Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Guálter George

‘Para o bem e para o mal, o Fortal é, há anos, um dos eventos que mais mobilizam a sociedade fortalezense. Tornou-se tradição que, tanto quanto a festa em si, o período que a antecede fique marcado por um grande debate sobre a conveniência de sua realização, o local ideal para que aconteça, seus efeitos sobre os moradores próximos às áreas onde põe o trio elétrico na rua, o ganho da economia local, as perdas etc etc. Tem sido assim e não surpreende que volte a ser agora, em 2004. O que se espera, quanto à cobertura de todo o processo pelo jornal O Povo, é que haja um acompanhamento dele o mais fiel possível. Lamentavelmente, não é o que se percebe vir acontecendo. Há muito por dizer que não temos dito, existem reações fortes de autoridades, órgãos, empresários e cidadãos (estes últimos entre os que moram e trabalham próximo à nova área onde a folia deve acontecer), enfim, detecta-se um clima de contestação que as matérias até agora publicadas não conseguem refletir. É possível que estejamos diante de mais um simples caso de equívoco de abordagem, de uma pauta incompleta, de uma apuração ineficiente, ou seja, que nada exista fora de um cotidiano repleto de erros e acertos, este que nos cerca. O preocupante, porém, é que a explicação pode não ser tão simples.

A rádio apóia, o jornal noticia

Há necessidade, primeiro, de lembrar que a rádio Maxi, do grupo O Povo de Comunicação, é a rádio oficial do Fortal. Em tese, algo que não tem interferência sobre a postura editorial que o jornal adota, ou deve adotar. Até pelo entendimento de que seria pouco inteligente a um órgão de comunicação com o peso e o perfil do O Povo ‘vender’ apoio cego a um evento que tem sido objeto de contestação praticamente desde quando surgiu em Fortaleza, a despeito de, por outro lado, também ser um importante animador da economia local. Salim Bayde Neto, sobre quem falei outro dia por uma cobrança direta que me foi feita quanto ao estilo da coluna, mora na área onde se prevê que estará o novo percurso dos trios, na praia de Iracema. E, como leitor e cidadão, é um dos que se ressente de uma postura mais afirmativa do jornal diante de toda a polêmica que o Fortal tem rendido em 2004, especialmente pelas mudanças observadas quanto às edições anteriores. As quais, deve-se dizer, já resultaram de polêmicas que se repetiam a cada ano. Sequer é o caso de cobrar do jornal uma posição definitiva diante do cenário estabelecido, mas, pelo menos, que estivesse conseguindo reproduzir os sentimentos existentes, seja dos que são contra, seja dos que são a favor.

Redação diz que o apoio não a envolve

Em comentários internos, tenho cobrado a Redação sempre que uma pauta relacionada ao Fortal é cumprida. Chamou atenção, na última sexta-feira, o fato de nada trazermos na edição do dia (16/7) sobre uma decisão da Secretaria do Patrimônio da União de embargar as obras de montagem dos camarotes, que se davam em área que exigiria autorização do órgão federal para serem iniciadas. Pelo menos uma emissora de TV, a União, deu ampla cobertura ao assunto na quinta-feira. Dos jornais locais, apenas O Estado noticiou. Foi quando decidi procurar a Redação para fazer uma pergunta mais objetiva: o vínculo da Maxi ao Fortal estaria interferindo na forma como o jornal se porta diante do evento? Arlen Medina, diretor-executivo da Redação, respondeu-me nos termos que transcrevo a seguir: ‘Não há nenhuma influência. Todos somos sabedores de nossas áreas de atuação. Da mesma forma que a Maxi não nos consultou para ser a Rádio Oficial do Fortal, não consultamos a Maxi sobre a nossa grade editorial. Acredito, e você pode ser testemunha disso, que temos feito uma cobertura isenta sobre a micareta’.

Menos vereadores e mais gastos

O leitor André Noronha Brasil acompanha com especial atenção o debate sobre a redução do número de vereadores em todo o Brasil. Desde o início que ele se manifesta ativamente, seja através de e-mail, em ligações telefônicas ao ombudsman e à Redação ou em artigos publicados na página de Opinião. André critica o jornal por haver fechado questão com a resolução do TSE, que extinguiu 8.528 vagas em todo o País, já que seu convencimento é de que o projeto do Senado, mesmo prevendo extinguir menos vagas, 5.062, proporcionaria economia mais real aos cofres públicos. Ao definir como ‘fracasso’ a postura institucional do jornal, exposta em editorial, ele ressalta, por outro lado, que a editoria de Política, inserida no núcleo de Conjuntura, cumpriu bem seu papel ao abrir-se a todas as correntes de pensamento. Vê-se, portanto, que neste caso houve uma separação clara, sem contaminação mútua, sequer aparente, entre a atitude editorial e o posicionamento institucional que o jornal adotou diante de um fato. Um bom exemplo, que serve como refresco diante do exemplo nebuloso abordado nos tópicos anteriores da coluna.’