Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Decisão sem resposta

Escolher as fotos do incidente em que quatro americanos foram massacrados por uma multidão nas ruas de Fallujah, no Iraque, não foi fácil para os jornais dos EUA. ‘O dilema era como capturar o horror do evento sem parecer sensacionalista ou gratuito’, explica o editor-administrativo assistente do Washington Post, Bill Hamilton. ‘Sabíamos que, independentemente do que fizéssemos, alguns leitores não ficariam felizes’. Após horas de discussão na redação, o Post saiu com uma foto de iraquianos usando seu sapatos para bater num corpo carbonizado na capa. Dentro do primeiro caderno, foi colocada uma imagem da multidão comemorando com dois cadáveres pendurados numa ponte ao fundo.

Alguns leitores reagiram negativamente às fotografias e escreveram ao diário reclamando, entre outras coisas, de que elas ‘desumanizavam’ as vítimas, ‘incitavam ódio aos iraquianos’, ‘alimentavam o sentimento antiguerra’. Houve quem sugerisse que o Post deveria ter publicado uma explicação da razão de haver escolhido determinadas imagens. Também houve queixa de que os editores não tiveram sensibilidade com crianças e jovens.

Hamilton explica que a escolha da foto da primeira página foi feita justamente pensando em sua filha de 10 anos de idade. As pessoas não estão preparadas para ver uma cena horrível logo de manhã cedo, mas como é necessário dar a notícia, foi usada a do corpo carbonizado sendo espancado porque não é possível reconhecer imediatamente no que os iraquianos estão batendo. Ainda assim, fica claro o espírito que motivava aquelas pessoas a fazerem o que estavam fazendo.

A foto dos cadáveres pendurados na ponte (por sinal, colocada na capa do New York Times) foi considerada forte demais para sair na primeira página. Em sua coluna de 4/4/04, o ombudsman do Post, Michael Getler, aponta que, neste caso, o diário se manteve na média do que fizeram os grandes jornais americanos. ‘Não há resposta correta nestes casos. A chateação de alguns leitores é compreensível, mas o Post agiu de forma responsável’.