Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Uma dose de ceticismo quando a política encontra a economia

 

Patrick Pexton conta, em coluna publicada no fim da semana passada [22/6], que recebeu um longo email de Andrea Saul, porta-voz da campanha do pré-candidato presidencial Mitt Romney. A mensagem criticava uma matéria do Washington Post sobre a política energética do republicano, e abordava desde seu período como governador de Massachusetts até as promessas feitas na campanha atual.

Andrea fez acusações graves, na opinião do ombudsman: afirmou que a matéria continha uma série de mentiras e insinuações que levavam a conclusões erradas, e falhava ao não contextualizar as informações. Pexton resolveu investigar. Leu os emails da campanha de Romney e dos repórteres Steven Mufson e Juliet Eilperin trocados durante a apuração, além da maior parte dos documentos usados pelos jornalistas para escrever a matéria e dos documentos usados pelos assessores do candidato para refutá-la. O ombudsman também fez sua própria pesquisa.

Sua conclusão, à primeira vista, é de que não havia nenhuma mentira ou insinuação no texto (os repórteres foram, em sua opinião, diretos em suas afirmações). Alguns itens, no entanto, precisavam de mais contextualização, como o que tratava do apoio para energia renovável. 

Relevância

Além dos pequenos detalhes das matérias, Pexton considera importante também pensar em seu contexto mais amplo. “Sim, os fatos devem estar corretos, e o contexto apropriado deve ser fornecido. Mas os repórteres chegaram a algo importante e verdadeiro?”, questiona. Neste caso, ele acredita que sim: o tema geral da matéria – que alega que Romney vem adotando uma direção mais conservadora atualmente – é verdadeiro e relevante.

Outra alegação feita pelos repórteres – e que provavelmente irritou os assessores do republicano – é que os documentos da campanha de Romney, expostos em seu site e no plano batizado de “Acredite na América”, seriam exagerados. Estes documentos defendem que Barack Obama estaria acabando com os empregos no setor de energia e que as políticas de Romney gerariam muitos novos empregos.

“Eu aprendi, em anos cobrindo pautas de desenvolvimento econômico, a ser profundamente cético em relação às estatísticas envolvendo criação e destruição de empregos. Se eu ganhasse um dólar por cada reivindicação de criação de futuros empregos feita por políticos (democratas ou republicanos), executivos ou incorporadores de shoppings, estaria tão rico quanto Warren Buffet”, brinca o ombudsman, completando: “É claro que o aumento nos investimentos e uma economia em crescimento geram empregos, mas projeções de criação de empregos não são confiáveis. Os efeitos de cada dólar investido diferem significativamente de um setor econômico para outro, e quase ninguém, incluindo a mídia, dá seguimento às histórias para ver se os empregos prometidos foram realmente criados e mantidos, ou se empregos foram perdidos”.

Desta forma, Pexton concorda com a abordagem dos repórteres do Post: é preciso questionar as informações contidas nos planos de campanha dos candidatos. Mas os exageros com relação à criação de empregos não se restringem ao site de Romney. O ombudsman foi até o site de Barack Obama, que tenta a reeleição, e encontrou uma alegação que – espera ele – os jornalistas também ponham à prova: “Até novembro de 2010, as políticas do governo de Obama ajudaram a criar centenas de milhares de empregos na indústria de energia limpa”.

“Este é o trabalho da mídia: destrinchar a hipérbole, examinar os registros e reportar aos leitores”, resume Pexton.