Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Marcelo Beraba

‘A atenção da Folha, e de toda a imprensa brasileira, estará cada vez mais voltada para a Copa do Mundo de futebol que começa na próxima sexta-feira, na Alemanha. A editoria de Esporte já tem caderno próprio, separado de Cotidiano, desde a semana passada, e amanhã o jornal lança o caderno diário Copa 2006.

Eleições presidenciais, escândalos no Congresso, investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, ataques do PCC -a tendência é de que todos esses assuntos que marcaram a vida nacional nos últimos meses cedam espaço para as notícias da seleção brasileira.

A cobertura da Copa é uma grande oportunidade de faturamento para os meios, seja pelo interesse que desperta no público, seja pela publicidade. A Folha vendeu neste ano cotas de patrocínio para quatro empresas (Bradesco, Extra, Intel e Tim).

O envolvimento do jornal pode ser medido pelo número de profissionais que terá no front alemão, pelo número de produtos especiais que lançou e lançará e pela quantidade de papel que pretende gastar. Vou dar alguns números colhidos na Redação, mas é bem possível que sofram alterações com o correr do Mundial.

Segundo o editor de Esporte, José Henrique Mariante, a Folha terá na Alemanha 17 profissionais, entre repórteres, fotógrafos e colunistas. É uma equipe maior do que a que foi para a Copa da Coréia e do Japão, em 2002 (12), igual à que cobriu o Mundial dos Estados Unidos, em 1994, e bem menor do que a foi para a França em 1998 (26).

É muito ou pouco? ‘O Globo’ terá 21 jornalistas, o mesmo número que enviou para a Copa da França. O diretor de Redação, Rodolfo Fernandes, justifica o tamanho da equipe com quatro argumentos: a Copa é na Europa, o que atrai sempre mais torcedores brasileiros; o Brasil é detentor do título; o horário dos jogos é favorável e o câmbio está bem melhor do que na Coréia e no Japão. ‘O Estado de S. Paulo’ não quis informar quantos jornalistas enviará.

Overdose

O caderno diário da Folha terá 8 páginas, mas deverá ter entre 10 e 12 páginas nos dias seguintes aos jogos do Brasil. O jornal já publicou seis cadernos especiais para a Copa, incluindo o que circula hoje, e planeja publicar mais sete.

Essas megacoberturas já fazem parte da tradição da imprensa brasileira. A sensação, na maior parte do tempo, é de overdose, mesmo para quem gosta de futebol. A competição entre os meios de comunicação não se limita à qualidade das coberturas, aos recursos gráficos e aos colunistas estrelados. Implica também quantidade. E quantidade nem sempre é qualidade.

Há momentos em que é evidente que não há notícia para tanto espaço, principalmente neste período de preparação, antes de a bola rolar para valer. Só isso pode explicar a edição da foto de Ronaldo na capa do jornal no sábado, dia 27, fazendo um gesto obsceno durante um treino da seleção. Ou a publicação de meia página, na quarta-feira, com especulações a respeito de uma mancha no dedão do pé esquerdo do mesmo Ronaldo.

O que se espera do jornal, além de bom senso, é que o esforço para produzir uma boa cobertura do futebol não afete o acompanhamento dos grandes temas que continuam a assombrar a vida nacional.’

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‘Ainda a reforma gráfica’, copyright Folha de S. Paulo, 4/6/06.

‘As mensagens de leitores com críticas ao novo projeto gráfico da Folha continuaram ao longo da semana. Recebi mais 59 reclamações. Muitas ainda trataram dos pontos que abordei na coluna de domingo passado -perda de espaço de texto, diminuição das letras e corte de ilustrações.

Ainda não estou convencido de que a perda de espaço jornalístico tenha sido a anunciada pela Redação. A informação que recebi na semana passada e publiquei foi a de que a troca de fontes (da Minion para a Chronicle) implicou uma perda de ‘menos de 1%’ e de que as colunas não perderam nada ou tiveram cortes entre 10% e 20%.

A impressão que tenho, no entanto, a partir das minhas observações e dos depoimentos que ouço, é de que houve um corte grande no espaço noticioso. Com o tempo essas perdas ficarão mais claras, imagino.

Há um outro aspecto da reforma que não tive condições de abordar na coluna de domingo passado -por falta de espaço: muitos leitores escreveram para dizer que achavam que o jornal tinha ficado parecido com o seu principal concorrente, ‘O Estado de S. Paulo’, e com outros jornais que conhecem.

A minha primeira impressão ao ver a edição do dia 21 também foi de que a capa do jornal estava mais parecida com a do ‘Estado’. Mas, com o correr da semana, fui perdendo essa sensação. Vários leitores, no entanto, continuaram a encontrar semelhanças e a lamentá-las por entender que o jornal perdia personalidade.

Encaminhei a questão para a Redação e recebi a seguinte resposta: ‘O projeto teve preocupações de conteúdo e visuais. Na parte de conteúdo, ele ajuda o jornal a se diferenciar ainda mais da concorrência, com novas ferramentas de análise e didatismo que enfatizam os princípios do jornalismo da Folha: apartidarismo, pluralismo e espírito crítico.

No parte visual, há dois pontos a serem analisados. Tipograficamente, a Folha foi na contramão da política adotada pela concorrência. Um exemplo são os títulos. Em vez de utilizar fontes mais estridentes e escuras para o noticiário principal, como todos têm feito, a Folha rebaixou-as, deixou-as mais leves. Já alguns elementos novos, como o navegador na Primeira Página e na capa dos cadernos, de fato hoje são utilizados por quase todos os grandes jornais do mundo’.

Aí estão as razões da Folha. A experiência mostra que rapidamente esquecemos os projetos gráficos substituídos e nos adaptamos aos novos. O que importará, de fato, é observar se realmente as mudanças contribuirão ou não para melhorar a qualidade do conteúdo do jornal. Como vários leitores preocupados com os excessos gráficos alertaram, é para isso que precisamos estar atentos.’