Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mário Vitor Santos

Leia as manchetes das capas dos portais. Muitas vezes são as mesmas, ou muito parecidas. As do iG, e dos outros portais, ao longo da manhã desta segunda-feira, foram (ou estão sendo) ‘Brasil vive seu ‘melhor momento’ na história’ ou ‘Brasil combina estabilidade com crescimento’ ou ainda ‘Brasil vive o ‘melhor momento’ desde que é República’.

Depois do programa de rádio ‘Café com o Presidente’ transmitido de manhãzinha em rede, todos os veículos vêm atrás, na mesma toada, abrindo manchetes muito parecidas, em geral favoráveis ao governo.

O iG dá grande destaque para temas jornalísticos em sua capa. Considera o jornalismo relevante. As opiniões do presidente muitas vezes merecem mesmo estar nas manchetes. Devem ser destacadas, até porque o governo de Lula é sempre alvo de muitas críticas da imprensa.

Lula gosta de afirmar que nunca houve governo como o seu. Pode ser que, neste caso, o presidente tenha razão. A emissão do programa, sempre na manhã de segunda-feira, é estratégia inteligente: busca ocupar espaço no noticiário dos veículos em momento de vácuo após o descanso do fim-de-semana.

Tenta assim levar o debate para um tema favorável ao governo. Cabe ao iG dar uma perspectiva mais ampla dos fatos do que a oficial. A notícia deveria ser divulgada, mas logo os repórteres do iG deveriam sair a campo para buscar uma perspectiva maior: obter opiniões de analistas, realizar reportagens de apoio com apoiadores e opositores do governo, comparar dados e traduzi-los para o público. O Brasil vive mesmo o melhor momento de sua história? Ou não? Isso seria prestar um bom serviço ao usuário.

***

Web 2.0 com serviços de qualidade (15/06/2007)

A segunda geração da World Wide Web, batizada de Web 2.0, é um movimento que enfatiza a aproximação do internauta como colaborador da mídia on-line. A tendência apóia-se nos blogs, ‘games’, canais de vídeo participativos, fóruns de discussão e outras ferramentas cuja finalidade é fazer de quem recebe as informações também um emissor de conteúdo. Uma via virtual de mão dupla.

O iG tem sido pioneiro e audacioso ao conceder, por exemplo, um espaço nobre dentro de sua página principal para notícias redigidas pelos internautas. Ou quando passou a permitir a criação gratuita de blogs. Tais canais de comunicação são importantíssimos, porque são eles que configuram o caráter interativo da internet de hoje.

A aceitação desse convite à participação é explícita. Para citar um exemplo, o advogado Fábio de Oliveira Ribeiro, em e-mail enviado ao ombudsman@ig.com.br, relata seu desapontamento: ‘Diariamente leio o Último Segundo e o Conversa Afiada. Na maioria das vezes em que tentei postar um comentário, fiquei frustrado. O sistema não efetua o login, ou não admite o comentário.’

Procurado pelo ombudsman, Fred Affonso Ferreira, editor-chefe de jornalismo do canal Último Segundo, afirma que outras reclamações com o mesmo teor chegaram à redação e foram encaminhadas à equipe de tecnologia, que ‘está desenvolvendo uma solução para ser disponibilizada aos internautas’. Já Telma Pinheiro, a coordenadora de service desk do portal, avalia que o sistema de comentários nas notícias tem problemas intermitentes e, por isso, deveria ser refeito. A previsão é que até 2 de julho os problemas estejam resolvidos. O ombudsman vai voltar a esse assunto.

A prestação desse serviço à sociedade deve ser orientada pela busca da mais alta qualidade técnica e editorial. Cabe ao iG solucionar, sempre com agilidade, problemas que dificultem o acesso do público às ferramentas necessárias para sua participação. Assim como é imprescindível cobrar responsabilidade de quem se dispõe a interagir.

***

A vítima é a verdade (15/06/2007)

Jornalismo investigativo para valer é uma coisa que praticamente não existe mais, apesar das exceções louváveis. O ‘furo’ acontece quando uma fonte, em geral oficial, despeja um dossiê no colo de um repórter, não raro com motivações políticas. Eximida do trabalho de investigar, e ainda podendo posar de atuante, a mídia está adorando, assim, o festival de vazamento de informações e pirotecnias das recentes operações da Polícia Federal. O circo vira um linchamento. Os direitos dos implicados são ignorados.

Existe uma crise importante na PF, marcada por um atrito com o governo em função do descumprimento de acordos salariais, o que levou os policiais à greve no meio das investigações. Há ainda uma disputa interna em torno da substituição (ou não) do atual delegado-geral, Paulo Lacerda. Grupos envolvidos nesse embate vazam informações para a imprensa a seu bel-prazer, visando atingir seus adversários, e afirmar a imagem de ‘independência’ dos policiais. E os meios de comunicação se deixam manipular, na busca de manchetes sensacionalistas.

O sucesso deste marketing é tão grande que, agora, a polícia estadual também resolveu desencadear suas operações bombásticas, envolvendo a prisão, num dia, de 2532 pessoas. Um número inacreditável. Claro que aí boa parte da mídia também tem sido para lá de condescendente. Para fornecer a melhor informação a seus usuários, o iG tem que ser absolutamente cético em relação aos objetivos da operação, duvidar dos vazamentos que fatalmente virão para sustentar o espetáculo e dar voz aos acusados. Inocentes podem estar envolvidos. Todo cuidado é pouco.

***

Entre a ética e a concorrência (13/06/2007)

Este blog do ombudsman do iG nasce em meio à polêmica. A divulgação da notícia de que o iG decidiu lançar o serviço de ombudsman levou o Uol a anunciar um movimento idêntico.

O iG então agora lança imediatamente o blog do seu ombudsman, que já vinha sendo preparado desde 26 de maio, quando a criação do serviço de ombudsman foi aprovada e eu mesmo fui apresentado em reunião da direção do portal. O ombudsman surge a partir de sugestão dos próprios jornalistas do iG, preocupados com a melhoria da qualidade de seu trabalho. Os trabalhos do ombudsman do iG para o público iniciam-se oficialmente aqui. O trabalho de crítica do ombudsman será realizado diariamente, por meio deste blog.

Daqui para a frente, os usuários do iG têm mais instrumentos para exigir um bom serviço. E a prática pode se generalizar na internet. Seja quem for o ombudsman. Não importa onde ele trabalhe. Quantos mais houver, melhor. Não importam nem as motivações que levam as empresas a criá-lo, pois um ombudsman só é respeitado se trabalhar e cumprir com independência o trabalho que lhe é atribuído.

A crítica feita pelo ombudsman é muito importante. Não há por que subestimá-la. Ao longo do tempo, ela acaba influenciando a própria maneira como o trabalho é produzido e recebido pelos internautas.

Com o trabalho do ombudsman, valores como verdade, honestidade, coragem ganham mais importância. Práticas como transparência e debate democrático se estabelecem. O usuário ganha mais poder de cobrar. A cultura da qualidade e da prestação de bons serviços vira instituição. A internet precisa disso. O iG, também.

A reação ao lançamento do ombudsman no iG é sinal do ambiente da internet: uma concorrência intensa, exagerada e às vezes até irracional. Há muita atenção ao marketing em detrimento da qualidade. A preparação nem sempre é criteriosa e voltada para o melhor serviço. A internet, a concorrência e o iG não precisam ser assim.