Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Marcelo Beraba


’05/05/2005


A Folha revisita o programa Primeiro Emprego, do governo federal, e, como nas outras vezes, constata problemas sérios. O levantamento exclusivo é a manchete do jornal: ‘Governo esvazia programa 1º Emprego’.


O ‘Estado’ também tem informação exclusiva na manchete: ‘Pressa dobrou custo dos túneis de Marta’.


E o ‘Globo’ destaca a cassação do deputado André Luiz: ‘Pressão força Câmara a cassar aliado de Severino’.


Trabalho


A Folha tem reportagem bem fundamentada sobre a mudança de foco do governo em relação à política de incentivo de empregos para os jovens, ‘Governo esvazia 1º Emprego para tentar capacitar jovens’ (pág. A4). As principais razões do fracasso do programa estão bem analisadas. Acho que faltou, no entanto, dois pontos.


Primeiro, um questionamento maior em relação ao governo. Como é possível (ok, no Brasil tudo é possível) o governo lançar um programa social e depois de quase três anos descobrir que o enfoque estava errado? Que estudos foram feitos para dar sustentação ao programa?


O segundo ponto: acho que deveria ter ouvido especialistas em políticas públicas que analisassem o novo enfoque e o novo programa. O que garante que esta agora é a política certa? O novo programa é capaz realmente de capacitar jovens?


A impressão que fica é de que é tudo eleitoreiro e de que há um grande desperdício de dinheiro.


Brasil


Segundo o ‘Estado’, a Justiça de Goiás determinou a apreensão do livro ‘Na Toca dos Leões’, de Fernando Morais. A pedido do deputado Ronaldo Caiado, que alega ter sido caluniado no livro. Não vi na Folha.


Onde fica Arame, no Maranhão, onde o secretário de Saúde do município está sendo mantido preso por índios (‘Índios fazem secretário refém no Maranhão’, pág. A19)? Perto de São Luiz, longe, no litoral, no interior?


Segundo o ‘Globo’, o prefeito da cidade fugiu para São Luiz com medo de ser seqüestrado.


A Folha não informa o que aconteceu na reunião entre o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e o presidente da República. Os jornais já anunciavam ontem que cresce a insatisfação do ministro pela falta de recursos. Segundo o ‘Estado’, ‘Sem verba não dá para trabalhar, diz Gil a Lula’.


Estranhos no paraíso


Está muito bem feita a reportagem com os brasileiros presos no México e nos Estados Unidos, na capa de Mundo. Mas o ‘Globo’ tem uma notícia relevante que não vi na Folha. Segundo informação colhida em Washington, o México vai voltar a exigir visto de brasileiros: ‘Objetivo seria conter migração ilegal para os EUA, mas diplomatas temem retaliação por apoio do Brasil ao Chile na OEA’, está no jornal do Rio.


Dinheiro


O ‘Estado’ tem entrevista exclusiva com Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES. Os dois títulos da entrevista dão idéia das críticas: ‘BNDES maquia balanço e divulga lucro menor, diz Lessa’ e ‘Havia conluio para me acusar de incompetente’.


Aviso


Viajo amanhã para a Cidade do México, onde participo do júri do Prêmio Ipys/Transparência Internacional para a melhor reportagem sobre corrupção na América Latina e, em seguida, de um seminário sobre ‘Investigação jornalística de financiamento eleitoral’. Por esta razão não haverá Crítica Interna nos próximos dias.


03/05/2005


As críticas feitas pelo governo da Argentina à política externa brasileira são as manchetes dos principais jornais.


Folha – ‘Argentina ataca política externa de Lula’.


‘Estado’ – ‘Argentina ameaça endurecer com o Brasil’.


‘Globo’ – ‘Argentina ataca ambição do Brasil na América Latina’.


‘Correio Braziliense’ – ‘Brasil desdenha de choro argentino’.


‘Zero Hora’ – ‘Argentina expõe novas frentes de atrito com Brasil’.


‘Estado de Minas’ – ‘Argentina endurece relações com o Brasil’.


O ‘Valor’ não deu bola para as declarações do chanceler argentino e preferiu, como manchete, as declarações de Lula nas comemorações do aniversário do jornal a respeito das relações com a China: ‘País vai negociar com China e evita impor barreiras’.


Os jornais de banca estão mais atentos para os aposentados:


‘Extra’ – ‘Aposentado tem até dia 15 para recuperar dinheiro que o Leão comeu a mais’.


‘O Dia’ – ‘Aposentado tem 12 dias para refazer declaração do IR e garantir restituição’.


A entrevista, na Folha, em que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, se disse ‘quase virgem’ quando casou e chamou o estupro de ‘acidente horrendo’ começou a repercutir ontem mesmo. Não dá, portanto, para entender porque o jornal formula, na sua Edição Nacional, um título sem qualquer interesse jornalístico: ‘Severino dá três versões para vaias no 1º de Maio’. Na Edição São Paulo houve uma mudança: ‘Severino critica aborto e defende a virgindade’.


Manchete de domingo


Outro título que não dá para entender é o da manchete da Folha de domingo. Como ontem participei de um seminário, na parte da manhã, no Rio, não foi possível escrever a Crítica Interna, e registro agora a minha avaliação.


O principal assunto do jornal no domingo foi o material recolhido por Josias de Souza e Andréa Michael com ex-militares que participaram do combate à guerrilha do Araguaia. Pela primeira vez um número significativo deles se dispõe a falar e os depoimentos que dão são todos impressionantes. Vários deles contam detalhes das torturas que praticaram ou que viram praticar contra os guerrilheiros. A maior parte da reportagem trata exatamente destas inéditas confissões. A editoria Brasil entendeu a importância e deu mais destaque e espaço para as confissões (‘Ex-militares relatam tortura do Exército contra guerrilha’, pág. A4 e ‘Enfermeiro reanimava presos sob tortura’, pág. A8).Toda a repercussão que se seguiu, ainda no próprio domingo, girou em torno destas confissões.


E, no entanto, o jornal formulou uma manchete na sua capa sem a informação principal, mas com uma informação secundária: ‘Militar do Araguaia quer indenização’.


A propósito, o assunto virou hoje apenas uma pequena nota de pé de página.


Painel do Leitor


Fiquei em dúvida em relação a um trecho da carta do leitor Rômulo Fernando de Aguiar Lins sobre o ‘Banco Central’ no Painel do Leitor de hoje. Será que ele escreveu realmente que ‘Por essas e outras é que sou favorável a um BC autônomo’? Não está faltando um ‘não’ na frase?


O leitor Antônio José G. Marques consegue emplacar a mesma carta na Folha (‘Discurso’) e no ‘Estado’ (‘Barbas de molho’).


Hermanos em crise


O jornal tem uma cobertura ampla do novo capítulo da crise argentina.


A principal reportagem da Folha (‘Governo argentino ataca política externa brasileira’, pág. A4) informa que a retórica do chanceler argentino, Rafael Bielsa, tem a ver também com a política interna da Argentina. Este aspecto do ambiente argentino e os fatos mais recentes da política do Kirchner mereciam uma análise feita por algum especialista argentino. Embora tanto o editorial da Folha (‘Crise com a Argentina’) como a análise de Demétrio Magnoli (‘Arrogância solapa aliança estratégica’, pag. A4) façam críticas à política externa brasileira e tentem entender o ponto de vista da Argentina, uma análise feita por algum especialista argentino pode ajudar a explicar melhor o que acontece naquele país.


Lendo o material de hoje não fica claro se os recados argentinos foram superestimados pela mídia brasileira (uma ‘fumaça’, como quis fazer crer o Itamaraty) ou se existem problemas de fato que podem afetar ainda mais as relações entre os dois países.


Outro ponto pouco explorado são as divergências existentes no seio do governo brasileiro em relação às respostas que o país deveria dar aos ‘ataques’ argentinos. Esta tensão transparece em poucos textos, como na coluna ‘Paciência tem limite’ (pág. A2), de Eliane Cantanhêde. Segundo expressão do artigo, estaria na hora de o Brasil dar um ‘bom solavanco’ na relação entre os dois países.


O texto ‘Brasil opta por ‘boa vizinhança’ e evita embate com Argentina’ tem uma frase que, talvez por corte na edição, não ficou clara: ‘Ninguém acredita que a nova investida argentina seja por causa da mudança econômica no Brasil’. Que mudança? Segundo o ‘Estado’, a equipe do ministro da Fazenda argentino, Roberto Lavagna, considera o novo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, um ‘inimigo’ por não ter apoiado as pretensões argentinas no FMI. Se o texto da Folha se refere a este fato, deveria ter deixado claro.


Detalhes:


A quem o ministro das Relações Exteriores abraça na foto da pág. A5 da Edição Nacional? A legenda não identifica (‘Manual da Redação’, pág. 43).


Não é possível que a renda per capita da Argentina seja US$ 12,9 e a do Brasil US$ 8,5 como está a arte ‘Brasil X Argentina’, na pág. A4.


Sabatina Folha


Também na edição interna a Folha custou a destacar as declarações de maior repercussão do deputado Severino Cavalcanti na sabatina a que se submeteu por convite do jornal. Não consigo entender porque o jornal, diante de tantas declarações polêmicas, insistiu, nas duas edições, em dar manchete de página para as diversas versões que o presidente da Câmara deu para as vaias que recebeu (‘Severino dá 3 versões para vaias em 2 horas’, pág. A10). As versões contraditórias mereciam um destaque, mas não um título, na minha opinião.


Na Edição Nacional, a outra manchete de página (‘É evidente que há desacerto no governo’, pág. A11) ignora as declarações polêmicas de Cavalcanti. Apenas na Edição São Paulo o jornal se rendeu: ‘Deputado diz que casou mais ou menos virgem’.


Esporte


É difícil entender o título da capa do caderno:


‘Baby-Luxas’ estendem hegemonia de seu mentor’.


Aviso


Viajo amanhã para São Paulo para uma reunião no jornal e para participar do júri do Prêmio Folha. Não haverá, portanto, Crítica Interna.’