Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Crítica interna

16/2/07

Folha e ‘Globo’ mantêm a atenção no Congresso, pressionado pela morte do menino João Hélio: ‘Câmara dobra pena para uso de menor em crime’ (Folha) e ‘Adulto que usar menor em crime terá punição maior’ (‘Globo’). O ‘Estado’ registra a aprovação do projeto de lei, mas destaca como manchete os cortes do governo que continuarão a afetar setores estratégicos para uma política conseqüente de segurança pública, como Saúde e Educação – ‘Governo congela R$ 8 bi do orçamento na área social’.

A manchete e o texto da Primeira Página da Folha não esclarecem para quanto tempo foram aumentadas as penas para quem usar menor em crimes.

‘Estado’ e ‘Globo’ alertam, na Primeira Página, para os problemas que enfrentarão no Carnaval os que vão viajar de avião: ‘FAB prevê protestos no controle de vôos’ (‘Estado’) e ‘Vôos atrasam em dobro no pré-carnaval’ (‘Globo’).

Como os grandes noticiaram o acordo com a Bolívia: ‘Lula cede à pressão de Morales, e Brasil pagará mais por gás’ (Folha), ‘Lula aceita aumento no preço do gás boliviano’ (‘Estado’), ‘Lula: gás mais caro faz justiça aos bolivianos’ (‘Globo’). Todos concordam que o resultado ainda está confuso.

O ‘Valor’ fez um bom resumo do desfecho: ‘Política externa define preço do gás’. Segundo o jornal econômico, o governo cedeu motivado ‘pelas preocupações com a instabilidade política do país vizinho’. A Petrobrás vai pagar a conta, explica.

Paraguai

É esclarecedora a reportagem sobre a disputa presidencial no Paraguai (capa de ‘Mundo’), mas tem problemas de acabamento:

Está errada, no infográfico ‘Disputa paraguaia’, na Edição Nacional, a população do país. São 6,5 milhões, e não 6,5 mil.

A edição da página da capa de ‘Mundo’ deveria ter evitado a repetição nos dois títulos: ‘Brasil é alvo de candidatos paraguaios’ e ‘´Posso ser alvo de atentado´, declara Lugo’. É muito alvo para tão poucos títulos.

Maioridade penal

Como a própria reportagem ‘Se maioridade aos 16 já valesse, prisões teriam 11 mil a mais’ (C3 na Ed. SP) esclarece, este número é apenas uma estimativa a partir de um levantamento de 2002. Por isso, fica sem sentido escrever que o número de jovens infratores atingidos pela maioridade de 16 anos em 2006 era 11.723. O certo seria ‘cerca de 11 mil’ , ‘mais de 11 mil’ ou algo parecido.

Violência no futebol

Segundo o ‘Estado’, dois torcedores do Palmeiras foram condenados ontem a 14 anos de prisão por participarem da morte de um torcedor corintiano em 2004. É uma notícia importante para ajudar a inibir a violência no futebol.



15/2/07

Os três grandes jornais destacam os primeiros projetos aprovados pela Câmara por causa das pressões surgidas após o assassinato do menino João Hélio no Rio. Como a votação ocorreu tarde, os jornais mudaram as manchetes ao longo da rodagem. A Folha começou a circular com a notícia da suspensão da obra do metrô de São Paulo e a substituiu por ‘Câmara dificulta saída de preso da cadeia’. No ‘Estado’, ‘Câmara amplia rigor para crime hediondo’; no ‘Globo’, ‘Câmara aumenta o regime fechado para crime hediondo’. Os projetos de lei ainda irão ao Senado, como explica a linha fina da manchete da Folha.

A Primeira Página do jornal ignorou, na edição de ontem, o resultado do laudo que apontou riscos na estação Fradique Coutinho do metrô de São Paulo. Foi uma omissão inexplicável sob o ponto de vista jornalístico. Conseqüência do laudo e de outras irregularidades apontadas anteriormente, o governo de São Paulo decidiu ontem parar as obras da linha 4 até a elaboração de novo laudo.

Religião?

Não entendi o que a notícia sobre o aumento de turismo em Roma está fazendo em ‘Brasil’ (‘Com Bento 16, aumenta o turismo religioso em Roma’, A12).

Irã

O jornal se refere, na reportagem ‘´Nós sabemos` da culpa do Irã, diz Bush’ (A13), à Guarda Revolucionária Iraniana. Na mesma página, no texto ‘Atentado contra tropa de elite iraniana mata 11; grupo sunita assume autoria’, se refere ao Corpo da Guarda Revolucionária. Não seriam a mesma Guarda? Caso sejam corporações diferentes, isso deveria ter ficado explícito para evitar confusão.

Bancos

A Folha usa fontes e critérios diferentes sobre os lucros dos bancos em 2005 e 2006. Que infográfico vale, o da página B2 ou o da página B8?

Gás

O ‘Estado’ foi imprudente e teve de mudar a manchete da capa do caderno de Economia: começou a circular com ‘Evo volta à Bolívia sem reajustar gás’ e trocou para ‘Brasil aceita reajuste do gás boliviano’.

Crimes

A Folha não registra os assassinatos do vice-presidente do Salgueiro e de sua mulher, na madrugada de ontem.

Metrô

Segundo o ‘Estado’, o presidente do Metrô será demitido após o Carnaval.



14/2/07

Hoje não circulará a Crítica Interna do ombudsman.



13/2/07

A Folha e o ‘Globo’ trouxeram para as suas manchetes as discussões sobre mudanças na legislação penal provocadas pelo assassinato do menino João Hélio.

Folha – ‘Senado retoma debate sobre maioridade penal’.

‘Globo’ – ‘Câmara apressa votação de lei mais rígida contra o crime’.

O ‘Estado’ também destacou a reabertura da discussão – ‘Câmara quer limitar regime semi-aberto’ -, mas reservou a manchete para os cortes que deverão ser anunciados hoje no Orçamento da União: ‘Governo vai congelar até R$ 19 bi de gastos’.

Segurança pública

A Folha investiu hoje na discussão sobre mudanças nas leis para enfrentar a criminalidade. Algumas observações:

1 – O jornal resume as propostas que tramitam no Senado sobre maioridade penal, mas continua vago em relação aos projetos de lei que correm na Câmara para tornar o Judiciário mais ágil.

É vago, na reportagem principal (‘Senado retoma debate da maioridade penal’, capa de ‘Cotidiano’). É vago, também, no infográfico ‘Outros crimes que motivaram pacotes de segurança’ (capa do caderno na Edição Nacional), onde cita quantidades de projetos em tramitação ou leis aprovadas sem informar do que tratam. É vago quando resume que o Senado aprovou 13 projetos de endurecimento da legislação penal após os ataques do PCC, mas não informa o seu conteúdo.

Se o jornal quer de fato entrar na discussão, deve ao menos fazer um resumo do que está em tela. Para o leitor não adianta saber quantos projetos estão em tramitação ou quantos já viraram leis. O que importa é saber do que tratam para que possam se posicionar. Não é difícil par o jornal resumi-los.

A importância da discussão pode ser medida pela entrevista do presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República ao jornal (‘Ellen Gracie critica mudar lei em ´clima de emoção´‘, C4 da Ed. SP). Ele afirma que os projetos da Câmara que modificam o Código de Processo Penal podem piorar a legislação e cita um exemplo que não está em nenhum resumo do jornal.

A discussão é sobre propostas, e não sobre números.

2 – O governador do Rio introduziu duas outras discussões, uma antiga e bastante polêmica – a descriminalização das drogas – e outra nova – a autonomia legislativa dos Estados na área penal.

3 – A comoção provocada pela morte do menino foi toda dirigida para a necessidade de mudanças nas leis e na Constituição. E a ação do governo estadual nestes primeiros 40 dias de mandato? Aparentemente não mudou nada no Rio no período. A guerra entre traficantes e milícias continua igualzinha, os atos de barbárie idem, os problemas com as polícias idem, idem. O que mudou na política de segurança do Rio? Aparentemente nada. Mas o noticiário está focado exclusivamente no Congresso. É curioso porque a cada crime como o do menino João Hélio a discussão escorre para a União, para a Justiça ou para o Congresso, mas as questões relativas à política de segurança pública, responsabilidade dos Estados, ficam esquecidas.

A propósito, o ‘Estado’ traz um levantamento interessante na edição de hoje: ‘Crime de jovens cresceu na zona norte, onde João foi morto’.

Segurança alimentar

Poucas notícias da Folha de hoje têm tanto impacto quanto a informação de que mais uma criança indígena morreu de desnutrição em Mato Grosso do Sul. Entra ano, sai ano e as mortes continuam. Agora, segundo a Folha, com o agravante da suspensão da distribuição de cestas básicas pelo governo do Estado (A6). Era notícia para estar na Primeira Página do jornal, próxima do noticiário sobre o assassinato do menino João Hélio.



12/2/07

A Folha refez as contas da Previdência segundo a nova metodologia proposta pelo governo federal para buscar mais transparência. A reportagem é oportuna e parece bem feita, mas o título da manchete de hoje não ajuda: ‘Déficit do INSS piora até em conta nova’. O que é ‘conta nova’?

O ‘Estado’ tem manchete discreta, em duas colunas: ‘Brasil é campeão em ações trabalhistas’. E o ‘Globo’ segue dando prioridade para a violência e a criminalidade no Rio: ‘Guerra entre milícia, tráfico e polícia deixa mais 9 mortos’.

A Folha criou um selo para a cobertura de crimes na Primeira Página – ‘País da violência’ -, mas as notícias e foto são apenas do Rio.

As principais fotos da capa da Folha confirmam que é o país da violência, do futebol e do carnaval.

‘Painel do Leitor’

A Folha desde sábado vem acertadamente dando espaço no ‘Painel do Leitor’ para as manifestações e propostas de leitores chocados com a tragédia do menino João Hélio no Rio. Faço o registro por se tratar de iniciativa pouco freqüente.

Segurança pública

Está incompleta e, portanto, sem utilidade para o leitor a reportagem ‘Chinaglia testa ´linha dura` com pacote sobre segurança’ (A6). De acordo com o jornal, a partir de quarta-feira o presidente da Câmara ‘tentará votar três medidas provisórias e nove projetos de lei referentes à área de segurança’, sendo que a maioria trata de alterações na legislação penal. Como informa a reportagem, ‘o pacote de segurança’ atende às pressões que ressurgiram com a morte do menino João Hélio no Rio.

O que interessa de fato numa reportagem como essa é o conteúdo das medidas provisórias e dos projetos de lei que irão a plenário. Há uma polêmica na imprensa provocada pela indignação da sociedade e são inúmeras as propostas que surgem como soluções para o crescimento da violência e da criminalidade. O que interessa saber, portanto, é o teor do que vai ser discutido na Câmara, e não um registro estatístico. Se o jornal não tinha espaço para detalhar os projetos em ‘Brasil’, deveria tê-lo feito em ‘Cotidiano’.

Perdeu, assim, uma boa oportunidade para, com a pauta da Câmara, contribuir com alguma racionalidade para a discussão que tomou conta do país.

O problema é que o enfoque da cobertura na Câmara quase sempre está nas manobras, correlação de forças, burocracias e trâmites, e não no conteúdo e análise dos projetos.

Sanguessugas

Não dá para entender por que o jornal não cita os nomes dos parlamentares e assessores acusados de envolvimento com o esquema dos sanguessugas que prestaram explicações aparentemente inverossímeis para a Polícia Federal (‘Sanguessugas criam Vedoin ´benfeitor´‘, A6).

Harvard

Parece inadequado chamar de ‘presidente’ a nova reitora da Universidade de Harvard (‘Harvard ratifica 1ª mulher como presidente’, A9).

Portugal

Tudo bem que a Folha dê como destaque do noticiário internacional o resultado do referendo que ontem aprovou a descriminação do aborto em Portugal (A8). Mas é um exagero, sem justificativa jornalística, a retranca da Edição Nacional com o ex-presidente de Portugal, Jorge Sampaio, apenas por que foi mesário. A notícia rendia uma nota, se tanto. Pareceu que sobrou papel e faltou assunto.

‘Ciência’

A que se refere a arte ‘Fontes Energéticas’ que compõe o infográfico ‘Civilização da biomassa’ (A10)? É a distribuição de fontes de energia no Brasil? Nos Estados Unidos? No mundo?

Gore Vidal

Está boa, apesar de feita por e-mail, a entrevista desta segunda-feira, ‘Com Bush, perdemos a Constituição, diz Vidal’ (A12).’