Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mara Gama

‘A reportagem campeã de críticas na cobertura da Olimpíada foi ‘Pequim não respeita restrição ao consumo de carne de cachorro’, em que o repórter do UOL narrava a experiência de comer carne de cachorro. O ‘sucesso’ foi cavado ao longo do dia pelas chamadas caça-cliques na home page do UOL e nos álbuns de fotos.

O tom do texto da reportagem era de deboche e provocação: ‘Uma das máximas do jornalismo é ‘se um cachorro morde um homem, isso não é notícia. Já se um homem morder um cachorro, isso sim é uma reportagem’. E se um jornalista morder um cachorro ensopado com salsinha e pimentão? O pessoal do UOL Bichos deve achar uma cachorrada, mas achei por bem verificar se estava funcionando o banimento dos pratos caninos em Pequim durante a Olimpíada, como a mídia internacional anunciou.’

A chamada para o álbum de fotos insistia: ‘Veja fotos da saga atrás da carne de cachorro’.

Dentro do álbum, entre as fotos, uma chamou minha atenção especialmente, pela falta de justificativa de publicação. Uma pessoa não-identificada, com um tampão cirúrgico num dos olhos, num local não-identificado, e a seguinte legenda: ‘Apesar da cara de mau devido à venda nos olhos, o rapaz devora um tofu, afinal, os pratos caninos estão temporariamente proibidos durante a Olimpíada’.

Houve grande exposição na home page do UOL. No início da tarde do dia 4, era uma das fotos rotativas do alto da página.

‘Repórter do UOL fura proibição e come cachorro’, era a chamada.

No fim da tarde, a chamada foi passada para a parte de baixo da home page, mas continuava sendo usado o nome do UOL, o que editorializava o material:

‘Mesmo proibido, UOL prova cachorro’

O público se manifestou durante todo o dia. Foram mais de 60 notificações, somando as que chegaram via sistema de comunicações de erros e as mensagens para a ombudsman.

Muitas mensagens eram indignadas e consideravam a reportagem como afronta moral.

O leitor Ricardo apontou outro problema: ‘O erro foi colocarem na primeira página da UOL foto de um prato feito com carne de cachorro. Apelativo e de tremendo mau gosto’, escreveu.

As 20h30, a Redação publicou o texto ‘Internautas protestam contra reportagem sobre consumo de carne canina’, dando conta da reação do público e criou um Grupo de Discussão para receber opiniões.

Para a internauta Lilian, a reportagem peca pela visão cultural que expressa: ‘Nos tempos de hoje, com toda a globalização, é engraçado ver como o pensamento das pessoas limita-se apenas aos costumes de seus próprios países. Não fomos nós, que tínhamos nojo de peixe cru e estranhávamos os pauzinhos com que comiam os japoneses? Hoje, com 100 anos de imigração, é muito fino e elitizado ir ao restaurante japonês para comer sashimi equilibrando dois palitos entre os dedos, não? Ou então, saber que nos países desenvolvidos é chique, porém pouco acessível, pelo valor elevado, comer ‘lesmas’. Irônico, não? Sou brasileira e descendente de sul-coreanos. Não comeria au au (lulus), macacos e muito menos insetos, mas, sim, adoro glub glubs (dourado), cocoricós e muuus (mimosa), nem por isso tiro sarro dos que consomem; ou até mesmo dos que têm como deuses o boi, nossa principal fonte de proteína!’

***

Juízos (28/8/08)

Das 2.015 notificações recebidas pela Redação sobre o site especial da Olimpíada, 271 continham críticas. Em geral, o que mais desagradou os leitores foi a emissão de juízos e críticas sobre os atletas. Exemplos:

* o uso da palavra ‘fracasso’ para se referir a atletas que não conquistaram medalhas;

* o uso de ‘prêmio de consolação’ para se referir a medalhas de prata;

* o uso do termo ‘fraca’ para descrição da campanha das duplas de vôlei;

* o uso do termo ‘coadjuvante’ para Daiane (em relação a Diego Hypólito e Jade Barbosa);

* o uso do termo ‘abaixo das expectativas’ para se referir ao desempenho dos atletas do judô.

Uma cobertura sem críticas é indefensável. Mas talvez essas queixas apontem para a necessidade de uma sintonia mais fina nos textos.

Números Olímpicos

O UOL noticiou audiência recorde com a cobertura da Olimpíada de Pequim – 389 milhões de páginas vistas- entre os dias 8 e 25 de agosto.

Foram geradas mais de 111 mil notícias dentro do sistema de publicação do UOL, sendo que 25 mil pela redação e pela reportagem e 86 mil pelos serviços de agências e parceiros. O site publicou 953 álbuns de fotos, com um total de 11.998 fotos.

É um volume bastante grande de material publicado em tão pouco tempo. Foi uma cobertura estressante e trabalhosa. A equipe diretamente mobilizada pelo UOL tinha 42 pessoas, entre repórteres enviados à China, redatores, video-repórteres, editores.

O público que deu recorde de audiência participou criticamente. O site especial de Olimpíada recebeu, de 1º a 25 de agosto, 2.015 notificações através do botão de apontamento de erros em páginas. É quatro vezes a média de notificações dos meses anteriores em Esporte (560 notificações em média ,de março a julho de 2008). No site da Olimpíada, foram verificados como procedentes e corrigidos pela Redação 303 erros.

***

Eu repórter (27/8/08)

O UOL tem investido mais em reportagem. Nos últimos anos, ampliou equipes de profissionais, tem buscado diferenciais nas coberturas, usa bastante o material produzido pela equipe própria e está enviando jornalistas para reportagens de campo e viagens.

O movimento é positivo.

Num meio como a internet, em que notícias de uma única fonte se reproduzem em progressão geométrica em formas e sites diversos, e há tanta cópia da cópia do mesmo, é importante garantir fontes exclusivas, acesso à informação sem intermediários e, no longo prazo, formar um time de profissionais com ferramentas técnicas e traquejo para garimpar a matéria-prima para um bom trabalho jornalístico.

A área de Notícias se preparou para a cobertura do julgamento do processo de demarcação de terras indígenas da reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima. Foi produzido bom material de apoio, com gráficos informativos, e foi enviada repórter à zona da reserva, em Roraima.

Editorialmente, escolheu-se que os textos produzidos pela reportagem que acompanha o julgamento no local deveriam ser em primeira pessoa, para ressaltar a exclusividade do material. E assim tem sido.

O material publicado até agora traz a marca da novidade e da experimentação.

Como todo experimeto, vale quando acompanhado de perto.

Embora em tese possa acrescentar um diferencial à cobertura, a narrativa em primeira pessoa não garante por si relevância.

E impõe desafios novos aos repórteres e editores.

O mais importante deles é evitar que um modo de discurso mais ‘quente’ comprometa o distanciamento crítico imprescindível ao bom trabalho de reportagem. Não é necessário novelizar para informar.

Outro desafio é cuidar para que os textos – ou a edição, na forma de títulos, chamadas, legendas – não transformem o repórter em personagem central da notícia, a serviço do marketing da ‘exclusividade’.

***

Usuários cobram acertos no Bate-papo (26/8/08)

Na última semana, cerca de duas mil comunicações, a maior parte críticas, chegaram ao UOL sobre o novo Bate-papo. Só no Grupo de Discussão aberto para este fim foram 1,7 mil até as 20h desta terça, 26.

As principais queixas dos usuários se referem à nova organização das salas; à lentidão no sistema; às cores e a dificuldades para entrar nas salas.

Organização das salas

Segundo informa a Redação, todos os temas estão agrupados como antes. A diferença é a reorganização por abas. ‘Para ajudar os internautas, estamos inserindo dicas no interior das salas, sugerindo o modo de navegar e os caminhos’, diz o gerente geral de bate-papo e webmail, Ricardo Fotios.

Lentidão

A Redação informa que a equipe técnica ‘está agindo nos servidores a fim de melhorar a performance da plataforma’ Segundo Fotios, na segunda-feira, 25, houve uma redução de 35% do peso das páginas, o que deve tornar a navegação mais rápida.

Cores

Não há consenso. Há os internautas que reclamam de cores muito vibrantes e aqueles que consideram as cores muito claras, sem contraste.

‘A cor de fundo do chat (assim como dos nomes das pessoas que entram e saem) se confunde com as mensagens mandadas por pessoas que não estão marcadas ainda (as que ainda não têm uma abazinha reservada).

Até agora já perdi muitas mensagens por questão de não visualizá-las.

Acredito que deveriam ser MUITO mais suaves; e, com um fundo branco, as cores dos nicks e mensagens seriam muito mais facilmente visualizadas.

Como usuária assídua do bate-papo UOL, espero mudanças’, escreveu Lorena, no Grupo de Discussão.

‘No primeiro dia, muitos internautas escreveram que não conseguiam ver a diferença das cores dos participantes nas abas. Testamos e, de fato, em alguns monitores, o verde e o laranja ficavam praticamente brancos. A solução foi aumentar um ponto nas tonalidades, o que gerou desconforto para outros usuários. Como a idéia das cores é facilitar a identificação nas abas e não ‘embelezar’ a tela, acreditamos que é melhor que estejam visíveis a todos.’, diz Fotios.

A equipe poderia também pensar em oferecer combinações de cores para que os usuários pudessem escolher. Ou, como sugeriu o internauta João, em mensagem para a ombudsman:

‘Por que não temos a opção de branco, preto e cinza?’.

Dificuldade para entrar nas salas

Segundo informa a Redação, para ter os recursos que foram planejados, o novo Bate-papo UOL usa linguagem de programação Javascript nas suas páginas.

Algumas versões do browser Internet Explorer 6 que não sofreram atualizações automáticas por algum motivo não permitem a visualização ou navegação desses recursos em Javascript.

O resultado é que quem usava as tais versões do IE6 não atualizadas não conseguia ver os botões de entrada ou saída e não conseguia trocar mensagens.

De acordo com a Redação, os testes preliminares, que duraram três meses, não apontaram o problema de navegação nos browsers não atualizados com versões do IE6.

Foi só na estréia do novo Bate-papo, e com as queixas dos internautas, que a equipe técnica pode reproduzir o erro e fazer os devidos ajustes.

É de se esperar que os testes sejam reavaliados e ampliados, incorporando as novas variáveis, para evitar o transtorno dos usuários.

O Grupo de Discussão continua aberto e, segundo a Redação, é monitorado para apurar problemas e captar sugestões.’