Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Daniel Castro

‘Um dos trunfos da Record é que ‘Metamorphoses’ irá concorrer, pelo menos nesta semana, com uma novela dublada no SBT, a emissora da qual pretende tirar o posto de vice-líder no Ibope.

Em razão do caos provocado pelas reviravoltas de Silvio Santos, a rede não teve tempo de gravar uma novela brasileira, de texto mexicano, a tempo de colocar no ar nesta semana, quando acaba ‘Canavial de Paixões’, sua atual produção nacional.

A solução foi improvisar com uma mexicana dublada. O título, ‘A Outra’, é o mesmo que o SBT iria gravar para a estréia de amanhã.

Desde dezembro, já estava decidido que o SBT iria produzir ‘A Outra’. Em janeiro, a emissora anunciou a contratação da global Mel Lisboa (‘Presença de Anita’) para ser a protagonista.

Em fevereiro, Silvio Santos resolveu mudar os rumos. Não iria mais produzir ‘A Outra’ fielmente ao texto original. Queria contratar um roteirista para adaptá-la aos dias de hoje e introduzir assuntos brasileiros.

A mudança e a demora por uma decisão acabaram inviabilizando a produção a tempo de estrear agora.

Curiosamente, a ‘A Outra’ que estréia amanhã, às 20h40, tem semelhança com ‘Metamorphoses’ -no ar a partir das 20h. A novela da Record gira em torno da troca de identidades. A do SBT conta a história de uma mulher ‘petulante, ambiciosa e vulgar’, Cordélia, que tira proveito do fato de ser sósia da boazinha Carlota. Ela seduz o rico Álvaro, paixão da vida de Carlota, que se viu obrigada a se afastar dele.

Nesta semana, o SBT conta ainda com os últimos capítulos de ‘Canavial de Paixões’, que será exibida às 21h, após ‘A Outra’.

‘Canavial’ vem registrando 13 pontos no Ibope, uma boa marca para as novelas do SBT. No Datanexus, é a maior audiência da emissora, com 18 pontos.

A meta da Casablanca, produtora de ‘Metamorphoses’, é dar 20 pontos. Não vai ser fácil, mesmo com ‘A Outra’ dublada. Isso porque ver novela é uma questão de hábito. E a da Record terá também a concorrência de ‘Roda a Roda’ (20h), no SBT, que vem obtendo boa audiência.

Para se prevenir, Silvio Santos corre contra o tempo. Em abril, começa a gravar ‘Deus por Testemunha’, que poderá, já em maio, ser escalada para combater ‘Metamorphoses’.’



PERFIL / CLAUDIO FONTANA
Etienne Jacintho

‘‘Não me preocupei em fazer carreira na TV’’, O Estado de S. Paulo, 14/03/04

‘Procura-se um ator. Foi um anúncio como esse que colocou Claudio Fontana nos palcos e, conseqüentemente, na TV. Tudo aconteceu em um dia atípico para o ator, que seguia carreira como atleta e administrador. Ele estava treinando em um clube, quando brigou com o técnico e avistou o cartaz em um teatro. Fontana, que já foi campeão brasileiro dos 400 metros rasos, abandonou seus tênis e encarou uma atividade com a qual jamais sonhara.

‘Gostava de novelas e de cinema, mas nunca tinha me imaginado fazendo isso’, conta o ator, que estreou no teatro amador aos 18 anos, com um texto de Molière.

Quando fez sua primeira peça profissional, Vem buscar-me que ainda sou teu – ao lado de Laura Cardoso -, Fontana teve a sorte de ter na platéia Silvio de Abreu. O autor o convidou para a novela Deus nos Acuda (1992), seu primeiro trabalho na TV. Nesse momento, Fontana pediu demissão da empresa em que trabalhava e abraçou de vez a profissão de ator.

Atualmente, ele vive Jayme Penteado na minissérie Um Só Coração, da Globo. O ator recebeu o Estado com os cabelos ligeiramente grisalhos. Não, ele não parou de tingir os fios castanhos. Muito pelo contrário. Os fios brancos foram criados para seu personagem, que está envelhecendo na minissérie. ‘As pessoas na rua olham para mim com aquele risinho de ‘ahá, parou de pintar o cabelo’, mas já me acostumei’, brinca.

No currículo, traz outros trabalhos na TV. Atuou nas novelas globais Fera Ferida (1993) e O Amor Está no Ar (1997); no SBT fez As Pupilas do Senhor Reitor (1994) e A Pequena Travessa (2002); e na Record participou de Tiro e Queda (1999) e de A História de Ester (1998). A dança de emissoras é conseqüência da escolha de vida do ator, que gosta mais dos palcos do que das câmeras de TV.

Estado – Você tem perfil de galã, mas não emplacou o tipo. Foi algo que não deu certo ou você não explorou isso?

Claudio Fontana – Nunca me preocupei em fazer carreira na TV, que apareceu como uma coisa esporádica. Para mim, ator mesmo é o de teatro.

Estado – A dança de emissoras foi uma escolha sua?

Fontana – Escolhi os papéis conforme o projeto e as pessoas que nele estavam envolvidas. Foi o caso de As Pupilas do Senhor Reitor, no SBT, que estava implantando um núcleo de novelas, com o Nilton (Travesso). Para que ficar no Rio para fazer carreira na TV e ganhar dinheiro? O Manuel do Alpendre foi meu melhor papel em novela e talvez na Globo eu nunca tivesse uma oportunidade como essa. Já a minissérie é uma produção de altíssima qualidade.

Estado – Há algo que você não sabia sobre a história de São Paulo que descobriu com a série?

Fontana – Tive curiosidade de saber como era a minha família na época representada na série. Descobri que os Fontana vieram da Itália e abriram o Bar Viaduto, no centro, freqüentado por toda a sociedade.

Estado – Como é viver o Jayme?

Fontana – Ele é uma espécie de Jorginho Guinle. Representa o comportamento social de uma época. Nunca trabalhou, é alegre, não liga para nada . Hoje, quem não trabalha não sobrevive.

Estado – Você está com 41 anos e o Jayme começou a série com 20 e poucos anos. Como foi o processo de rejuvenescimento?

Fontana – Todo jovem tem aquela ansiedade. Por isso usei um tom mais agudo para falar e trabalhei o impulso. Agora, o Jayme está mais pausado, mais tranqüilo e com a voz mais grave. Além do cabelo, é claro.

Estado – E você, o que faz para se manter jovem?

Fontana – Eu costumo correr. Quando competia, eu me sentia feliz ao final de cada prova. É a endorfina. Na carreira também me sinto assim. Quando estou no palco também rola uma endorfina.

Estado – Talvez por isso você goste mais de teatro do que de TV. É a tal endorfina…

Fontana – É verdade. Interpretar é como se exercitar.

Estado – Você tem um talento musical…

Fontana – Meu avô me deu um acordeão, que era maior do que eu. Aprendi noções de música. Foi útil porque o Alcides (Nogueira) escreveu uma cena em que o Jayme está no campo de batalha, encontra um violão e o toca. Mas o (Carlos) Manga falou: ‘Ninguém encontra um violão na trincheira.’ Então, ele decidiu que o Jayme iria tocar Lua Branca na gaita. Treinei por uns 20 dias.

O elenco não agüentava mais.

Estado – Você assiste às suas cenas na TV?

Fontana – Quando assisti à minha estréia, chorei de vergonha. Mas não tenho mais essa preocupação. Sou autocrítico, mas sei minhas limitações.

Estado – Em uma peça, você se vestiu de mulher. Como foi a experiência?

Fontana – Foi em Camila Baker (risos), com o Dalton Vigh, o Caco Ciocler…

Fiz uma mulher caricata, com peruca, salto alto, seios. Fiz, com o Caco Ciocler, um quadro para o Fantástico. Descemos a Rua Augusta travestidos. O Caco fez até depilação! Depois ficamos com a panturrilha dolorida por causa do salto alto.

Estado – Houve algum outro trabalho em que se modificou muito?

Fontana – Em Feliz Ano Velho não me modifiquei, mas tive de treinar em um circo, porque a primeira cena, o mergulho de Marcelo Rubens Paiva, foi criada por Marcos Frota. Quando o substituí tive de saltar de uma grande altura. O problema é que tenho medo de altura!

Estado – Quais são seus projetos?

Fontana – Vou fazer um texto inédito de Dib Carneiro Neto (editor do Caderno 2 do Estado) sobre a relação entre pai e filho. Paulo Autran também quer fazer e estou batalhando a produção. Já comecei a captação para montá-la em São Paulo.’



OS NORMAIS
Cláudia Croitor

‘Fantástico’ acolhe novo ‘Os Normais’’, Folha de S. Paulo, 14/03/04

‘É como se Vani estivesse grávida de Rui, esperando o filho para breve, um domingo de março. No próximo dia 28, a Globo coloca no ar o primeiro ‘filhote televisivo’ do seriado ‘Os Normais’, um dos maiores sucessos de audiência da emissora, que terminou no ano passado e neste ano deve ganhar seu segundo longa-metragem.

O filhote chama-se ‘As 50 Leis do Amor’ e, pelo menos no início, virá em forma de um quadro no ‘Fantástico’. É escrito pela dupla criadora de ‘Os Normais’, o casal Alexandre Machado e Fernanda Young, e dirigido por José Alvarenga Jr., diretor do seriado. Vai misturar o formato ‘sitcom’ com esquetes vistos nos programas de humor tradicionais, como os antigos ‘Satiricon’ e ‘Faça Humor, Não Faça Guerra’.

‘Não acho que o quadro seja semelhante aos ‘Normais’, mas é compreensível que as pessoas façam comparações e tenham expectativas. Claro que há algumas semelhanças, como um humor de observação das pessoas urbanas. Mas a gente quer fazer coisas diferentes, testar novos formatos. Se houver semelhanças com ‘Os Normais’, que sejam semelhanças boas’, diz Machado.

Em ‘As 50 Leis do Amor’, que até o final da semana já terá os seis primeiros episódios gravados, Tadeu é um ator, vivido por Diogo Vilela, que é convidado para apresentar um quadro no ‘Fantástico’ sobre o amor. Para ajudá-lo na tarefa, resolve chamar seus ‘dois grandes amores’: sua atual e sua ex-mulher, ambas atrizes, que se odeiam e são vividas respectivamente por Andréa Beltrão e Débora Bloch.

O quadro é dividido em três partes, e nas três é visível o mesmo tipo de humor contido em ‘Os Normais’. Na primeira, o trio apresenta -em meio a brigas veladas- a ‘lei do amor’ do dia. Age como se estivesse de fato (e está) apresentando um quadro no dominical da Globo.

Na segunda parte, são encenadas (pelo trio de atores que representa um trio de atores) as esquetes sobre situações cotidianas envolvendo amor, relacionamentos e afins. ‘E a terceira parte é uma espécie de documentário. Filmamos como se fosse um bastidor do quadro, com os três batendo papo no camarim, discutindo seus relacionamentos, suas diferenças, sempre com os atores agindo naturalmente e improvisando’, explica Alvarenga.

Por mais que os autores queiram distanciar o quadro do seriado, o telespectador acostumado com o casal vivido por Fernanda Torres e Luís Fernando Guimarães poderá rever as situações típicas da série, envolvendo discussões de detalhes íntimos dos casais, piadas escatológicas etc. A maior diferença, talvez, venha do tom das piadas.

‘Acho ótimo as pessoas esperarem um segundo ‘Normais’. E para mim é um avanço isso acontecer dentro do ‘Fantástico’, afirma o diretor, referindo-se à diferença do perfil da audiência de ‘Os Normais’, exibido nas noites de sexta, e do ‘Fantástico’, com perfil mais familiar.

Em ‘As 50 Leis’, os autores tiveram que tomar cuidado para dar ao texto e às piadas um tom mais leve que o do seriado. ‘A gente tem um objetivo, que é testar limites. É nosso estilo pessoal, é uma coisa boa que a gente pode oferecer. Claro que estamos procurando tomar alguns cuidados’, diz Machado.

Para Fernanda Young, ‘é preciso tomar mais cuidado ao escrever, mas as pessoas sabem que nosso trabalho exige uma certa maturidade do telespectador’.

Diretor artístico do ‘Fantástico’, Guel Arraes esteve nas gravações do quadro na última semana para supervisionar o conteúdo dos textos. ‘Não adianta fazer e depois não poder colocar no ar porque não é adequado ao horário. Temos total liberdade da emissora, não há censura prévia, mas é preciso ter cuidado e sutileza’, diz Alvarenga.’

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‘Série negocia venda no exterior’, Folha de S. Paulo, 14/03/04

‘Deve acontecer em breve com ‘Os Normais’ o que até hoje só aconteceu com a novela ‘Vale Tudo’ (1988), de Gilberto Braga: o seriado pode virar mais uma produção exclusiva da Globo para o mercado internacional.

Representantes de países como Rússia, Chile e Portugal estão interessados em ter sua própria versão de ‘Os Normais’. O seriado seria então adaptado e filmado com atores dos respectivos países, a exemplo da novela. Rui e Vani, vividos na versão original por Fernanda Torres e Luís Fernando Guimarães, passariam a discutir a relação em russo ou, no mínimo, com sotaque de Portugal.

Em 2002, ‘Vale Tudo’ ganhou uma versão em espanhol, ‘Vale Todo’. O roteiro foi adaptado, a produção foi feita com atores de diversos países da América Latina, a vilã Odete Roitman tornou-se Lucrecia Roitman e a novela foi exibida pela rede Telemundo para o público latino que vive nos Estados Unidos.

‘Com ‘Os Normais’, seria feita uma espécie de franquia cultural. Nós passaríamos às equipes estrangeiras um ‘know-how’ da produção da série, mostraríamos os caminhos que fizeram o seriado dar certo e eles fariam suas versões’, explica José Alvarenga Jr., que dirigiu o programa até o ano passado, quando a produção chegou ao fim.

Acostumada a vender na íntegra suas novelas e minisséries no mercado internacional, a Globo está estudando a melhor maneira de vender a adaptação do seriado para os países interessados.

‘Estamos tentando ver como podemos formatar isso. Há alguns dias, tive uma reunião com a Globo Internacional. O que deve acontecer é que os roteiros originais do seriado sejam usados obviamente com adaptações variando conforme o país’, afirma Alexandre Machado.

Para Alvarenga, ‘Os Normais’ conseguiu criar um estilo brasileiro de fazer as comédias de situação. ‘É claro que sempre usamos referências das séries americanas. Mas os nossos seriados estão dando certo porque têm muito mais malícia, têm uma boa sacanagem. Brincamos com o que não costuma se brincar’, diz o diretor.

O seriado ainda deu origem a um longa-metragem, sucesso de bilheteria no ano passado, cuja continuação já está sendo escrita pelos autores e deve começar a ser produzida ainda neste ano.’