Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mario Vitor Santos

‘Na noite de ontem, o iG transmitiu ao vivo o primeiro capítulo da blognovela ‘O cão que insultava mulheres, Kepler the dog’, desenvolvida pelo diretor e dramaturgo Gerald Thomas a partir dos comentários de internautas em seu post.

O formato é pioneiro e merece todo o destaque no portal, mas não apenas no dia da apresentação, como ocorreu. Trata-se de material de importância artística, que incorpora os estímulos oriundos da cultura criada pela sociedade da internet. O internauta que procura a gravação da blognovela pelo iG não consegue. Só encontra em um link externo no blog de Gerald Thomas.

O iG deveria repensar a forma que apresenta seus conteúdos especiais. Não basta anunciar, destacar e transmitir, precisa deixar à disposição para quem não pôde acompanhar o evento ao vivo.

O que o iG deve fazer diante da tempestade que ameaça as finanças pessoais

O jornalismo de serviços sobre economia pessoal tem sido negligenciado pelo iG. Há um enorme campo a ser explorado, especialmente importante agora diante da grave crise econômica que ameaça se instalar no país. O emprego das pessoas está ameaçado, seus rendimentos e investimentos precisam ser administrados a partir de boas informações, de sugestões dos jornslistas e de conselhos de especialistas. Há muitas histórias a contar.

Finanças pessoais serão a área mais relevante do jornalismo de serviços nos próximos meses e talvez anos. Nesse terreno, porém, o iG ainda está engatinhando. Até hoje, o contato direto com a economia do dia-a-dia no iG se restringiu a matérias soltas sobre imposto de renda, crédito e benefícios fiscais. Não há, por exemplo, uma seção específica sobre orçamento doméstico. Falta uma equipe que se encarregue especializadamente de criação e execução de boas reportagens, a partir de um plano de cobertura do conjunto do setor.

É preciso ademais elaborar quadros com indicadores relevantes da área, como tabelas de investimentos, cálculos de prestações, taxas de juros e esclarecimentos sobre pagamentos de previdência, por exemplo. Há, enfim, uma vasta gama de temas a serem acompanhados de maneira sistemática.

Com o cenário econômico mundial bastante instável, a chamada macroeconomia ocupa a maioria dos destaques diários no iG. A crise, no entanto, não se restringe ao mercado e às grandes empresas. O jornalismo justifica sua existência quando, além de tudo, o que faz ajuda o cidadão comum a controlar seu dinheiro em tempos difíceis.

***

O guru da Wikipédia e as pérolas da Web 2.0 (13/11/08)

O iG perde a chance de realizar boas reportagens na área que deveria ser o melhor: a internet. Nesta semana, por exemplo, o criador da Wikipédia, Jimmy Wales, está no Brasil. Entrevistado por jornais, canais de TV e portais concorrentes, não apareceu no iG.

Mesmo quando obtém as informações, o formato da cobertura e o destaque dado a ela na edição nem sempre são ideais. O encontro Web 2.0 Summit 2008, que ocorreu na semana passada, em San Francisco (EUA), rendeu treze reportagens realizadas pelos enviados especiais Caio Túlio Costa, presidente do iG, e Caíque Severo, diretor de Conteúdo.

Teria sido útil do ponto de vista do leitor lançar um blog para reunir esse conteúdo. E destacá-lo ao longo das edições.

***

A lista de Muricy (12/11/08)

Recebi a seguinte mensagem do internauta Gunther Furtado:

‘É inacreditável do que o jornalismo esportivo brasileiro é capaz. O Helena divulga uma seleção do Muricy dizendo que foi fruto de ‘inferência do colunista de tantos papos com o treinador’. E o iG Esporte assume a inferida escalação e, ainda por cima, diz que foi colhida em um jantar com o Helena e não mais da referida inferência. E o pior é que o iG mancheteia.’

Questionado a respeito, o editor de Esportes, Gian Oddi, respondeu:

‘Após o programa ‘Bem, Amigos’, da SporTV, do qual participa semanalmente, o colunista Alberto Helena Jr. jantou com o técnico do São Paulo, Muricy Ramalho, que lhe revelou, após as tais inferências, qual seria a escalação da sua seleção brasileira. A escalação, induzida ou não, não é fruto da imaginação do colunista. Ela foi revelada, nome a nome, pelo técnico.

Muricy Ramalho é hoje um dos cotados para assumir a vaga de treinador da seleção brasileira, o que só aumenta a relevância da informação exclusiva publicada pelo colunista. Tanto é assim que o texto de Alberto Helena Jr. repercutiu nesta terça-feira na imprensa especializada, como mostra a nota anexa do Jornal Placar, da editora Abril.

A opção de manchetar o post, portanto, é mais do que coerente. E o interesse pela informação foi tanto que os servidores do blog não suportaram a quantidade de acesso, motivo pelo qual fomos obrigados a publicar parte das informações do colunista no template do iG Esporte ao qual o leitor se refere.’

Opinião deste ombudsman

O problema é que, como apontou o internauta, há contradições entre o texto do colunista Alberto Helena Jr. e a reportagem da edição de esportes. Helena afirma em seu post que a tal escalação ocorreria ‘sob eventual comando de Muricy’ sendo também uma ‘inferência do colunista de tantos papos com o treinador: Júlio César; Maicon, Lúcio, Miranda e Juan; Hernanes, Ramires, Kaká e Alex (Inter); Robinho e Luís Fabiano’.

Já a nota do iG Esportes vai além e afirma taxativamente que Muricy fez uma revelação ao colunista: ‘Se na televisão Muricy escolheu os 11 melhores jogadores do Campeonato Brasileiro — sem jogadores do São Paulo, que fique claro —, no jantar com o blogueiro ele foi além e revelou qual seria a escalação da seleção brasileira caso realmente assumisse o cargo.’

Como se não bastasse, o iG Esportes promoveu essa especulação precária à manchete. O argumento de que houve muitos acessos não resolve o problema da veracidade. Melhor haver um número menor de acessos para informações confirmadas do que uma explosão de cliques a partir de uma notícia baseada em exageros sem apoio, nem confirmação.

É muito questionável, também, a criação de um ambiente de especulações em torno dos desdobramentos da queda Dunga como técnico da seleção, coisa que está longe de ser estabelecida. Isso não apenas pode dar falsas interpretações sobre situação real do técnico, como pode dar a impressão que o eventual substituto de Dunga venha a ser Muricy (questão abordada, aliás, no post de hoje do blogueiro do iG André Rizek).

O iG arrisca-se, além disso, a aparecer como apoiador ou, pior, de estar fazendo campanha, não apenas pela queda de Dunga como também pela nomeação de Muricy. É óbvio que não cabe ao bom jornalismo envolver-se nesse tipo de campanha, cedendo ao clima de ódios e paixões que fazem a delícia do jornalismo esportivo, mas também o põem a perder.

***

Falta opinião ao iG (11/11/08)

Apesar do bom elenco de blogueiros e colunistas, o iG ainda está longe do ideal na área de opinião. Precisa de comentaristas para vários temas. Em política, por exemplo, o portal precisa atuar com mais energia para substituir a perda de Helena Chagas, que em seu Blog dos Blogs municiava o portal com vários furos, força de informação e de opinião. O iG não pode abrir mão de notícias exclusivas em áreas centrais da cobertura. Atravessar o período eleitoral sem uma abordagem ambiciosa nessa área foi ruim. Mas o que passou não se compara ao que vem pela frente. O próximo ano será de intensas manobras visando às eleições presidenciais e gerais de 2010. A cobertura de política centrada em Brasília será vital.

No acompanhamento dos temas locais, a situação é igualmente grave. Houve um ‘Blig do Rio’, da jornalista Nara Alves, que não prosperou. O vazio tem que ser preenchido, com blogs locais, e (por que não?) uma coluna sobre cidades e urbanização.

Uma das áreas mais carentes é a editoria internacional. Mesmo com nomes como Caio Blinder, Régis Bonvicino e Nahum Sirotsky, que comentam Estados Unidos e Oriente Médio, não há ninguém no iG que analise Europa, Ásia, África, nem mesmo os vizinhos da América Latina.

Em cultura, o leque de blogs é bem completo (embora com altos e baixos a depender da área coberta), mas ainda falta uma boa coluna de artes plásticas. Ciência não tem espaço específico, nem opinião. O bom exemplo, por enquanto, é o de Esportes. Há colunistas de peso sobre futebol brasileiro e europeu, basquete, tênis, vôlei, esportes americanos. Os blogs recebem bons destaques.

A opinião define a cara de um veículo. Ajuda o leitor a se orientar em meio ao excesso de informações característico da internet. Se a internet é o futuro. O futuro da internet não existe sem opiniões bem informadas amparadas na credibilidade dos colunistas e blogueiros.