Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ernesto Rodrigues

‘Qualquer profissional com um mínimo de intimidade com a aventura misteriosa que é a de tentar prever as escolhas do telespectador concordaria: a equipe do programa Zoom, como ficou patente na edição exibida no último sábado, dia 24 de abril, tem feito a parte que lhe cabe com muito empenho e competência, em se tratando de um conteúdo produzido, embalado e destinado ao público brasileiro de TV aberta, no espaço da grade de programação que sucede ao chamado horário nobre. Quem, com um mínimo de intimidade com o mundo do cinema, poderia se queixar de um cardápio audiovisual tão eclético?

O ecletismo do programa incluiu quadros bem editados com os bastidores da produção do filme ‘Bobby, a reconstituição do assassinato de Robert Kennedy escrita e dirigida por Emilio Esteves; uma homenagem ao recém-falecido ator e cineasta Anselmo Duarte; um surpreendente making of do documentário que o lama Michel Rinpoche está produzindo sobre a linhagem dos mestres budistas; dicas ‘vocacionais do maquiador Lú Ramos sobre seu ofício, ilustradas por belos momentos dos filmes ‘Moulin Rouge e ‘Elizabeth; a inesquecível seqüência de abertura de ‘O Iluminado, de Stanley Kubrick e um saboroso reencontro do cineasta Carlos Reichenbach com o filme ‘Música e Lágrimas, de 1953, ao som de ‘Moonlight Serenade, de Glenn Miller.

A destacar, nesta nova temporada do Zoom, o ‘Filme Proibido, quadro emblemático da proposta clara do programa de não ser refém de qualquer tribo do cinema. Definido como espaço para aqueles filmes que só temos coragem de assistir secretamente, no ‘escurinho do cinema, ou em casa, em DVD, o quadro, que mostrou o documentarista João Batista de Andrade revelando sua admiração pelo controvertido ‘Xica da Silva, de Cacá Diegues, tem um grande potencial de gerar interesse e polêmica em torno de muitos modismos estéticos e culturais.

Para deixar claro que também quer apresentar ‘um ponto de vista crítico dos filmes que estão entrando em cartaz, o Zoom agora tem especialistas no estúdio, ao lado de Flávia Scherner. E o fato de Ana Paula Sousa ter demonstrado certa insegurança na apresentação de seu comentário sobre o filme francês ‘O profeta foi apenas um detalhe que está longe de comprometer a ideia de o programa contar sempre com a participação de um crítico de cinema.

Outra sábia decisão do Zoom foi a de deixar para o último bloco a atração mais ‘tribal, no bom sentido, da noite: o curta ‘Dógui, o cão da globalização, de Júlia Martins, que apesar de ser um conteúdo mais experimental com um ritmo às vezes problemático e uma dublagem às vezes amadorística, mostrou bons encontros da animação com imagens reais.

Com todo esse ecletismo, o Zoom, no entanto, não está entre as maiores audiências do horário noturno da TV Cultura. Na edição do último dia 17 de abril, por exemplo, a audiência saiu do 1,6% do ‘Viola, minha viola, um ótimo índice para os padrões da emissora, diga-se, para 0,6%. Culpa da equipe do Zoom? Só se a maioria dos fãs de Inezita Barroso – os do auditório e os que assistem em casa – fosse formada por cinéfilos, o que certamente não é o caso. Muito pelo contrário.

Essa contradição, além de demonstrar de forma inequívoca a importância do conceito de grade de programação e da necessidade que as emissoras tem de literalmente segurar o telespectador, mantendo-o longe do controle remoto entre o final de um programa e o início do outro, continua sendo um dos maiores desafios a serem enfrentados pelos responsáveis pelos destinos da TV Cultura. Ela, aliás, continua merecendo o título de ‘emissora mais lida de São Paulo, mas não exatamente por causa dessa contradição.

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Cacoetes, 22 de abril

As inserções comemorativas do aniversário de Brasília, precedidas e seguidas de uma bela vinheta intitulada ‘Brasília 50 anos são, independentemente de seu precioso valor histórico – no caso, uma inspeção aérea e terrestre do presidente Juscelino Kubitscheck nas obras da então futura capital, exibida na tarde de 20 de abril – um exemplo clássico de como os conteúdos da TV Cultura muitas vezes são produzidos e embalados para serem assimilados adequadamente apenas por telespectadores privilegiados em termos de educação, cultura e conhecimento geral.

Afinal, quantos telespectadores, principalmente se pensarmos no público mais jovem, seriam capazes de identificar o trecho exibido não como parte de um documentário supostamente jornalístico sobre a construção de Brasília, mas como um conteúdo inteiramente chapa-branca narrado, em meio a um mar de adjetivos derramados, por Alberto Cury, a voz oficial do governo brasileiro ao longo de décadas, fosse para saudar a nova capital ou para emprestar pompa e cerimônia ao texto do Ato Institucional nº 5? Poucos, certamente.

Faltou, nas vinhetas, como em outros conteúdos e departamentos da emissora, uma preocupação de contextualizar a informação audiovisual, deixando claro, para o telespectador, ainda que por meio de uma singela inserção de caracteres do tipo ‘Filme de propaganda do governo JK, que não era exata e unicamente daquela maneira que o país estava acompanhando a construção da nova capital federal. Muito pelo contrário.

Onde está a graça?

De Anderson Lima, editor-chefe do Metrópolis, recebi a seguinte resposta sobre a coluna de 19 de abril (‘Onde está a graça?) e na qual este ombudsman lamentava a ausência de conteúdos de humor no programa:

‘Quanto às observações sobre o humor, não desplugamos do tema não. O contrato com a galera do Massaroca, na verdade, não foi renovado por restrição de orçamento mesmo. Mas continuamos cobrindo a agenda de humor, com peças de teatro e as populares stand-up comedies! O que acontece é que não temos muita novidade no meio, com algumas repetições. Mas pode contar, não abandonamos o riso não.

Anderson Lima

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Cardápio quase perfeito, 20 de abril

O perfil dos convidados era explosivo: de um lado, Licília de Campos, uma nutricionista ligada aos pecuaristas brasileiros. De outro, George Guimarães, um dos fundadores da sociedade Vegana, com o apoio pra lá de aguerrido do militante vegetariano Mikair Moura Lopes. No centro do debate promovido pelo Login da última segunda-feira, 19 de abril, um rastilho de pólvora em forma de pergunta: comer ou não comer carne?

Não poderia dar em outra. E, pelo menos para uma boa parcela dos telespectadores, que bom que foi assim. Ainda que em alguns momentos nem o ótimo humor e nem a postura cuidadosamente equilibrada dos âncoras Fábio Azevedo e Roberta Youssef tenham sido suficientes para evitar que a discussão quase degenerasse em agressões verbais mais pesadas, o debate teve momentos envolventes que certamente mobilizaram quem estava assistindo.

Com todas essas qualidades, no entanto, o debate ficou devendo, pelo menos para uma parte do público que o acompanhava, uma abordagem a mais: alguém que colocasse na mesa os aspectos culturais e econômicos intrinsecamente ligados ao consumo de carne, o que incluiria, além da sempre urgente questão da fome, o olhar gastronômico dos que, futuro do planeta e saúde à parte, apreciam, cultuam, desenvolvem e defendem a cultura gastronômica desenvolvida séculos a fio, em praticamente todas as civilizações, em torno da carne.

Foi curioso – e preocupante – o fato de a palavra prazer não ter entrado na discussão uma vez sequer como um bom motivo para se comer carne.

Ainda na linha do que ficou faltando nesta que foi mais uma boa edição do Login, vale registrar que não foi possível perceber, nas imagens produzidas e na edição da reportagem, que tipo de habilidade fez do franco-brasileiro Richard Rivieri vice-campeão (em 2008) e possível finalista do campeonato mundial de futebol virtual.

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Onde está a graça, 19 de abril

A edição do Metrópolis desta segunda-feira, dia 19 de abril, foi emblemática daquela que talvez seja a mais preciosa das qualidades do programa: a pluraridade. Uma pluraridade que, diga-se, não se dobra nem às investidas das patrulhas estéticas nem à lógica meramente comercial.

Foi assim com a reportagem de Felipe Aaukay, que, entrou na onda da ‘Skol Sensation, a balada para 40 mil pessoas, mas não deixou de registrar, no texto e nas inserções gráficas, que a festa era muito cara e que a qualidade do áudio foi decepcionante.

Plural também foi a agenda musical, que incluiu artistas e opções que iam de Pato Fu a Mobi, além de Maria Rita, Ed Motta, Edu Lobo, Hermeto Paschoal, Simply Red e a banda Korn. E a retrospectiva sobre o arquiteto, pintor, desenhista e performer Flávio de Carvalho.

Sem contar a série sobre os 50 anos de Brasília, que ao reunir quatro jovens artistas plásticos da capital federal para refletir sobre o modernismo que os cerca por todos os lados, mostrou, apesar do excesso de falação dos entrevistados, que o Metrópolis está atento a tudo que possa movimentar o cenário cultural do país e da cidade.

Exatamente por confirmar de forma tão clara a proposta estimulante e democrática do Metrópolis, a edição do dia 19 levou este ombudsman a sentir falta de atrações mais ou menos recentes do, digamos, ‘núcleo de humor do programa, como o quadro do grupo Massaroca e as estrelas do circuito brasileiro e paulistano de stand up shows .

Os telespectadores que se acostumaram com essa turma devem estar querendo saber se o núcleo de humor ainda existe ou é passado.

As câmeras do Roda Viva

Com relação às indagações feitas na coluna de publicada aqui no dia 16 de abril sob o título ‘Olhares analógicos e digitais, o chefe de redação do programa Roda Viva, Sérgio de Castro, enviou a este ombudsman o seguinte email:

‘Caro Ernesto, desde o início das transmissões em HDTV, adotamos uma providencia quanto ao enquadramento dos desenhos do Caruso, de forma a permitir leitura plena tanto em 3×4 quanto em 16×9. Vamos analisar o que houve, junto À Engenharia, e rediscutir a solução adotada se for o caso. Retornarei com resposta mais precisa.

Abraços. Sérgio de Castro

Chefe de Redação – Roda Viva’