do jornal. Entendo como uma variação do ‘caos organizado’ assumido pelo jornal no manual citado.

O ‘Estado’ e o ‘Globo’ mantêm o padrão de prestação de serviço para os que querem acompanhar os jogos da Copa independentemente da atuação do Brasil e publicam infográficos com os próximos jogos das semifinais e os horários. Na Primeira Página da Folha, o serviço, que vinha sendo publicado todos os dias enquanto a seleção seguia aos trancos, hoje foi trocado por um título seco (‘Alemanha e Itália abrem hoje semifinais’) sem horário e serviço de TV e sem informações de um jogo que reúne duas seleções tricampeãs. Ou seja, na capa da Folha não tem a cobertura da Copa, mas apenas da seleção brasileira. É uma cobertura voltada para o próprio umbigo.

O candidato do governo à Presidência do México não está 1% na frente do da oposição, como informa a Primeira Página da Edição Nacional, mas um ponto percentual.

‘Erramos’

A correção de erro de informação deve ser completa e deve facilitar a vida do leitor, e não complicá-la. A correção ‘Mundo’, na edição de hoje (pág. A3), reconhece o erro publicado ontem no infográfico ‘Referendo sobre Autonomias’ na Bolívia, mas não informa que Departamentos votaram pelo ‘sim’ (a favor da autonomia) e pelo ‘não’. Ou seja, obriga o leitor a recuperar o jornal de ontem para saber do que se trata. Ou adivinhar que o jornal estaria publicando novamente o quadro na edição de hoje.

Por se tratar de um erro que contraria o ‘Manual’ e prejudica o leitor, sugiro a republicação da correção, agora de forma correta.

Eleições 2006

A Folha traz hoje uma reportagem sobre as discussões internas nas campanhas dos dois principais candidatos à Presidência sobre o déficit da Previdência e as medidas necessárias para equilibrar as contas no próximo governo – ‘PT e PSDB querem adiar aposentadorias’ (pág. A8).

Como a reportagem situa, é um tema complicado porque implica em mudanças de regras e de direitos. Os candidatos fogem dele nas campanhas eleitorais porque não atrai votos, ao contrário.

O chapéu escolhido – ‘Agenda oculta’ – é bom porque indica que o jornal resolveu mexer em vespeiros.

Foi uma boa iniciativa. Espero que não seja a única, mas a primeira de uma série de reportagens e análises sobre os assuntos que realmente interessam para a população e que os candidatos vão evitar discutir publicamente para não perder votos.

O texto da manchete na Primeira Página deveria ter deixado claro que as mudanças estudadas para a elevação do limite de idade para a aposentadoria se referem apenas a novos segurados. No caso dos atuais segurados, o que a reportagem da página A9 informa é que o ‘Governo estuda alterar idade para aposentadoria integral’, fixando em 60 anos o padrão para o cálculo do fator previdenciário.

Como saiu na capa do jornal, ficou parecendo que os dois partidos querem adiar a aposentadoria para os que já estão no mercado. Pelo menos, foi o que entendi.

Acho que a foto do infográfico ‘Linhas de frente de campanha’ (pág. A7 da Edição Nacional) é do jurista Miguel Reale, morto em abril, e não do filho Miguel Reale Júnior, tesoureiro da campanha do PSDB.

Cotas

É um absurdo o tratamento dado hoje pela Folha à discussão sobre os projetos que instituem a Lei de Cotas e o Estatuto da Igualdade Racial.

1 – A Folha publicou, na quinta-feira passada, a íntegra do manifesto ‘Todos têm direitos iguais na República’, contrário aos dois projetos de lei. Ontem, foi divulgado o ‘Manifesto em favor da Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial’, também assinado por intelectuais e artistas.

Por que não foi publicada a íntegra do novo manifesto? E o pluralismo? Não foi garantido o mesmo tratamento para as duas posições.

2 – O infográfico publicado na página C4 que ilustra o texto ‘Intelectuais fazem manifesto pró-cotas’ é um equívoco, porque destaca os signatários (celebridades) e não os principais trechos dos manifestos (conteúdo, idéias, argumentos).

3 – Não há na página um resumo da Lei de Cotas e do Estatuto. Como o leitor pode entender a discussão e se posicionar?

4 – O assunto merecia uma chamada na Primeira Página, embora não com o enfoque equivocado da reportagem publicada em ‘Cotidiano’.

Conclusão: o leitor da Folha está mal informado sobre um assunto difícil, que divide a sociedade e que deverá ser definido em breve no Congresso.

O mínimo que o jornal pode fazer agora é publicar a íntegra do novo manifesto para que seus leitores possam se informar e tomar posição.’