Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Garotinho deixa de comer
para protestar contra mídia


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 1° de maio de 2006


GAROTINHO EM GREVE
Luiz Fernando Vianna


Garotinho reage a denúncias com anúncio de greve de fome


‘Em resposta às denúncias que vêm abalando sua pré-candidatura à Presidência, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho decidiu iniciar ontem uma greve de fome. O anúncio foi feito às 17h15, quando Garotinho leu para a imprensa, na sede fluminense do PMDB, um documento intitulado ‘À Nação Brasileira’.


‘Não destruirão a minha honra e minha vida dedicada ao povo brasileiro com suas mentiras. Ao contrário, ofereço o meu sacrifício para que o povo brasileiro conheça a verdadeira face de seus exploradores’, leu Garotinho, que classificou a greve ‘como último recurso em defesa da verdade que tem sido escamoteada’.


Para interromper a greve, ele faz duas exigências: ‘que seja instituída uma supervisão internacional no processo político-eleitoral brasileiro, assegurando a igualdade de tratamento a todos os candidatos, com acompanhamento de instituições nacionais que tradicionalmente defendem a democracia’; e ‘que os veículos de comunicação que nos caluniam cedam o mesmo espaço para que a população possa conhecer a verdade dos fatos’.


Garotinho não respondeu a perguntas para explicar o que pretende exatamente com os pedidos.


‘O sistema financeiro, os bancos e a grande mídia, liderada pelas Organizações Globo e pela revista ‘Veja’ -com o indisfarçável patrocínio do governo Lula- mentem e não me dão o direito de defesa’, disse ele.


Denúncias


No fim de semana, a revista ‘Veja’ mostrou que Garotinho usou duas vezes um jatinho que pertenceu a João Arcanjo Ribeiro, condenado a 37 anos por formação de quadrilha e apontando como o chefe do crime organizado no Mato Grosso.


Na semana passada, reportagens da Folha e de ‘O Globo’ revelaram que, entre as empresas anunciadas por Garotinho como doadoras à sua pré-campanha, estão ONGs contratadas sem licitação pelo governo do Estado, comandado por sua mulher, Rosinha Matheus. Uma delas teve como sócio um presidiário. Há também empresas sem sede.


Ontem, Garotinho marcou uma entrevista coletiva para as 16h. Só chegou ao diretório regional do PMDB -do qual é presidente- uma hora e 15 minutos depois. Assessores insinuavam que seu discurso seria forte.


Ele leu seu texto ao lado de Rosinha, cabisbaixa. No auditório também estava sua filha Clarissa Matheus, presidente da Juventude do PMDB no Rio.


Garotinho seguiu com elas para a sala da presidência regional do partido, onde fará a greve. Sua assessoria organizou a entrada de fotógrafos e câmeras, que puderam fazer imagens da família. A geladeira ficou aberta para que se pudesse ver que havia apenas garrafas de água mineral.


A sala, de 15 metros quadrados, tem um banheiro, um sofá, um sofá-cama, uma poltrona, uma TV de 20 polegadas e uma mesa com um computador.


A assessoria informou que a imprensa poderá fazer plantão na sede do PMDB para acompanhar a greve; que a página do ex-governador na internet será atualizada com informações sobre o jejum; e que haverá um ‘comitê de vigília’, formado por amigos e familiares, auxiliando Garotinho na jornada. Também haverá acompanhamento médico.


No documento que leu, Garotinho diz que está sendo alvo de ‘uma campanha mentirosa e sórdida’ e que suas ‘posições cristãs e éticas’ vêm sendo ridicularizadas. Ele é evangélico.


Segundo a Bíblia, o jejum não deve ser feito em público: ‘Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não mostrar aos homens que estás jejuando, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará’.’


ELEIÇÕES 2006
Ney Figueiredo


Por que Lula continua competitivo?


‘Diante da sucessão de escândalos, por que a avaliação pessoal de Lula não cai na velocidade que era de se esperar? Será que estamos lendo o estado de ânimo do eleitor corretamente?


Creio que a resposta está no exame de uma série de dados, que devem ser avaliados conjuntamente.


Lula está blindado pela sua história: o trabalhador humilde com cara do povo que chegou à presidência da República. É carismático e comunica-se com grande facilidade, apesar de tropeçar na gramática aqui e ali. Os programas sociais que implementou, embora deixem a desejar, estão trazendo benefícios imediatos com as populações mais carentes, principalmente no Norte e Nordeste. O mercado de trabalho formal aumentou e, pela primeira vez nas últimas décadas, a distribuição de renda apresentou leve melhoria. A cesta básica continua cabendo tranqüilamente no orçamento do trabalhador. Os números do desempenho da economia do seu governo, se comparados aos do segundo mandato de FHC, são muito superiores, embora beneficiados pela conjuntura internacional mais favorável.


É verdade que existe contra ele uma montanha de acusações bem fundamentadas pelas CPIs e, principalmente, a peça arrasadora produzida pelo procurador-geral da República.


Todavia, quanto tais fatos considerados isoladamente têm motivado os eleitores em diferentes países a tomar pelo voto uma atitude de condenação?


Ao longo da história, a gente vê os notáveis efeitos da corrupção no funcionamento dos sistemas políticos. Quando ela está disseminada pela massa e nas relações entre as elites, podem não ser inteiramente disfuncionais. ‘Em um sistema jurídico profundamente formalista e burocrático’, como o nosso, ‘ela pode até contribuir para melhorar o funcionamento do sistema para o tornar mais expedito e desbloquear certas situações’ (‘Dicionário Político’, Bobbio, Mateuci e Pasquino).


Todos se utilizam dela, seja para conquistar, seja para manter o poder, principalmente as elites. Em determinados momentos ela passa a fazer parte dos usos e costumes, sobrepondo-se às normas jurídicas.


Existe, contudo, um limite para essa tolerância, que é bastante elástica. Os grupos sociais têm suas fronteiras dadas exatamente pelos limites dentro dos quais se praticam usos e costumes aceitos, mesmo que ao arrepio da lei universal. Em determinado momento, pelo quadro formado, a sociedade brasileira considerou que Fernando Collor havia ultrapassado esse limite. E ele foi expelido. Maluf, ao contrário, embora bombardeado impiedosamente por inúmeras denúncias e processos judiciais, durante as décadas de 60, 70 e 80, colheu triunfos retumbantes em São Paulo, o nosso maior colégio eleitoral, em 3 eleições consecutivas: 1990, para governador (perdeu para Luis Antonio Fleury no interior, mas ganhou na capital), em 1992, quando se elegeu prefeito, e em 1996, em que elegeu na base do seu prestigio pessoal Celso Pitta, até então um ilustre desconhecido. E ainda foi para o segundo turno em 1998, com Mario Covas, perdendo nos debates televisivos finais.


Só com a bandeira de combate à corrupção, Alckmin, embora possa exibir excelentes números do seu governo, não vai chegar lá. Quais são as suas propostas concretas? Em que medida o povo será beneficiado por elas? Ele vai ter mais produtos em sua cesta básica por valores mais baixos? Seu governo vai ser uma continuação de FHC, que se exauriu no primeiro mandato?


Alckmin é um político racional, honesto, com boa postura pessoal, mas com grande dificuldade de comunicação. Quando tenta improvisar ou fazer frases de efeito, é um completo desastre. Não está fácil reunir os aliados em torno do seu nome.


Na verdade, ele é uma figura nova no PSDB, não podendo ser considerado um cardeal do partido. Não diminuindo os seus méritos, é necessário reconhecer que chegou onde chegou na sua carreira política graças a Mario Covas e ao acaso. Para agravar a sua situação, tem Garotinho nos seus calcanhares, que já aparece com 17% de intenção de votos em algumas pesquisas de opinião. Se vencer a dificílima disputa para ser o candidato do seu partido (PMDB), poderá surpreender com seu discurso populista, que tanta aprovação tem conseguido em alguns países da América Latina.


Lula, ao contrário, conquistou cada pequeno espaço com as sua próprias mãos. E os relatórios produzidos não o incriminaram diretamente. Seu problema é que, agora, está sozinho. Seus companheiros de luta, pelo menos alguns dos mais expressivos, naufragaram num mar de lama. E ainda existe um arsenal de acusações armazenadas pela oposição a serem utilizadas contra ele durante a campanha política. É difícil afirmar, agora, quais serão os seus efeitos práticos nas intenções de voto em outubro.


Ney Figueiredo, consultor político, é membro do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp e autor de, entre outros, ‘Diálogos com o Poder’ (Cultura).’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Couraça


‘Para quem vive na blogosfera brasiliense e não compreende as pesquisas, em especial as qualitativas, a entrevista de Carlos Alberto Parreira a Fabio Altman, na ‘IstoÉ’, pode ser útil. O treinador compara seu papel ao de Lula:


– O presidente é cobrado diariamente, não dão colher de chá. É crítica aqui, é charge ali, é CPI. Mas no período da Copa, já a partir da convocação, serei mais cobrado que ele. Vão esquecer um pouquinho o presidente.


Pergunta e resposta:


– O senhor tem nova chance. Lula merece também?


– O Lula é um fenômeno. Nesta crise toda pela qual o PT passou, manteve intocados os índices de popularidade. É um homem de valor e carisma impressionantes. O Lula ganhou e o Brasil não afundou, ao contrário. A economia melhorou, a inflação não aumenta. O governo dele tem sido bom.


Mais à frente:


– O senhor acompanha a crise do mensalão?


– No início acompanhei, mas já não dá mais. Chega um ponto em que a gente cansa.


De outra entrevista que ecoou on-line no domingo, de Roberto Busato, presidente da OAB, ao blogueiro Magno Martins, da Agência Nordeste:


– A crise é grave, gravíssima, e bem mais extensa e profunda que a do governo Collor. Mas, por circunstâncias sociologicamente complexas, não produz a mesma mobilização nas ruas. Não há caras-pintadas nem ambiente popular de rejeição ao presidente. Ao contrário, ele continua liderando as pesquisas para sua sucessão.


De volta ao futebol, o ‘Guardian’ tratou a recusa da seleção inglesa por Luiz Felipe Scolari como ‘humilhação devastadora’. Reproduziu a justificativa do ‘assédio de mídia’, ‘20 repórteres na minha casa’, mas duvidou um pouco:


– As declarações são bizarras. A experiência de dirigir o Brasil, enfrentando um dos maiores escrutínios de mídia de todo o planeta, indicava que ele tinha couraça de ferro.


De volta à política, Marcos Coimbra, do Vox Populi, é voz contrastante. Na Jovem Pan, chamou a vantagem de Lula de ‘um pouco ilusória’.


A CÉU ABERTO


No ‘Jornal Nacional’, cena da peça ‘BR3’, com um palco flutuante no rio Tietê


Na home do ‘New York Times’, dias atrás, mas não em despacho de Larry Rohter, ‘Esgoto a céu aberto de São Paulo vira palco’. É ‘BR3’, que também freqüentou o ‘JN’ com cenas dantescas. Do NYT.com:


– A água é um desenrolar oleoso de lixo, restos e de poluição industrial. É no caminho do aeroporto, dando um vislumbre do lado áspero do Brasil. Se todo o mundo é um palco, o sujo Tietê é o lugar perfeito…


É a metáfora perfeita para uma cidade e um país bem diferentes, no novo século. No dizer do diretor Antônio Araújo, ao ‘JN’, a peça permite outro ‘olhar’ sobre uma outra São Paulo -e um outro, novo Brasil.


FRASE


‘Depois de revelar que os hábitos alcoólicos do presidente eram ‘preocupação nacional’, o correspondente do ‘NYT’ decreta que somos uma nação com queda para o sexo anal’ Do blog de Sérgio Dávila, no UOL, em crítica à reportagem de Larry Rohter com Bruna Surfistinha, na semana passada


Especificamente


Lula, em cadeia nacional, no meio do ‘Fantástico’ e do ‘Domingo Espetacular’, até admitiu que nem tudo está bem. Mas ele se referia à economia, nada de mensalão.


No PT, nada também. Globo News, em manchete:


– O envolvimento de petistas com o mensalão entrou em debate no último dia do encontro do PT. Mas, punição, só depois das eleições.


Da repórter:


– Em relação ao mensalão, nada foi dito especificamente.


E na Jovem Pan:


– PT adia discussão sobre envolvidos no mensalão.


Não quer ver


Mas os petistas não têm outro assunto a enfrentar. Da escalada do ‘JN’, anteontem, enquanto outros diziam que ‘o PT aprova alianças amplas’:


– O PT decide a estratégia de alianças para a eleição e não exclui partidos envolvidos no escândalo do mensalão.


Aqui e ali, alguns bem que são excluídos. De Kennedy Alencar, ontem na Folha Online:


– Lula já enviou recado a José Dirceu, cujo mandato foi cassado no escândalo. Não quer vê-lo fazendo articulações para a sua reeleição.’


JORNALISTA AGREDIDO
Folha de S. Paulo


STF vai apurar agressão física a jornalista


‘A presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Ellen Gracie Northfleet, mandou abrir sindicância para apurar o envolvimento de seguranças da casa na agressão a um repórter do jornal ‘O Estado de S. Paulo’. Ele afirma ter levado um soco no estômago após a cerimônia de posse de Gracie, na quinta-feira passada.


Já a Presidência da República contestou ontem o relato de agressão feito por um fotógrafo do ‘Estado’ no mesmo evento e que envolveria um funcionário do setor de imprensa e cinco seguranças do Planalto.’


ECOS DA GUERRA
Folha de S. Paulo


Truque de e-mail evitou detecção de grupo terrorista no 11 de Março


‘Uma das principais figuras indiciadas pelos atentados de 11 de março de 2004 em estações de trem de Madri usou um truque simples que lhe permitiu se comunicar com seus comparsas em uma conta comum de e-mail e, ainda assim, evitar que o governo detectasse, segundo o juiz que investiga o caso.


Em lugar de enviar as mensagens, o acusado, Hassan el Haski, as salvou na pasta de rascunhos em uma conta que ele dividia com os outros terroristas, disse o juiz, Juan del Olmo.


Todos eles conheciam a senha, de modo que eles puderam ter acesso à conta para ler os e-mails não-enviados, respondendo do mesmo modo. Dessa maneira, os e-mails não deixaram uma trilha digital que o governo pudesse seguir.


Funcionários de inteligência disseram que, no passado, alguns grupos terroristas usaram o método. Mas poucos exemplos concretos vieram à luz até agora. Seu possível uso em um grande atentado e o variado grupo de contatos mantidos por Haski levantam a possibilidade de que esse método esteja bem mais disseminado do que previamente se supunha.


Poucos detalhes desse uso de e-mails foram dados pelo longo indiciamento divulgado à imprensa no mês passado e que nomeou 29 suspeitos, a maioria deles norte-africanos, em conexão com os atentados de Madri.


Por causa do testemunho de um dos suspeitos, no entanto, o governo agora sabe que tais contas de e-mail foram aparentemente usadas pelos terroristas ao menos desde o final de 2003. (‘New York Times’)’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 1° de maio de 2006


GAROTINHO EM GREVE
Jacqueline Farid


Garotinho anuncia greve de fome


‘Um dos candidatos a disputar a Presidência pelo PMDB, Anthony Garotinho anunciou ontem que fará greve de fome por tempo indeterminado como ‘último recurso em defesa da verdade’. Na entrevista que convocou, ele disse, em discurso dramático, que o ‘sacrifício’ só vai terminar quando for ‘instituída supervisão internacional no processo eleitoral, assegurando a igualdade de tratamento a todos os candidatos, com acompanhamento de instituições nacionais que tradicionalmente defendem a democracia’.


Ao lado da mulher, a governadora Rosinha Matheus, que estava bastante abatida, Garotinho declarou que outra condição para o fim da greve é a mudança de atitude da mídia. ‘Que os veículos de comunicação que nos caluniam cedam o mesmo espaço para que a população possa conhecer a verdade dos fatos’, discursou. Ele citou como caluniadores a ‘grande mídia, liderada pelas Organizações Globo e pela revista Veja – com o indisfarçável patrocínio do governo Lula’.


CAMPANHA


A greve é uma resposta às denúncias veiculadas no fim de semana, de que o governo do Rio teria contratado organizações não-governamentais (ONGs) suspeitas de ligação com supostos empresários que fizeram doações para a pré-campanha de Garotinho. O ex-governador leu o pronunciamento ‘à Nação’ e não quis responder a perguntas de jornalistas. ‘Desde o dia em que meu nome começou a se tornar uma opção de milhões de brasileiros contra o modelo neoliberal que vem destruindo a nação brasileira’, começou, como preâmbulo para várias referências à ‘campanha mentirosa e sórdida’ que considera estar sofrendo.


Após o discurso, ele se deixou fotografar na sala em que estará por tempo indeterminado, ao lado da mulher e da filha Clarissa Matheus. O recinto, da presidência regional do PMDB, no centro do Rio, tem 15 metros quadrados, ocupados por uma poltrona, um sofá-cama, TV, computador e um frigobar que, ontem, tinha apenas água.


Os assessores de Garotinho não sabiam informar que médico o acompanhará enquanto durar a greve. Ontem, em princípio, um primo dele é que cumpriria essa função. A família deve se revezar no acompanhamento do ex-governador.


ONGS


Ao mesmo tempo, o chefe de gabinete de Rosinha, Fernando Peregrino, ao lado dos secretários estaduais de Saúde, Gilson Cantarino, e Trabalho, Marco Antônio Lucidi, deu nova entrevista para tentar explicar a contratação das ONGs pelo governo do Rio. Peregrino voltou a classificar o noticiário sobre os contratos milionários dessas ONGs com a Fundação Estadual de Serviço Público (Fesp) como ‘deturpador’.


O chefe de gabinete, que vê perseguição a Garotinho nas denúncias, afirmou que é ‘legal, legítima, transparente e ética’ a contratação de ONGs como as três que têm dirigentes em comum com as empresas que teriam contribuído com os R$ 650 mil arrecadados para a pré-campanha de Garotinho e depois devolvidos por ele.


Colaborou Alexandre Rodrigues’


CHÁVEZ NA TIME
O Estado de S. Paulo


Time coloca Chávez na lista dos cem mais influentes


‘O presidente venezuelano Hugo Chávez é umas das pessoas de maior influência para os americanos. Seu nome aparece na lista das cem pessoas mais influentes do mundo neste ano, publicada pela revista Time. Na pesquisa, feita pela internet, também estão o presidente George W. Bush, a chanceler alemã Angela Merkel, a secretária de estado dos Estados Unidos Condoleezza Rice, o ex-presidente Bill Clinton e o papa Bento XVI.


A lista é dividida em cinco categorias. Artistas, cientistas e intelectuais, líderes e revolucionários, heróis e empreendedores.


A Time afirma que a influência dos EUA na América Latina vive um período de ‘maré baixa’, enquanto a revolução bolivariana de Chávez decola no continente.


Mesmo com um alto índice de desaprovação e tendo mergulhado os EUA em uma guerra impopular no Oriente Médio, George W. Bush ‘já assegurou um grande lugar na história’, escreveu a Time. É a segunda vez, desde que a pesquisa começou a ser feita há três anos, que ele está entre os cem mais influentes. Condoleezza Rice, Bill Clinton e Bill Gates também aparecem pela segunda vez.


Entre as pessoas destacadas pelo comprometimento com a paz estão o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf e o cantor Bono Vox. De acordo com a revista Musharraf é a melhor aposta na manutenção da paz no Oriente Médio. Bono Vox é lembrado como ícone global que usa sua influência para ‘fazer a coisa certa’. A revista destaca sua atuação como ativista social em lutas por causas como o combate à aids, especialmente no continente africano


Mesmo sem ter o carisma de seu antecessor, João Paulo II, o papa Bento XVI está entre os cem nomes da pesquisa. ‘Se as pessoas queriam ver João Paulo II, agora elas querem ouvir Bento XVI.’’


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Em nota, ‘Globo’ diz que exigências beiram o ridículo


‘O jornal O Globo informou que considera ‘ridículas’ as exigências do ex-governador Anthony Garotinho para encerrar sua greve de fome. Em nota, a empresa diz que as denúncias publicadas pelo jornal e outros órgãos de imprensa estão documentadas.


‘Em vez de produzir uma resposta convincente, o ex-governador anuncia uma greve de fome’, ironiza. ‘Suas exigências beiram o ridículo’. Segundo o Globo, Garotinho tem tido ‘amplo direito de defesa’ nas reportagens e é um ‘saudosismo de quem não se preparou para enfrentar as novas exigências éticas da democracia no Brasil’ a exigência do acompanhamento das eleições por um observador estrangeiro.


A revista Veja, que traz na capa a foto de Garotinho com dois chifres e um rabo desenhados, preferiu não se pronunciar. A legenda diz que ele ‘encarna mazelas novas e velhas da vida pública brasileira’, que seriam ‘os 7 pecados capitais da política’ (populismo, corrupção, gastança, irresponsabilidade, fraude, falsidade, intervencionismo).’


ELEIÇÕES 2006
Denise Madueño


Lula vai à TV e faz auto-elogio


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a auto-suficiência na produção do petróleo para saudar o trabalhador no 1º de Maio. Em discurso ontem em cadeia de rádio e TV, um balanço positivo de seu governo e, em ano de eleição, disse que é necessário fazer mais para a qualidade de vida dos brasileiros, mas é impossível conseguir tudo em curto prazo. Numa crítica indireta à oposição, afirmou que auto-suficiência do petróleo é ‘um símbolo de otimismo e de vitória sobre o discurso derrotista que domina certos setores’.


Lula atribuiu a auto-suficiência no petróleo a uma ‘vitória histórica’ construída pelo trabalhador. ‘Agora, estamos livres tanto de crises de abastecimento como de oscilações agudas no preço do petróleo. A auto-suficiência vai nos ajudar, também, a aumentar as reservas e a economizar recursos para melhorar a vida do nosso povo.’


Pregando otimismo, ele disse que esse avanço mostra que o País tem condições de vencer outras batalhas com esforço e determinação. ‘É impossível fazer tudo isso num prazo muito curto, mas em 39 meses de governo temos avançado bastante nessa direção’, avaliou. Como avanços, o presidente citou que 3 milhões de pessoas foram tiradas da miséria, foram criados quase 4 milhões de empregos com carteira assinada no setor privado e o Bolsa Família está acabando com a fome e a desnutrição de 36 milhões de pessoas.


‘Muita coisa ainda precisa melhorar no País, mas nos últimos 3 anos a balança se inverteu em favor do brasileiro comum, em especial do trabalhador’, garantiu. ‘Tudo isso não aconteceu por acaso, mas porque temos um projeto de Nação e um plano de governo. Porque sabemos o que queremos e para onde estamos caminhando.’


Lula afirmou que a tendência de queda da taxa de juros vai continuar para estimular a produção e melhorar o crescimento. Ele prometeu investir no setor produtivo e no social. ‘Vamos dar ainda mais ênfase à educação e ao desenvolvimento tecnológico. E continuar agindo com responsabilidade, porém com muita sensibilidade’, disse. ‘Hoje podemos investir mais porque criamos as condições para isso. Mas sem comprometer o equilíbrio fiscal e o controle da inflação.’’


PUBLICIDADE
Carlos Franco


Humor marca comerciais da Copa


‘Maradona sonha que está jogando na seleção brasileira. Canta o hino nacional perfilado ao lado de Kaká e Ronaldo num estádio. Acorda assustado e vê, ao lado da cabeceira da cama, várias latas do guaraná Antarctica. Chega à conclusão que está bebendo guaraná demais . Os brasileiros acharam graça no anúncio criado pela Duda Propaganda, os argentinos nem tanto.


A di vulgação do filme pela TV Argentina provocou polêmica. No fim-de-semana, Maradona respondeu aos críticos e disse que não se arrepende de ter gravado o comercial. ‘Já havia colocado a camisa do Brasil em 1979 e em 1990’, disse o jogador, referindo-se ao final de uma partida contra a seleção brasileira pelo campeonato Sul-Americano sub-20 e outra pela Copa do Mundo de 1990. Maradona disse que só não vestiria a camiseta do River Plate, maior rival do seu time, o Boca Juniors. ‘Não me façam rir’, disse o ex-jogador.


A irreverência do filme do Guaraná Antarctica promete ser a marca de todas as campanhas de bebidas visando a Copa da Alemanha. A AmBev, dona do guaraná, é patrocinadora oficial da seleção brasileira e têm o direito de usar a imagem da CBF, além de contratos com jogadores como Ronaldo e Kaká. Só que não colocará em campo apenas o guaraná Antarctica. A empresa também está investindo pesado na marca Brahma, com a campanha Olé, criada pela agência Africa e protagonizada por Ronaldo.


Mas a marca da irreverência que está dominando os comerciais de refrigerantes – a concorrente Coca-Cola segue a mesma linha, foi reforçada pelo mais novo comercial de Skol. Criado pela agência de publicidade F/Nazca, mostra traves que andam e impedem adversários do Brasil de marcar gol. Tanto quanto a de Maradona conseguiu o feito de virar polêmica. A cerveja Antarctica também ganhará campanha para a Copa explorando o conceito ‘boa’, com a atriz Juliana Paes e o humorista Bussunda, do Casseta & Planeta.


A agência Almap/BBDO, por sua vez, prepara campanha para Pepsi. O refrigerante tem o passe, na publicidade, dos jogadores David Beckham, Roberto Carlos, Raul, Ronaldinho Gaúcho, Fernando Torres e Rafael van der Vaart. Essa turma protagonizou, por exemplo, o comercial surfe, criado pela agência brasileira, em que exibiam dribles nas ondas.


O vice-presidente da Duda Propaganda, Ricardo Braga, diz que irreverência e humor, na dose certa, vendem bem refrigerantes. Ele diz que o jogador argentino não resistiu à idéia de protagonizar o comercial de Antarctica e se divertiu muito nas filmagens realizadas em março, em São Paulo. ‘A intenção de criar um filme irreverente, estrelado por Maradona e se valendo da antiga rivalidade entre os dois países, surgiu em setembro e foi aprovada em novembro’, diz Braga. Ele não revela, mas fontes do mercado afirmam que Maradona recebeu cachê de US$ 150 mil.


A intenção da AmBev, diz seu gerente de Comunicação Corporativa, Alexandre Loures, é transformar o período da Copa num segundo verão, com pico de vendas de cerveja e refrigerantes. As concorrentes Schincariol e Kaiser não têm ações específicas, embora pretendam fazer alguma coisa em ponto de venda. Explica-se: Coca-Cola e AmBev compraram todas as cotas de transmissão dos jogos no País.


A Coca-Cola também preparou campanhas irreverentes, criadas pela McCann-Erickson, com promoções e brindes. Como é patrocinadora oficial da Fifa, a empresa tem os direitos de uso das imagens associadas à Copa, como taça, mascotes e logomarcas. Com comerciais que recorrem aos desenhos de animação, massinhas e ao apresentador Luciano Huck, a empresa promete distribuir 50 mil miniaturas banhadas a ouro da taça, com certificado da Fifa até o fim dos jogos, além de milhares delas em plástico.’


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Da Vinci ganha publicidade, com a ajuda da Igreja


‘A Sony Pictures está investindo pesado em publicidade em todos os meios de comunicação ao redor do mundo para transformar o filme O Código Da Vinci, dirigido pelo americano Ron Howard e inspirado no best-seller homônimo de Dan Brown, em dos maiores sucessos de bilheteria de todos os tempos.


A Igreja Católica tem dado sua contribuição para alimentar a expectativa em torno do filme que será exibido na abertura da 59ª edição do Festival de Cannes, no dia 17, e entra em cartaz mundialmente no dia 19. No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos, CNBB, estimulou padres e bispos a condenarem o filme – que eles não viram – nas missas realizadas durante a Semana Santa.


Na terça-feira, o governo italiano anunciou a remoção de um outdoor anunciando a estréia do filme, num andaime da igreja de São Pantaleão, em Roma, após reclamações dos clérigos. Todas essas ações acabam dando retorno para a Sony como uma forma de publicidade gratuita.


Estrelado por Tom Hanks, Audrey Tatou, Jean Reno e Ian McKellen, o filme e o livro relatam a história de Robert Langdon (Tom Hanks) que é chamado ao Museu do Louvre para desvendar o assassinato de seu curador. Ele mergulha num mundo de simbolismos que o leva a uma sociedade secreta, que guarda um segredo: os descendentes dos filhos que Jesus teria tido com a esposa, Maria Madalena.


No Brasil, a editora Sextante está preparada para um possível aumento de pedidos da publicação após o lançamento do filme, que virou assunto entre internautas. A Sony alimenta a rede com trailers e bastidores das filmagens. O livro vendeu 46 milhões de cópias em todo o mundo.’


TELEVISÃO
Beatriz Coelho Silva


Ex-MTV faz a festa do Multishow


‘A entrega do Prêmio Multishow de 2006 será também a estréia do diretor Rodrigo Carelli no canal. Ele vem de 10 anos na MTV, onde participou justamente da implantação do prêmio de música (o Video Music Brasil, VMB) e adaptou o formato acústico aos nossos artistas. No SBT, dirigiu a primeira Casa dos Artistas (a melhor de todas, que premiou Bárbara Paz).


Em vez de falar no futuro, Carelli se atém à festa, que ocorre no dia 16, no Teatro Municipal do Rio. ‘O cenário deixa explícita a movimentação dos bastidores e aproveita a arquitetura da casa, contrapondo a modernidade no palco e o estilo neoclássico da platéia’, adianta. ‘Fui convidado para dirigir este programa e estou aberto a propostas. O Multishow tem uma programação interessante e espaço para novos projetos.’


A idéia é agitar a cerimônia. O programa terá 1h30 ‘de arte’ (ou seja, quase duas horas no ar, incluindo intervalos comerciais) e volta a ser apresentado por Fernanda Torres (no ano passado, ela estava em turnê em Portugal e Regina Casé a substituiu). Mas Fernandinha estará sozinha (sem Nelson Motta) e não ficará presa ao palco.


‘Ela poderá apresentar os indicados da platéia e de pontos diferentes do palco’, conta, lembrando que haverá a cobertura da entrada dos artistas concorrentes e convidados e também dos bastidores. ‘O texto da cerimônia será curto, para que os premiados falem mais.’


Entre os musicais da festa estão Pitty, Ivete Sangalo, Los Hermanos e Vanessa da Mata – alguns dos indicados. ‘Procuramos diversificar, porque o Prêmio Multishow não é segmentado. Aparecem todos os gêneros musicais’, diz. Mais ou menos, diria um ouvinte mais exigente. Da geração RockB (anos 80), só aparecem o Barão Vermelho, Capital Inicial e Lulu Santos. Tem também Zeca Pagodinho. Já dos que fizeram os festivais (anos 60), só Chico Buarque, numa solitária indicação de DVD. Mas, justiça seja feita, nos anos anteriores, os concorrentes escolheram homenageados que fizeram história: Raul Seixas (2005) e Jamelão (2004).


‘O que diferencia o Prêmio Multishow é a votação aberta. As preferências do público aparecem mesmo’, teoriza Carelli. ‘Não que isso o torne melhor que outras láureas, como o TIM e o MVB, mas dá mais idéia do que as pessoas estão ouvindo.’


Pelas informações do canal, esse público tem no máximo 30 anos (embora apareçam ‘velhinhos’ nascidos na pré-história, ou seja, antes de 1960) e está cada vez mais interessado em votar, sempre pela internet. Apesar de não divulgar o total dos votos, a emissora informa que o número de eleitores cresceu 235% de 2005 para este ano.’


INTERNET
Pedro Doria


Conexão de risco


‘Há duas segundas-feiras, defendeu-se por aqui a abertura das redes sem fio residenciais – afinal, faz parte do espírito fundador da rede dividir o acesso à informação. O advogado Marcel Leonardi, professor da FGV-SP, faz algumas ponderações quanto à sapiência da sugestão. Ele é especialista no assunto, ensina justamente a cadeira de Responsabilidade Civil no Uso da Internet. E esta é uma questão jurídica em aberto com dois lados por discutir – o de quem usa a conexão, o de quem a cede.


Se o usuário tem uma rede Wi-Fi instalada em casa e, com boa vontade, permite aos vizinhos acesso, pode estar correndo um risco. Se algum crime for cometido através daquela conexão, mesmo que não pelo dono da ligação à internet, ele pode terminar apontado como culpado ou como facilitador.


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Fundamentalmente não existe regra clara, ainda, mas a questão já apareceu perante tribunais no Canadá e nos EUA. Há uma tendência a considerar que o dono da ligação Wi-Fi aberta, se permitiu seu uso, está sendo negligente.


Ampliando a questão: ao se deparar, passeando pela cidade, com uma conexão aberta, é crime usá-la? No Estado de New Hampshire, nos EUA, desde finais de 2004 o uso é legal. Se a porta está aberta, o espaço é público. Mas o dono da conexão fica claramente responsável por qualquer uso que se faça deste seu naco de rede.


Na maioria dos outros lugares, a lei não é tão clara. Mas, quando um crime ocorre na internet, a primeira coisa que se faz para identificar o criminoso é descobrir seu endereço IP. É o caminho tomado, por exemplo, pelas gravadoras norte-americanas atrás do que chama de piratas virtuais. O IP é o endereço numérico que cada computador ligado à internet tem. O provedor de acesso, seja a empresa que fornece banda larga ou rede discada, sabe, numa determinada hora, quem estava usando aquele número.


No caso de uma rede sem fio, o endereço IP não deixa de existir – é aquele que termina no modem. E a pessoa identificada é aquela que paga a conta no final de todo mês, ainda que seja inocente de qualquer crime. É claro que ninguém pode ser condenado sem provas, e o endereço IP não prova nada por si. Mas é nesta porta que a polícia bate primeiro.


Nos EUA e Europa, pois, vem-se encarando a coisa como negligência. ‘No Brasil, a tendência é exatamente a mesma’, escreve por e-mail o professor Leonardi. Quer dizer: manter a conexão aberta é uma generosidade que expõe o infeliz a um risco.


Kevin Bankston, advogado da Electronic Frontier Foundation, uma ONG engajada nas liberdades online, acha difícil que alguém seja de fato responsabilizado criminalmente pelo uso de sua conexão – mas a dor de cabeça de um processo judicial longo e até custoso pode acontecer. Ele repete exatamente a mesma recomendação do advogado brasileiro: deixar a rede aberta é uma má idéia.


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Advogados são assim mesmo. Tratam tudo com cautela extrema, ainda mais quando o território envolve tecnologia muito nova, não há qualquer legislação específica e nenhuma empatia, por parte dos juízes, pela cultura libertária que nasce da rede. Mas não importa: sua recomendação deve ser registrada.


De qualquer forma, a cultura da conexão aberta existe. Um dos guias da Universidade de Oxford informa aos novos estudantes que há pontos de conexão Wi-Fi na vizinhança, cortesia de lojistas da tradicional Oxford Street. A cidade de Nova Orleans, nos EUA, tem um projeto de oferecer acesso Wi-Fi gratuito a todos seus cidadãos ao longo de 2006. No fim das contas, a estrutura da rede é anônima.


Se há um risco, há um risco, pois – que todos o saibam. Mas, no limite, leis que julguem aquele que paga pela conexão responsável pelo uso que se faz dela são viáveis de funcionar? Neste caso, um hotel que ofereça internet por cortesia aos hóspedes é responsável por qualquer coisa que se faça na rede? Ou uma universidade que tenha um laboratório público de acesso, ou uma biblioteca – são responsáveis?


Na última semana, o Link apresentou um extenso tutorial sobre redes sem fio: como instalar, como tornar segura – como fechar o acesso a qualquer um que deseje fazê-lo. Está em http://link.estadao.com.br.’


Ricardo Anderáos


Um blog do Irã nos EUA


‘Hossein Derakhshan é o nome de um jornalista que fazia, no Irã, um trabalho semelhante ao meu aqui no Estadão. Sua coluna sobre internet e tecnologia era publicada no jornal reformista Asr-e Azadegan – que significa alguma coisa como ‘Na Era do Povo Livre’. Título que, venhamos e convenhamos, não combina muito com a realidade das liberdades civis no Irã.


O Aiatolá Khamenei, chefe espiritual do país, deve ter achado a mesma coisa. Tanto que, no começo do ano 2000, mandou fechar o jornal. Junto com outras publicações que contestavam, ainda que de forma leve, as decisões do governo do país.


Vários jornalistas foram presos. Mas o colega Derakhshan conseguiu escapar para o Canadá. Lá, descobriu uma onda que começava a crescer na internet: os blogs. Decidiu então criar o seu. Graças à internet, mesmo no exílio, poderia levantar sua voz contra as arbitrariedades do governo de seu país.


Mas ele esbarrou de saída numa grande dificuldade: não havia blog que publicasse os rebuscados caracteres da escrita persa. Mas ele deu um jeitinho iraniano. Utilizando um sistema de codificação de caracteres conhecido como unicode, descobriu uma maneira para escrever nos caracteres de sua língua no Blogger. Assim, em abril do ano 2000, nascia um blog bilíngue, em inglês e persa, intitulado Editor:Myself, no endereço http://www.hoder.com.


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Foi em outro blog, o brasileiro www.revistabala.com.br, que descobri Derakhshan, mais conhecido na rede pelo nome de seu blog, Hoder. E a absurda história que ele viveu com a polícia de fronteira norte-americana.


Em novembro do ano passado Hoder estava passando algumas semanas no apartamento de uns amigos em Nova York. Como teve de resolver uns problemas em sua casa em Toronto, comprou uma passagem de ida e volta de ônibus. Na entrada do Canadá, o ônibus passou direto pela fronteira, e o jornalista não teve seu passaporte carimbado com a saída dos Estados Unidos. Na hora de entrar novamente nos EUA, na fronteira da cidade de Buffalo, por causa da falta do carimbo, caiu na malha fina e teve de explicar aos policiais norte-americanos o que estava indo fazer no país.


Quando os guardas viram que, apesar da cidadania canadense, ele havia nascido no Irã, a situação ficou mais tensa. O que ele estava indo fazer nos EUA? Hoder contou que daria uma palestra em Nova York, numa conferência de blogueiros chamada ConvergeSouth. Foi aí que os policiais resolveram pesquisar o nome do rapaz no Google.


Em dois cliques, acharam o blog Editor:Myself. E como se não tivessem mais nada para fazer, comoçaram a ler cada post do blog. Até que um deles virou-se para Hoder e falou: ‘Quer dizer que o senhor está morando em Nova York, certo? É isso que está escrito aqui no seu blog!’


‘Eu não tinha idéia de que googar as pessoas na fronteira tinha se tornado uma rotina’ escreveu o jornalista em seu blog, relatando as desventuras na fronteira. ‘Ao invés de me defender com alguns argumentos simples sobre meus direitos como cidadão canadense, comecei a me desesperar. O guarda entrou em êxtase. Ele ganhou o dia com meu blog – ou, nesse caso, a noite. Continuou lendo meus posts e fazendo perguntas. ‘Como foi quando voltei para visitar o Irã? Quais meus sentimentos sobre a administração Bush? Por que me separei de minha mulher? Qual minha opinião sobre a política iraniana?, etc etc’.


Num dos posts, Hoder agradecia o apoio financeiro que recebeu através do blog para algumas de suas viagens pelo mundo. Foi o bastante para o policial afirmar que ele estava ganhando dinheiro nos EUA, apesar de seus protestos.


‘Então ele me levou para uma salinha fechada, onde esperei duas horas até ele terminar seu relatório e anotar em meus documentos que minha entrada no país estava sendo negada. Agora, estou impedido de visitar os EUA por no mínimo seis meses. E depois disso, para entrar no país, terei primeiro de provar que estou solidamente estabelecido no Canadá’.


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Como um guarda de fronteira, ou qualquer autoridade policial, pode utilizar informações publicadas na internet para interrogar alguém? Sem contar que, como cidadão canadense, Hoder tinha o direito de entrar livremente nos EUA e permanecer lá por até seis meses. Mas como ele também tem cidadania iraniana, o guarda resolveu procurar pêlo em ovo. Perto das atrocidades cometidas por autoridades norte-americanas desde o 11 de setembro, esse caso parece fichinha. Mas para um blogueiro, foi a suprema ironia.’


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No Mínimo


Segunda-feira, 1° de maio de 2006


JORNAL DO BRASIL
Ricardo Kotscho


O novo ‘JB’ no museu de cera


(www.nominimo.com.br)


‘O sonho de todo jornalista brasileiro da minha geração era trabalhar no ‘Jornal do Brasil’. Posso me considerar um cara feliz porque consegui realizar este sonho quatro vezes.


A primeira, já faz quase 40 anos, quando estava começando a carreira no ‘Estadão’. Passei rapidamente pelo ‘JB’, lá na sucursal paulista, ao não resistir a um convite do Alberto Beutenmuller, repórter dos bons de cultura e esportes, que conhecia das coberturas e dos bares da Galeria Metrópole. Mesmo sem pedir demissão no emprego anterior, fui-me embora um dia, aborrecido com alguma coisa de que agora não me lembro. Caminhei não mais do que 200 metros, a distância que separava um jornal do outro, do magnífico prédio do ‘Estadão’, na rua Major Quedinho, até a pequena redação do ‘JB’, na avenida São Luiz. Menos de um mês depois, voltei ao emprego anterior, onde acabei ficando por mais de dez anos.


A segunda, ao ser convidado pela Dorrit Harazim para ser correspondente do ‘JB’ na então Alemanha Ocidental, em 1977. Era a época do polêmico acordo nuclear Brasil-Alemanha, da explosão do terrorismo do Baader-Meinhof por lá e das lutas pela redemocratização por aqui, enquanto o mundo ainda vivia a guerra fria. No breve período que passei Na Europa, antes que a saudade me fizesse voltar, morreram dois Papas, o que me deu a chance de trabalhar junto com Araújo Neto, o decano dos correspondentes internacionais do ‘JB’, uma figura adorável.


A terceira, em 1986, levado por Augusto Nunes, que tinha acabado de assumir a direção da sucursal do ‘JB’ em São Paulo, onde montou em pouco tempo uma verdadeira seleção brasileira de jornalistas. Hoje, exatos vinte anos depois, quando abro o site e vejo no canto esquerdo do NoMínimo a escalação do time, reencontro boa parte daquela turma do ‘JB’, tanto da sucursal paulista como da sede carioca, novamente reunida no mesmo lugar – entre eles, meu dileto editor Roberto Benevides, na época, um simples repórter como eu.


A quarta e última vez em que trabalhei no ‘JB’ foi no começo dos anos 90 (havia saído um ano antes para trabalhar na primeira campanha presidencial de Lula e depois voltei para o jornal). Nesta altura, agora com a sucursal sendo dirigida por Ricardo Setti, o jornal já estava entrando numa crise financeira da qual até hoje não saiu. Um a um, os grandes nomes que fizeram o ‘JB’ foram deixando a empresa e eu fui perdendo o hábito de ler o jornal que por muito tempo serviu de modelo para a imprensa brasileira.


Por uma dessas felizes coincidências da vida, na última semana reencontrei-me duas vezes com essa que foi uma das grandes paixões da minha vida profissional. Assim que cheguei ao hotel no Rio, fui a uma banca na rua Maria Quitéria, em Ipanema, e ali mesmo comecei a folhear o novo ‘JB’, agora num formato tablóide chamado de ‘berliner’.


Passado o susto inicial – foi como reencontrar uma velha amiga que acabou de passar por uma cirurgia plástica das mais radicais -, tive vontade de bater palmas para quem teve a idéia e a concretizou. O jornal ficou muito bonito, embora ainda padeça do mesmo mal do restante da imprensa brasileira: muita coluna, quase nada de reportagem, notícias que já tinha lido na véspera na internet. É o jornalismo fast-food em nova embalagem.


Na mesma noite, fui levado por Marcelo Auler a uma festa da ‘turma antiga’ do ‘JB’ num lugar muito bonito da Lapa (também ela recentemente repaginada) – o ‘Rio Scenarium’ (cada nome!), com música ao vivo e tudo. Sem nenhuma maldade, até porque me incluo entre eles, parecia estar entrando num museu de cera ao rever aqueles personagens que fizeram a história do ‘Jornal do Brasil’ nas décadas de 50 a 90 do século passado.


De Wilson Figueiredo a José Silveira, de Alberto Dines a Jânio de Freitas, de Walter Firmo a Evandro Teixeira, que ainda trabalha lá, junto com o imortal Luiz Orlando Carneiro, as muitas redações do jornal estavam ali reunidas, fazendo todo mundo viajar pelo túnel do tempo das nossas vidas.


Voltei do Rio, agora há pouco, feliz por descobrir que o nosso ‘JB’ ressuscitou, pelo menos nas conversas dos jornalistas e dos jornaleiros, e pode ter encontrado um caminho para repetir a sua sina: ser um veículo que não tem medo de ousar, de inovar, de romper com velhos padrões, como já fez em outros tempos. Quem sabe, até servir novamente de modelo. Ficou melhor de ler o ‘JB’ – falta só ter mais o que se ler nele.


Para conseguir isso, o jornal conta com dois profissionais de primeira que fizeram parte daquela turma da sucursal paulista dos anos 1980: o diretor Augusto Nunes, também aqui do NoMínimo, e a editora-chefe Ana Maria Tahan, a minha querida Aninha Tantan, que é sempre chegada a novos desafios, sem medo de errar, sempre às gargalhadas. Junto com eles, novamente aprontando coisa boa, está meu amigo Ziraldo, o próprio ‘menino maluquinho’, palpiteiro geral e editor do ‘Caderno B’, que já foi praia de Zuenir Ventura. Não tem jeito. Roda, roda, roda, e a gente acaba sempre falando dos mesmos personagens de museu de cera.’


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