Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Implicando com a competição

Na semana passada foram anunciados os Prêmios Pulitzer de 2011. Como de costume, centenas de pessoas reuniram-se na redação do New York Times – incluindo familiares dos jornalistas vencedores – para celebrar a premiação. O diário levou dois prêmios: por reportagem internacional, em uma matéria sobre o sistema judiciário da Rússia, e por opinião, por colunas de economia. Os ganhadores fizeram discursos animados, refletindo a ascensão pessoal que vem com este poderoso reconhecimento. Para os cinco finalistas do NYTimes que não ganharam, também houve aplausos. O diretor-executivo, Bill Keller, fez um discurso elogiando sua equipe e aproveitou para lembrar que o objetivo primordial do NYTimes é fazer bom jornalismo, e não vencer prêmios.

Em outros jornais, as celebrações dos Pulitzer ocorrem de maneira mais improvisada, misturando surpresa e júbilo, observa em sua coluna [23/4/11] o ombudsman do NYTimes, Arthur S. Brisbane. No jornalão, nota ele, nada de improviso – são 106 Pulitzer na bagagem. Ainda assim, sempre existe um clima de competição. Como o NYTimes levou apenas dois prêmios nesta última edição, Keller fez questão de lembrar que os rivais Wall Street Journal e Washington Post ganharam, cada um, em apenas uma categoria.

Jardim mais verde

Mas o calo deste ano foi o Los Angeles Times, que também ficou com dois prêmios, mas abocanhou a categoria mais desejada: Serviço Público. Os vencedores levam uma medalha de ouro, concedida a uma cobertura excepcional que resulta em mudanças significativas. ‘Este é considerado o prêmio de maior prestígio – o primeiro a ser anunciado e o primeiro a ser mencionado nos artigos sobre o Pulitzer’, explica Roy Harris Jr, autor de um livro sobre a premiação.

O Los Angeles Times levou o prêmio de Serviço Público pela cobertura da cidade de Bell, no subúrbio de Los Angeles. Uma equipe de 20 repórteres e editores participou de uma investigação que revelou que funcionários do governo de Bell tinham salários supervalorizados (o prefeito, por exemplo, recebia US$ 800 mil em uma cidade de apenas 36 mil habitantes) e, para ajudar a financiar os altos valores, haviam aumentado ilegalmente os impostos locais. Já o segundo prêmio do jornal foi para a fotógrafa Barbara Davidson, que levou dois anos fotografando vítimas de crimes em áreas tomadas por gangues.

Agora, o jornal possui seis medalhas de Serviço Público, quebrando o empate com o St. Louis Post-Dispatch e o New York Times. Em artigo no dia 23/1 do NYTimes, o Los Angeles Times foi retratado como um jornal em declínio com queda de audiência em uma cidade também em crise. O artigo recebeu reclamações de leitores e, quando o ombudsman as discutiu com a equipe, foi informado de que a intenção não era depreciar o outro diário, mas apenas apontar que os leitores estavam perdendo o ânimo. O artigo dava crédito à cobertura de Bell, mas Brisbane acredita que o panorama negativo foi maior do que o positivo.

Ataques

Não se trata de um exemplo isolado. Nos últimos meses, nota o ombudsman, o NYTimes teria ‘atacado’ outras organizações de mídia. Muitos leitores percebem esta implicância e não gostam da atitude – o que é compreensível. Depois de uma coluna do dia 11/4 escrita pelo colunista de mídia David Carr sobre os mais que generosos pagamentos aos executivos de alto escalão do grupo de mídia Gannett, um leitor escreveu ao jornal alegando que jornalistas do NYTimes parecem contar com oportunidades como aquela para escrever matérias criticando outras organizações de mídia, mas não demonstram nenhum desejo de escrever sobre as decisões de negócios do grupo proprietário do NYTimes.

Um exemplo recente é a batalha entre o NYTimes e o Huffington Post. Um mês depois que a AOL anunciou a compra do site de notícias, Andrew Goldman, que escreve uma coluna na revista do jornalão, entrevistou Arianna Huffington, fundadora do Huffington Post, de uma maneira tão agressiva que posteriormente ela e seu porta-voz enviaram emails ao NYTimes em protesto.