Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ernesto Rodrigues

‘Em relação à coluna ‘Vale a pena verde novo. E avisar…’, de 11 de fevereiro,a gerente de Programação da TV Cultura, Anna Valéria, esclarece que existem as reprises maciças, como as da grade de férias, por exemplo, quando cada programa decide se insere ou não caracteres informando ao telespectador que se trata de uma reapresentação, e existem as reprises consideradas ‘normais’ pelo fato de serem horários alternativos de exibição dos programas.

Anna confirma que o termo ‘reapresentação’ não é incluído nas chamadas da TV Cultura, mas argumenta que nenhuma outra emissora, incluindo as de TV por assinatura, adota essa prática. Ela acrescenta que, embora os termos ‘reapresentação’ ou ‘reprise’ não sejam usados, a reexibição pode ser um ‘chamariz’ quando o programa volta à grade por solicitação do público, como foi o caso do especial Maysa Estudos, reapresentado após a emissora receber centenas de emails com pedidos de reprise.

Outros exemplos citados por Anna foram o do programa Sr. Brasil, no qual o mote para a reapresentação é a frase ‘o que é bom se repete’ e o ‘Direções Antológicos’, cujas chamadas destacam o fato de aquele conteúdo – que vai ser reapresentado – ser ‘um marco na direção’ ou ‘uma produção inesquecível’. Anna explica:

‘Se formos usar o mesmo critério para todas as chamadas, não faremos outra coisa a não ser dizer sempre ‘reprise’, ainda que não com essa palavra. Para cada chamada, temos um critério, uma forma de embalar e vender melhor nossa programação’.

Anna diz ainda que seu departamento não destaca apenas os inéditos, mas ‘toda a programação, de segunda a segunda’. Não se pode, segundo ela, comparar a programação noturna e adulta com programas de linha e, portanto, mais inéditos, como a programação infantil. Ela acrescenta:

‘Quando estreamos uma série infantil ou juvenil, o critério de vender esta atração é diferente do que usamos para vender o Zoom, um filme ou um documentário. Não só no momento de produzirmos essa chamada, mas também no momento de exibi-la, de acordo com o público alvo, com os horários vendidos para os patrocinadores etc’.

A tarefa de informar ao público se um programa é ou não inédito, de acordo com Anna Valéria, não é dos responsáveis pelas chamadas da programação:

‘A partir do momento que tomamos por regra não chamarmos nossas reprises de reprises nas chamadas, deixamos essa função, por assim dizer, com a Assessoria de Imprensa, o site e o Serviço de Atendimento ao Telespectador, que se encarregam de informar, cada um com sua linguagem específica, quais atrações são inéditas e quais não são. A regra, desculpe a insistência, é não fazermos essa distinção nas chamadas’.

Anna Valéria finaliza o esclarecimento dizendo que sua área está ‘aberta a novas propostas e orientações estratégicas’.

Espero ter sido fiel ao conteúdo dos dois emails que troquei com Anna Valéria.

Resta dizer que o fato de a área de programação não ser, com Anna Valéria explica, a responsável pela informação sobre o ineditismo – ou não – dos conteúdos exibidos não exime a TV Cultura, em todas as instâncias citadas e envolvidas, do compromisso de informar, ao telespectador, com clareza e objetividade, se o que ele está sendo convidado – ou prestes – a assistir é uma novidade e, no caso das reapresentações, quando este conteúdo foi exibido pela primeira vez.

***

Vale a pena ver de novo. E avisar…

Reprises, 11 de fevereiro

Se existe uma emissora brasileira que pode se orgulhar da importância e da permanência da maioria dos temas e conteúdos que transmite – com todas as conhecidas dificuldades de atingir telespectador médio de TV aberta – essa emissora é a TV Cultura. Considerando que importância e permanência são credenciais inquestionáveis para que um programa seja exibido mais de uma vez, é incompreensível que a emissora tenha uma política tão confusa – quando não inexistente – no que diz respeito aos critérios e, principalmente, à forma com que as reprises são tratadas nas chamadas da programação e também na hora da exibição dessas reprises.

Alguns programas da TV Cultura são reprisados sem que haja qualquer informação sobre o fato de se tratar de uma reexibição, o que certamente gera frustração e perda de tempo para boa parte dos telespectadores – aqueles que sintonizam a emissora à espera de conteúdos inéditos. A omissão também acontece muitas vezes nas chamadas da programação. É como se fosse pecado mortal informar, desde o início, de forma clara, que se trata de uma reapresentação. E não é.

Existem, é claro, maneiras e maneiras de reprisar programas. Além disso, uma reexibição, longe de representar uma condenação imediata ao fracasso nos índices de audiência, muitas vezes pode ser um diferencial em relação às ofertas das outras emissoras. Desde que a reprise e sua importância sejam ‘vendidas’ para o telespectador de forma competente e, dentro do possível, instigante.

Início de ano, todos nós sabemos, é tempo de uma tomada de fôlego para as equipes de produção das emissoras e, no caso da TV Cultura, um período especialmente congestionado de reprises. Ainda assim, é muito melhor, para o telespectador, saber se o que ele vai ver é ou não um programa inédito. Até porque, do ponto de vista da qualidade, uma simples navegada com o controle remoto pela programação da TV aberta brasileira vai nos mostrar que a TV Cultura é uma das poucas que podem se dar ao ‘luxo’ de repetir programas.’