Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Guerra pelo Iraque, guerra pela Casa Branca

Quando os EUA se lançaram numa guerra contra as precárias forças de Saddam Hussein, ninguém duvidou de que poderiam vencer. Hoje, no entanto, os motivos alegados pelo governo americano para iniciar o conflito revelaram-se inexistentes. Não há evidências de que o ditador iraquiano possuía armas de destruição em massa, tampouco de que trabalhava em coordenação com a Al Qaeda, que foi quem de fato atacou os EUA em 2001.

Hoje os militares americanos encontram-se em maus lençóis no Oriente Médio. Já contabilizam mais de 1.000 baixas e enfrentam um bando de guerrilheiros que não parecem se deter diante de nada, possibilidade que as autoridades americanas não haviam apresentado à população do antes do início da ação.

Ainda assim, segundo pesquisas, os americanos parecem apoiar o que foi feito e mantêm certo grau de confiança em seu líder, o candidato à reeleição George W. Bush. A maioria é da opinião de que ele está mais preparado para lidar com a guerra contra o terror que seu rival, o democrata John Kerry.

Como escreve o ombudsman do Washington Post, Michael Getler [19/9/04], alguns veículos de comunicação, como o próprio Post e o New York Times, admitiram publicamente que suas coberturas da guerra não desafiaram suficientemente o governo, principalmente no que diz respeito aos argumentos da Casa Branca para começá-la. Segundo Getler, o mea-culpa feito há alguns meses terá de ser repetido se esse tema não for exaustivamente discutido pela imprensa antes da eleição presidencial. Em sua opinião, segue havendo pouco debate nas páginas dos jornais.

As comissões parlamentares que investigaram os atentados de 11 de setembro e a invasão do Iraque não chegaram a apontar responsáveis pelos erros cometidos, e Kerry, um dos maiores interessados em que as eventuais falhas venham à tona, tem se colocado de maneira tão confusa que suas opiniões sobre a guerra dificilmente merecem ganhar a capa dos jornais.

Na semana passada, no entanto, ele apresentou um relatório de inteligência pessimista sobre o futuro dos EUA no Iraque, que o Post noticiou apenas na página A20. Poucos dias antes, o comandante dos fuzileiros americanos para o Iraque ocidental, general James Conway, que está deixando seu posto, criticou o ataque à cidade de Fallujah em abril e a posterior ordem de suspensão da ação quando ela já se desenrolava. A cidade é um ponto crítico para todo o cenário da operação de guerra pela forte resistência que rebeldes oferecem ali. Getler aponta que as declarações de Conway saíram na primeira página de jornais como Boston Globe e Los Angeles Times. No Post, contudo, ganharam chamada de uma coluna na página A17.