Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Guálter George

‘Matéria que O POVO publicou, no dia 11 último, informava sobre a volta da rede Othon de hotéis ao Ceará com sua bandeira fincada em Fortaleza no ‘Iracema Othon Travel’. No mesmo dia a assessoria do grupo contactava a Redação para informar sobre um erro contido na informação e, naturalmente, pedir a retificação do nome do estabelecimento relacionado àquela notícia, que saíra trocado. Apenas na edição de 18/08, inexplicáveis sete dias depois, a seção de ‘erramos’, na página 6, traria a primeira tentativa do jornal de repor a verdade. Fracassada, diga-se, pois a nota publicada apresentava um outro nome para o estabelecimento, ‘Imperial Othon Fortaleza’, tão errado quanto o anterior. Apenas no dia 20 o equívoco finalmente seria reparado em definitivo, através de nova nota esclarecendo que o hotel sob a bandeira do grupo chama-se Othon Palace Fortaleza. O exemplo é importante, porque ilustra como poucos um problema que nos atinge com mais freqüência do que costumamos imaginar. Pode até ser justificada, pode nem ser uma resistência voluntária, mas o certo é que parece hora de se encontrar um meio de dar agilidade ao processo de correção dos erros pelo jornal.

ESTÂNCIA NÃO É O MESMO QUE INSTÂNCIA

O fato de O POVO dispor de um espaço institucional para registrar os erros cometidos e, ao mesmo tempo, fazer as correções necessárias, é, como já ressaltado outra vez, uma demonstração inegável de respeito ao leitor e às fontes. No entanto, um pouco mais de esforço para ser ágil reduziria os efeitos dos problemas trazidos pelas informações erradas que, das mais diversas formas e nos mais diversos níveis, freqüentemente publicamos em nossas edições. Várias outras situações iguais à que abre a coluna de hoje têm sido observadas, existindo, até, os casos onde erros apontados acabaram nunca sendo corrigidos. É citável um problema aparentemente pequeno detectado em texto da editoria de Esportes na edição do dia 19 último, onde ‘estância’ foi grafada de maneira incorreta, pois a palavra que o contexto requeria era ‘instância’. O comentário interno apontou o problema, pediu-se retificação e até hoje ela não veio. O que é ruim, visto que pior do que a identificação do equívoco, muitas vezes, é o silêncio posterior que pode dar idéia de que a Redação não deu-se conta de que o cometeu. Ou seja, de que é mais do que uma simples desatenção.

A ORIENTAÇÃO É PARA SER RÁPIDO

O diretor-executivo da Redação, Arlen Medina, diz que a incidência de erros é um problema que preocupa à chefia do núcleo editorial do O POVO. Mais ainda, conforme ele, há uma orientação no sentido de que ‘o reparo seja feito o mais rápido possivel. Quando isso não acontece, se faz uma rigorosa apuração para saber as causas da demora, o que, às vezes, envolve uma checagem mais apurada para reparar a informação’. O importante, acrescenta ainda o jornalista, é ficar claro que não faz parte da política editorial qualquer demora no reconhecimento do erro. Outro ponto destacado por ele é a preocupação que existe quanto à perpetuação do erro, visto que o material noticioso do jornal é fonte freqüente de consultas em seu Banco de Dados. Para resolver esta ponta do problema, há uma orientação ao setor para indexar ‘a correção do erro cometido à matéria onde ele originalmente se registrou’. Este último ponto é citado, demonstrando-se importante que o seja, apenas como reforço à idéia, que também já aqui registrei, de que a convivência com o erro no ambiente interno é de mais incômodo do que muitas vezes os leitores são levados a imaginar.

O SILÊNCIO DOS APOSENTADOS

Leitor de O POVO há pelo menos 30 anos, conforme faz questão de registrar, o aposentado Raimundo Heldel encaminhou carta à editoria de Opinião no último dia 19 com duras críticas ao governo federal. Era uma reação pessoal dele à decisão do STF de confirmar a constitucionalidade da taxação dos inativos. Na última quarta-feira, dia 25, dizendo-se cansado de esperar pela publicação do seu texto-desabafo, procurou o ombudsman para perguntar se havia alguma orientação do jornal para não dar voz aos que reagissem contra a medida. O problema, para ele, é que nenhuma carta de leitor tinha sido publicada até então com teor igual ao seu, custando-lhe crer que nenhum cearense tenha se insurgido contra Lula e correligionários diante da situação. Nem sequer o fato de no mesmo dia em que ele ligou haver um artigo assinado pelo professor, aposentado, Francisco de Souza, exatamente com tom de críticas ao governo e à medida, parecia capaz de demovê-lo da idéia de que estava sendo vítima de ‘censura’. Fui ao editor Plínio Bortolotti por desencargo de consciência, recebendo dele a confirmação de que estava pronto para incluir a carta do aposentado na página de Opinião. O jornalista, inclusive, confirmou, para espanto do leitor, que a carta dele era mesmo a única até então recebida que abordava o assunto.

É comum que as pessoas enxerguem censura à primeira dificuldade que encontram para ver seus textos publicados nas páginas de cartas e artigos. Apesar, diga-se, de o editor de Opinião, um profissional dos mais preparados para a função, manter uma relação de grande transparência com os leitores, procurando ser o mais claro nas justificativas para o que publica ou deixa de publicar daquilo que lhe chega como colaboração. No caso envolvendo o aposentado Raimundo Heldel, assim como em muitos outros onde um pré-julgamento prevalece, apenas a aplicação de critérios, objetivos e subjetivos, havia determinado até a sexta-feira que a carta não tivesse sido ainda publicada. O acompanhamento editorial do assunto nas editorias respectivas e o espaço aberto a articulistas e colaboradores demonstram que a apreensão do leitor Raimundo Heldel, mesmo que compreensível, é injustificável.’