Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Por um debate de alto nível na campanha presidencial

Richard W. Stevenson, editor de política do New York Times, sugeriu, em um artigo publicado no dia 10/6, que a eleição presidencial de 2012 estaria se modelando como mais importante do que a de 2008, quando Barack Obama chegou à Casa Branca. O motivo, segundo ele, é o fato de os eleitores terem que escolher entre “dois caminhos completamente diferentes” sobre políticas vitais em relação a tamanho do governo, reforma da Previdência Social, saúde, regulamentação bancária, mudanças climáticas, dentre outros temas cruciais. Mas um mês depois, Peter Baker, repórter que cobre a Casa Branca para o jornal, escreveu que os candidatos estavam mais interessados em discutir cada imperfeição no histórico do rival do que em falar sobre suas visões para o futuro.

Para o NYTimes, uma campanha que deveria estar oferecendo aos eleitores escolhas claras transformou-se em um exercício de ataque e contra-ataque. Isto representa um problema para o jornal, procurado por muitos leitores pela cobertura com temas substanciais. Se há uma organização de notícias com capacidade para forçar mais conteúdo na campanha presidencial, é o NYTimes, defende, em sua coluna [29/7/12], o ombudsman Arthur S. Brisbane. “Mas há desejo em fazê-lo?”, indaga.

Presença constante

Alguns argumentam que esta obrigação é cada vez mais premente. “Para o NYTimes, a pressão é maior na medida em que jornais e redações de todo o país encolhem”, avalia Tom Rosenstiel, que lidera o Projeto para Excelência em Jornalismo, do Pew Research Center. É importante notar, entretanto, que o jornalão também enfrenta uma pressão crescente para ir fundo no “diálogo do momento”. O jornal compete vigorosamente por leitores diante de novos canais digitais, como sites de notícias, blogs e redes sociais como Facebook e Twitter. Os repórteres ficam ocupados com atualizações constantes. O aplicativo para iPhone do NYTimes, Election 2012, publica matérias do jornal e também agrega posts de usuários do Twitter e de outros sites.

Em entrevistas com editores e especialistas, o ombudsman observou um consenso de que é importante esta presença minuto a minuto, mas é preciso reservar recursos para análises mais profundas em relação a temas-chave, candidatos, financiamento de campanha e publicidade. Para Stevenson, a pergunta que deve ser constantemente feita é: “Estamos realmente agregando valor para o leitor sofisticado do NYTimes?”. Ele observou que, a cada quatro anos, os candidatos encontram um modo de simplificar o debate, reduzindo temas importantes à retórica – processo que contraria os padrões de jornalismo do NYTimes. “Repórteres políticos precisam encontrar uma maneira de quebrar isto e definir a pauta” para não cair na agenda política dos candidatos.

Aprofundando a conversa

Na semana passada, o jornalão lançou o blog The Agenda, um projeto de cobertura de campanha que, para o ombudsman, demonstrará se o NYTimes tem poder para elevar o debate político no país. Por meio da iniciativa, cinco colunistas — David Leonhardt, Tara Parker-Pope, Scott Shane, John M. Broder e David D. Kirkpatrick — escreverão posts sobre temas como enfraquecimento da classe média, os altos custos dos planos de saúde, o equilíbrio da segurança nacional e das liberdades civis após o 11/9, mudanças climáticas, a Primavera Árabe e o crescimento do Islã. A novidade é que o diário planeja inserir, em cada tema, posts mostrando os pontos de vista dos leitores do site e das mídias sociais, transformando-os em uma análise impressa que refletirá não só as visões do jornal, mas também as de sua audiência.