Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Liz Spayd

Na edição de sexta-feira (05/08), na seção de opinião e editoriais, o New York Times publicou, com o título “Eu dirigi a CIA e agora apoio Hillary Clinton”, um texto do tipo que uma campanha aprecia:

Durante uma carreira de 33 anos na Agência Central de Inteligência – CIA, servi a presidentes de ambos os partidos – três republicanos e três democratas. Apoiei o presidente George W. Bush quando fomos atacados, no dia 11 de setembro; como vice-diretor da agência, apoiei o presidente Obama quando matamos Osama bin Laden em 2011.

Não sou cadastrado como democrata nem como republicano. Em meus 40 anos de eleitor, apoiei candidatos de ambos os partidos. Como autoridade do governo, sempre mantive o silêncio a respeito de minhas preferências para presidente.

Agora, não o faço. No dia 8 de novembro, votarei em Hillary Clinton. Até lá, farei tudo o que puder para garantir que ela seja eleita como nossa 45ª presidente.”

O autor da declaração, Michael J. Morell, prossegue condenando Donald J. Trump por sua opinião elogiando o presidente russo Vladimir V. Putin e advertindo para a séria ameaça que Trump representa para o país.

Morell aparece como apolítico, imparcial e credenciado para falar sobre segurança nacional. O que o texto não diz é que ele é um dos principais conselheiros da Beacon Global Strategies, uma empresa de consultoria vinculada a Hillary Clinton. Dois dos fundadores da empresa foram importantes assessores de Hillary Clinton, inclusive Philippe Reines. Leon Paletta, que dirigiu o Departamento de Defesa e depois, já no governo Obama, a CIA, também está na empresa.

Faltou transparência

Em seu texto, Morell não cita a empresa nem seus vínculos com Hillary Clinton. Diz apenas que conheceu Hillary Clinton trabalhado com ela quando ela era secretária de Estado e ele, do primeiro escalão da CIA. O Times o identificou dizendo simplesmente que Michael Morell foi diretor e vice-diretor da CIA de 2010 a 2013. Não mencionou a empresa para a qual entrou posteriormente.

Perguntei a Jim Dao, editor da seção de opinião e editoriais, por que motivo o Times não informou os leitores sobre o trabalho de Morell na firma de consultoria. Dao respondeu que a empresa é bipartidária e emprega democratas e republicanos. Além do mais, disse que os editores receberam garantias de que o texto era do próprio Morell e não tinha qualquer vínculo com a campanha de Hillary Clinton. “Examinamos cuidadosamente, não só os seus antecedentes profissionais, mas também um possível conflito [de interesses]”, disse Dao num e-mail que me enviou. “O que concluímos foi que sua opinião teve origem exclusivamente em experiências de trabalho com a senhora Clinton em situações de crise, assim como sua profunda antipatia pelas opiniões e pela personalidade de Trump.”

Não tenho motivos para questionar se o apoio de Michael Morell a Hillary Clinton é genuíno. Nem questiono se chegou a essas opiniões pelo fato de trabalhar próximo à ex-secretária de Estado em circunstâncias potencialmente vitais para a segurança nacional. O erro, em minha opinião, foi a falha do Times de divulgar a empresa em que Morell trabalha e seus vínculos com Hillary Clinton. Isso não teria tirado a credibilidade do texto, mas poderia ter dado aos leitores uma compreensão mais transparente de quem era o autor.